MAIS UM PASSO E A ETERNIDADE

MAIS UM PASSO E A ETERNIDADE

CAPÍTULO I

Deise entrou apressada em seu apartamento, estava decerto desesperada, colocou a bolsa no sofá e pegou o telefone sem fio esquecido sobre a mesa de centro.

Discou rapidamente com a mão trêmula o número anotado em um papel amassado, na esperança de que a voz do outro lado da linha lhe dissesse que ela estava enganada. Sentou-se na cadeira da sala de jantar e ainda assim o chão lhe faltava e ela sentia que poderia cair e talvez não levantar.

Uma voz masculina atendeu ao telefone e antes que ele pudesse dizer algo foi ela quem se apressou a dizer para que a tortura acabasse logo.

- Márcio eu sei de tudo, sei que me enganou, sei da doença.

O silêncio fatal do outro lado da linha demonstrava que era verdade.

- Porque não me contou perguntava ela com as lágrimas que caiam copiosamente.

O rapaz nada dizia e ela em desespero começou gritar:

- Por Deus não me deixe nesta angustia. Diga alguma coisa pelo amor de Deus.

Fale que é verdade, diga que você arrebentou com a minha vida gritava ela enquanto tremia e seu coração parecia lhe sair pela boca.

- É verdade disse ele

Deise viu o telefone cair de suas mãos trêmulas

Naquele momento o mundo parecia sumir e todas as coisas iam se desmoronando sobre sua cabeça. Sentia náuseas, foi até o banheiro e vomitou, na verdade queria que a doença fosse como uma comida que não lhe faz bem e você a coloca para fora, mas a doença selava sua sentença de morte, corroeria sua vida, tiraria seus amigos, venceria essa luta desleal cuja única arma era a fé. A fé que ela não tinha.

Deise havia dado dois anos de sua vida a Márcio, um namoro até sério e agora a revelação. A revelação da traição que a condenara.

Voltou para sala e depois do desespero é a tristeza que vem. Pensou em Solange a amiga que cursava com ela a faculdade. Discou, talvez quisesse contar tudo ou somente se calar e chorar, mas tinha que estar com alguém.

Solange atendeu com seu jeito sério de ser.

- É a Deise venha para cá. Por favor, disse ela como uma súplica com a voz que teimava em não sair.

Solange não teve tempo de nada dizer, Deise desligou e se jogou no sofá quieta como se estivesse em choque.

Talvez tenha dormido de olhos abertos, e não percebeu que a campainha teimava em tocar, levantou se equilibrando com esforço, como se estivesse dopada.

Passava das duas abriu a porta e Solange assustou-se com seu estado.

- O que houve? Jesus venha se sentar. Disse Solange a conduzindo ao sofá.

- Estou morta disse ela com as lágrimas a lhe correr.

- Conte-me disse Solange nervosa olhando a amiga assustada.

Conhecia Deise, sabia que a amiga não dramatizava, sempre fora segura de si e se chegara a este estado era porque uma desgraça realmente havia acontecido.

- Márcio está doente? Disse ela com as mãos entre a cabeça.

- O que ele tem que a deixou neste estado, aliás, nunca ligou muito para ele eram mais companheiros. Disse Solange

- Nunca fomos companheiros. Ele me traiu

- Deise não é motivo para você ficar assim.

- Ele me contaminou Solange, e ia me esconder a verdade. Parecia normal no almoço, foi egoísta comigo como se minha vida, meus sonhos não tivessem nenhum valor. Solange não entendia o que a amiga queria dizer e assustada olhava Deise quase desesperada.

Deise começou contar rapidamente enquanto seus olhos assumiam toda dor do seu coração.

- Ele foi almoçar comigo e esqueceu uma pasta no bar, era absolutamente igual a minha, eu abri para ver de quem era e achei esse envelope. Quando vi era o exame com a data de hoje. Veja é seu exame de HIV.

Solange sempre soubera o que dizer para a amiga, mas naquele instante o chão também lhe faltara e se não fosse por Deise também teria desmaiado.

Estendeu a mão e pegou o exame, leu e olhou para Deise.

- Acalme-se disse Solange tentando acalmar a si própria

- Deve fazer o exame, pode ser que você não esteja.

- Porque aconteceu comigo? Chorava ela.

- Em toda minha vida só amei Rodrigo, eu o deixei lá sozinho, a Bruna me incentivou disse que eu era seria melhor aqui, vim para cá e tudo deu errado, perdi o Rodrigo.

Aqui me senti sozinha eu não te conhecia e meus pais e amigos tinham ficado no Rio e me envolvi com o Márcio e agora isso. Eu nunca devia Ter saído de lá chorava ela.

- Não tente se culpar vamos fazer o exame e esperar disse Solange.

Deise cerrou os olhos não querendo acreditar e chorou nos braços de Solange.

No dia seguinte Deise foi até o hospital local e entrou na pequena sala onde uma simpática moça a atendeu:

- Pois não moça, posso ajuda-la?

