Nove convicções provenientes do cerne da pregação bíblica

Nove convicções provenientes do cerne da pregação bíblica

Jay E. Adams

Os pontos em que verdadeiramente eremos determinam o que fazemos. Os aspectos em que eremos no cerne do nosso coração acerca da pregação determinarão como nós a realizamos. Nesse sentido, nada pode ser mais prático do que

nossa teologia da pregação. As nove convicções a seguir são fundamentais para a pregação bíblica.

1. O objetivo fundamental da pregação é agradar a Deus

E uma convicção central da fé que Deus é soberano e que todas as coisas precisam ser feitas para agradá-lo. Agradar a um Criador soberano significa descobrir o que ele deseja e, por meio de sua graça, fazer sua vontade. Pregar a Palavra de Deus

do modo de Deus deveria ser o alvo de pregadores fiéis. Como soberano, Deus nos diz o que pregar e como fazer isso. Ministros da Palavra não têm o direito de se desviar de suas instruções. Idéias e especulações humanas, portanto, precisam ser

estranhas ao púlpito.

2. A pregação agrada a Deus unicamente quando é fiel às Escrituras

A pregação cristã começa com as Escrituras. A menos que os pregadores adquiram e mantenham as convicções próprias — e, portanto, atitudes que decorrem delas — nas Escrituras, eles falharão em pregar do modo que agrade a Deus. A eficácia da nossa pregação não é determinada pelo número de pessoas que a estão presenciando, nem pelo número de profissões de fé, mas pela fidelidade dos pregadores à mensagem que somos chamados a pregar. Aqueles que não proclamam a Palavra de Deus fielmente podem alegar números e supostas conversões e profissões de fé. E alguns que fazem isso falham em atrair seguidores em grandes números. O Deus soberano é o que produz os resultados. Quando Isaías começou a pregar a um povo rebelde, foi informado anteriormente que os resultados seriam mínimos porque o povo carecia dos olhos para ver e dos ouvidos para ouvir. O fracasso para obter resultados visíveis, entretanto, não deve ser usado como uma desculpa para pregações defeituosas.

Essa mensagem, em toda ocasião, precisa ser fiel à Bíblia. O pregador é um arauto {keryx) cuja incumbência é transmitir a verdade de Deus a seu povo e chamar os eleitos do mundo para a igreja. Para esses fins, precisamos entender o que se exige de nós e como atingir isso.

3. As Escrituras são as inerrantes e inspiradas palavras escritas de Deus

Todos os verdadeiros pregadores reconhecem a Bíblia como uma fonte da qual aprendem e proclamam a verdade de Deus. Eles aceitam o que lêem ali como palavra inspirada e inerrante nos originais. Por "inspiração" (o termo em 2Tm 3.16 significa "soprado por Deus"), eles entendem que as palavras bíblicas são tanto a palavra de Deus como se ele as tivesse dito por meio do sopro. Se alguém pudesse ouvi-lo falar, ele não diria nada mais nada menos e nada diferente do que

está escrito por meio dos seus apóstolos e profetas. As Escrituras são as exatas palavras de Deus por escrito.

4. A pregação é uma responsabilidade sagrada

A atitude que essas convicções deveriam trazer à tona é a reverência pelo texto que o pregador expõe, junto com um grande desejo de aprender o que cada trecho significa, de modo a comunicar esse entendimento dessa mensagem àqueles que ouvem. Além disso, intérpretes de confiança das Escrituras reconhecem que estão lidando com a informação mais importante de toda a vida e querem ser fiéis ao fazer isso. Nós não nos ocuparemos com um estudo ordinário ou com a preparação inadequada de mensagens. Reconheceremos que em tudo que dizemos representamos o Deus do universo e que, se falharmos em entender ou proclamar fielmente a verdade, distorceremos a Deus. Ser fiel ao texto e ao Espírito Santo que fez com que ele fosse escrito é nossa preocupação fundamental. Em relação a isso, ministros conscientes sempre mantêm 2Timóteo 2.15 como seu referencial.

5. As Escrituras foram planejadas não apenas para os ouvintes originais, mas para nossos ouvintes singulares de hoje

Como arautos que levam uma mensagem de Deus àqueles que a ouvem, nós não ficaremos satisfeitos com uma abordagem do texto que o enxerga como do passado, algo longínquo. Nós somos gratos porque as Escrituras são para todos os tempos, para pessoas em todos os países. Nós nos lembramos das palavras de Paulo quando ele declarou que "essas coisas [do Antigo Testamento] ocorreram como exemplos para nós" (ICo 10.6) e que "foram escritas como advertência" (v. 11). Conseqüentemente, precisamos entender que a mensagem do texto é para a edificação de nossos ouvintes tanto quanto para aqueles a quem ela foi originariamente escrita.

