A Igreja e o Pós-Modernismo

O movimento Renascentista lançou os fundamentos do Modernismo. Os homens passaram a crer que podiam dominar a natureza se descobrissem os segredos dela. Essa busca culminou na modernidade característica do século XX. A cosmologia renascentista elevou a humanidade ao centro do universo.

A Idade da Razão trouxe uma estima elevada da capacidade do homem. Ela substituiu Deus pela humanidade e a colocou como personagem principal, centro da história. A tarefa da razão humana, por sua vez, era a de compreender a verdade transmitida pela revelação. Os pensadores do Iluminismo começaram a apelar à razão humana, em vez de recorrerem à revelação divina, como árbitro final da verdade. Como conseqüência desta ideologia, a sociedade colheu algumas características que marcaram sua trajetória, tais como o interesse no mundo em geral, e no homem em particular, por amor a eles mesmos; uma crescente expressão da ciência e tecnologia modernas; o surgimento de um homem mais racional, descartando crenças que saíram da moda, não rejeitando a Deus, mas descartando o ritual e os acessórios da igreja.

Segundo os pensadores modernistas, o conhecimento é preciso, objetivo e bom, levando à esperança de um mundo melhor.

Substituindo o pensamento modernista, surge o pós-modernismo, onde ninguém pode impor sua idéia sobre outros. Cada um tem sua opinião, seu parecer. Opiniões discordantes não significam necessariamente insubmissão, mas uma característica, uma tendência lingüística da pós-modernidade, assim como o tratamento “aberto” dos filhos para com os pais. Em contraposição, a única realidade absoluta é a de Deus.

Vemos, também, que uma das características marcantes do pós-modernismo é o pessimismo, a tendência de enxergar e esperar um mundo que vai para pior. Outra grande tendência, que ao mesmo tempo é o grande perigo da pós-modernidade, é a mentalidade virar emoção. Isto leva a sociedade a dois extremos, quando o homem só usa o raciocínio e a razão, ou quando só se utiliza das emoções e é dominado por elas. O mundo caminha para as tendências emocionais. Os argumentos racionais, provas arqueológicas, apego à razão que caracterizava o homem moderno, na era iluminista, dão lugar às emoções. A grande característica da pós-modernidade não é a razão, mas o emocional (que gera o abstrato, o volúvel, a subjetividade).

Na pós-modernidade, com a subjetividade e o relativismo do conhecimento, a igreja não é mais o foco da cosmovisão, visto que o homem busca respostas nas emoções, no misticismo, na intuição ou em qualquer coisa que possa, por um instante, lhe oferecer um conforto, uma resposta. A religião torna-se uma intuição a mais, indo à marginalidade, não mais ocupando o centro da ideologia da sociedade.

A pós-modernidade também gera na religião uma mentalidade de “markenting”, onde os fiéis são vistos como clientes, a fé como um “produto”, sendo Deus uma espécie de “fornecedor”.

Em conseqüência, o cristão, nesse mundo pluralista, fica condenado ao relativismo. Como ninguém tem certeza do que crê, também não está interessado em provar sua fé. A apologia não é mais exercitada. Esvaziam-se os credos doutrinários. A leitura da Bíblia passa a ser relativa e abstrata, pois o que interessa não é mais o que está escrito, mas aquilo que sentimos ao lermos. Logos, a “Palavra escrita”, não é mais importante, dando lugar à Rhema, a “Palavra Revelada”, que não se restringe somente ao que está escrito.

Em conseqüência disto, a Igreja, enquanto instituição deve procurar voltar às suas raízes, deixando de lado as placas e tradições humanas, os formalismos e denominações, e voltar a ser organismo vivo. Como verdadeira Igreja – Corpo de Cristo, oferecer uma segurança comunitária sem o prejuízo da liberdade individual, fugindo da tentação gerada pela incredulidade e insegurança do pós-modernismo, onde os indivíduos são abandonados à sua própria sorte, e o foco recaí sobre as multidões.

A igreja não pode refugiar-se nas multidões, ignorando a resistência do pós-modernismo em deixar-se conhecer. A busca pela “mega-igreja” leva à massificação, onde aqueles seres humanos com sonhos, esperanças, medos e traumas passam a ser tratados como números... como gado.

A Igreja deve investir na pessoa como ser individual, produzindo nos crentes convicções pessoais, solidamente estabelecidas nas escrituras. O perfil pós-moderno tem levado as pessoas à extremos êxtases, movidas por suas emoções, mas as abandona decepcionadas, visto que toda mudança exige um processo e não um evento.

A Igreja deve se esforçar por reavivar a busca da verdade espiritual, lançando fora o irracionalismo que foi abraçado no lugar do racionalismo de outrora, da era modernista. Mudamo-nos de um extremo para outro, mas não encontramos nossa temperança.

O fenômeno do neo-pentecostalismo ou neo-fundamentalismo manifesta-se com uma “espiritualidade” bem sintonizada com o espírito da nossa época deturpada.

ICCV
Enviado por ICCV em 24/09/2011
Código do texto: T3237857
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