Tenho o exame de sangue marcado HIV? Disse ela rápido para que ela mesma pudesse não entender

- Vamos lá disse a moça conduzindo Deise a uma saleta menor. Sente-se e relaxe vai ser rápido

- Sei que será rápido. Disse Deise, Pensando na rapidez do vírus que estava em seu corpo.

Em poucos minutos o maldito exame se concluiu, mas a resposta ainda demoraria cinco dias ou talvez uma semana.

Dos olhos de Deise corriam intermináveis lagrimas, e Solange tentava anima-la.

Talvez a incerteza fosse pior que a própria certeza que estava a um passo para o fim.

Os dias não passavam e a agonia de não poder abraçar sua família naquele momento tão triste.

Naquela manhã Solange não foi à aula para acompanha-la e Deise quase esqueceu que aqueles dias seriam decisivos para conclusão do seu terceiro ano de economia.

Deise morava sozinha há três anos no interior, seus pais moravam no Rio e ela tinha dois irmãos.

Deise era bonita invejada por muitas encontrara a verdadeira amizade com Solange uma moça nada bonita, séria e de poucos amigos, mas Deise para ela era como a vida visto que a amizade que as unia era intensa e sincera.

Deise deixara seus pais para trás e junto com eles o ex- noivo, já que rompera com ele dias antes de partir.

Bruna a amiga de infância lhe incentivara a partir deixando Rodrigo para trás:

- Ele não é homem para você, lá na faculdade conhecerá homens interessantes e além do mais é um começo para se livrar da dependência de seus pais.

Deise levara a sério os conselhos da amiga e partira tentando não pensar para mais tarde não arrepender-se.

No dia seguinte tinha uma prova importante, levantou chorosa e foi arrastada para a faculdade pela amiga:

- Não quero ir

- Deise se der negativo estará jogando três anos pela janela por causa de sua incerteza

Logo que ela chegou avistou Márcio, nunca houve amor verdadeiro, eram apenas companheiros que tinham os mesmos ideais, os mesmos gostos por isso namoraram.

Pensou em passar direto. Mas, não. Tinha que encará-lo.

Márcio se aproximou e baixou a cabeça:

- Sei que lhe devo uma explicação. Disse ele

- Se meu exame der positivo, você me deve uma vida disse ela.

- Somos jovens e eu confesso Deise que não fui fiel com você. Apesar dos meus relacionamentos paralelos, nunca pensei em olhar para trás e perceber que não fui legal com você, e para falar a verdade nem mesmo comigo mesmo, visto que não tomei nenhuma precaução.

- É verdade então? Tinha outras mulheres e não imaginou que isto poderia acontecer, nós confiamos um no outro.

- Outros parceiros. Desabafou ele.

Deise empalideceu

- Não acredito no que você esta falando Márcio.

- Acredite. Disse sério. Estou assumindo na sua frente.

- Um pouco tarde, não é Márcio? Tarde para dizer que não me amou, mais tarde ainda para reparar tudo que aconteceu e poderá acontecer.

- Se meu exame der positivo, me deve uma vida.

Marcio ouvia o desabafo calado.

- Agiu de má fé comigo, nunca esteve imune a nada, nem eu.

- Não sei o que lhe dizer. Disse ele um tanto pálido.

- Eu não merecia isso. Disse ela a chorar. Você me usou para fingir ser o que não era.

O rapaz olhava para a jovem de cabeça baixa e envergonhado.

- E agora Márcio? Disse gritando. O que farei se acontecer comigo? O que? Minha família, meus amigos, meus estudos, meus sonhos...

Márcio começou a chorar e tentou abraça-la a fim de ajudá-la.

- Perdoe Deise, nunca pensei que pudesse acontecer.

Ela o empurrou

Eram duas decepções que vinham de mãos dadas decididas a destruírem sua vida

Naquele instante, calou-se, não existiam palavras, apenas virou as costas, não fez a prova voltou para casa e chorou. Só parou quando a amiga entrou perguntando por que saíra sem avisar:

- Márcio não gosta de mulheres. Entende? Disse ela indo fazer um chá enquanto Solange a seguia assustada com a revelação

- Ele lhe disse isso

- Sim disse. Deise mal conseguia acreditar

- Porque ele ficou comigo? Poderia ter optado pelo que gosta. Disse ela inconformada

- Não sei amiga. Às vezes as pessoas tomam certas atitudes sem explicação. Falou Solange sem compreender.

- Não sei se quero encontrar os motivos de Márcio. Tudo perde o sentido quando tudo pode mudar e acabar disse Deise se sentando na sala.

- O que pensa fazer? Disse Solange sem saber o que ela deveria fazer para confortar a amiga.

- Tenho tanta certeza que estou contaminada, acho que não preciso buscar esse maldito exame.

Solange abraçou forte a amiga e tentou não chorar.

No dia seguinte Deise e Solange foram buscar o exame.

