Homilia Pe. Ângelo Busnardo- XV Domingo Comum (O amor que verdadeiramente salva)

XV DOMINGO COMUM

14 / 07 / 2013

Dt.30,10-14 / Cl.1,15-20 / Lc.10,25-37

Aqueles que praticam o mal, se não se arrependerem e mudarem de vida antes de morrer, serão condenados. Mas a maioria daqueles que, a nível humano, parecem bons também irão para o inferno: 13 Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que por ele entram. 14 Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram! (Mt.7,13-14). Se salvará somente aquele que, além de ser bom a nível humano, ama a Deus acima de si mesmo: Porque o Senhor voltará a comprazer-se e a fazer-te bem, como tinha prazer em fazê-lo a teus pais, 10 se, obedecendo à voz do Senhor teu Deus, guardares todos os seus mandamentos e preceitos, como estão escritos nesta Lei, e te converteres para o Senhor teu Deus de todo o coração e com toda a alma (Dt.30,9b-10).

Quem quiser entrar na casa do Pai após a morte deve amá-lo muito mais do que ama a si mesmo durante esta vida. Jesus confirmou que amar a Deus acima de tudo, inclusive acima de si mesmo é o maior mandamento: 25 Levantou-se um doutor da Lei e, para o testar, perguntou: “Mestre, o que devo fazer para alcançar a vida eterna?” 26 Jesus lhe respondeu: “O que está escrito na Lei? Como é que tu lês?” 27 Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a mente, e o próximo como a ti mesmo ”. 28 Jesus, então, lhe disse: “Respondeste bem. Faze isso e viverás” (Lc.10,25-28). Devemos atribuir a Deus um amor superior a aquele que atribuímos a nós mesmos e ao próximo um amor igual a aquele que atribuímos a nós mesmos. O amor ao próximo é semelhante ao amor que devemos dedicar a Deus. Mas o amor que dedicamos a Deus deve ser infinitamente superior ao amor que dedicamos ao próximo. Jesus diz que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro: 39 Mas o segundo é semelhante a este: Amarás o próximo como a ti mesmo (Mt.22,39). Semelhante não equivale a igual. Adão foi criado semelhante a Deus mas era infinitamente inferior ao Criador.

Amar a Jesus corresponde a amar a Deus, porque Ele é Deus, igual ao Pai e ao Espírito Santo e é uma das Pessoas Divinas que compõem a Santíssima Trindade. Para nós é mais acessível amar a Jesus porque Ele, pela encanação, desceu ao nosso nível sem deixar de ser Deus. Jesus voltou para o Pai mas permanece entre nós vivo na Eucaristia e a Igreja Católica fundada por Ele a quem Ele confiou a Eucaristia corresponde ao seu corpo: 18 Ele é a cabeça do corpo da Igreja; ele é o princípio, o primogênito dos mortos, para ter a primazia em todas as coisas (Cl.1,18).

É meu próximo todo aquele que regular ou casualmente tem algum contato comigo. Não posso considerar meus próximos aqueles que morreram antes de eu nascer ou aqueles que nascerão após a minha morte. Entre os meus contemporâneos, não posso considerar “meu próximo” aqueles que nunca tiveram e nunca terão, sob nenhum aspecto, contato comigo. Posso considerar “meu próximo” aqueles que nunca tiveram e nunca terão contato físico comigo, mas que, através dos meios de comunicação ou por outros meios, fiquei sabendo que estão passando por alguma necessidade.

Quando alguém que não é meu próximo, em caso de emergência, precisa da minha ajuda, devo eu tornar-me próximo dele para ajudá-lo a sair da situação de emergência. Neste caso, devo ser prudente para evitar de ser enganado e alimentar a safadeza da pessoa em questão no caso que a emergência tiver sido forjada. Foi o que aconteceu com o bom samaritano.

Havia um homem machucado caído à beira da estrada. O samaritano não o conhecia:

1. Podia ser efetivamente um homem que sofreu um assalto e precisava de ajuda.

2. Podia ser um safado que simulou um assalto para extorquir ajuda dos transeuntes.

3. Podia ser um assaltante que tentou roubar um transeunte que portava uma espada embaixo do manto e reagiu, venceu o delinqüente e o deixou ferido na estrada.

