Mateus - Prece - O Pai Nosso

MATEUS, VI, 5-15 – LUCAS, XI, 1-4

Prece – O Pai Nosso

MATEUS v.5. Do mesmo, quando orardes, não façais como os hipócritas que gostam de orar de pé, nas sinagogas e nos cantos das praças públicas para serem vistos pelos homens. 6. Quando quiserdes orar, entrai para o vosso aposento e, fechada a porta. Orai a vosso Pai em segredo; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. – 7. Quando orardes, não faleis muito como fazem os gentios, imaginando que serão escutados por muito falarem. – 8. Não vos assemelheis a eles, porquanto vosso Pai sabe do que precisais antes de lhe pedirdes. – 9. Orai assim; Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; - 10, venha a nós o teu reino; - faça-se a tua vontade tanto na Terra como no céu; - 11, dá-nos hoje o nosso pão que está acima de qualquer substancia; - 12, perdoa as nossas dividas como perdoamos aos nossos devedores; - 13, e não nos abandones à tentação; mas livra-nos do mal, assim, seja. – 14. Porque, se perdoardes aos homens, vosso Pai não vos perdoará os pecados.

LUCAS: v.1. E sucedeu que, tendo estado a orar em certo lugar, quando acabou, um de seus discípulos lhe disse: Senhor, ensina-nos a orar, assim como João ensinou a seus discípulos, - 2. Disse-lhes Ele então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome, que o teu reino venha; - 3, dá-nos hoje o pão de cada dia; - 4, perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos devem e não nos deixes entregues à tentação. (33)

A prece! Antes que a luz do Espiritismo nos banhasse a alma, não sabíamos o que é verdadeiramente prece, nem quais o seu poder e a sua eficácia. Ela não passava, para nós, de uma prática costumeira, a que nos habituara nossa mãe e a que recorríamos, sempre que nos sentíamos aflito. Rogávamos então a N. S. Jesus Cristo um remédio para o nosso sofrimento. Apesar, porém, de lhe ignorarmos o valor e a eficácia, mesmo fazendo-a por simples hábito, ela nos enchia de doces esperanças o coração e nos proporcionava conforto. Faltava-nos, entretanto, a convicção de que aqueles por quem pedíamos beneficiavam dos nossos rogos.

Essa, aliás, a situação em que se encontra, com relação à prece, a generalidade das criaturas, devido à ignorância em que se mantêm da verdade, por efeito da incompreensão das coisas santas, donde a indiferença geral, cuja responsabilidade pesa toda sobre os que, monopolizando a interpretação das letras sagradas, fazem dos Evangelhos hieróglifos semelhantes aos do antigo Egito.

Considere-se, porém, que, se entre os egípcios o sacerdócio proibia aos leigos a leitura e a explicação dos livros sagrados, era porque, para os ler e explicar, mister se fazia uma iniciação longa, que se praticava através de estudo profundo e continuado e de provas que capacitavam o individuo para um estado de desprendimento que lhe permitia penetrar no mundo da verdade. Assim, esta, naquela época, como ao tempo de Jesus, só era ministrado ao povo de modo muito restrito em proporções compatíveis com o desenvolvimento comum das inteligências. Aos fracos, precisava ser transmitida veladamente, para os não tomar insanos; aos maus, para lhes não aumentar as responsabilidades, ou lhes facultar meios de praticarem o mal. Os sacerdotes egípcios, no entanto, os iniciados, esses já conheciam o magnetismo, o sonambulismo e praticavam a sugestão, chamada então magia, segundo refere Estrabão, o célebre geógrafo grego.

Vê-se assim que, no Egito, iniciados eram aqueles para quem a luz da verdade brilhava com grande fulgor. Eles não ficavam, como os que se dizem representantes de Jesus na Terra e únicos possuidores do conhecimento da sua doutrina, envoltos na obscuridade dos mistérios dos milagres e dos dogmas, em contrário ao que quer o manso Rabi de Nazaré, que veio à Terra precisamente para iluminar com seis ensinos e exemplos o caminho da salvação a todas as criaturas de Deus. E é do estudo e da prática sincera e simples desses ensinos que ressaltam o poder extraordinário, o valor inigualável e a prodigiosa eficácia da prece.

Um exemplo; certa vez, durante algumas noites seguidas, à hora de nos deitarmos, oramos em favor de um irmão do espaço que, por um médium, nos fizera a narração de seus sofrimentos. Decorridos algumas semanas, por ocasião de outro trabalho, disse-nos o médium ao ouvido: F. agradece os benefícios que colheu das tuas preces. Despertada a nossa reminiscência, pelo irmão agradecido, sentimo-nos surpreso, mas, ao mesmo tempo, cheio de grande contentamento.

Doutra feita, havendo acompanhado o bom irmão Bittencourt Sampaio, nosso mestre e companheiro de saudosa memória, em visita que fez a uma infeliz irmã que tinha o rosto já todo devorado por um cancro e à qual ia ele levar algum alívio, na primeira sessão que realizarmos depois desse fato, o anjo de guarda da pobrezinha se manifestou, para nos agradecer, dizendo: “O Pai celestial ouviu as vossas preces e Francisca deixa de sofrer neste momento”. Desencarnara. Desde então se nos firmou definitivamente a convicção de que a prece opera prodígios de misericórdia, é um recurso de valor inapreciável, que a bondade infinita de Deus nos concede para obtermos o de que necessitam os nossos Espíritos, uma vez que o empreguemos com humildade, submissão e fé.

A ciência espírita ensina como se produzem esses efeitos, fazendo-nos compreender que a prece, considerada do ponto de vista espiritual, é uma emanação dos mais puros fluidos, por meio da qual amparo e força recebem, mesmo a seu mau grado, aqueles a cujo favor é ela feita; que é uma magnetização moral, operando-se a distancia; que, assim sendo, orar é emitir fluidos sutis que, propelidos pela força da vontade, do amor, vão envolver aquele por quem se ora, fortalecer lhe o Espírito e esclarecê-lo. Pela prece, exercemos, de um ponto de vista mais alto, ação idêntica à que desenvolve o magnetizador sobre um paciente.

Recomendando, para a prece, o segredo, o silêncio, o recolhimento, e aconselhando seja ela feita em poucas palavras, Jesus, ipso facto, condenou, assim com relação aquela época, como em relação ao futuro, as pompas cultuais e as cerimônias ritualísticas, a multiplicidade das rezas que os lábios pronunciam, conservando-se lhes alheio o coração.

Jesus orou ao Pai por nós, do mesmo modo que o fez Moisés que, dando um ensinamento aos hebreus, levantou para os céus as mãos, sempre que precisou vencer a Israel. (Êxodo, XVII, 11).

Jesus Cristo vive sempre para interceder por nós. (PAULO, “Epíst. aos Hebreus”, VII, 25; - “Epíst. aos Rom.”, VIII, 34; - 1º a Timót., II, 5; João, 1ª Epíst.”, II, 1). – Pai, perdoa-lhes. (LUCAS, XXIII, 34) . – Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste. (JOÃO XVII, 11). – Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco. (JOÃO, XIV, 16).

Elucidações Evangélicas – Antônio Luiz Sayão

Antônio Luiz Sayão
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 20/08/2012
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