Deise desceu do carro e foi até a pequena sala, pegou o envelope e saiu.

O que havia naquele envelope parecia um fardo difícil de carregar, mas Deise não pensou foi logo abrindo.

Solange a viu abrir o envelope e ler com a mesma expressão.

Deise dobrou o papel e colocou novamente no envelope.

Solange nada disse, respeitava o silencio da amiga que a passos rápidos voltava ao carro.

Deise dirigiu por 15 minutos calada, Solange nada perguntou. A amiga precisava de espaço.

Um silencio que machucava, mas que era preciso naquele instante.

De repente Deise embocou o carro em uma praça florida.

- Quero caminhar. Disse ela saindo do carro

Solange a seguiu e começaram caminhar caladas por um longo tempo.

Deise se sentou na balança amarela no centro da praça e então ela quebrou o silencio que naquele momento doía mais que as palavras.

- Solange no que pensei todo esse tempo? Nas roupas da moda, em regimes que me deixariam a mais bonita. Pensei somente em minha popularidade e talvez eu não queira nem que se lembrem de mim.

Solange percebeu que aquilo tudo era tão verdadeiro, o tempo todo ela foi exatamente assim.

- Mesmo se eu não estivesse contaminada algo mudaria em mim hoje.

Solange quis chorar e chorou as lagrimas cansaram de esperar agora existia a certeza. Perderia a amiga e teria que fingir que existia esperança, teria que levantá-la quando ela caísse e ajudá-la a resistir.

De agora em diante teria que esconder seu medo por que o de Deise era maior que o dela.

- Não chore. Solange. Ainda tenho tudo, só não tenho mais a mim Tudo ainda me pertence, menos o meu destino.

- Tento entender. Disse Solange

Deise olhou fundo nos olhos de Solange que chorava e disse:

- Vou para o Rio morar com meus pais, mas você sempre será única para mim. Nunca vou esquecer que mesmo calada neste momento, você é a única pessoa com quem eu gostaria de estar agora.

- Estarei lá quando mais precisar de mim disse Solange apertando a mão da amiga

- Quero que esteja lá quando começar a acontecer

- Estarei segurando sua mão quando começar a acontecer

Deise aproximou-se da amiga a abraçando como nunca antes.

CAPÍTULO II

Deise parou na porta de casa estava igual, mas agora tudo era diferente. Ligara a dois dias para os pais avisando de sua chegada, a mãe não entendeu e perguntou por que tal decisão.

- A decisão não foi minha. Disse Deise antes de desligar

Ali na frente brincara com os irmãos, mais com Lucas, pois Natan e ela nunca foram apegadas, eram iguais no modo de ser talvez por isso não se entendessem.

O pai montara a balança no jardim e foi balançando que ela conheceu Rodrigo.

Na casa paterna fora feliz, mas decidira caminhar só.

Era diferente olhar sua casa, agora parecia mais linda e até a porta de entrada detalhada em laranja que ela tanto odiara era bonita.

Deise mordeu os lábios e o choro veio, por um momento relembrou de toda sua vida e ficou ali até que pudesse entrar e dizer a mãe que estava acabada.

Por fim Deise desceu do carro e Laerte veio ajudá-la com as malas.

- Oi Deise. Disse o jardineiro que vinha uma vez por mês.

- Oi Laerte. Disse ela pálida

Dalva saiu à porta feliz e foi ao encontro da filha.

- Minha querida disse a mãe a abraçando.

Deise a abraçou forte tentando evitar o choro.

- Vamos entrar disse a mãe

- Sente- se filha, E então como está. Estou preocupada.

- Estou com problemas disse Deise pálida

- Faculdade filha? Se for isso é jovem tem a vida toda pela frente

Deise então derrubou as primeiras lágrimas na presença da mãe.

- É gravidez filha? Se for não é doença disse D. Dalva tentando animá-la

- Estou doente, mãe e confesso que nunca vai ouvir de minha boca que terá um neto.

- Doente disse Dalva preocupada. Como filha?

- Estou com uma doença grave e incurável. A não ser que aconteça um milagre, eu morrerei e milagres não acontecem disse ela.

Dalva assustada não sabia o que dizer.

- Estou com AIDS disse ela por fim com num desabafo

Dalva sentiu o sangue lhe fugir do rosto, ficou tão desnorteada que não conseguiu chorar. Se levantou e foi à janela ficando de costas para Deise. Pensara que os motivos que trouxera a filha para casa poderiam ser todos menos esse.

Meu Deus do céu. Pensava ela. Os casos que ouvia tantas vezes pela televisão aconteciam agora com sua família

Muitas coisas passavam em sua cabeça, mas ela não chorou e então sentou ao lado da filha.

Neste momento ela não poderia mais dar conselhos para que não acontecesse. Agora só podia abrir os braços para que ela chorasse. E esses mesmos braços deveriam correr em busca da cura e iriam levantar a filha quando está fosse ao chão

- Minha filha estarei sempre aqui. Disse ela segurando em suas mãos. Porque a amo muito e nada que me diga afetará esse sentimento.

