QUEM É DEOS? - PARTE II

Quem é Deos?

Duas potencias, uma defronte da outra em oposição entre si, se apresentaram a responder a esta pergunta: a filosofia e o catholicismo.

Escutemos a philosophia.

No principio o homem procurava a sabedoria na doutrina do ceo, e a verdade aparecia ao seu espírito lúcida e serena. Foi então a edade d’ouro do espírito humano mas sobre aquella luz caiu uma nuvem de trevas; as tradições primitivas foram esquecidas; os homens, perdida a guia da revelação, recorreram unicamente à razão, e nasceu a filosofia.

Ora esta filosofia, abandonada a si mesma, a que resultados chegou? Chegou somente a conservar alguns vestígios das verdades primitivas. Impotente para formar uma verdadeira idea do ser supremo, e não aceitando o que tinha afirmado a revelação, a philosophia regeita Deos e admite o destino, divindade cega e inexorável, que se compraz em tyrannisar os pobres mortaes. Mas depois, sentido para os povos a necessidade d’um ser supremo que d’algum modo se harmonize com a sua natureza, invoca o politeísmo e favorece toda a espécie de idolatria. Assim são justificados e consagrados todos os erros da civilização pagã. A verdade e a virtude e todos os outros sentimentos mais nobres são desprezados; tudo é escravos dos sentidos. No mundo physico tudo é matéria; a ordem do universo, aquella ordem admirável, não é para esta filosofia senão o resultado de forças espontâneas da natureza.

Vêde a filosofia do Oriente, d’aquele Oriente, berço do homem, da sciencia e da civilização. A filosofia no Oriente é toda religiosa, é cheia de symbolos e de ritos. Porque se desenvolve no seio d’aqueles povos onde domina o sentimento da gloria e do entusiasmo; o ponto de partida é ainda a revelação; mas nasceu o dualismo, a metemphychose, o pantheismo do platonismo, cai em fim no scepticismo, que não é a ultima das suas enfermidades; e no momento da sua maior gloria, da sua virilidade, torna-se o foco de todos os erros especulativos e práticos, e gera uma espantosa confusão.

No meio de tudo isto vemos surgir a filosofia Alexandrina, que se apresenta em principio como uma reação contra o scepticismo. Ella aparece no momento em que o Christianismo entra no mundo, mas a filha do paganismo, obstina-se em permanecer pagã, e acumula uma multidão de erros. Não obstante a luz do gênio que brilha em alguns dos seus ensinos, a filosofia Alexandrina perde-se em uma quantidade de hypotheses tão orgulhosas como grosseiras, e cai nos labyrinthos do fatalismo, do mysticismo e do pantheismo.

E agora consideremos a filosofia moderna?

Que nos deu a filosofia moderna?

Ah senhores, esta filosofia não faz senão repetir o que ensinaram as velhas escholas; não há uma só das suas doutrinas, que não se encontre em gérmen nas obras dos livres pensadores dos outros tempos.

Ella quer a negação de toda a religião e do Deos vivo, e com um racionalismo vão, volta o pantheismo, nega a imortalidade da alma. Para convercer-se d’isto basta ler os historiadores, os philosophos, os romancista, os poetas do nosso século. Pecorrendo os livros, vereis que os modernos escriptores, prometendo uma revolução que mudará a face da terra, miram á negação de todas as grandes verdades. Prometem-nos a felicidade do progresso humano, e entretanto, em pleno século XIX, chega-se a afirmar que Deos é o acaso, que o universo é isolado, que Deos e o mal, que Deos é uma palavra velha e sem sentido que deve ser banido da sociedade.

Não tendes ouvido, meus senhores, não tendes ouvido, como falam de Deos certos livros, certas revistas, certos jornaes, que entram em vossas casas, que andam pelas mãos de vossos ilhós, que são admitidos com tamanha leviandade no seio das vossas famílias? Não tendes ouvido como falam de Deos certos professores que devem educar a pobre juventude, e que são lautamente mantidos com o dinheiro do nosso paiz?

Segundo estes gênios modernos, este novos oráculos, não foi Deos que creou o homem, mas foi o homem que inventou Deos; Deos existe só na imaginação do homem que o ideou e apresetou como o typo mais elevado da sciencia e arte; Deos é homem que adora a si mesmo.

Eis a filosofia!

Depois de dezenove séculos de Christianismo, a filosofia perde-se ainda n’estes delírios; e o conceito de Deos é ainda um problema, do qual se confundem os termos e se ingora a solução. Grande exemplo para estarmos firmes na eschola da nossa fé, no ensino do catecismo catholico!

E que nos diz a nossa religião?

Ah senhores, quando esta religião fala de Deos é sempre grande, sempre imponente, sempre sublime, refulgente de luz maravilhosa, que arrebata em contemplações os grandes gênios e penetra na inteligência dos simples, iluminando todos os espíritos são e sinceros.

Voltemo-nos, pois para ella, e interroguemos a sabedoria da Egreja.

Quem é Deos?

Quem é Deos considerado em si mesmo?

Quem é Deos considerado nos seus atributos?

Quem é Deos considerado nas suas obras?

Sancta religião de nossos paes, inspira as minhas palavras, guia-me ás fontes da verdadeira sciencias, dissipa as trevas que os teus inimigos espalham no espírito dos fiéis.

Escutai, senhores, a resposta que dá a nossa religião, resposta clara, simples, sublime.

Vós a encontraes no catecismo, no Symbolo, na Biblia.

Sermões do Padre Agostinho de Montefeltro – pregados na Igreja de S. Carlos de Roma durante a Quaresma de 1889.

Pedro Prudêncio de Morais
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 21/11/2011
Reeditado em 01/12/2011
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