“Não vai ter Copa” ou “Copa pra quem”?


Ando preocupada com essa onda de falta de patriotismo que assola o país.E ainda mais preocupada com a explicitação contundente do complexo de vira-latas que,infelizmente,faz parte do DNA do nosso país enquanto nação.

O que mais me assusta é perceber que, após as manifestações de junho, puxadas pelo MPL (Movimento passe livre) e ampliadas por um amontoado de outras reivindicações e fortemente apoiadas pela mídia (enquanto serviu a seus interesses), os jovens,em sua maioria,continuam sendo do contra,contra tudo e contra todos,felizmente com menos força, uma vez que o mascarado famoso saiu de cena (Anonimous).Digo felizmente, não pela participação dos jovens nas manifestações,mas pela maneira como foram “adestrados”.

Aí me vem à mente o grande papel das famílias e das escolas na formação desses jovens em relação à política de seu país e a uma prática cidadã eficiente e responsável.

Quem é educador/a sabe que as escolas sempre se omitiram na formação para a cidadania.As famílias também.Falar sobre política sempre foi considerado uma coisa chata e desnecessária e,por isso as escolas formaram e continuam formando cidadãos acríticos e apolíticos que do seu país nada conhecem, a não ser o que aparece na telinha,principalmente na Vênus Platinada.

E como adquirir discernimento,um pensamento crítico consistente se as escolas e as famílias se furtam ao seu principal papel?

Então, a cada ano, milhões de jovens com diploma de ensino médio ou de curso superior chegam ao mercado de trabalho,tiram carteira de motorista e se tornam eleitores.E o que eles sabem a respeito da organização constitucional e política de seu país? O que eles viram nas aulas de História em suas escolas?O que eles discutiram a respeito de temas políticos com os seus pais? Nada, praticamente,com poucas exceções.

Esses jovens ouviram desde cedo que política não se discute,que é coisa chata,que no Brasil nada se resolve e nada tem jeito.Esses jovens ouviram de seus pais que,por sua vez,receberam de suas famílias a mesma lição.E assim o ódio à política vai se firmando,vai sendo construído.Esse ódio, aliado a um completo desconhecimento da verdadeira história do Brasil,da construção árdua e doída da democracia, e insuflado pela guerra suja pelo poder através do PIG (Globo,Folha,Estadão,Veja, etc), consegue arrebanhar esse contingente que se tornou presa fácil ,na ausência de uma formação mais bem fundamentada politicamente.E assim surge a bomba-relógio tupiniquim.

Ao fazer essa análise,passo a entender um pouco essa onda de pessimismo,de vandalismo físico e verbal que tem dominado o país nos últimos tempos.Não existe reflexão.O que existe é ação,e cada vez mais estúpida,mais sem propósito.É como se um caldeirão de ódio explodisse:Fora Dilma! Fora PT! Fora todo mundo! Copa pra quem? Não queremos Copa! Isso tudo era previsível.Afinal quem nunca soube da história real de seu país não aprendeu a amá-lo.É compreensível a gente não amar o desconhecido.E o nosso imenso Brasil é um ilustre desconhecido para a maioria de seu milhões de habitantes.É tão desconhecido que nas manifestações o que mais se ouviu foi: Queremos uma educação como a do Japão! Queremos políticos como os da Suíça! Queremos a redução da maioridade penal como nos EUA!
Eu via todas essas comparações...estapafúrdias e ficava ainda mais convicta do quão ilustre desconhecido o Brasil é para os seus jovens.Qualquer comparação fica bizarra quando não levamos em consideração a história,a geografia,a cultura de cada país.

Para concluir,quero reafirmar que a “cereja do bolo” dessa onda de desamor ao Brasil que tomou conta das ruas e da internet é o “Não queremos Copa”.Para mim esse absurdo mostra claramente o pensamento abduzido dos jovens pela mídia, escandalosamente imoral.As pessoa gritam esse bordão sem se considerar POVO.Aliás esse sempre foi o grande nó da questão.O POVO virou quase uma entidade. Quem é povo mesmo?

Aí não tem como a gente não se lembrar do queridíssimo Darcy Ribeiro, antropólogo, sociólogo, político humanista da melhor envergadura, autor entre outros livros do grande “O povo brasileiro”. Lembro-me também com o maior carinho do meu guru,Paulo Freire,educador ,antropólogo, autor dos livros “Filosofia do Oprimido” “Educação como prática da liberdade”, “Pedagogia da Indignação”, “ O céu das crianças”,entre outros.Quem bebeu,como a minha geração,nas águas dessas fontes tão cristalinas não pode deixar de considerar-se povo.Ambos acreditaram no Brasil e o defenderam belamente.Ambos se orgulhavam de seu país e combateram da melhor maneira (via educação) o complexo de vira-latas que sempre nos fez um povo sem grande autoestima.

Seria interessante se essa turma que grita”Não vai ter Copa” e “Copa pra quem”? Fizesse a si mesmos uma simples pergunta:É digno tirar do povo aquilo que já está na sua alma?É digno conspurcar o direito de quem sempre viu no futebol a sua grande alegria?Se você que repete esses bordões fizer parte do POVO BRASILEIRO, certamente a resposta será não.

Mas você pode continuar protestando depois da Copa.Afinal Saúde , Educação ,Moradia,etc, são necessidades básicas e devem ser universalizadas.E isso se faz diariamente, nas escolas, nas famílias, nas Assembléias Legislativas, no Congresso Nacional. Enfim,”na rua,na chuva,na fazenda,ou numa casinha de Sapê...”.

Em qualquer lugar e situação a gente faz política e pode ser sempre com lucidez,com argumentos e com amor.


E vai ter Copa!
amarilia
Enviado por amarilia em 31/05/2014
Reeditado em 31/05/2014
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