A moça percebeu que a mãe segurara o choro, mas ela estava mais aliviada.

Mas o pai como aceitaria? E os irmãos?

- Quanto a nossa família, conversarei com todos eles filha e tenho certeza que todos ficarão ao seu lado.

- Suba tome um banho e descanse disse a mãe tentando sorrir com a aparência elegante e humilde.

- Você está em casa filha e agora a luta é nossa. Disse Dalva tentando ser forte

A mãe a beijou na testa e disse enquanto Deise subia as escadas

- Creio mais na vida do que na morte filha.

- Creio mais em você querida do que nessa doença.

Enquanto a filha se distanciava Dalva via o mundo lhe cair nas costas, chorou livremente, se atirou no sofá e deu lugar a toda dor que a massacrava por dentro.

Diná a faxineira e tentou acalmá-la vendo tamanho desespero.

Aos poucos as lagrimas foram se esgotando e Dalva parecia melhor

- Estou chorando hoje Diná, para não chorar sempre.

Deise ao entrar no quarto sentiu novamente a dor da lembrança e seria sempre assim, um dia após o outro ela se lembraria do anterior, e sempre estaria pior comparado a esse dia.

Sentou na cama e olhou a foto dos irmãos a direita e a de Rodrigo na cabeceira

Ele fora seu primeiro namorado e por anos ficaram juntos até ela resolver ir para faculdade.

Nunca mais se viram, lembrava apenas de suas ultimas palavras:

- Vai se machucar Deise e não voltara inteira para mim É muito frágil

Mas ela foi incentivada pela amiga que dizia que no lugar dela iria, não perderia esta oportunidade.

Morara em um apartamento só seu, Frequentava as festas e era popular.

Rodrigo ficara para trás, era bonito. Olhos verdes corpo atlético, amado pelas mulheres, e nunca a traíra. Mas naquela etapa de sua vida queria apenas curtir, sair daquele namoro de infância e buscar rumo novo para a sua vida.

E encontrara...

- Onde estaria ele hoje pensou?

Mesmo se estivesse na casa ao lado a partir daquele instante sempre estaria longe. Muito longe...

Logo ela fechou os olhos e adormeceu.

Nos últimos dias Deise vivia a base de calmantes e não fora ainda procurar um médico para saber por onde começaria a morrer.

Só queria adormecer para esquecer por algumas horas que a vida de conto de fadas se tornara um pesadelo.

Dalva aguardava o marido no hall, perdera a conta de quantas xícaras de chá tomara e de quantas voltas dera pela sala em círculos com as mãos suadas e o corpo pesado.

Mas a porta se abriu e Natan e Lucas chegaram primeiro.

Beijaram a mãe como faziam todos os dias, mas logo perceberam a aflição de Dalva.

- O que houve mãe? Deise ainda não chegou? Perguntou Lucas deixando os livros sobre a mesa diante do olhar de Natan esperando a resposta.

A mãe não escondia a palidez e o choque que tivera a algumas horas atrás.

- Vamos nos sentar pediu ela

Lucas e Natan obedeceram e sentaram–se rapidamente

- O que esta acontecendo Mamãe disse a jovem Parece que aconteceu algo?

- Vamos fale mamãe estou ficando nervoso disse ele diante da mãe que procurava palavras para revelar toda situação aos filhos

- Bem, soube pela manhã quando Deise chegou que ela não veio nos visitar, ela veio para ficar. Disse ela.

- Não entendo, disse Natan. Deise gosta tanto das badalações de sua vida de luxo, carro importado, popularidade...

- Natan sei que não concorda com algumas atitudes de sua irmã, mas o que a trouxe aqui é algo desastroso disse por fim.

Natan assustou-se e Lucas esperava a mãe continuar:

- Deise está com um grande problema que a privará de muitas coisas e sonhos. Ai meu Deus disse a mãe chorando desesperada.

- Não sei como contar a vocês e ao seu pai chorava ela

- Acalme-se mãe.

- Diga logo mãe. Disse Lucas. A Deise está grávida, porque que se for isso ela terá nosso apoio e não é o fim do mundo.

- Não filho. Disse Dalva chorosa tentando recuperar as forças. A irmã de vocês está muito doente.

- Como doente. Perguntou Natan, fale logo mamãe...

- Ela está com uma doença mortal e incurável disse por fim se levantando

- Ela está com câncer mãe. Perguntou Natan apavorada.

- Não. Está com AIDS

Lucas empalideceu e Natan quase foi ao chão seu corpo todo tremia.

- De quem pegou mãe. Disse Lucas transtornado. Como foi?

- Não quero que a perturbem com perguntas pediu Dalva. Não importa de quem, por que ou como, ela já esta doente e isso e o pior. Independente de como contraiu isso quero que a respeitem e a ajudem. Não a tratem como criança. Ela é a mesma irmã de vocês.

