SOBRE VOLTAR PARA A BASE

Fazer o caminho de volta sempre será desafiador em qualquer tempo da vida. É uma trilha pedregosa sem placas de destinos, mas que nos permite reavaliar em que ponto estamos, se a rota está certa, as companhias são adequadas e se o plano continua de acordo com o propósito coletivo, o que deu certo e funcionou por um tempo, mas que precisa ser reavaliado. Como tudo em algum momento da vida.

2024 é um ano de reavaliações, sobretudo na forma como nos comunicamos e somos vistos pelo mercado em que atuamos ou desejamos atuar. A presença digital está, constantemente, em mudança, mas sozinha não terá os resultados de anos anteriores, exigindo cada vez mais estudo e monitoramento dos estrategistas das mais diversas áreas da comunicação, que sabem a importância da conexão entre as pessoas, na busca de reputação e fortalecimento de marcas e projetos, principalmente os políticos, dado que estamos em ano eleitoral e ainda sob efeitos de forte polarização.

De olho na popularidade digital, se destaca quem já se deu bem nos mais variados métodos do marketing, em especial o de influência, que interfere, de forma incisiva, nas decisões de compra dos consumidores em favor de uma determinada marca ou, no voto por um candidato, que se conecte com as mesmas opiniões, ideias e valores do eleitor. Mas alimentar essa rede de fiéis seguidores vai muito além das estratégias digitais, que são importantes e agrupam pessoas, mas não dão espaço para uma base de comunicação organizada e sedimentada, que precisa ser ouvida nesta trilha pedregosa, mas cheia de oportunidades e aprendizados.

Na base estão os consumidores, as comunidades, as lideranças sem mandato, o cidadão comum que anseia por ser ouvido e validado fora do mundo on-line, onde as necessidades reais são solucionadas com muita conversa, boas propostas e conexão. Parece simples, mas não é. Numa sociedade em que as melhores estratégias de comunicação continuam sendo supervalorizadas no virtual, percebe-se o abismo entre as duas pontas e a crescente carência das pessoas pela presença empática do outro, de como ele percebe essas necessidades e o que está disposto para solucioná-las. Ainda que os recortes de imponentes falas alcancem milhares de contas no Instagram, nada vai substituir os relacionamentos, a presença de quem se propõe a vender qualquer tipo de produto ou serviço. Aí vem o grande desafio: relacionar-se, criar conexão, fazer com que suas propostas sejam ouvidas. Isso dá muito trabalho, justamente porque para ser ouvido primeiro precisamos ouvir, não para debater, mas para entender o que o ouvinte espera do outro lado.

Fácil seria se existisse uma fórmula pronta para o sucesso dos processos de comunicação, que evoluem a partir do comportamento e das necessidades das pessoas. Não é fácil, mas também não precisa complicar. Se seguíssemos a regra básica “comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende”, eliminaríamos boa parte desta escalada. Porém, insistimos em dar com a cara na porta sempre que temos que voltar ao início do processo, ou seja à base, para entender o que ela quer, o que não quer, o que funciona e não funciona mais. E nessa volta à base, é fundamental uma escuta ativa com capacidade de absorção e compreensão, e, sobretudo, humildade para fazer os ajustes necessários para conquistar ou reconquistar a confiança do seu público, que nem sempre será receptivo, se este estiver sendo negligenciado há algum tempo.

O fazer de conta que a opinião do seu público é importante, mas na prática não é, não tem funcionado mais. E nem precisa de grandes investimentos em pesquisa de opinião para isso, basta ouvir quem colocou seu projeto ou sua marca onde hoje ela está.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 18/03/2024
Reeditado em 11/04/2024
Código do texto: T8022837
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