Acreditando nisso, precisamos pregar o texto como uma mensagem contemporânea. Nós direcionaremos as palavras do texto à nossa congregação como se elas tivessem sido escritas com eles em mente. Nós fazemos assim porque, como Paulo explicou, esse é o fato verdadeiro. Portanto, não faremos preleções em relação ao que aconteceu com os amalequitas; antes, falaremos a respeito de como a experiência deles está relacionada aos nossos membros da igreja. Isso significa que não pregaremos sobre os amalequitas, mas sobre Deus e seu povo a partir do relato do procedimento de Deus com os amalequitas. Nossa pregação, então, será vigorosa e contemporânea em sua natureza.

Os pregadores hoje, como o Senhor que poderosamente escreveu a sete de suas igrejas em Apocalipse 2 e 3, analisam sua congregação de forma que o que pregarem atinja suas necessidades. Embora a pregação possa ser expositiva, como

quando alguém prega um livro em seqüência, a própria escolha do livro bíblico deve ser feita tendo essas necessidades em mente.

6. A intenção originária do texto determina sua mensagem para os ouvintes hoje

Pregadores instruídos precisam demarcar partes das Escrituras para sermões com base em sua intenção. Essa intenção também pode ser referida como o telos ou o propósito do trecho. Toda passagem de pregação, então, é selecionada porque em si mesma é uma mensagem completa de Deus. Essa mensagem pode ser parte de uma maior, mas é uma mensagem que desafia o ouvinte a crer, a desacreditar, a mudar ou a fazer alguma coisa que Deus deseja e que, no final das contas, contribuirá para os dois grandes propósitos da Bíblia — ajudar os membros da nossa congregação a amar a Deus e a seu próximo.

Em toda a história da pregação, infelizmente isso com freqüência não foi assim. Pregadores usam as Escrituras para seus próprios propósitos e não para os propósitos para os quais elas foram dadas, assim perdendo o poder inerente a qualquer trecho

usado na pregação. Não é sem razão que o evangelho de João é usado mais freqüentemente que qualquer outro para levar ao conhecimento salvador de Jesus Cristo; ele foi escrito para esse propósito. O Espírito, que produziu a Bíblia, abençoa seu uso

quando a intenção do pregador é a mesma que a sua própria.

7. O tema de cada mensagem é Deus e Pessoas

A pregação contemporânea que proclama a mensagem de Deus a seu povo é sempre pessoal. Isso significa que o pregador não tentará pregar na forma de uma aula expositiva. Nós precisamos evitar a linguagem e os conceitos abstratos. Não falaremos a respeito da Bíblia, mas vamos pregar sobre Deus e sua congregação a partir da Bíblia. Precisamos "abrir" as Escrituras como Jesus o fez (Lc 24.32), informando nossos ouvintes sobre seu conteúdo, mas sempre tornando visível a relevância do texto para eles. Nós reconhecemos que não estamos apenas fazendo um discurso, mas estamos pregando para pessoas sobre sua relação pessoal com Deus e seu próximo. Isso quer dizer: precisamos delinear nosso sermão no modo da segunda pessoa. A palavra predominante não será eu, ele, ela ou isso, mas você. Precisamos aproveitar a deixa acerca desse aspecto da pregação de Jesus no Sermão do Monte.

8. A clareza é fundamental

A fim de pregarmos de forma eficiente, precisamos adotar um estilo claro e simples que é facilmente entendido por aqueles que ouvem. Precisamos reconhecer que o apóstolo Paulo declarou que ser claro é uma obrigação (Cl 4.4) e até mesmo pediu que seus leitores orassem para que Deus o ajudasse a cumprir sua obrigação. Não apenas nós mesmos oraremos pela nossa pregação, mas é necessário fazer com que nossa congregação se interesse por fazer isso também.

Em nossos esforços para manter completa clareza, precisamos adotar uma linguagem não técnica (a não ser que a expliquemos). Precisamos evitar terminologias "tediosas", termos obsoletos e estilo antiquado. Precisamos proclamar a mensagem de Deus sem entonações estranhas, cacoetes ou qualquer outra coisa que chame a atenção para si mais do que para a verdade. Nós mesmos precisamos permanecer no fundo da cena o máximo possível, confiando que Cristo está na frente da mensagem.