Natan chorava sem compreender certas atitudes da irmã a perturbavam, mas isso era o fim. Como recuperar o tempo perdido? Como dizer a irmã que as diferenças não eram maiores que todo amor que tinha pela irmã?

- Não se culpe Natan. Disse a mãe percebendo os pensamentos da jovem. Você ainda pode fazer muito por ela. Disse a mãe a abraçando

- Porque ela mãe? Porque em nossa família dizia Lucas desesperado...

- Não estamos imunes a nada filho. Agora vão ver a irmã de vocês, eu esperarei seu pai aqui e novamente terei que contar a mesma historia. Disse ela limpando as lágrimas.

Natan e Lucas subiram as escadas e quando entraram no quarto Deise assistia à televisão e emocionou-se quando os irmãos entraram no quarto.

Eles correram para abraça-la e Natan não conteve as lágrimas

- Não chore minha irmã pedia Deise

- Nós estaremos juntos Deise. Disse Lucas

Ficaram abraçados por longo tempo como quando eram crianças e as diferenças e a distancia não os separavam

Raul chegou tarde Dalva o esperava na sala, era um homem ausente e entregue ao trabalho:

- Desculpe querida. Disse ele colocando a maleta na mesa e indo beijar a esposa, tive uma reunião de negócios.

Vendo a palidez da mulher e a aflição em seus olhos perguntou:

- O que houve querida? Aconteceu algo com as crianças?

- Crianças. Disse ela. Eu gostaria que ainda fossem e nada teria acontecido...

- O que havendo? Não me esconda nada. Disse ele

- Vou ser breve, sente-se pediu ela.

Raul se acomodou e abraçou a mulher:

- Cada vez que devo contar isso morre um pedaço de mim. Deise nossa filha está doente. Não é gripe. Não é febre, é uma doença grave e veio para ficar disse ela segurando nas mãos do marido.

O pai logo pensou nas piores doenças e começou se apavorar, mas não poderia teria que se manter forte, se era difícil para Dalva contar, o quão difícil seria enfrentar.

- Ela esta com câncer? Perguntou firme?

- Não é câncer, é AIDS Raul. Disse ela chorando. Nossa filha vai morrer. Dizia ela com tristeza

Dalva se agarrou firme nos braços do marido e chorou, enquanto ele a abraçava e não acreditava no que acontecia com sua garotinha.

- Como isso Dalva? Perguntava sem entender

- Preste atenção Raul, pediu ela segurando a cabeça do marido com as mãos para que ele olhasse para ela.

-- Precisamos ser fortes, mesmo que não haja como, precisamos buscar forças em Deus ou mesmo em Deise, pois não podemos passar nosso medo para ela.

- Sei disso Dalva. Onde ela esta? Eu quero ver minha filha dizia ele limpando as lágrimas que teimavam em cair

- Esta no quarto disse Dalva tentando se recompor.

Raul ia subindo as escadas quando ela veio descendo com os irmãos. Vendo a filha jovem bonita era impossível acreditar que carregava uma bomba dentro de si, que explodiria a qualquer momento. O que Raul sentiu foi a pior coisa que um pai pode sentir na vida. A inutilidade de não poder mais proteger sua filha. De nada poder fazer para mudar aquela situação. Teria sido culpa dele? Que permitiu que ela morasse sozinha em uma cidade desconhecida sem maturidade para fazer sua vida

Ele nunca deveria tê-la deixado ir.

- Pai. Disse ela se atirando nos braços dele com emoção

Ela estava lá e junto dela toda sua culpa e sua inutilidade em uma situação que não poderia mudar

Nós vamos ajudá-la minha filha. Disse ele alisando seus cabelos com carinho diante do choro dos irmãos e de Dalva

Todos se abraçaram e uma jovem loira de luz muito forte e vestes brancas se aproximou deles e abençoou aquele momento familiar.

Deise acordou cedo e encontrou a mesa do café posta e Lucas já estava comendo.

O irmão percebeu que ela colocara sua melhor roupa e se maquiara para esconder os dias mal dormidos.

Ficou olhando a irmã com uma torrada nas mãos e percebia que ela tentava ser forte

- Adoro cereal com mel. Disse a ele sorrindo

- Eu também gosto. Lá não tinha? Perguntou ele tentando ser forte

- Tinha. Mas não é igual quando se come em casa. Lembra Lucas a briga no mercado porque eu queria de chocolate e você detestava disse ela tentando sorrir

- E além do mais as broas da Diva são únicas

- Quanto a isso tenho certeza. Disse o irmão tentando simular um sorriso

- E o Rodrigo como está perguntou ela?

- Bem segue carreira na aeronáutica e passa os fins de semana de vez em quando com os pais

- E os pais dele como estão D. Maria e Seu Agenor?

- Estão bem também. Disse o irmão sem interesse de responder, mas se esforçando para não demonstrar sua preocupação.

- Ele vai se casar em maio

- É mesmo? Que bom, disse Deise tentando dissimular o choque da noticia.

