AS VÍTIMAS DA TEOLOGIA BÍBLICA - Artigo três / Final

A Bíblia pode ser usada tanto para transmitir ideias humanistas, como amor ao próximo, o valor do perdão, o zelo pelos pobres e necessitados, como também para promover ideias racistas, xenófobas, misóginas e homofóbicas. Essa dicotomia acontece porque foram vários seus autores, uns mais piedosos, e outros nem tanto. Além disso, as Escrituras foram modificadas ao longo do tempo, segundo interesses de reis e papas, e às vezes, por erros acidentais dos copistas, ou por malícia mesmo.

Nesse terceiro e último artigo vamos ver que por causa da Bíblia, milhões de inocentes foram perseguidos, torturados e assassinados. Seus crimes? Eles ousaram pensar diferente da Igreja ou tinha comportamentos que a Bíblia não aprovava. Mesmo em nossos dias ainda existem pessoas que sofrem em razão de ideias bíblicas, que vêm sendo transmitidas por alguns líderes religiosos para perseguir, discriminar, causar confusão, tristeza e sofrimento desnecessário a milhões de pessoas.

Vamos conhecer as principais vítimas dessa teologia:

Um: a criança. A doutrina cristã ensina muitas coisas boas às crianças, como respeitar os mais velhos, a fazer o bem, não mentir, etc. Mas há um grave problema nas catequeses e aulas de religião: o ensino religioso dogmático. Dogmático quer dizer algo que não se pode contestar. Que tudo que está escrito ou foi dito pelas autoridades é a verdade e não se admite questionamentos. Esse tipo de visão estreita tem efeitos deletérios na criança, pois a transforma num ser acéfalo, facilmente manipulável, que perde a capacidade de julgar, levando-a a ter uma visão distorcida da realidade. Mais tarde os jovens serão bombardeados com a moral sexual da Igreja, que passa uma visão não cientifica da sexualidade humana. Psicólogos dizem que a moral sexual cristã é um dos principais motivos dos problemas sexuais entre os jovens e adultos.

Dois: a mulher. A Bíblia forneceu amplo material para o discurso misógino dos santos e teólogos da Igreja. Quem mais ajudou a criar a ideia de submissão feminina foi o apóstolo Paulo. Ele diz que a mulher não deve ensinar o homem, mas que fique em silêncio (I Timóteo, 2,12); deve ser submissa ao marido (Efésios 5,24); e a acusa de ser a única culpada pelo mal ter entrado no mundo (I Timóteo, 2,14). Se as mulheres querem saber porque são tão discriminadas, devem conhecer mais de perto Paulo de Tarso. Um dos dogmas cristãos que mais trouxe problemas para as mulheres é o Mito da Virgindade de Maria. Esse mito traz a velada mensagem de que uma mulher só é digna de respeito se manter-se virgem e desprezar os prazeres sexuais. Muitas delas reprimem seus desejos por medo de ofender a sociedade e Deus, e levam uma vida de tristeza e sofrimento. Uma das causas da obesidade de muitas mulheres é a educação religiosa. Descontam na comida medos e frustrações. Para a escritora Collete Dowling, que escreveu Complexo de Cinderela, “a sexualidade da mulher é tão castrada que ela precisa da desculpa do amor para sentir prazer com o outro.”

Três: o homossexual. O Deus da Bíblia, ao ordenar a pena de morte a homossexuais (Levítico 20,13) estava iniciando um processo de perseguição, discriminação, e assassinatos contra gays e lésbicas que perdura até hoje. No Brasil, a cada dois dias, um homossexual é morto por motivos homofóbicos. Adolescentes homoafetivos são propensos de duas a três vezes mais que os heteros a tentar suicídio. A teologia cristã arrasa diariamente com a vida de milhões de inocentes, apenas porque amam diferente da maioria. Por que a Bíblia proíbe relações homossexuais? A nação de Israel precisava crescer. Mais gente, mais mão de obra, e mais soldados para o exército. Relações homossexuais não interessava os reis e sacerdotes porque não geram prole. Com a pena de morte, desejavam coibir essa prática. A experiência havia mostrado que as leis dos homens nem sempre funcionavam, daí inventaram que o autor era Deus.

Quatro: o livre-pensador (ateus, agnósticos e religiosos liberais). Um dos maiores problemas do cristianismo é a falta de liberdade em discordar de seus ensinamentos e dogmas. Durante séculos a Igreja perseguiu, torturou e matou milhões de pessoas que tinham outras crenças ou tinham opiniões diferentes da Bíblia. Graças a uma série de fatores, sendo o principal a Revolução Francesa (1789), que separou o Estado da Igreja, de lá para cá não vemos mais inquisidores queimando hereges na fogueira. Na impossibilidade de ameaçar com fogueiras e câmaras de tortura para obrigar todos a seguirem a Bíblia e o cristianismo, a Igreja adota hoje outros mecanismos: reforçou o discurso do inferno, dizendo que ele é real e é para onde irão os não-cristãos. A sociedade, majoritariamente cristã, participa ativamente dessa discriminação conta os que não creem. É que somos educados a acreditar que quem não crê em Deus é mau caráter, imoral, desonesto. Puro engano. Ser ético e honesto não tem nada a ver com crença. Para fazer coisas boas não precisa ser crente, até ateus as fazem. Mas para fazer coisas absurdas e cruéis (por ex.: negar transfusão de sangue a um filho, tentar curar homossexuais e impedir que eles sejam felizes amando quem desejam, proibir o divórcio, o uso de preservativo, decretar saias compridas às mulheres e proibi-las de cortar o cabelo, destruir terreiros de Umbanda, atemorizar pessoas com o inferno, etc.) precisa necessariamente acreditar na Bíblia e na Igreja.

Talvez você tenha concluído que Deus não inspirou a Bíblia. Ou que nem tudo na Bíblia foi inspirado em Deus. Talvez você esteja se perguntando: como saberemos de agora em diante o que Deus quer de nós; o que é certo e o que é errado? Muito simples. Fazendo uso da inteligência e da razão, nós mesmos poderemos distinguir perfeitamente entre o bem e o mal, o certo e o errado. E, se por ventura surgirem dúvidas pelo caminho, basta nos aconselharmos com os mais velhos e experientes ou buscarmos na sabedoria dos livros de filosofia, psicologia, ciências, etc., as respostas para nossas dúvidas. E, claro, conhecer as leis do nosso país e respeitá-las.

Mensagem: se você é mais feliz acreditando em Deus, vai em frente. Se não crê e não vê nenhum problema nisso, vai em frente. Não deveríamos ser julgados pela crença religiosa ou pela falta dela, mas pelo caráter, palavras e ações. Se as pessoas procurassem ser boas aos outros, independente de acreditar em Deus ou não, se não houvesse separações e preconceitos por motivos religiosos, é bem provável que o mundo seria bem melhor do que este em que vivemos.

Abraço humanista.