Fim da reeleição dos políticos - será mesmo uma boa idéia?

Fim da reeleição dos políticos - é mesmo uma boa ideia?

No exaspero por transformações no estado de coisas na política e na administração pública brasileira, muitas soluções drásticas são apresentadas - uma delas é a da eliminação da reeleição dos políticos, que está rodando na Internet (e-mails, Facebook, zonas de comentários de blogs políticos, etc).

Se a idade for garantia de conduta honesta, o negócio é mesmo este. E se a proibição de reeleição for a solução, que beleza!, vamos nessa. Mas, nossa história é teimosa e tem muitos exemplos em contrário (e o exemplo de Fernando Collor de Melo como presidente da república serve bem para ilustrar as duas situações)...

Não há como fugir: o político inepto, malandro ou corrupto, via de regra, é a cara estampada do eleitor que o elegeu (e aí, os exemplos sobram, inclusive se o caso for de indicar presidentes da república).

Ora, a ninguém ocorre plantar ervas daninhas para colher flores no jardim. Como se pode esperar boa administração pública elegendo a escória da política?

Tenho a impressão que no ambiente político brasileiro, aquele que se elege para cargo ou mandato de representação política e não é corrupto ou se deixa levar pelas máquinas corruptoras dos governos merecem a reeleição - justamente por se constituir na minoria que alimenta a esperança no futuro do país.

O número de exemplos de políticos honestos não são tantos, hoje em dia, mas existem.

Entendo que suprimir a oportunidade da categoria inteira dos políticos por causa dos maus, é uma forma de prejudicar e inviabilizar o exemplo e o fruto do trabalho dos bons. O problema do Brasil - e a situação de deterioração do ambiente político brasileiro, afinal de contas, não é a atuação correta dos bons políticos e, sim a ação deletéria dos maus políticos.

O mandato circunscrito a quatro anos impede a carreira política e pode desinteressar a uma pessoa honesta. Mas, pode estimular àqueles que querem chegar ao poder e fazer fortuna rápida - já que não terão a chance de voltar ao poder.

A questão, portanto, admite muita discussão.

A mudança do estado de coisas na política e na administração pública tem há ver com a mudança de nossa concepção cívica e moral.

Os políticos não dão em árvores nem são fruto de geração espontânea. Eles saem das mesmas comunidades de onde saem os bombeiros, comerciantes, engenheiros, advogados, faxineiros, agricultores, professores e artistas. E muitos desses profissionais talentosos viram verdadeiros bandidos quando caem na política (e, é lamentável verificar o número de exemplos de tal natureza em nosso estado).

Por isso, acho que o remédio para os males da política começa eleitor - que deve ser honesto com sua comunidade e consigo mesmo, para escolher bem seus representantes políticos, passa pelo político - que deve ter honra e coragem suficientes para honrar o mandato e chega aos órgãos de fiscalização da atividade dos administradores­ públicos, públicos e privados (Ministério Públ­ico, Poder Judiciário, tribunais de contas, imprensa, entidades de classe, etc), que devem exercer as suas atribuições com coragem, responsabilidad­e eficiência.

Muitas soluções são apresentadas - mas nada mudará se não mudarmos. Como disse um velho sábio: "antes de sair para mudar o mundo, dê três voltas pela sua casa"...