- Quer saber com quem, disse ele.

- Não. Falou ela. Não tenho nada a ver com isso. Eu também tive namorado lá disse ela tentando sorrir

Lucas fingia o tempo todo e Deise também até que ele cansado perguntou:

- Quem foi o desgraçado que te passou isso?

Deise não se surpreendeu sabia que ele queria perguntar isso.

Mas ela se calou, e o sorriso desapareceu.

- Desculpe. Eu não tinha intenção. Falou ele se levantando e sentando ao seu lado.

- Não se desculpe, é verdade, ele foi um desgraçado mesmo. Eu não era a única mulher. Ele saia com outros... Homens.

- Não sou contra o homossexualismo. Até tenho dois amigos assim na faculdade que ele vivia recriminando. Não pela opção, cada um sabe o melhor para a sua vida, ele foi um canalha, o que me magoa foi pela traição com alguns homens.

- Deixemos para lá vamos comer a broa disse ela enquanto ele inconformado voltava para seu lugar na mesa.

Lucas ficou olhando a irmã, ele estava no 1º ano de medicina e quase não ficava em casa. Ela era tão linda e estava doente

Com custo Lucas tentou esquecer o problema, mas não conseguiu.

CAPÍTULO III

No Dia seguinte, oito da manhã Deise acompanhada da mãe já aguardavam o médico na clinica.

Seu Natanael, médico da família a muitos anos as atendeu com alegria.

- Que prazer em vê-las e você Deise, feliz com a faculdade?

- Muito. Disse ela tentando dissimular

- O que a traz aqui filha? Perguntou ele sentando-se à mesa.

Dalva e Deise se acomodaram e a mãe foi rápida, tirou o exame da bolsa e colocou sobre a mesa empurrando para o médico.

No mesmo instante, Natanael leu o exame e em choque compreendeu a gravidade da visita.

Apesar de ser médico ele não conseguiu disfarçar o abalo, vira Deise crescer e quase se casar com seu sobrinho Rodrigo.

Ele se levantou inconformado e segurou nas mãos da jovem:

- Eu sinto muito, Não sabia que era este o motivo.

- Como posso prolongar minha, vida perguntou ela. Não quero morrer ainda, disse limpando uma lagrima que teimava em rolar.

- Bem querida, a ciência está avançada e não sabemos quando a cura virá. Pode ser hoje, amanhã, daqui um mês.

Ou daqui vinte anos ou nunca chegar não é? Disse ela cortando as palavras do médico

- Sejamos otimistas, disse ele. O problema é que o vírus destrói a imunidade do corpo e você fica propicia a pegar algumas infecções...

- Ou seja, até uma gripe pode me matar. Disse ela novamente continuando a frase do médico.

- Não é bem assim. Disse Natanael desconcertado

- É sim mamãe, é na ultima fase que isso acontece não é? Disse ela com ironia

- Filha, disse Dalva, segurando nas mãos da jovem e falando baixo. Não está tornando as coisas muito fáceis para o doutor Natanael.

Existem remédios eficazes, existe o coquetel e a esperança da cura. Cientistas trabalham dia e noite no mundo todo para encontrarem a cura do câncer e da AIDS

- Acredite doutor, Isso não me anima. O que temos de concreto agora. Eu com AIDS, meia dúzia de remédios num coquetel que prolonga a vida, mas não salva. Prefiro um tratamento assim a acreditar na esperança da cura ou de um milagre.

Quantos morreram sonhando com isso? Não quero ser mais um deles.

- Filha, frequento um lugar muito bom que infelizmente só é procurado quando o corpo padece e o espírito precisa se fortalecer para segurar o corpo.

É um centro espírita. Rodrigo também frequenta, creio que vai ajudá-la.

- Não. Disse ela desesperada. O senhor não pode contar a verdade para ele, Me prometa doutor, me prometa disse ela. Até irei com o senhor, pois nada tenho a perder, mas Rodrigo não deve saber.

- Fique despreocupada filha, a decisão é sua e da minha boca ele nunca saberá.

- Começaremos o tratamento com a pessoa mais competente, o doutor Roberto Dissau é que vai lhe ajudar.

Quando estavam saindo Deise se voltou para o médico

- Me perdoe a rispidez doutor, estou perdida, preciso me reencontrar e quero ir com o senhor naquele lugar.

- Lhe telefonarei e marcaremos, tenho certeza que lhe fará bem.

Dalva sorriu, confiava no médico e qualquer coisa que ele fizesse para acender a esperança em sua filha era válido.

Dalva e Deise andaram caladas todo trajeto ate chegar em casa, cada uma perdida nos próprios pensamentos.

Foi quando estavam estacionando o carro que Deise avistou Rodrigo lavando o carro e a mãe percebeu sua emoção:

É o Rodrigo mãe, disse ela saindo do carro.

- Está com a noiva, disse Dalva tentando desanimá-la para que ela entrasse.

- Quem é ela mãe? Não a reconheço daqui.