Se o homem caído no caminho fosse conhecido, o samaritano podia levá-lo para a hospedaria, dar-lhe dinheiro para pagar a conta e seguir viagem. Mas se fosse um safado que simulou um assalto para extorquir dinheiro ou um assaltante que foi dominado pela vítima teriam embolsado o dinheiro e saído sem pagar a conta. O samaritano agiu corretamente; levou o homem ferido para a hospedaria, pagou a conta, deu dinheiro extra para o dono da hospedaria e prometeu pagar eventuais despesas adicionais na volta. Para a vítima do assalto não deu nem mesmo alguns trocados para comprar um lanche na volta para a casa. Quem ajuda pessoas desonestas, alimenta a desonestidade delas e prestará contas a Deus por ter alimentado a desonestidade.

Código : domin847

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gamail.com

PS : Segue uma explicação da parábola do Bom Samaritano.

O BOM SAMARITANO

LC 10,25-37

03/05/1996

Lembrete: As parábolas, sendo uma linguagem indireta, devem ser analisadas em detalhe para evitar confusões e distorções da mensagem.

“E dizia-lhes: ‘A vós é confiado o mistério do reino de Deus; mas àqueles que são de fora tudo se lhes propõe em parábolas, para que olhem mas não enxerguem; ouçam mas não compreendam; não seja que se convertam e que se lhes perdoe” (Mc 4,11-12).

Em relação à prática da caridade, Jesus não generaliza:

1- “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; que, assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros. E nisto precisamente todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros”( Jo 13,34-35).

Jesus tem somente onze apóstolos com Ele e diz: “amai-vos uns aos outros”. Não diz: amem todos os judeus, toda a humanidade, todos os povos. Nisto reconhecerão que sois meus discípulos. Os outros que Jesus não pediu expressamente para amar, reconhecerão que os apóstolos são discípulos de Jesus, não pelo fato de serem amados pelos apóstolos, mas pelo fato de os apóstolos se amarem entre si.

2 - Jesus lava os pés dos apóstolos, inclusive Judas (cf Jo 13,4-11). Nunca se diz que Jesus tivesse lavado os pés de um doente ou de um pobre. Jesus curou os doentes, mas não lhes prestou serviços além da cura. Untou os olhos de um cego com lodo feito de pó e saliva, mas mandou que ele mesmo se lavasse, em vez de lavar-lhe os olhos (cf Jo 9,6-7).

3 - “O segundo é: ‘Ama teu próximo como a ti mesmo”(cf Mt 22,37-40). Não posso dizer que toda a humanidade seja meu próximo. É meu próximo aquele com o qual tenho algum tipo de proximidade. Não posso dizer que seja meu próximo uma pessoa que não conheço.

4 - “Eu porém digo-vos: ‘Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem...” (cf Mt 5,44). Para alguém ser meu inimigo precisa me conhecer, pois, como poderia me odiar, caluniar, perseguir ou prejudicar se não sabe que eu existo. Para ter metade da humanidade como inimigo, eu precisaria ser conhecido por metade da humanidade.

Se Jesus me tivesse pedido de amar toda a humanidade, me teria pedido algo relativamente fácil. Sem nenhum esforço eu poderia cumprir mais de 99,9999% do pedido de Jesus, porque, durante esta vida, uma porcentagem altíssima da humanidade não terá nenhum contato comigo. Os que morreram antes de eu nascer e os que nascerem após a minha morte não terão nenhum contato comigo durante esta vida. Amar aqueles que nunca tiveram e nem terão contato comigo é muito fácil. Jesus pede para amar a Deus, o próximo e o inimigo, exatamente aqueles que, ou por bem ou por mal, estão sempre em cima de mim.

A parábola do bom samaritano parece negar tudo o que foi exposto acima, porque o homem que caíra nas mãos dos ladrões não era próximo do bom samaritano ( o bom samaritano não o conhecia) nem era inimigo (o homem caído na estrada não conhecia o bom samaritano). Jesus pediu para amar o próximo e o inimigo e o samaritano estava perante alguém que, em termos pessoais, não era nem próximo nem inimigo dele. O homem caído na estrada poderia ser tomado como inimigo do samaritano em termos genéricos, pois, havia inimizade entre os judeus e os samaritanos. Neste caso estaria incluído na ordem de amar o inimigo. Mas a parábola não diz que um dos homens era judeu e o outro samaritano; diz apenas “certo homem, ao descer de Jerusalém para Jericó”(v 30); poderia tratar-se de um homem de outra nacionalidade.

