A história do Protestantismo no Brasil

Os calvinistas fizeram duas tentativas de colonização no Brasil, uma em meados do século XVI e a outra quase 100 anos mais tarde. Porém nenhuma atingiu êxito.

Após a experiência francesa no Rio de Janeiro, a primeira das duas tentativas citadas, os holandeses tentaram fundar uma colônia no nordeste do Brasil. Fundada em 1630 em Pernambuco, a colônia cresceu rapidamente. Cerca de 1641, os holandeses dominavam a área, desde o Maranhão até Sergipe. Como acontecia na península ibérica, os pastores seguiam os soldados para ministrar tanto às suas necessidades como para converter o povo que vivia na região, levando-o à verdadeira fé. Escolas e missionários foram colocados em pontos estratégicos a fim de alcançar os ameríndios; apesar disso, poucos dentre eles foram convertidos. Um número ainda menor dos habitantes locais aceitou o evangelho calvinista. Puritanos em seu comportamento e exemplares em suas atividades, esses calvinistas deixaram sua marca no nordeste, a qual permaneceu muito depois de terem sido expulsos dali.

O primeiro Sínodo Reformado na América foi organizado em 1635 com 8 pastores e 5 anciãos dirigentes. A própria presença dos holandeses no nordeste serviu para unificar os portugueses e crioulos em uma força coesa. A capitulação em Taborda, porém, em 1654, fechou o Brasil para os não-católicos durante 150 anos.

A Inglaterra forçou o governo português, então no Brasil, a abrir os portos brasileiros ao comércio mundial. Uma das cláusulas do tratado comercial, assinado com a Inglaterra em 1810, foi que Portugal permitiria a construção de casas de adoração para os estrangeiros, contanto que não tivessem a aparência de igrejas.

O direito concedido aos estrangeiros em 1810, no sentido de terem suas próprias casas de adoração no Brasil, foi confirmado juntamente com o direito de liberdade de culto, na Constituição de 1823. Foi-lhes igualmente permitido manter cemitérios protestantes. O proselitismo, entretanto, era estritamente proibido. O anglicanismo não cresceu com muita rapidez no Brasil, limitando-se quase que exclusivamente à comunidade inglesa. Só mais tarde e com o início da missão episcopal em 1889 foi que saiu dos moldes do início do século. Mesmo assim a sua difusão continuou lenta.

Os primeiros colonizadores alemães no Brasil chegaram a Nova Friburgo em 1823, enquanto outros se estabeleceram um ano depois em São Leopoldo. Esses colonizadores não vieram para evangelizar, mas simplesmente para trabalhar e progredir. Na verdade, o interesse missionário entre eles começou a surgir só depois de 1940 — mais de cem anos depois da chegada dos primeiros colonizadores.

Um segundo antecedente ao avanço missionário direto no Brasil está associado à capelania aos marinheiros americanos no Rio de Janeiro. Em 1836, Obadiah M. Johnson chegou ao Rio de Janeiro, para tornar-se capelão de um grande número de homens do mar que passavam pelo Rio. A "American Seamen's Friend Society" que ele representava atravessou uma crise financeira e ele foi afastado. Durante cinco anos, os missionários metodistas Justin Spaulding e Daniel Kidder continuaram com esse ministério. Cerca de 1848, o Rio estava recebendo uma média de 10.000 marinheiros. A Sociedade procurou restabelecer a capelania, enviando Morris Pease que ficou só algum tempo. Justin Spaulding e Daniel Kidder estabeleceram a primeira igreja metodista no Rio de Janeiro em 1836. Eles nomearam colportores das Escrituras nas cidades marítimas e, numa viagem pelo norte do Brasil, Kidder distribuiu 60.000 folhetos. Depois de 1838 deram assistência espiritual aos marinheiros americanos no Rio até que voltassem aos Estados Unidos.

No entanto, o desenvolvimento efetivo e consistente do protestantismo brasileiro pode ser fundamentado em três alicerces, lançados no século 19: Kalley e os congregacionais, Simonton e os presbiterianos, e Bagby e os batistas.

