O que acontece com a República? - parte 8

Pois bem, depois de muito debater sobre problemas que afetam a nossa república, chegamos ao último texto e ficam as perguntas: com tantos problemas como podemos dar estabilidade à nossa república? O que é preciso fazer para que tenhamos serenidade na política? O que falta para que haja estabilidade mesmo com a alternância na política? Será que a democracia estará sempre submissa às vontades de grupos políticos interessados tão somente na satisfação de seus interesses? Não há alternativa para esse sistema que se mostra frágil?

E a resposta é sim, há alternativa para isso.

Como lembrado no texto anterior, a rainha da Inglaterra, na sua prerrogativa política de chefe de Estado, informou ao parlamento inglês que, caso este não cumprisse a vontade popular, sua dissolução aconteceria e novas eleições seriam realizadas. Pode parecer para muitos um abuso da rainha. Mas não é. É uma prerrogativa legal que a chefe de Estado da Inglaterra tem e que seria utilizada caso o parlamento não cumprisse a vontade popular manifestada no voto.

Esse é um papel de um chefe de Estado, não só representar o país, como também zelar por seus valores ante a dinâmica política. Os governos e seus projetos são passageiros, mas o Estado é permanente. Há uma cultura a ser preservada, valores que constituíram esse país, uma história a ser respeitada e, por vezes, os grupos políticos podem deixar de observá-los na ânsia de colocar seu projeto político em andamento.

É por isso que um representante alheio aos jogos políticos é importante. Ele não está lá fruto de acordos, coligações, estratégias ou qualquer outro jogo político. O chefe de Estado representa os valores permanentes de uma nação.

Por isso que as monarquias tendem a ser mais estáveis, gozar de mais liberdade e ao mesmo tempo mais respeito aos valores. O monarca não está submetido às tendências políticas. Observa-as e, fruto do preparo que teve durante sua vida, é capaz de entender a necessidade do equilíbrio entre os grupos antagônicos, reconhecer o voto popular e respeitar as decisões políticas, dentro dos limites impostos pela lei. Se o poder político ultrapassar seus limites e não for contido pelos demais poderes, aí sim surge o monarca, como representante da nação, do povo e dizer ao poder constituído: “Obedeçam aos ditamos legais e à vontade popular”.

Um monarca não é simplesmente uma pessoa escolhida para chefiar em razão de suas posses. Um autêntico monarca, como D. Pedro II, tem formação rígida desde a infância, pois seu destino não é pequeno. Chefiará um país e precisa estar apto para isso. Quem sabe qual a formação de D. Pedro II, de sua erudição, saberá o que estou dizendo. E ele não é uma exceção. É uma regra. O monarca é preparado desde a infância para aquele cargo.

Guardadas as proporções, quando desejamos um tratamento médico ou uma obra de engenharia, procuramos um médico ou um engenheiro, respectivamente. Prepararam-se durante anos para esse ofício. O rei é a mesma coisa. Não é um aventureiro, é uma pessoa que desde o começo se preparou para aquilo, estudou filosofia, economia, direito, administração, vários idiomas, teve acesso a grande gama de conhecimento, para entender como funciona um país e como funciona a mente humana.

Chefiar é isso. É entender as pessoas, é entender o interesse posto à mesa e deixar que as forças políticas se limitem. Apenas em casos extremos avocar-se a si o múnus de representar o povo quando avizinha o abuso do poder.

Não está na hora de nossa república dar espaço para que voltemos a ter estabilidade política? Ela já se mostrou falha aqui e em outros lugares. A República, sobretudo a presidencialista, como a nossa, é propensa a abusos. Temos de encontrar outro caminho. Não está na hora de voltarmos à monarquia e seguir o exemplo de várias nações democráticas estáveis? Não seria a hora de voltarmos a ser um reino, como éramos no período de maior estabilidade no nosso país? Até quando vamos nos sujeitar ao interesse dessa politicagem?