Será que com esta parábola Jesus generaliza a prática da caridade, tornando extremamente fácil o cumprimento da mesma em porcentagem altíssima como foi demonstrado acima? Para entender coloquemos juntas a pergunta do doutor da lei (v 29) e a pergunta de Jesus (v 36):

“E quem é o meu próximo?” (Lc 10,29)

“Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos salteadores?”(Lc 10,36)

Se o homem caído na estrada fosse parente, amigo ou simples conhecido do sacerdote ou do levita é claro que eles o teriam socorrido. Se ele fosse inimigo do sacerdote ou do levita, poderia tê-los chamado pelo nome e pedido socorro mediante pagamento posterior. Mas o homem desastrado não era nem amigo nem inimigo de nenhum dos três, não conhecia e não era conhecido por nenhum deles. Pela pergunta (v 36) se percebe que Jesus não diz que o homem era próximo ou inimigo dos três que passaram pelo caminho. Ao contrário, pela pergunta, Jesus insinua que um dos três se tornou próximo daquele que caíra nas mãos dos ladrões. A parábola apresenta o samaritano agindo com consciência que está lidando com alguém que não é nem próximo e nem inimigo seu. É alguém do qual o samaritano se tornou próximo. Não se trata de um pobre, porque os ladrões não assaltariam quem nada tem, mas de uma situação de emergência. Se aquele que caíra nas mãos dos ladrões fosse próximo (conhecido) do samaritano, este poderia tê-lo levado até a hospedaria, dado dinheiro para pagar as contas e seguido viagem para Jericó. A distância entre Jerusalém e Jericó era aproximadamente 25 Km, trajeto que, na época, se fazia em um dia de viagem, sem necessidade de pernoite no caminho. O samaritano seguiu viagem no dia seguinte diz a parábola (v 35); atrasou sua viagem para socorrer o homem em dificuldade; deu a mesma assistência que teria dado a um conhecido (amigo ou inimigo), mas tomou precauções para não ser enganado. O samaritano resolveu estritamente a necessidade emergencial, entregando dinheiro para o dono da hospedaria e prometendo a este pagar, na volta, eventuais despesas adicionais. Como a distância que separava a hospedaria de Jerusalém ou Jericó correspondia a uma caminhada para menos de um dia, o samaritano não deu para o homem que caíra nas mãos dos ladrões nem mesmo dinheiro para tomar um lanche durante a viagem. Se o homem que caíra nas mãos dos salteadores fosse um safado que se fingiu de assaltado para extorquir dinheiro dos transeuntes, teria perdido seu tempo.

Ao ajudar materialmente os outros, para sermos fiéis à mensagem desta parábola, devemos ser prudentes. Se se trata de alguém que não faz parte da nossa comunidade, um desconhecido portanto, que se encontra em situação de emergência, temos obrigação de resolver o problema emergencial dentro de nossas possibilidades, com prudência. Prestaremos contas a Deus pelo dinheiro que, imprudentemente, entregamos a pessoas desonestas, pois, com isto, estaremos alimentando a desonestidade. O dinheiro desperdiçado para ajudar uma pessoa desonesta é tirado do carente honesto.

Se não se trata de situação de emergência, que o necessitado entre na comunidade católica onde praticamos a religião, antes de ser atendido, tornando-se próximo ou inimigo nosso. Se não quiser tornar-se próximo ou inimigo nosso é melhor deixá-lo na necessidade. Em Mt 5,42 lemos: “Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pede emprestado”. Este versículo faz parte de um bloco que começa no versículo 38, todo ele num contexto de violência. Se aquele que está pedindo ameaçar a minha vida, é claro que devo dar. Além disso o texto não especifica se se trata de desconhecido. Em se tratando de pessoa conhecida é meu próximo. Normalmente as pessoas pedem dinheiro emprestado para conhecidos. Se se tratar de um assalto devo dar, mesmo sabendo que estou alimentado a desonestidade, porque tenho obrigação de salvar a minha vida.

Ser fiel à mensagem desta parábola é muito mais difícil do que seguir o instinto de compaixão e ajudar qualquer um, sem se importar em saber se a pessoa é honesta ou desonesta. Assim como para o samaritano teria sido mais fácil levar o homem que caíra nas mãos dos ladrões para a hospedaria e dar-lhe dinheiro, seguindo viagem no mesmo dia.

código : bomsama

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Angelo Busnardo
Enviado por Joanne em 10/07/2013
Código do texto: T4381286
Classificação de conteúdo: seguro