Em paralelo, um quarto fundamento foi lançado por Kidder e Spaulding, seguindo a visão Metodista, sendo retomado em 1875. Os novos missionários, porém, logo adotaram a educação (evangelismo indireto) como um substituto para a evangelização direta. A ênfase nas escolas tem sido até recentemente uma característica da abordagem metodista.

O médico escocês. Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah já haviam lançado os fundamentos do presbiterianismo em Madeira e ministrado aos refugiados portugueses nas índias Ocidentais Britânicas antes de chegarem no Rio de Janeiro em 1855. Kalley, treinado na Igreja Livre da Escócia, começou a trabalhar com os estrangeiros residentes em Petrópolis. Em 1859 duas mulheres se converteram a fé protestante, tendo isto alcançado os ouvidos das autoridades, intimamente entrelaçados ao catolicismo, visto que ainda não tínhamos um Estado Laico. O resultado foi a proibição feita a Kalley não só de atrair prosélitos como também de praticar a medicina. Com o crescimento da tensão, o imperador Dom Pedro II interferiu a favor de Kalley solicitando que ele fizesse uma palestra sobre a Terra Santa para a Corte. Apesar deste e outros eventos servirem para acentuar o prestígio dos Kalley, ele e seus seguidores continuaram a ser objeto de perseguição e calúnias.

No entanto, a despeito das adversidades, criou a Igreja Congregacional no Brasil. Depois de superar as barreiras legais e religiosas e ter implantado uma igreja essencialmente brasileira em solo brasileiro, Kalley abriu uma porta pela qual os presbiterianos logo vieram a passar.

Poucos anos depois, um pequeno grupo de imigrantes americanos que se radicaram no interior de São Paulo durante os anos que se seguiram à Guerra Civil intensificaram o interesse das três principais denominações localizadas ao sul dos Estados Unidos. Este interesse renovou os esforços missionários dos presbiterianos e metodistas e resultou na abertura do trabalho batista no Brasil, alcançando rincões de norte a sul. Bagby mostrou-se um missionário incansável que viajava por todos os lados do país. Ele e a esposa deixaram Salvador, mudando para o Rio de Janeiro em 1884 onde estabeleceu uma igreja nesse mesmo ano. O próprio Teixeira deixou também Salvador para começar uma obra em Maceió, sua cidade natal. Cerca de 1885 ele havia fundado ali uma igreja com dez membros. A obra cresceu rapidamente durante esses primeiros anos. As batalhas legais foram travadas e vencidas por Kalley e os primeiros presbiterianos. Houve uma boa aceitação do evangelho por parte dos brasileiros que combinada com o entusiasmo evangelístico dos missionários batistas, resultou em rápida expansão. Cerca de 1888 havia oito igrejas em seis diferentes estados com um total de 212 membros. A Primeira Igreja Batista no Rio de Janeiro tinha 89 membros na proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Dois brasileiros haviam sido ordenados e oito leigos, juntamente com esses pastores e os missionários, mostravam-se ativos na expansão do trabalho. E ele realmente expandiu-se. Em 1900 os batistas haviam fundado uma igreja em São Paulo (1899), alcançando um total de 2.000 membros. Parte do crescimento batista deveu-se a uma nova onda de imigrantes. Em vista da opressão politico-religiosa, 25 famílias imigraram para o Brasil em 1890. Elas organizaram a primeira igreja batista em Rio Novo (Santa Catarina) com 75 membros em 1892. Esta congregação obteve uma grande gleba de terra em Nova Odessa e abriu caminho para a imigração em massa de sua pátria. De 1890 a 1922 quinze colônias formaram-se no Brasil, constituídas principalmente por batistas. Treze igrejas batistas foram formadas entre eles com mais de 500 membros. Nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, mais de 2.000 batistas imigraram, aumentando o número de batistas no Brasil.

ICCV
Enviado por ICCV em 18/09/2011
Código do texto: T3227121
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