A fim de atingirmos clareza, usaremos ilustrações e exemplos que ajudem os leitores na compreensão. Essas ilustrações e exemplos precisam ser escolhidos primariamente das experiências contemporâneas, de modo que por meio deles sejamos

capazes de demonstrar não apenas o que a passagem significa no dia-a-dia, que ela é prática, e não apenas teórica, mas também como Deus espera que o leitor se aproprie da verdade.

A verdade de Deus não deve ser misturada desordenadamente na proclamação. Ela deve fluir inexoravelmente do começo ao fim de maneira racional e lógica. Isso significa que um pregador diligente toma tempo para pensar não apenas a respeito do conteúdo, mas também sobre a forma em que ele é apresentado. Pregadores que realmente se importam trabalham para tornar a verdade de Deus tão simples e fácil de entender quanto possível (sem perda de significado), para que o seu rebanho possa recebê-la facilmente.

9. Nosso dever é pregar corajosamente

Pregadores humildes são parecidos com o apóstolo Paulo, que pediu por oração para que, "destemidamente" tornasse "conhecido o mistério do evangelho" (Ef 6.19). Eles se lembram do que pode ser chamado de a oração do pregador, em que

o discípulo orou para comunicar a palavra de Deus "corajosamente" (At 4.29). Pregadores desse tipo reconhecem que a palavra para "coragem" usada aqui (parresta) e em todo o livro de Atos, a que caracterizou a pregação do Novo Testamento,

significa "liberdade para falar sem medo das conseqüências".

Que tipo de pregação — que tipo de pregador — consegue levantar a barra para saltadores de baixa estatura?

Crawford Loritts

E inerente à pregação um sentimento de autoridade divina que a distingue da boa comunicação. Os grandes pregadores são bons comunicadores, mas nem todos os bons comunicadores são necessariamente grandes pregadores. E a diferença é a autoridade. Minha definição de pregação é que ela é uma palavra de Deus para as pessoas em um momento da história.

Todo pregador precisa ter em mente três grandes axiomas:

1. Nunca ouse ficar em frente de um grupo de pessoas com uma Bíblia na mão sem esperar mudanças. Nós precisamos ter uma confiança divina — confiança em Deus e em sua Palavra, confiança de que Deus mudará a vida das pessoas sempre que falarmos com base no seu livro.

2. Lembre-se que o objetivo de todo ministério é a transformação. O objetivo do ministério não é para que as pessoas gostem de você, nem para que o aceitem. O objetivo final de Deus é mudar a vida das pessoas.

3. No final das contas, a eficácia de nossa pregação jorra da santidade de nossa vida pessoal. Em 2Coríntios 2.17, Paulo diz: "Ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando lucro". No grego, a palavra negociar se refere a fabricantes de vinho que faziam uma pequena fraude. Eles diluíam o vinho e o faziam passar por vinho puro. Paulo diz que é para não violarmos a integridade da verdade da palavra de Deus. Não nos tornarmos tão preocupados com a "comunicação" a ponto de o

conteúdo puro ficar diluído. Paulo continua a dizer: "antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade". Isso nos diz para sermos genuínos em nossa comunicação, mantendo nossa integridade. Não seja um orador que se torna ator, que se

torna tão escravizado pela necessidade de dizer algo de tal modo que as pessoas o ovacionem em pé. Não esteja excessivamente preocupado em transformar uma frase de um modo que ganhe os sorrisos e a aprovação das pessoas.

O púlpito traz consigo uma inebriação. Quando aumenta o reconhecimento é necessário que aumente o quebrantamento, para que você não brinque com as pessoas. Nós precisamos lembrar que estamos lidando com questões eternas, com a verdade, com coisas que exigem transparência e integridade completas.

Como ocorre a intersecção entre a pregação e a liderança

Jack Hayford

Nós estamos em uma cultura de igreja que coloca muita ênfase na liderança. Pastores pensam não apenas em termos de pastorear pessoas, mas também em termos de liderar a igreja, o corpo corporativo de Cristo. Ainda assim, enquanto

pensamos em ser líderes e pastores competentes, precisamos pensar a respeito da tarefa da pregação. Este artigo examina a interseção entre a liderança e a pregação.

