Intolerância religiosa no lar

Após o feriadão de muitas festas, volto com minha coluna semanal, tratando sobre um assunto que tomei conhecimento hoje que me deixou muito revoltado, já falei sobre isto algumas vezes neste espaço, mas dessa vez ocorreu muito próximo a mim, com uma amiga muito especial, onde a mesma está sofrendo com violentas perseguições religiosas dentro de sua própria casa.

A família desta amiga participa já faz alguns anos de uma denominação pentecostal de nossa cidade, sendo ela criada neste contexto religioso, porém ocorre que já faz algum tempo após muito estudar filosofia iluminista (minha favorita!), lendo também Nietzsche, Voltaire, Bertrand Russel, Sartre, dentre outros, e questionar algumas coisas, a mesma descobriu-se atéia, não sendo os ensinamentos religiosos compatíveis para seus anseios. Devido a isto ela parou de freqüentar a sua denominação por não concordar com o que lhe era apresentado e também porque já não se sentia bem neste local, pois já não fazia mais sentido estar ali se não acreditava no que era pregado. Então ela me procurou e falou abertamente sobre seu posicionamento a respeito do assunto e perguntou qual era a minha opinião, após ouvir sua explanação dei-lhe meu apoio para o que fosse necessário, inclusive lhe emprestei alguns livros.

Desde que ela deixou de freqüentar a instituição, começaram as perseguições religiosas por parte da família e pessoas próximas, toda sorte de ameaças, chantagens, insinuações de que a mesma poderia estar possuída por supostos espíritos malignos, sendo que seus pais chamaram “irmãos” para orarem por ela e fazerem um exorcismo. A repressão aumentou ainda mais quando ela se viu obrigada a confessar para a família sua opção ateísta, onde perdeu amigos, o apoio dos próprios familiares que a constrangem a todo o momento, sendo que se torna impossível a convivência na casa paterna, inclusive esta amiga está pensando em ir embora da cidade devida tamanha perseguição, ela diz que entende sua família, porém eles jamais a entenderão, pois estão cegos pelo fanatismo e com medo que ela “vá para o inferno”, obsessão esta que faz com que os mesmos venham a agir desta forma. Ela me relatou que existem muitos outros casos como o dela aqui na cidade, porém são silenciados por pastores e familiares sob a alegação de manifestação diabólica.

Convém lembrar que o Código Penal Brasileiro, Art. 208 afirma: "Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa” é crime! Pois seus pais lhe proibiram até a aproximação dos amigos, pois os mesmo são endemoniados e são de má influência (também estou na lista! Que momento!). Agora toda a semana receberá visita de outros religiosos para orarem para repreender este “espírito maligno”. Vivemos em um Estado Laico, nesta situação está sendo desrespeitado até mesmo o direito básico de Ir e Vir.

Compartilho com ela minha revolta, pois estamos no século XXI e alguns penteco-xiitas não aprendem a conviver com as diferenças! Como podemos obrigar a pessoa crer em algo contra a sua vontade? Temos o direito e a liberdade de crença e não crença que deve ser garantida por lei! Se a pessoa assume um posicionamento como ateu ou agnóstico ela deve ser respeitada igualmente. Pessoas que promovem este tipo de terrorismo religioso são geralmente mal resolvidas com si próprias, cheias de frustração, querem tiranizar quem pensa diferente, não respeitam ninguém, se acham donos da verdade, acima do bem e do mal, são arrogantes, prepotentes, hipócritas, totalmente diferentes do modelo que Cristo pregava.

Como humanista que sou, apresento- me como porta voz dos “desviados” (rotulação que recebem aqueles que deixam a congregação) dos “desigrejados” (aqueles que acreditam em Deus e que não freqüentam igreja alguma), dos ateus e agnósticos, estes últimos dentre os quais tenho muitos amigos, pessoas maravilhosas.

Sempre que souber de algo desta natureza, que representa um verdadeiro desrespeito a liberdade de expressão, vou explanar neste espaço com certeza, levantarei minha voz contra! Denunciarei esta barbárie, esta amiga é muito jovem ainda para sofrer tamanha perseguição, imagine como deve estar à situação psicológica desta moça, com ameaças de inferno, castigo divino e privações que vem sofrendo? Isto é crime! É proibido questionar? Filosofia é coisa do diabo? Que ridículo!

Chega de despotismo religioso! Ninguém é obrigado a crer no que não quer! Vamos nos respeitar!

Adriano Couto
Enviado por Adriano Couto em 09/03/2011
Reeditado em 04/09/2011
Código do texto: T2837522
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