POR QUE SÓ OS HUMANOS É QUE FALAM ?

Assim como ninguém sabe, e nem consegue explicar, como o ambiente pré- biótico que existia sobre a Terra gerou , 150 milhões de anos depois do seu surgimento, a vida ( como afirma o cientista Francis S. Collins, in A Linguagem de Deus, p.96); assim também ninguém ao certo sabe porque somente o ser humano é o único na criação que fala.

Sobre o tema há várias teorias. Para o doutor em Historia, Felipe Fernandez – Armesto, os humanos têm a linguagem porque precisam dela, enquanto que os macacos não precisam dela, e, portanto, não devem tê-la. Diz ele que os macacos grandes são muito superiores aos humanos na habilidade de comunicação não verbal, lendo sinais nos olhos um do outro ( do seu livro “Então Você Pensa Que É Humano?”, ed. Companhia das Letras, p.25).

Para o professor americano Daniel Everest, da Universidade Bentley, em Boston, a linguagem é uma ferramenta criada por nós e foi desenvolvida com o uso da capacidade cerebral e corporal (in revista Veja, páginas amarelas, de 07/03/12). Em outras palavras, ele quer dizer que o dom da fala não é inato, isto é, a pessoa não nasceu com ela.

No fundo, o professor Daniel Everest está, com isso, questionando a Teoria da Gramática Universal, concebida por Noam Chomsky ( filósofo e professor de linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts –EUA), que sustenta que a linguagem é um dom inato ao ser humano, que já nasce com essa capacidade para o aprendizado linguístico e que já vem programado no cérebro como se fosse um “software” linguístico ( in revista Planeta, reportagem de Fabíola Musarra, de setembro 2010).

Pelo lado da neurociência, ao que se sabe, é que toda a linguagem é baseada em neurônios-espelho, segundo Michael Arbib, neurocientista da University of Southern Califórnia- EUA. Embora se tenha descoberto que os macacos (e possivelmente também os cães, elefantes e golfinhos) também possuem em seus cérebros (na região F5) essa classe especial de células, a verdade é que neles os neurônios-espelhos são ainda rudimentares. Mas, o interessante em tudo isso é que um dia o cérebro humano e os dos símios tiveram a mesma estrutura cerebral, ocorrendo que, em algum momento do processo evolutivo, essa área F5 dos macacos foi gradativamente se transformando na área de Broca no cérebro humano (responsável pelo processamento da linguagem, fala e compreensão), permitindo-nos ,assim ,a capacidade de se comunicar com palavras.

Para o cientista Francis S.Collins, diretor do Projeto Genoma Humano, que revelou a sequência do DNA - o código de hereditariedade da vida, composto por 3 bilhões de letras – existe um gene chamado FOXP2, o qual contém potencial função para o desenvolvimento da linguagem .Esse gene tinha permanecido estável, de forma extraordinária, em quase todos os mamíferos. Nos seres humanos, contudo, ocorreram mudanças substanciais na área de codificação desse gene, aparentemente há recentes 100 mil anos, cujas mudanças podem ter, de algum modo, contribuído para o desenvolvimento da linguagem em seres humanos (in livro de sua autoria, A Linguagem de Deus, p.145/146).

Para finalizar, o que deduzo de tudo isso é que, no princípio da sua criação, o homem não falava. Mas, o dom da fala estava sim nele programado para um dia se manifestar (o gene FOXP2), aguardando, apenas, mudanças substanciais na sua área de codificação; em paralelo à aguardada realização de outras mudanças e transformações no seu cérebro (a área F5 do cérebro dos macacos seria homólogo evolutivo da área de Broca, segundo pesquisa de Rizzolatti & Arbib,1998) , e, bem assim, do desenvolvimento do aparelho buco-faríngeo (este é tão importante quanto o desenvolvimento do cérebro, dizem os especialistas), o que um dia acabou acontecendo e o homem passou a falar.

A expressão plena da vida material obedeceu, por certo, a execução de um processo evolutivo, lento e gradual, que expressou a vontade do Criador, sendo certo – como diz Collins – que foi assim que a mão criativa e condutora de Deus agiu.

eldes@terra.com.br