O discernimento entre os papéis dos pastores de liderar e ensinar é essencial. Precisamos discernir quando estamos pregando simplesmente para promover um programa e quando estamos pregando para promover o reino. É importante manter

essas coisas claramente distintas.

A natureza da vida da igreja global e a natureza da batalha espiritual exigem que reconheçamos nossa tarefa não simplesmente como reunir pessoas e ensinar a Bíblia a elas. Grupos pequenos podem fazer isso — sem haver ali qualquer tipo de congregação ou um pastor especificamente designado para isso. As pessoas podem fazer isso em sua casa com sua própria família, e essas coisas devem acontecer. Mas um pastor, por definição, é uma pessoa que não está apenas alimentando o rebanho, mas também está levando as pessoas a algum lugar.

Pastores de ovelhas fazem isso. Eles conduzem e alimentam. Essa é a essência do trabalho pastoral. Qualquer um de nós que pastoreou descobriu que as pessoas preferem ser alimentadas a ser conduzidas. Pessoas que estão com fome da Palavra, como deveria ser o caso das boas ovelhas do rebanho de Cristo, gostam de aprender. Elas gostam de experimentar novidades, coisas que aquecem sua alma, as encoraja, as estimula e lhes dá discernimento e instrução. Mas quando você começa a dizer: "Gente, é tempo de nos mexermos, não apenas sermos alimentados", o rebanho começará a rosnar e a murmurar, porque as ovelhas preferem se assentar e comer ali por um bom tempo. Mas há tempo e lugar em que o ministério da pregação do pastor precisa apontar a direção para a igreja.

Por exemplo, há muitos anos eu preguei uma série de mensagens a respeito de uma questão que minha igreja estava enfrentando. Os anciãos da igreja recomendaram a aquisição de um grande imóvel. Nós compramos um imóvel inteiro de uma igreja que seria acrescentado ao campus que já tínhamos. A quantia de dinheiro envolvida nessa aquisição era um salto enorme para nós.

Eu senti o Senhor mover meu coração para que adquiríssemos esse novo campus mesmo antes de qualquer coisa ter sido apresentada à congregação e, aliás, antes de nós sabermos ao certo se podíamos realmente comprar a propriedade. Eu me senti conduzido a pregar uma série de mensagens com base no livro de Josué. Assim, preguei uma série intitulada: "Aproprie-se dos seus amanhãs".

Eu examinei o texto em que Deus disse a um grupo de pessoas em tempos antigos: "Eu tenho um lugar para vocês e um propósito prometido para vocês nesse lugar". Esse propósito exigiria todo um conjunto de passos a fim de que isso acontecesse. Isso não aconteceria sem empenho. Não aconteceria sem visão e fé. Não aconteceria sem falhas ao longo do caminho. Assim, aquela série "Aproprie-se dos seus amanhãs" se tornou o cartão de visita para o novo campus.

Mas o meu papel como líder não ultrapassou meu papel como alimentador. Quando introduzi a série, eu não disse: "Estou pregando essa série de mensagens porque nós estamos pensando em comprar uma propriedade". De fato, aquela série de mensagens nem sequer tratou da aquisição de propriedades. Eu preguei a série de mensagens porque sabia que cada pessoa em minha congregação estava em algum lugar de sua vida em que Deus estava apontando para novas possibilidades. A posse dos amanhãs de sua vida tinha seus princípios estabelecidos em dar passos para frente a fim de realizar a esperança e as possibilidades dessas promessas. Meu primeiro interesse era nutrir as pessoas, para que, onde quer que elas estivessem em sua vida, encontrassem alguma coisa que as alimentaria com princípios para se apropriarem do que Deus tinha para elas.

Eu acredito que aquela série preparou corações para se expandirem além de onde estavam. Quando veio a visão para um campus adicional, eu pude fazer menção daquela série e imediatamente as pessoas conseguiram fazer a conexão com o que Deus estava nos chamando a fazer como igreja. Eu pude expandir a percepção da prontidão de Deus para fazer mais do que pensamos, mas também pude ajudá-los a reconhecer que nós teríamos um preço a pagar, um caminho a percorrer. Para mim, aquele era um caso clássico de liderar e alimentar. De certo modo, aquela série de sermões se transformou em pontos cardeais pelos quais a igreja podia navegar. Ela se tornou um sistema de referência de valores, crenças, de um modo de olhar a vida de forma que, quando tivessem de agir, estariam prontos.