- Não vai gostar de saber. Disse a mãe seria. Vamos entrar

Mas Rodrigo já a tinha visto e se aproximava

- Deise você voltou, disse ele com o coração apertado.

- Voltei para ficar disse ela pegando a bolsa no carro e tentando disfarçar o real motivo que a trouxera de volta

- E a faculdade? Perguntou ele. Interessado lembrando-se que ela deixara a casa decidida a lutar por esse ideal

- Abandonei. Disse ela séria

Dalva entrou em casa e já foi se preparando para quando Deise soubesse quem era a noiva de Rodrigo

- Por quê? Perguntou ele espantado

- Me machuquei por lá. Disse ela

Rodrigo se lembrou das palavras que dissera a ela quando ela se foi

- Gostaria que tivesse sido diferente que as coisas tivessem dado certo por lá. Disse ele

- Eu também gostaria disse ela com tristeza, mas e você? Soube que esta a um passo do altar?

- É verdade, disse ele sem jeito. Gosto dela. Quando você se foi ela me apoiou e me deu ajuda me convencendo que você tinha escolhido seu caminho e eu deveria escolher o meu.

Quem é ela? Perguntou já que a jovem se referira a sua escolha

É a Bruna disse ele. Ela é demais.

Neste momento o mundo caiu na cabeça de Deise. Bruna a amiga que chamara Rodrigo de mal partido, Bruna que achava a cidade tediosa e incentivara ela a buscar novos caminhos.

- Muito bem, disse ela. Está bem acompanhado, preciso entrar porque estou cansada, Com licença disse ela entrando.

Rodrigo percebeu que a revelação fora um choque para a moça.

- O que houve? Gritou ele. Foi alguma coisa que eu disse? Algo a machucou?

- Não, de maneira alguma. Disse ela. Cuidado você. Pode se machucar e entrou batendo a porta.

Deise entrou atirando as coisas no sofá diante do olhar de Dalva que tentara impedir aquele encontro.

- Esqueça isso Deise.

- Devo esquecer mesmo, minha melhor amiga me despacha, se casará com meu noivo e eu já não tenho mais armas para brigar por ele.

- Acalme-se Deise. Pediu a mãe

- Ela nunca deixou de me escrever falando do noivo, mas em nenhum momento me disse que era ele. A mesma pessoa que ela dizia que era melhor eu deixar para trás, gritava Deise jogada no sofá.

- Não adianta ficar nervosa já passou

- Não mamãe, não passou, a verdade é que mal começou. Eu era feliz, tinha uma vida, minha família, meu noivo, de repente tudo foge de minhas mãos e não tenho a chance de tentar novamente. Disse ela chorando

- Porque estou condenada

- Não diga isso filha. Disse Dalva abraçando a filha que chorava

- Vamos tomar um banho e esquecer isso disse a mãe a abraçando e a levando ao quarto.

Pela manhã, Deise foi ao médico com a mãe.

Ao chegar ao consultório a jovem não escondia a timidez e o nervosismo.

O médico atendia muitos casos iguais ao seu. Era normal para ele, mas para ela era uma das piores situações que passava em toda a sua vida.

Achava que ele a olharia de outra forma e diria ou somente pensaria.

- O que ela fez para pegar esta doença.

- As pessoas pareciam olha-la e sem se conter ela olhou para a mãe e disse:

- Mãe todos estão olhando para mim.

- É impressão sua filha. Ninguém esta olhando.

- Estão sim mãe.

- Filha pare de se preocupar, veja estão todos parados, todos perdidos em seus problemas.

A jovem secretária as convidou a entrar.

Dr. Roberto era oriental, olhos pequeninos escondidos atrás de um grande óculos, nada simpático, um homem sério.

Parecia indiferente aos problemas dos pacientes.

- Bem doutor. Disse Dalva. Foi o Dr. Natanael quem nos indicou.

O médico mal olhou para as duas, pediu que Deise se levantasse e em poucos instantes a examinou. Voltou a sua cadeira e foi receitando remédios e exigindo exames.

A jovem suava, sofria e quase chorava e não suportando a pressão gritou:

- Como pode ser tão frio. Estou aqui sofrendo, lutando pela minha vida e o senhor me olha com desdém. Nem pergunta como estou.

O médico sentiu-se mal, a jovem parecia descontrolada.

E a mãe se desculpou.

- Ela não está bem, não pode imaginar o que tem passado.

Deise se levantou para sair.

- Espere pediu ele olhando a jovem. Me desculpe. Faço isso a sete anos, muitas pessoas se sentaram a minha frente durante estes anos e apesar de você não acreditar, eu sinto em não poder dar mais atenção a cada paciente.

Doutor Roberto parou de falar e por alguns segundos fechou os olhos, em seguida retomou a conversa.

- No princípio sofria com cada caso, passei noites sem dormir e confesso que a angústia era muita e parecia que eu morria a cada paciente que eu ouvia. Adotei uma outra posição no segundo ano, para ser médico, tinha que ser assim. Prefiro não me envolver, mas sua ira me fez voltar ao passado. Já estou envolvido no seu caso.

