PASSE LIVRE

Depois de muitos anos senti orgulho de ser brasileiro, senti orgulho de uma geração que estava adormecida, anestesiada.

Não orgulho pelo futebol onde poucos ganham muito ou pelos “heróis” do BBB ou pelas telenovelas que deturpam os valores da família .

Senti orgulho de uma parte do povo brasileiro.

Dizem que nós brasileiros somos um povo alegre, pacífico, de bem com a vida. Na verdade somos acomodados, somos passivos, somos inertes, nos acostumamos achar que a corrupção é normal, que o jeitinho brasileiro resolve qualquer coisa, que o bom é levar vantagem em tudo sem se importar com os outros.

Somos aqueles que fingem estar dormindo num ônibus lotado para não dar o lugar a uma pessoa idosa, que no trânsito entramos na contramão para ultrapassar os outros carros, que não respeitamos vagas de idosos, que não respeitamos filas.

Somos de um país em que uma ministra fala com a maior naturalidade que o Congresso faz chantagem com o Governo para aprovar projetos de interesses do Executivo. E o pior o governo cede.

Lendo essa afirmação da ministra, fiquei com inveja da Inglaterra, onde um ministro renunciou por causa de uma multa de trânsito que levou anos atrás e que omitiu. Enquanto isto no Brasil, alguns dos nossos políticos, infelizmente a maioria, desviam milhões em recursos públicos e continuam nas câmaras, nas assembléias, no congresso.

Políticos que fazem de cidades, de estados seus feudos, seus currais, principalmente no Nordeste.

Políticos que reduzem os salários dos professores para reduzir gastos, mas não mexem no seu.

Depois de vinte e um anos uma geração parece acordar, espero que não seja somente fogo de palha. Saímos de uma geração que escutava Legião Urbana, Titãs, Raul Seixas, Plebe Rude e entramos numa geração que ouve funk, sertanejo universitário, bonde das poderosas e coisas do gênero.

Saímos de uma geração que pesquisava seus trabalhos nas enciclopédias, nas bibliotecas e depois escrevíamos em folhas de papel almaço e passamos para uma geração que pesquisa seus trabalhos no Google, na Wikipédia e que o trabalho que tem é dar CTRL C/CTRL V e formatar o texto.

Uma geração que pouco ler, que trocou o valeu por “vlw”, beleza por “blz”, que trocou o senhor por “véi”, entre outras coisas.

Uma geração que encontrou, na grande maioria das vezes, nas redes sociais um meio para aparecer e não para discutir problemas sociais, para se manifestar.

Mas parece que o povo brasileiro está acordando, as manifestações demoraram a acontecer, mas vieram em um momento certo. Quando os olhares do mundo todo estão voltados para o Brasil.

Manifestações, desde que pacificas e ordeiras é direito de todos. Afinal vivemos num país dito democrático. Sou contra a violência gratuita, a depredação dos patrimônios, sejam públicos ou privados, sou contra o vandalismo. Mas sou a favor que o povo mostre a sua insatisfação, de quem não aguenta mais tanta corrupção, descaso com a saúde, educação, segurança.

O Governo priorizou grandes eventos, como Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas. Nada contra, se vivêssemos em um país com educação pública de qualidade, com professores motivados e remunerados decentemente, onde pessoas não morressem nos corredores dos hospitais, onde a violência não matasse mais em ano que muitas guerras.

O governo alegou que os eventos trariam empregos, turistas com dinheiro. E a construção de escolas, hospitais, postos de saúde, um investimento na segurança pública não criaria uma oferta de milhares de empregos na construção civil? Não ofertaria milhares de postos de trabalhos na educação, na saúde, na área de segurança? Ao invés do dinheiro dos turistas, teríamos dinheiro do nosso povo, de nossa gente. O governo preferiu dar o circo ao povo e o pão, por meios dos seus inúmeros programas assistenciais.

Circo, este que saiu muito caro, como era de se esperar Em todas as obras que envolvem dinheiro público. Quase todas as obras, desde construção/reforma de estádios e vias de acesso, aeroportos custaram bem mais caro, que o orçamento inicial, foram superfaturadas. Em Brasília, por coincidência ou não, os valores da reforma do estádio duplicaram em relação ao que estava previsto no orçamento inicial.

Não dar mais para viver em um país onde “menores” de dezesseis, dezessete anos roubam, matam e não respondem por seus atos, pois o governo acha, que essas pessoas que podem votar, podem escolher quem vai governar estados, o país, não sabem da gravidade que é tirar a vida de um pai de família, de um cidadão.

A manifestação que começou em São Paulo motivada pelo aumento de vinte centavos da tarifa de ônibus, passou pela exigência do passe livre e agora mostra o real descontentamento do povo com as nossas instituições.

Estamos longe de ter a consciência dos países mais desenvolvidos, no qual o cidadão tendo em vista seu nível de cultura, educação aprendeu há muito, a sair à rua, a manifestar-se, a reivindicar seus direitos, a não aceitar passivamente que os políticos lhes roubem, a não aceitar que a corrupção seja considerada algo natural.

Que estas manifestações sirvam de passe livre para criarmos uma sociedade consciente, justa e que aqueles que governam saibam que não tem passe livre para roubar, se omitir, se beneficiar em seus interesses. Estamos longe disso, mas grandes caminhadas iniciam-se com pequenos passos.

Passe livre para a educação de qualidade, para uma saúde sadia, para a segurança de todos. PASSE LIVRE PARA O BRASIL.

Como disse Marthin Luter King: “Não tenho medo do grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. Tenho medo é o silêncio dos bons”.

FMBARBOSA
Enviado por FMBARBOSA em 18/06/2013
Código do texto: T4347250
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.