A CABEÇA DA JARARACA TÁ INTACTA, MAS O RABO TÁ ARDENDO

Uma das coisas mais constrangedoras para um ser humano é não saber a hora de sair de cena. Garrincha tropeçou na bola até quase os 50 anos, tentando ganhar uns trocados para pagar seu vício. Com os últimos desempenhos, Anderson Silva ameaça jogar por terra tudo o que conquistou nos últimos dez anos. Casos semelhantes foram vividos por cantores, atores, cômicos. E políticos. O ex-presidente Lula parece não ter percebido que seu tempo já passou. Como um velho palhaço num circo decadente, ele segue contando surradas piadas sem graça (“a elite me persegue”, “ninguém é mais honesto do que eu”) e não se dá conta de que, a cada espetáculo deprimente, até parte de sua antiga plateia começa a se cansar. Ao terminar seu mandato, tinha altos índices de popularidade, apesar do mensalão, dos aloprados do PT, do apoio à CPMF, da amizade com Collor e Maluf, da criação de milhares de cargos comissionados, das benesses ofertadas a cubanos e venezuelanos. Poderia ter saído de cena na época para curtir o sítio dos amigos, andar de pedalinho com os netos, viajar com os empreiteiros, beber seu vinho, fumar charuto com o companheiro Fidel. Mas não é do seu feitio. Durante todo esse tempo, ele nunca deixou de dar seus “conselhos” à pupila Dilma, mas ultimamente, diante do fracasso do (des)governo da (ainda) “presidenta” e do iminente fim do projeto de poder do PT, sua influência tem sido cada vez maior. Agora, tal qual um Capitão América do agreste, fantasiado de vermelho, ele traz de volta seu discurso ultrapassado e sua retórica de boteco, pronto a tirar o país do buraco que ele ajudou a cavar. Não percebe que, cada vez que desafia a o poder público, provoca a imprensa e subestima aqueles que não concordam com suas ideias (a quem ele chama, jocosamente, de “coxinhas”), mais e mais atrai contra si o desejo de justiça dos que não se deixam intimidar com suas bravatas. Sua (até agora) frustrada nomeação como ministro, que pretendia, além de livrá-lo da justiça comum, transformá-lo numa espécie de primeiro ministro, pode acabar antecipando seu afastamento do cenário político. Seria ótimo. Tudo o que o Brasil não precisa atualmente é de uma cobra venenosa. Para o bem do país, parece que ela está próxima de ser devorada por uma águia de Curitiba.