Ataque à democracia.

Os porta vozes do governo, inclusos aí Lula, Haddad e Rui Falcão, para citar apenas alguns exemplos, possuem notória habilidade para construir narrativas dúbias, que podem parecer antagônicas numa primeira observação, mas que são absolutamente articuladas e tem objetivos comuns.

Vejamos um exemplo:

Rotineiramente estes senhores enchem o peito para afirmar que o Ministério Público e a Polícia Federal nunca foram tão independentes como agora o são, sendo esta a razão da atual avalanche de denúncias e prisões de políticos e outros corruptos.

Porém, a cada nova denúncia contra a cúpula do partidão, e a cada nova prisão de um companheiro, aparecem as mesmas figuras verberando o discurso de que tudo não passa de um movimento político, de ódio ao PT, de assassinato de reputações.

A primeira narrativa sugere que o Poder Executivo não controla a justiça, mantendo-se ilibado quanto à preservação da independência dos poderes. Já a segunda narrativa sugere que o Poder Legislativo e o Poder Judiciário empreendem esforços políticos no sentido de comprometer a atuação do executivo.

Analisando conjuntamente pode-se então perceber a unidade do discurso e torna-se clara a mensagem pretendida: O Poder Executivo incorpora as mais sublimes aspirações e é vítima das mais baixas e perversas maquinações.

Poderíamos tecer infindas elucubrações sobre o caráter narcisista que este fato revela sobre os políticos do PT, mas trata-se de demonstração desnecessária, em se tratando de um partido cuja estrela máxima afirma não existir nesta nação uma única alma mais honesta que ele mesmo.

Contudo, outro aspecto muito mais relevante é desnudado por este mesmo fato: a clara essência antidemocrática dos personagens envolvidos. Todos sabemos que a democracia não se resume ao voto, mas é também a estabilidade e a independência entre as instituições que detém o poder. A conclusão é inescapável: este discurso dos porta vozes do governo não constituí apenas ataque ao legislativo ou ao judiciário, mas é, evidentemente, um ataque veemente e contundente à essência da democracia.