OS TELEJORNAIS JÁ NÃO DÃO MAIS GOLPES COMO ANTIGAMENTE

Pensava eu escrever mais um "me engana que eu gosto", dessa vez sobre a forjada configuração da semifinal do Mineiro de Futebol. Eu ia discorrer que a ideia foi garantir um time do interior na Final, de preferência um dos já centenários ou dos tradicionais de Minas, para criar times competitivos no campeonato e valorizar com isso, num futuro bem próximo, o próprio, que há tempos anda capengando, como todo Estadual de futebol no Brasil, e é pobre de público por conter, mais evidentemente, dois ou três clubes a serem candidatos ao título ou a merecer transmissão da televisão. As transmissões esportivas da mídia faturarão mais com as audiências que conseguem e com as novas audiências se mais times com projeção e história tiver o certame.

Para isso, me pus a assistir a edição noturna do MGTV da Globo, melhor fonte para se captar as armações, para ver como foram os gols e através da análise de como eles foram marcados e o tempo que aconteceram, os nomes dos clubes que caíram para a divisão inferior e os que se safaram, quem jogava em casa e outros indicadores, incluindo o ânimo dos apresentadores a darem a notícia ou a fazer comentários nos telejornais, fazer a chacota o mais científico possível.

Nisso, me deparei com a âncora do telejornal da Globo Minas anunciando uma reportagem sobre um parecer que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, deu sobre a saúde financeira do Estado, herdada da gestão anterior, qual saúde se encontra em péssima situação. Desisti, então, da resenha e fui para a marcação cerrada em cima dessa matéria encomendada.

Eu fiquei espantado ao ver a âncora dar a informação sobre petista sem a cara de repúdio e de espanto com que é trivial ela dar para influenciar sua audiência e jogá-la contra o governo do trabalhador. O número teatral de praxe. Apenas a adição ou manutenção de áudio extra (quem sabe também algo subaudível para cooptar subliminarmente) durante as falas do governador é que não foi poupada.

Mas, logo a seguir, identifiquei a razão. A própria atriz-apresentadora do telejornal leu, com áudio limpo e claro, uma espécie de resposta em nome do governo tucano, cuja gestão anterior à atual, petista, fora atacada. Na nota que ela leu o atual ex-governador de Minas supostamente desmentia os argumentos do petista, dando uma outra visão de sua gestão, apontando o que seria uma tentativa por parte do Pimentel de desviar a atenção da população do seu governo, acusado de impróprio.

Fernando Pimentel falara em seu discurso que para conter gastos promoveria troca de funcionários contratados pela gestão anterior (creio eu que a alto salário) por funcionários concursados. Estes teriam salários compatíveis com a arrecadação do Estado para equilibrar as finanças. Isso para muitos dos beneficiados dos tucanos que abocanharam cargos públicos distribuídos de forma informal os fariam perder a mamata. E em vez de uma elite inteira, qualquer popular poderia se empregar como servidor público. E a Globo dá a entender que trabalha para que sua audiência seja contra isso. A gente, é claro, sabe como funciona esse meio jornalístico golpista: alguém paga para que uma oposição feita de maneira técnica, como a ilustrada, seja veiculada, então não duvida disso. E antes era só mesmo os vacinados é que percebiam a estratégia vil, mas hoje, para mim, eles dão muito na cara. Mais por causa da insistência em fazer os governantes eleitos pelo povo, como é o caso de Dilma Roussef e do Fernando Pimentel, parecerem calhordas e medíocres, quando não corruptos, do que pela atuação dos farsantes, nisso eles ainda trabalham direitinho. Que compre quem te quer!

Após a leitura da nota, o telejornal passou a oportunidade de resposta para um deputado tucano, que disse, também com áudio limpo focando só sua fala, uma série de besteiras em retaliação às palavras e gráficos apresentados pelo atual governador e sua equipe. O golpe de opinião dado no telespectador foi, por fim, finalizado e o futebol ganhou a vez. A posição da matéria, após a jogada de marketing de guerrilha, se justifica em colaborar para que o telespectador aumentasse seu sentimento de indignação ao lembrar-se que a Final do Mineiro 2015 não contará com Atlético e Cruzeiro e sim um ou outro. Essa segunda indignação se transformará em consolo logo logo e eleva a anterior a níveis astronômicos.

Ao todo, a nota que a âncora leu sobre os governos, ao meu ver: faltosos, de Antônio Anastasia e Aécio Neves, e mais a fala do deputado convidado para o teatrinho, duraram mais tempo na reportagem do que o pronunciamento do atual governador. Que ideia de justiça faz a emissora que muitos consideram séria.

*Originalmente postado no blog Desengenharia Social.