Matamos o DG

Quando assistimos fatos semelhantes ao ocorrido com o dançarino do programa “Esquenta” da Rede Globo, percebemos o quanto devemos debater alguns assuntos relacionados à segurança pública no Brasil.

O policial militar quando incursiona nas comunidades carentes, no exercício das suas funções, não é somente um CPF fardado, mas uma personificação do Estado. E um fato é claro. O Estado não pode matar.

Por isso, há instituições estatais competentes para investigar e o poder judiciário para processar, condenar e executar a pena.

A morte deve ser a exceção, somente quando efetivamente legitimar a defesa pessoal do policial. A política do efetuar disparos de arma de fogo e depois identificar o atingido é um retrocesso social. É uma política pública falida, pois o Rio de Janeiro vive há 40 anos uma política de repressão ao narcotráfico e permanece em estado de guerra civil não declarada.

Além disso, o salvo conduto dado pela população ao afirmar que “bandido bom é bandido morto” é uma gratificação às autoridades e aos políticos incompetentes ou desonestos, pois para essa expressiva camada da sociedade o bandido bom é bandido morto, “desde que seja preto, pobre e favelado”.

A gratificação às autoridades incompetentes ou desonestas se deve ao fato de que ao invés de implementar políticas públicas de saúde, educação, produção cultural, esportiva e capacitação profissional, que exigem trabalho duro, dedicado e de resultado a médio ou longo prazo, a sociedade define que é melhor matar, eis que economiza tempo e dinheiro.

Respeito as opiniões divergentes, mas gostaria que quando o Douglas que morrer, e for suspeito, repito: suspeito de narcotráfico, não morar no Cantagalo ou Pavão-Pavãozinho, e sim na Avenida Atlântica, você tenha a mesma opinião que “bandido bom é bandido morto”.

Por fim, gostaria de relembrar que quando nos conceituamos bandido como aquela pessoa que comete crimes, ou seja, aquele que trafica, estupra, rouba e mata. Definimos que bandido é aquele também que sonega impostos, lava dinheiro, corrompe, é corrompido, furta energia elétrica, sinal de televisão fechada e internet, usa carteira falsa de estudante para pagar meia entrada, compra no camelô, e por incrível que pareça, até quando se acha algum objeto e não se devolve ao verdadeiro dono.

A Polícia ou o Congresso não são instituições anômalas, apenas reflexo da nossa sociedade.

Guerras foram feitas para se buscar dinheiro e poder, não há guerra para se promover paz.

Cabo Frio, 27 de abril de 2014.