A LIBERDADE DE CHEGARMOS À VERDADE SUPREMA NA ÓPTICA DE SANTO AGOSTINHO

VALTÍVIO VIEIRA

Formação do Autor: Curso Superior em Gestão Pública, pela FATEC – Curitiba – PR; Licenciado em Filosofia, pelo Centro Universitário Claretiano – Curitiba – PR, Licenciado em Ciências Sociais, pela UCB – Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro – RJ, Pós-Graduado em Ciências Humanas e suas Tecnologias; Contabilidade Pública e Responsabilidade Fiscal; Formação de Docentes e Orientadores Acadêmicos em Educação à Distância, e Pós-Graduando em Metodologia do Ensino Religioso, ambos pela FACINTER – Curitiba – PR.

SÃO BENTO DO SUL - SC

2012

A LIBERDADE DE CHEGARMOS A VERDADE SUPREMA NA ÓPTICA DE SANTO AGOSTINHO

O Homem com sua liberdade pode aceitar Deus ou negá-lo. Mas ele não pode esquecer que ele também pode fazer o bem e o mal, e que tem mais condições de fazer o bem, de que o mal. Ele deveria fazer por vontade própria somente o bem, para que o homem pudesse ser feliz, e chegar a viver somente na verdade.

A sua verdadeira felicidade está em Deus, que é a verdade sem fim, e tem bondade e bem infinito, e que nunca muda. Mas para isto devemos buscar este Deus que é Bem.

A felicidade está centrada no conhecimento da verdade na intensidade da alma. Conhecimento que, ao mesmo tempo é, posse de gozo de Deus: “feliz quem possui Deus”. A Sabedoria que nos á a felicidade consiste em fluir, deleitar-se em Deus a verdade infinita, nosso Bem Supremo e Imutável. Nossa perfeição moral e nossa felicidade consistem em conhecer e amar este sumo Bem (AGOSTINHO, 1998, p.115)

No começo pode até ser feito, como gesto de pura liberdade humana, mas com o certo tempo a pessoa tenta sair deste vício e não consegue, ou seja, as drogas escravizaram, a pessoa que fez uso delas. O melhor gesto é buscar o bem imutável que é Deus, pois este quanto mais conhecermos, mais ele dará liberdade “a tese principal que Agostinho desenvolve, em a Vida Feliz é esta: a vida feliz consiste no perfeito conhecimento de Deus. Por isso, ele não faz consistir a felicidade na posse ou no gozo de qualquer bem criado, mas só na posse ou gozo do Bem Absoluto e perfeito” (AGOSTINHO, 1998, p. 115).

Tem o homem velho exterior e o homem novo interior. O homem velho tem uma vida carnal, é escravo da cobiça, das coisas temporais e chama isso de felicidade. São muitos os que desde o berço à sepultura, seguem este gênero de vida inteiramente terreno.

Outros, pelo contrário, tratam de renascer de dentro, graças a um gênero de vida superior no trono da vida corporal. Ainda que comece necessariamente pela vida corporal exterior, realiza-se neles um segundo nascimento.

Este renascimento põe em ação as forças puramente espirituais de uma vida nova que, graças ao conhecimento na sabedoria, tem o efeito de tolher o crescimento do homem velho chegando a exterminá-lo na medida do necessário e evolui em harmonia com as leis divinas. Pois, com o fim do homem velho é a morte, o do novo é a vida eterna.

Santo Agostinho viveu com grande exemplo de liberdade falsa, onde ele revia a paixão do sexo, que o escravizava a cada dia, que criou nele uma necessidade. Mas depois veio a vontade de servir a Deus, e em Deus ele viu que é a verdadeira felicidade, é a única felicidade segura, que ele podia confiar.

Ele tinha a vontade carnal, que cada vez mais o escravizava e tinha a espiritual que clareava o espírito, mas que por fim o deixava cada vez mais livre.

Da vontade pervertida nasce à paixão: servindo à paixão, adquire-se o hábito, e não resistindo ao hábito, cria-se a necessidade. Com essa espécie de anéis entrelaçados, mantinha-se ligado à dura escravidão. A nova vontade apenas despontava: a vontade servir-te e de gozar-te, ó meu Deus, única felicidade segura, ainda não era capaz de vencer a vontade anterior, fortalecida pelo tempo. Desse modo, tinha duas vontades, uma antiga, outra nova; uma carnal, outra espiritual, que se combatiam mutuamente; e essa rivalidade me dilacerava o espírito. (AGOSTINHO, 1997, p.192).