A responsabilidade da liderança

Todo pastor tem uma responsabilidade de liderança. O pastor não pode simplesmente ser um camaleão que se adapta a tudo que as pessoas querem. Eu compreendo que você pode ter todos os tipos de problemas políticos em potencial e até mesmo perder seu emprego, mas existem momentos em que o pastor precisa elevar a sua voz. Se tenho coisas a dizer que trazem consigo um potencial de discordância em algumas pessoas, eu normalmente me encontro com líderes na igreja antes e faço com que fiquem sabendo o que estou sentindo. Então eu posso ir perante as pessoas com um sentimento de companheirismo e a parceria dos líderes reconhecidos para falar com a autoridade da Palavra de Deus.

E claro que os diferentes graus de liderança com que cada pastor é capacitado — e eu acredito que as capacidades de liderança são simplesmente parte dos dons de uma pessoa — comumente serão proporcionais à dimensão do pastoreio para o qual Deus chamará esse pastor. Quanto maior uma igreja, obviamente maior é a necessidade do dom de liderança.

Liderando grupos ao liderar indivíduos

O principal chamado do pastor como líder e alimentador não é apenas liderar a igreja como um corpo, mas liderar cada indivíduo como uma ovelha. Lemos em Isaías 40.11: "Como pastor ele cuida do seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas crias". A tarefa pastoral não é apenas dizer: "Ei, rebanho!", e esperar que todas as ovelhas sigam. Há ovelhas que às vezes precisam ser carregadas nos braços. Há algumas que, como as ovelhas-mães, são formidáveis com as novas. E preciso ter sensibilidade para liderar pessoas que estão passando por uma crise ou uma fase de transição na sua vida. Há um foco de liderança pessoal, assim como há um foco de

liderança grupai ou corporativa.

Para mim, o valor principal é o meu chamado para nutrir o propósito criativo de Deus. Com "propósito criativo", quero dizer o propósito para o qual Deus inventou uma pessoa, aquilo para o que a pessoa foi feita. Sou chamado para nutrir esse processo

em cada indivíduo na igreja. No púlpito, esse indivíduo é meu alvo; quero nutrir essas pessoas para cumprirem o propósito para o qual Deus as fez e ajudar a conduzi-las nos passos de bebê para toda a visão que Deus tiver para suas vidas.

Eu faço isso esperando que em algum lugar ao longo do caminho elas captem a visão de Deus para sua vida e se alinhem com ela. Eu não vejo meu ensino como simplesmente instrucional, educacional ou informal. Ele é sempre profético, apontando

para a frente, chamando para algum ponto de avanço. Ele está conduzindo as pessoas a se superarem.

Eu lidero as pessoas com cada mensagem. Mas o alvo é nutrir o propósito bondoso de Deus na vida delas. Hoje não insistirei em que satisfaçam alguma exigência ética. Não quero fazê-los atingir algum objetivo da nossa igreja local. Mas quero ajudar essa pessoa a se tornar aquilo para o qual ela foi criada.

Nesse contexto, então, o maior desejo que eu tenho é — por meio da ministração da Palavra — conduzir as pessoas à convicção acerca de três coisas. A primeira é que percebam o compromisso absoluto de Deus em seu amor por elas, o amor que nos justificou por meio do sangue de Jesus Cristo. A segunda convicção é que elas saibam que esse mesmo amor é o amor que está comprometido com o cumprimento da visão de Deus para elas. E a terceira é chegar à firme confiança de que haverá um triunfo, independentemente de seu ambiente presente, sua luta ou seus medos. Eu quero que elas percebam que haverá uma vitória. Aquela vitória pode assumir diferentes variações do que a pessoa pensou quando começou a jornada,

entretanto, no final todos vencerão triunfantemente.

Assim, esse é o meu objetivo: liderar as pessoas com essas convicções. Primeira, Deus criou você com elevado propósito e destino específico. Isso pulsa por meio da paixão da minha pregação. Segunda, o amor de Deus o envolveu e o conduzirá até lá. Deus está com você e nunca o abandonará. O Senhor está cuidando de você. Terceira, qualquer que seja o ponto de conflito ou a evidente reversão, haverá uma vitória final.

Conduzir as pessoas até essa visão de si mesmas é, em si, alimentá-las, mas também é liderá-las, porque nossa tendência é pensar: "Você pode dizer que eu sou uma pessoa com um propósito especial, mas eu ainda não sinto isso. Eu sei que Deus me ama, mas é simplesmente difícil sentir isso hoje — e especialmente tão imerecido se olho para como me comportei nessa semana". Elas pensam: "Estou lidando com algumas coisas difíceis e eu sei que você está falando sobre vitória na frente, mas é melhor que você me lembre disso, porque no momento está sendo difícil pensar nisso".

