MOSER, Antônio. O enigma da esfinge: a sexualidade. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 2003.
 
     O presente livro quer ser uma luz para a problemática sexual que no século passado passou por três espécies de revoluções: dos intelectuais, das elites e das massas. A sexualidade se faz presente no cotidiano das pessoas, porém sempre está envolta do mistério. Daí ser necessário decifrar esse enigma, como o da Esfinge a partir de sete chaves interpretativas. O desvendar dessas sete chaves é o melhor caminho para a felicidade.
     Além da introdução, conclusão e bibliografia, o livro é dividido em sete capítulos como que análogos aos sete enigmas da Esfinge bem proposto pelo autor.
     O primeiro capítulo “Mitos e ciências apontam para uma realidade misteriosa” (pp. 15-46) é tratado em quatro partes, às quais o autor “costura” suas idéias em torno do mistério presente na sexualidade. Ela por ser um mistério fundamental, junto às lendas, aos mitos, aos ritos e às ciências, falam e refletem, porém sempre por meio de aproximações que tentam “desegnimatizar” (desmitificar) essa realidade estruturante concreta, mas misteriosa, que sempre necessitará de interpretações completas (sociocultural, psicológica, afetiva, político-ideológica, ética e religioso-espiritual) para ser bem compreendida.
     O segundo capítulo “O suporte antropológico” (pp. 47-76), também estruturado a partir de quatro idéias chaves, parte do verdadeiro “chão” pela qual se dá a sexualidade: o corpo. Esse corpo que na história teve nuances ora materialistas ora espiritualistas, é um corpo biológico, psíquico-afetivo, social, cósmico e espiritual. Essas dimensões, bem integradas, propiciam a realização do ser humano de forma completa, o que pode conduzir à felicidade.
     O terceiro capítulo “A descoberta de novas faces” (pp. 77-108) quer introduzir o leitor nas três novas fisionomias do advindas da sexualidade: sociocultural, rosto feminino e a político-ideológica. Essas três quando interligadas querem desmascarar os preconceitos históricos e antropológicos arraigados na cultura ocidental em torno da sexualidade.      O desafio é não centrar a sexualidade no biológico, no masculino e no econômico (mercado), porém, resgatar uma visão plural que leve em conta uma ética, uma “morada humana”.
     O quarto capítulo “Esboço de uma teologia atualizada” (pp. 109-140) por meio de três partes propõe uma reflexão atualizada e completa que gira em torno de três eixos. Sexualidade como processo de: a.) personalização; b.) socialização; c.) caminho para a transcendência. Essa trilogia se dá dentro de um espírito de “comunhão no amor”. Quando vivenciadas assim podem se tornar um “evangelho da sexualidade”, pois à medida que o ser humano se transforma (personalização) em meio a essa energia estruturante reconhece no outro (alteridade), e, poderá em abertura total (transcendência) amar em plenitude.
     No quinto capítulo “Na busca de novos parâmetros éticos” (pp. 141-172) o autor, ao propor novos critérios e parâmetros éticos, resgata alguns posicionamentos históricos, com seus méritos. Enfatiza alguns, fundamentalmente, teológicos, como: Palavra de Deus, Tradição, Magistério, normas e valores, e, por fim, propõem os seus seis originais parâmetros: educação para o amor, assumir o outro na alteridade, cultivo da fidelidade, senso de responsabilidade social, promoção da vida, e, promoção da ludicidade, libertando-se da tirania do prazer.
     No sexto capítulo “Integração: ideal claro num percurso obscuro” (pp. 173-210), novamente em três momentos, o autor expõe os limites, desafios e dificuldades para uma integração total da sexualidade. Primeiro apresenta algumas patologias (anomalias, disfunções e desvios/perversões) e sua necessária aceitação num clima de responsabilidade. Posteriormente, a problemática do “auto-erotismo” (masturbação), fenômeno que sempre intrigou a humanidade, e, por fim, a difícil articulação entre o masculino-feminino que encontra sua harmonia a partir de uma visão de complementaridade e reciprocidade entre os gêneros.
     Por fim, no sétimo capítulo “Como acolher pastoralmente as pessoas homossexuais” (pp. 211-260) Antonio Moser não retira a conflituosa tensão acerca dessa presença insistente e questionadora em todos os ambientes humanos, porém detectando os fatores determinantes, as tendências, os atos, comportamentos, condutas, Moser lança mão de luzes na Palavra de Deus, no caminhar da Igreja com suas visões morais e pastorais, e, propõe quatro maneiras de se trabalhar com pessoas homossexuais: a.) afinar-se com a pastoral e pedagogia de Jesus; b.) acolhida; c.) buscar o sentido nessas vidas; d.) relativizar o sexo para valorizar a sexualidade. A partir disso, conclui mostrando que viver uma sexualidade integradamente requer o contínuo “tato” com os enigmas misteriosos da Esfinge.
 
*
 
     A presente obra, enquanto “finalidade”, ao procurar ampliar a reflexão sobre a sexualidade, com muita propriedade, acolheu o olhar das ciências (interdisciplinaridade), e, o autor soube dialogar com muita criatividade junto aos dados da fé de forma clara e didática.
Certamente “contribuiu” imensamente para o progresso de uma compreensão mais científica acerca da sexualidade, pois à medida que revia conceitos, preconceitos, conhecimento, idéias espalhadas, construiu e “costurou” novas idéias.

     O texto como um todo tem em si uma grande coerência, já que o autor conseguiu “amarrar”, articular os pressupostos com o modo pelo qual vai construindo as idéias, além de estar, teoricamente, muito bem fundamentado. A divisão dos “capítulos”, como das partes, responde ao longo das páginas, aos seus objetivos, com uma “linguagem” acessível para quem está mergulhado no universo interdisciplinar, científico, como teológico.
     Ao longo de todo o livro, no início de cada capítulo-abertura, o autor colocou a imagem da esfinge e das cidades gregas referentes ao mito: Atenas, Corinto e Delfos, como propositadamente simbólicas, preenchendo, também, os simbolismos na sexualidade. Atenas, símbolo da arte, poesia, criatividade; Corinto, símbolo da comunicação e comunhão, e, Delfos, cidade dos deuses e do florescimento humano. Ao propor essa imagem, o autor queria que a sexualidade, ao longo dessas páginas, fosse sendo compreendida dentro do mistério humano que permeia em meio ao logos (razão humana), ao eros (sensibilidade, paixões e sentimentos) e ao ethos (modo de organizar e estruturar a vida).
 
Conclusão
 
            A leitura do livro como a resenha crítica, foi de grande proveito. Pude perceber que a sexualidade precisa, para ser bem compreendida, ser vista no seu todo, com suas variáveis interpretativas: biológico, psico-afetivo, sociocultural, religioso, ético e espiritual. Todo tipo de menção a ela precisa levar em conta suas ricas dimensões que passam pelo corpo, mas que buscam o outro para que o amor seja a luz desse encontro.
            É uma energia estruturante e estruturadora de todo ser humano que bem humanizada, não fica “estacionada” no sujeito, mas busca a plenitude no encontro amoroso com o outro. Percebi que os moralismos e preconceitos são os maiores inimigos do educador sexual, contudo, a partir deles se pode sonhar em um projeto de construção integral do ser humano. O modo sistêmico pelo qual o autor se utiliza propicia ao leitor um olhar amplo e não simplório gerando no leitor um possível ser crítico, aberto às vicissitudes cotidianas da vida.


André Boccato
Enviado por André Boccato em 29/07/2011
Código do texto: T3126154
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.