Pela nossa vontade livre podemos unir-nos com Deus e com os irmãos, para sermos felizes. As fazemos o bem, estamos derrubando tudo o que há de ruim, até mesmo no meu próprio existir e na moral, e na minha vida coletiva.

Na parte da ética e Moral, pelo bem que faço, não prejudico a ninguém, e não machuco a ninguém, só se a pessoa olhar com o mal, sobre o bem que eu fizer. Ajuda muito na vida coletiva para não se ter divisões, e todos viverem felizes e ajudando-se mutuamente “a Vontade livre leva a unir-vos ao Bem imutável. E encontramos neste a felicidade, com ele e com os outros homens que é a nossa autêntica riqueza” (AGOSTINHO, 1986, p.254).

Toda sociedade pressupõe um amor comum e visa um objetivo comum: a ordem da paz. O povo é o conjunto de seres racionais associados pela comunidade de objetos amados. Portanto, o que faz com que os seres racionais venham a constituir um povo é o amor a um bem comum compartilhado por todos. Um povo será melhor, quanto mais nobres forem as coisas que amam, e tanto pior quanto menos nobre, isto, que é a verdadeira justiça.

A liberdade, não serve para o homem apenas mostrar que “basta a si mesmo”, ou que pode dividir tudo o que quer. Mas ele pode conseguir méritos. O homem fazendo o bem, respeitando a vida alheia e valores superiores, respeita a ordem moral também. O homem pode livremente ser verdadeiro, ter amor e outros valores superiores.

E vivendo estes valores superiores, que é de algo superior, que no caso é Deus, o ser humano um dia poderá estar eternamente com Deus “o Livre-arbítrio foi concedido ao homem para que conquistasse méritos. Ele é o suporte de toda ordem moral, o princípio essencial de um mundo de valores superiores, os méritos do homem podem fazê-lo chegar a ser reconhecido por Deus, e um dia estar com ele” (AGOSTINHO, 1986, p.292).

Agostinho fala que não se pode amar o que se desconhece. Por outro lado, não se procura senão o que se ama. Ninguém ama o desconhecido.

As afeições e sentimentos são tantas manifestações da vontade. Os afetos básicos são: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. O desejo é um aquecer a tendência da vontade para um objeto qualquer. A alegria é a complacência na posse de um objeto da vontade. O temor é o sentimento pelo qual a vontade se retrai e se afasta de uma coisa. A tristeza é aversão da vontade por um mal infligido.

O amor é a própria essência do homem, e por isso, ele não encontra o seu lugar. É visto que o amor é uma atividade decorrente do próprio ser humano. Onde tudo o que faz com amor, se faz com prazer. O amor é a alegria mais profunda.

Todos os homens buscam a felicidade. Esse é o motor universal que coloca em movimento todas as ações humanas. Mesmo os que tomam caminhos contrários ao da Felicidade, prejudicando-se a si mesmo, são movidos pelo desejo de ser felizes.

E a força da gravidade do homem é o amor à felicidade, que o leva por diversos caminhos à meta sempre desejada. Todas as ações do homem, grandes e pequenas, todos os seus anseios e obras são impelidos pelo anseio de felicidade. E no, entanto, ao contrário das pedras, que possuem sempre um caminho fixo, o desejo humano de felicidade arrasta o homem pelos mais diferentes e contraditórios caminhos.

Embora a meta seja única, os caminhos são infinitos, pois o homem é um ser dotado de liberdade diante de um campo de possibilidades infinitas. Ao longo da história, os homens tem discutido sobre o sentido de sua felicidade. Uns a procuram no prazer dos sentidos, outros nas virtudes “a Boa Vontade envolve o bom uso da liberdade e consiste na vivência das quatro virtudes cardeais: prudência, força, temperança e justiça” (AGOSTINHO, 1986, p. 165).

Em relação à prudência, a razão delibera e julga a si mesma. A razão não será justa a não ser se for impedida por uma vontade reta. É a virtude das iniciativas, das responsabilidades. Virtude do homem livre e dos que são chamados à liberdade.

