A MULHER, O PERFUME E CRISTO

Estamos em Betânia, século I. Cristo está mais uma vez na casa de um pária da sociedade: Simão, conhecido por ser leproso. De repente, uma mulher interrompe a reunião. Ela não pronuncia qualquer palavra. Carrega consigo um vaso de alabastro, material usado para fazer frascos. Dentro dele está um precioso perfume de nardo puro. Os contabilistas de plantão logo fazem os cálculos: custa em torno de trezentos denários, o salário de quase um ano de um trabalhador comum. O que faria aquela mulher com aquele líquido? O que nós faríamos?

Para surpresa de quase todos, ela quebra o frasco de perfume. O agradável cheiro enche a casa, impregna as pessoas. Mas especialmente uma. O bálsamo é derramado sobre a cabeça de Jesus. O que Cristo dirá a ela? Ele que alimentou os pobres famintos que o ouviram até o entardecer, que ensinou a ajudar àqueles que eram mais necessitados.

A indignação toma conta do ambiente. “É um absurdo”, talvez alguém cochiche. “Para que este desperdício?”, afirmam alguns. Seria melhor, pensam, vender o perfume e repartir entre os pobres. A expectativa agora é pela repreensão que, com certeza, Jesus fará à mulher. Ledo engano.

Cristo então disse: “Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo” (Marcos 14:6). Jesus resumiu a essência da moral cristã: boa obra é aquela que é para Deus. Quando aquela mulher entrou naquela casa ela não se importou com ninguém mais, a não ser o Mestre. Ela agiu como Maria que “quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos” (Lucas 10:39). Exprimiu o sentimento do salmista: “A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti” (Salmos 73:25).

Conta-se que no século IV o jovem Eraclius subiu ao púlpito para pregar. Sentado atrás de si estava o já idoso Agostinho, bispo de Hipona, um dos maiores gênios da história da igreja. O jovem pregador, então, disse à sua platéia: “O grilo trila, o cisne está silencioso”. Diante do mestre aquele jovem sentiu que perdeu a importância. Diante de Jesus tudo o mais perde a importância: poder, dinheiro e até o próprio homem. Em Betânia, no momento em que Jesus estava prestes a morrer por nós, ajudar os pobres não era o mais importante a fazer: “Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes” (Marcos 4:7) .

Não existe lei moral à parte de Cristo. A doutrina cristã não é um conjunto de regras elaboradas sem relação com o Legislador. O apóstolo Paulo disse: “Não foi assim que aprendestes a Cristo” (Efésios 4:20). Aprendemos não uma doutrina, mas uma pessoa. O que fazemos deve ser para a glória de Deus. Assim, respeitamos o próximo, não por causa dos "Direitos Humanos", mas porque está no homem a imagem de Deus. Devemos cultuar ao Senhor não do modo que mais gostamos, mas de uma maneira que se coadune à majestade divina.

Destaco, ainda, uma frase de Jesus em relação àquela mulher: “Ela fez o que pôde” (Mc. 14:8). Como disse no começo, o valor daquele perfume era correspondente a um ano de trabalho. Mas, não acredito que Jesus estivesse calculando o seu valor. Ele enxerga o que não vemos: quanta gratidão e amor havia naquele ato. Ele, que sonda os corações, não vê apenas o que fazemos, mas como fazemos, o quanto de nós está em nossas ações. Homens depositam fortunas para Deus, mas ele ignora. Uma mulher entrega duas moedinhas, e ele a reconhece como a que mais ofertou. A mulher de Betânia não derramou apenas perfume sobre Jesus, ela mesma se derramou perante sua face, reconhecendo quem de fato ele era e o que merecia.

Cantamos, oramos, pregamos e damos esmolas. Mas, será que Jesus poderia dizer de nós: “Ele fez o que pôde”? Jesus honrou aquela mulher a ponto de querer que sua memória fosse preservada (Mc. 14:9) Ela foi um modelo de como devemos nos portar diante do Senhor.

George Gonsalves
Enviado por George Gonsalves em 03/05/2012
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