Shalom

a) O significado literal da palavra SHALOM

Observando-se apenas a morfologia da palavra, adaptada aos conceitos ocidentais modernos, Shalom pode ser interpretada vulgarmente por “paz”. No entanto, extraindo sua raiz hebraica original, inserida na cultura da época, Shalom significa literalmente, “inteiro”, “são”, “vivo”.

b) O conceito filosófico da palavra SHALOM

Observando-se por uma ótica mais profunda e filosófica, Shalom nunca significa simplesmente a ausência de guerra ou conflitos. Também não se alcança nunca simplesmente pela subjugação sob uma ordem imutável e eterna (seja ela de origem social, cósmica ou divina). Menos ainda Shalom se deve confundir com uma “ordem” imposta pelo mais forte, militarmente ou economicamente. E Shalom também nunca se aplica a uma paz apenas interior, uma paz apenas do espírito.

Constatamos, em primeiro lugar, que “Shalom” é um cumprimento, como vemos em Gn 29:6, onde Jacó dirige-se aos pastores de Labão com a expressão “Hashalom lo?”, algo como “Tudo bem?”. Com estas palavras estabelecemos ou exprimimos uma relação. Shalom, a paz, é eminentemente relacional. Nunca se pode ter Shalom sozinho, é impensável eu ter paz enquanto o outro não a tem. No Antigo Testamento, a vida caracteriza-se fundamentalmente pela relação. Sem relação não há vida. A morte é a ruptura mais brutal de todas as relações. Onde há violência, onde há morte, não há Shalom, não há relação, não há paz, não há vida. A vida, a relação, Shalom, a paz é, no AT, dom de Deus. Um dom que implica necessariamente um apelo à atividade humana. Com efeito, cada um é responsável pela Shalom, cada um pode e deve contribuir para ela. “A paz será obra da justiça e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre” nos afirmam os profetas sobre a construção de Shalom. Definitivamente, não basta a ausência da guerra para que reine a Shalom! Não nos basta superar a violência, pois não haverá paz enquanto não houver justiça para todos.

O Antigo Testamento registra a tentativa humana de seguir a paz e ao mesmo tempo a incapacidade humana de manter a Shalom. Se falta Shalom, isto não se deve a obscuras “forças do mal”, ao colapso social, ou simplesmente à superioridade das nações vizinhas. Se falta Shalom, a culpa é dos seres humanos. Não é a lamentação sobre a violência, nem a sua aceitação apática e resignada que se ouve na voz dos profetas, mas sim o apelo à responsabilidade humana e por isso à conversão.

Independentemente disto, a última garantia para a Shalom não reside em instituições humanas, mas sim, em Deus

c) A universalidade da palavra SHALOM

Shalom engloba todos os âmbitos da vida, e por isso chamamo-la universal. Shalom aplica-se a todas as relações de uma pessoa: a sua relação consigo própria, com a sua família, com a sociedade, com a natureza, e finalmente com Deus.

d) A solidariedade da palavra SHALOM

É completamente impensável estabelecer a Shalom sozinho, menos ainda à custa dos outros. Por isso, não há paz onde as viúvas e os órfãos, ou seja, onde os mais fracos da sociedade, não estejam bem e sejam amparados.

e) A realidade de SHALOM

A Shalom, encarada como dom de Deus, capacita o homem a realizar e construir neste mundo, realizando a vontade soberana de Deus. Longe de ser uma paz apenas interior, ela é suficiente em si mesma; um organismo complexo e completo. Ao mesmo tempo aponta para além de si própria, na esperança do “príncipe da paz”.

O Antigo Testamento, em nenhum momento, desenvolve uma elaborada “teoria de Shalom”. Em vão procuraremos receitas do gênero “Como superar a violência - Aprenda em 5 dias”. Encontramos, sim, histórias antigas, hinos e orações, oráculos proféticos, todos eles fundamentados em circunstâncias bem concretas da vida real do antigo Israel. É nestes textos que transparece algo como uma antiga e profunda sabedoria, alimentada pela fé no Deus da Vida, no Deus do dia-a-dia, prático e tangível; fé amadurecida ao longo dos milênios de experiência histórica.

Com esta antiga sabedoria, com esta visão de uma paz universal, solidária e real, com este grande “sonho”, os cristãos têm uma contribuição preciosa e válida para a problemática contagiante da violência na sociedade atual.

ICCV
Enviado por ICCV em 15/12/2011
Código do texto: T3390587
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.