OS MILAGRES QUE JESUS NÃO FEZ

Quando eu morava numa cidade de interior de Minas, na década de setenta, antes de me mudar para a capital, era bastante conhecida onde vivi, por mais de dez anos. Trabalhei lá numa instituição pública, da qual sou aposentada, local em que me relacionei com alguns colegas, alguns menos, outros, mais, a verdade é que me dei a conhecer a todos.

Passado pouco mais de um ano, fui designada para fazer um trabalho de preparação para um concurso público naquela cidade, não por coincidência, porque havia outras cidades a escolher, mas o fiz de propósito, para rever os colegas.

Quando cheguei à Rodoviária, vi na plataforma o motorista da Agência que olhava para dentro do ônibus, como que buscando por alguém. Gostei de vê-lo, cumprimentei-o, perguntando o que ele fazia ali, a quem esperava. Para minha surpresa, respondeu-me que fora buscar uma funcionária de Belo Horizonte, para encaminhá-la ao Hotel.

Jamais imaginei que seria recepcionada dessa maneira naquela terra, com tamanha distinção. Porém, a surpresa, ou desconserto dele foi maior, quando confirmei que essa pessoa era eu mesma, que não precisava esperar por mais ninguém. Mais tarde, na agência, soube que pensaram em várias pessoas com o mesmo nome, somente não pensaram que fosse eu.

Tudo bem, passou. Mas, por que me lembrei desse fato? “Naquele tempo, dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres”?”. Mt 13:54-58.

Como aconteceu a Jesus, e comigo, as pessoas não estão preparadas muitas vezes para aceitar as mudanças, principalmente com relação a crescimento, sucesso, seja ele em que plano for. Como conhecem a origem e a procedência, isso parece diminuir as chances de aquela pessoa se projetar ou se sobressair. No meu caso, se chegasse ali uma pessoa estranha, fora do círculo de conhecimento das demais, seria julgada mais inteligente e mais capaz, para receber uma incumbência de tamanha importância e responsabilidade. No plano espiritual, esse problema é ainda bem mais sério.

“Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?“:

Se chegasse a Nazaré, um sacerdote de alta linhagem dos judeus, ricamente vestido, será que seria diferente? No caso de Jesus, sendo nazareno, filho de carpinteiro, com uma mãe chamada Maria como outras, cujos irmãos e irmãs viviam ali, poderia ter tanta sabedoria, dominar a Palavra de Deus, instruir, admoestar, e até curar?

Quanta prepotência, pensaram, ninguém o viu estudar, frequentar escola! Quem é ele para que nele acreditemos? Mas era o mesmo que arrebanhava multidões nas cidades e vilas por onde passava, realizando todo tipo de milagre e muitos creram e cada vez mais aumentava a quantidade dos que criam.

“E ficaram escandalizados por causa dele, Jesus, porém disse: "um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família". “E Jesus não fez ali muitos milagres, porque não tinham fé” Mt. 13:54-58. De acordo com Mc.6:5 e 6, Ele não pode fazer muitos milagres em Nazaré, curou poucos doentes, com imposição de mãos, admirado com tamanha falta de fé de seus conterrâneos. O poder de Deus não estava limitado ou fraco, nem era possível, mas eles mesmos limitavam em si a possibilidade de receber graças, por descrerem.

Cada vez mais, Jesus abria portas de salvação para os gentios, que, ao contrário do Seu povo, criam nEle e, através dele, conheciam o Reino de Deus:  "Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa" Mt 13:57; no livro de Marcos, é acrescentado: "entre os seus parentes" Mc 6:4.

É assim que Deus age, priorizando a fé, para que a pessoa perceba que remove montes, com certeza. Um exemplo disso é que, todos os dias, Deus distribui bênçãos para todos, como o sol e a chuva, indistintamente, faz crescer a semente, produzir o grão, para bons e maus, mas, ninguém se dá conta da bondade do Pai em seu dia a dia. Se distribuísse milagres a torto e a direito, ninguém valorizaria e nenhum propósito de Deus se cumpriria.

Quando Elias declarou que não choveria em Israel, por três anos e meio, aconteceu e, faltando alimentos, Deus mandou que o profeta fosse à casa da viúva em Serepta de Sidom, mulher gentia, e lhe levasse o socorro, apenas a ela, embora houvesse muitas outras viúvas naquela região.

Também Naamã foi curado da lepra, quando se colocou na brecha para ser contemplado com a cura. Havia muitos leprosos até mais carentes do que o oficial, mas Deus tem um propósito para cada pessoa no tempo certo e por um motivo específico.

Vamos orar e suplicar a Deus que aumente a nossa fé, para que se agrade de nós e realize em nós e, através de nós, o Seu magnífico plano de amor. Louvado seja o Pai para todo o sempre!