Todo mundo precisa ser liderado constantemente por essas coisas. E a essência da ação do pastor, como a passagem de Isaías diz, é liderar graciosamente o rebanho, mas com um braço sensível que acompanha aqueles que são jovens e lidera aqueles que estão prestes a liderar cordeiros — aquelas pessoas que estão em transição, que estão carregando a possibilidade de novo propósito e nova vida. Ainda não é um tempo confortável para elas.

Esse é o papel de liderança do pastor. Toda alimentação dever estar centrada ao redor destas prioridades: ajudar as pessoas a terem uma percepção do propósito de Deus, uma percepção de seu amor e uma percepção de seu compromisso com

a vitória final.

Escolhendo temas de pregação para a liderança

Às vezes, eu presto atenção em eventos atuais e seleciono assuntos de pregação de acordo com isso. Por exemplo, a minha igreja fica em uma área da Califórnia com muitos terremotos. Durante o terremoto de 1994, que foi terrivelmente devastador

para a nossa região, preguei sobre questões como o sofrimento e a providência de Deus. Outro exemplo foi quando preguei sobre questões referentes aos tumultos de Los Angeles em 1992.

Aquelas coisas exigiram ministração da Palavra de Deus voltada para um tópico predominante e que ocupava grande parte de nossa vida. Qualquer pastor nessas circunstâncias que não interrompesse uma série bem idealizada com a qual estivesse ocupado não seria realista com as Escrituras, sem mencionar que também não seria realista com o mundo. A Bíblia se dirige a pessoas em necessidade, em desordem e em momentos críticos de sua vida. Esses momentos apresentam um desafio de liderança ao pastor. Como eu conduzo o rebanho durante esse tempo horrível de mudanças drásticas e respondo aos questionamentos que essas mudanças causam na sua mente? Como posso liderar as oportunidades de ministério para

um crente pensante? O que eu posso ser no ambiente dessa crise?

Quando a Guerra do Golfo ocorreu, preguei dois domingos de manhã sobre a atitude dos crentes com respeito à guerra. Líderes chamam a atenção para questões em pontos de crise.

Nesse tipo de pregação de liderança, também tive de liderar em momentos que senti que Deus estava falando a nós como uma congregação em relação às nossas atitudes. Lidei com coisas como atitudes étnicas. Preguei uma série sobre como lidar com a aparência de Los Angeles visto que ela mudou radicalmente nos trinta anos em que eu tenho pastoreado aqui. Tivemos de decidir se faríamos uma espécie de migração e mudaríamos de local para sermos a congregação branca que éramos quando assumi a igreja há muitos anos. Chegou um ponto em que senti que precisávamos dizer, como corpo, que seríamos uma congregação que se comprometeria com a multietnicidade em nossa igreja. Precisávamos decidir que não teríamos preferências; seríamos tolerantes em nossa vida de igreja. Não estávamos em uma cruzada política para sermos multiétnicos, mas em uma cruzada do reino para sermos pessoas que mostram o que significa ser um grupo composto de "todas as nações, tribos, povos e línguas".

Assim, preguei uma série intitulada "Superando o Mundo".1 Nós queríamos passar à frente do progresso da sociedade em relação a isso e não ser controlados pelas atitudes raciais e étnicas com as quais cada um de nós havia sido doutrinado pela sociedade em que estávamos inseridos. Quando pregamos esse tipo de mensagem, não apenas as pregamos no domingo de manhã. Elas são anunciadas com bastante antecedência. Elas são uma espécie de marco, e a igreja fica lotada quando as pregamos. E são sermões longos; não raro, nessas ocasiões, os nossos pastores pregam um sermão de uma hora e quinze ou uma hora e vinte e cinco minutos sobre um tema significativo. Pregar sobre tópicos de interesse e relevância atuais é uma boa maneira de liderar por meio das Escrituras e, ao mesmo tempo, alimentar as pessoas. Quero encorajar a você, pastor, a manter principalmente a visão de que você está lidando com pessoas que têm seus próprios desafios a encarar. Precisamos nutrir o rebanho e, então, com base nessa saúde, ver o corpo de Cristo se mover de forma saudável em direção à realização de seus objetivos.