A força é o vigor físico e moral, capacidade de agir nos outros e de resistir às suas influências. É a disposição da alma que permite agir sob o impulso da vontade. É ordenada para suportar a prova e a adversidade, e para combater o mal.

A temperança é a virtude moderadora dos desejos e dos prazeres. A gama do seu objeto estende-se, portanto, a todas as deleitações, desde os prazeres sutis da consideração estética ou da audição, até os gozos carnais.

A justiça em sentido bem amplo pode ser entendida, como as boas relações entre os homens e entre a divindade. O homem é chamado justo quando dá a cada um o que lhe é devido. A mesma é a norma que deve regular as relações entre os homens impedindo que os conflitos entre uns e outros não redundem na opressão ou destruição daqueles que não resistem à dura luta.

A justiça não faz discriminação de pessoas, nem tem preferências afetivas, a justiça busca igualdade para todos. Ela deve estar ligada ao verdadeiro amor. Ela edifica um mundo igualitário. A mesma está inscrita no coração de todo homem para ele ter uma vida reta. É algo antiindividualista. O homem tem em si justiça original, que designa do estado de perfeição em que Deus concebeu e criou o homem.

As filosofias também discutiram longamente se a felicidade era algo que dependia do homem e só ele era capaz de alcançar ou se, pelo contrário, era um dom superior, que deveria ser acolhido. Se a felicidade estava ao alcance de todos ou era privilégio de alguns poucos.

E depois de tão longas discussões, sempre vista algo de misterioso e inatingível na felicidade, algo que se relaciona com o próprio mistério do homem. E a liberdade faz com que toda formulação sobre a felicidade fique superada no ato.

Para alguns a felicidade consiste em ter a multiplicação de pastagens e rebanhos, e em ter fortunas, ter muitos amigos. A felicidade não é simples alegria, como tampouco o êxito nos negócios ou nas atividades.

Hoje no mundo sente-se poderosamente envolvido pelos reclamos da felicidade. Mas também nunca existiram tantas falsas imagens de felicidade como hoje. A propaganda e o consumismo vestem a felicidade como imagens de conforto, com a satisfação de necessidades artificialmente criadas.

E por isso que há nos seres humanos muitas frustrações e doenças psíquicas e revelam a profunda deteriorização de encontro do homem com sua meta essencial, que é a felicidade.

A felicidade baseia-se na verificação, no ser humano dum desejo infinito que, sendo um desejo natural, deve poder ser satisfeito, mas não o poderia ser por nenhum bem finito.

Eis a razão por que a verdadeira observância da lei é a liberdade nascida do amor. Há, com efeito, duas maneiras de se cumprir à lei: por temor ou por amor. O homem já não se deixa conduzir cegamente pela lei, senão que ele adere de livre e espontânea vontade. Deve cooperar na edificação do reino de Deus, colocando-se espontaneamente no lugar que lhe pertence.

Agostinho por sua própria vontade e liberdade que tinha, decidiu deixar de lado o homem velho, que adorava os prazeres carnais, para viver uma vida de homem novo, e buscar o espiritual, e não o carnal. Mas para isso decidiu livremente renunciar ao racionalismo, ao materialismo e ao ceticismo, maniqueísmo

Por fim, ele se arrependeu por sua própria vontade, de não ter conhecido e amado Deus antes. E que nunca imaginava que Deus estava no seu interior.

Tarde te amei ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei? Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-se longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem. Tu me chamaste e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e ilhaste a tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz. (AGOSTINHO, 1997)

REFERÊNCIA

AGOSTINHO, Santo. O Livre-Arbítrio. Trad. Antonio Soares Pinheiro. Braga: Faculdade de Filosofia, 1986.

________________. A Cidade de Deus II. Trad. Oscar Paes Leme. São Paulo: Vozes, 2 ed., 1991.

________________. A Vida Feliz. Trad.Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1998.

________________. A Instrução dos Catecúmenos. Trad. Maria da Gloria Novak. Petrópolis: Vozes, 3 ed.,1984.

______________. Confissões. Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 1997.

______________. Soliloquios. Trado. Adaury Fiorotti. São Paulo: Paulus, 1998.

Valtivio Vieira
Enviado por Valtivio Vieira em 30/05/2012
Reeditado em 30/05/2012
Código do texto: T3696081
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