Marx subverteu a filosofia?

Os mitos gregos atribuíam aos deuses à formação do homem grego com virtudes e entre as quais “senso de justiça” e “pudor”. Virtudes que foram dadas pelos deuses Prometeu e Epimeteu ao homem grego. Platão desconfiava dos mitos. Não aceitava suas proposições e pretendia explicar de um outro modo o senso de justiça e o pudor dados pelos deuses. O exemplo do julgamento de Sócrates o estimulou a escrever “A República” e formular teorias das formas de governo. E entre essas formas de governo, Platão negou e criticou veementemente a democracia. Não concordava com o modo que os gregos escolhiam seus representantes por meio de sorteio. Acreditava que para governar bem haveria de ter um treinamento e só os reis-filósofos seriam capazes de julgar corretamente os desajustes da cidade. Um rei-filósofo era alguém diante da Justiça (em si) e não apenas um portador de um senso de justiça dado aos homens individualmente pelos deuses.

E assim, Platão criticou a democracia, levando em conta que as virtudes humanas deveriam vir da Razão enquanto participante de uma Razão cósmica. Após Platão, diversos outros filósofos desenvolveram teorias políticas sobre as melhores formas de governo. Entre eles: Aristóteles, Agostinho, Martinho Lutero, Kant, Hobbes, Rousseau e Hegel. Para todos estes apenas no Estado seriam garantidas as condições de existência da liberdade e por isso o Estado teria um valor moral. A ideia do Estado é a ideia reguladora para o projeto de uma sociedade jurídica universal que pode garantir a paz perpétua e libertar o homem do flagelo da guerra.

E com Hegel, o grande mestre de Marx, não era diferente, o Estado era definido como racional em si e para si. O alemão ainda seguia e se orientava pelos filósofos antigos, isto é, interpretava o progresso histórico pela mudança das formas de governo - despotismo, república, democracia, aristocracia e monarquia. Diferentemente de Hegel, Marx interpretava de outro modo essa tradição apologética do Estado. O Estado não é o REINO DA RAZÃO, mas o REINO DA FORÇA. Ou seja, não é o reino do bem comum, mas do interesse de uma parte. O Estado, para Marx, não tem como finalidade o bem viver de todos, mas o bem viver dos que detêm o poder. Não interessava discutir as formas de governo, mas os diferentes MODOS DE PRODUÇÃO - escravista, feudal, capitalista. Portanto, as duas filosofias são distintas apesar de filosofias da história, a de Hegel interpretava o curso histórico a partir dos diferentes sistemas políticos; já Marx, interpretava a partir dos diferentes sistemas econômicos.

O Estado não era a solução para o estado de natureza, e quem se recorda das aulas de filosofia, o estado de natureza é aquele de Hobbes, em que o direito do mais forte vigorava. Não era a solução porque basicamente era uma justificativa para a continuação dele sob outra forma. A saída definitiva do estado de natureza talvez para Marx fosse o fim do Estado, a sociedade sem Estado. O Estado nessa perspectiva não é um mal necessário, e sim, um mal não necessário destinado a desaparecer à medida que as condições históricas o favoreçam no desaparecimento. Em suma, pouco importa para Marx as formas de governo, mas as relações reais de dominação, entre dominantes e dominados, e a força do Estado como remédio não é um remédio para os dominados, mas para o bem dos dominantes.

Referências

BOBBIO, Norberto; BOVERO, Michelangelo (org.). Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Elsevier, Campus, 2000.