Deise parecia mais calma.

- Perdoe-me Doutor, eu tinha uma vida, sonhos, desejos.

- Não se desculpe Deise e não perca a esperança, conte sempre comigo.

O consultório a sufocava e logo que terminaram a consulta se despediram e partiram.

Dona Dalva se encarregou de comprar os remédios e Deise prometeu toma-los de acordo com a receita médica.

Assim que chegou em casa tomou um banho e ia saindo para levar Tica sua cadela para tosar, tentava viver a vida normalmente, mas era tão difícil.

Rodrigo estava na porta e não teve como evitar o encontro.

- Deise. Chamou ele enquanto ela ajeitava Tica no banco traseiro

- Eu queria convidá-la para ir hoje ao aniversario da Bruna no barzinho do Dalares

- Não posso ir. Disse ela entrando no carro.

- Tenho um compromisso]

- Contei ontem a Bruna que você havia voltado, e ....

- Ela não deve ter gostado muito, não é? Disse ela ligando o carro

- Imagine. Até hoje vocês se escrevem. Disse ele

- Nós escrevemos sim, mas Bruna em nenhum momento me disse que o noivo dela era o meu ex noivo. Porque será que escondeu? Porque tem medo que eu conte que ela não esta interessada em você, mas no que você tem a oferecer disse ela nervosa.

- Conheço Bruna e sei que tipo de garota é. Disse ela

- Esta querendo dizer que ela quer o meu dinheiro? Está falando igual aos meus pais e amigos. Disse ele nervoso.

- Ótimo. Disse ela, com o carro ligado.

- Ainda bem que não sou a única ou seria suspeita não é?

- Não quero brigar com você disse ele com os olhos brilhantes

Rodrigo era o típico garoto estudioso e certinho até meio bobo para enxergar as coisas e às vezes parecia não saber reagir a certas situações, então, fugia.

Lucas saiu à porta chamando a irmã

- Oi Rodrigo. Disse ele rapidamente se dirigindo a irmã

- Não vai sair sozinha vou com você.

- Pare com isso, disse ela nervosa, não sou um bebê.

- Irei com você. Abra a porta disse ele decidido

Deise deu ré no carro e acelerou deixando Lucas para trás

Rodrigo estranhou a atitude de Lucas ele nunca se preocupara com isso e perguntou a Lucas.

- Porque ela voltou?

- Viu que era besteira ficar por lá

- Ela me disse que se machucou

- De fato disse Lucas atordoado pensando na jovem saindo sozinha

- Bem Lucas, leve-a no aniversario da Bruna hoje no bar do Dalares. Ela parece um pouco estressada, Acredito que vai se divertir.

- Com a Bruna lá? Não acredito.

- Desculpe Rodrigo, mas deixe Deise em paz, por favor. Pediu.

- O que há? Somos amigos

- Desculpe Rodrigo. Disse ele passando a mão na cabeça

- Se der iremos. Disse ele entrando em casa

Rodrigo ficou sem entender. Ele era muito amigo de Lucas e ele parecia estranho também, mas acabou indo para casa pensativo.

A noite estava quente, geralmente Natan e Lucas já teriam saído para se divertirem, mas estavam na sala jantando com os pais, como nunca faziam.

O pai notou que estavam lá pela irmã, ele também estava lá por ela. Caso contrário estaria no clube com os amigos.

Percebeu que Deise estava abatida com o garfo nas mãos remexia a comida no prato que de certo não queria comer.

Natan quieta, perdida em seus pensamentos e Dalva não se sentara à mesa alegando uma dor de cabeça. Percebeu que Lucas o olhou e parecia preocupado com a irmã.

- Por que não leva Deise para passear Lucas? Disse o pai

Prefiro ficar em casa papai. Disse ela colocando o garfo na mesa e levando as mãos a cabeça diante do olhar triste de Raul.

- O que há Deise? Perguntou Natan passando a mão nos cabelos da irmã carinhosamente.

- O que há Natan? Gritou ela, virando e se levantando com tal violência que seu copo virou espalhando o suco pelo chão.

- Estou morta. Gritava ela. - é isso apenas isso.

Vejo Rodrigo acreditando como um bobo nas historias da Bruna e não posso lutar por ele, nem me arrepender, nem sequer tenho aquela chance de refazer as coisas de um modo diferente. Aquela chance que dizem que Deus oferece.

Dalva veio a cozinha e assistiu o transtorno da filha que chorava e gritava que estava morta. Diante dos olhares da família. Dalva a abraçou e Deise se jogou no chão entre lagrimas e ficou por um tempo chorando nos braços da mãe.

Natan saiu da mesa chorando e subiu ao quarto e Lucas se aproximou:

- Não esta morta Deise Você e muito importante para nós e o fato de estar doente não a impede de viver, de sorrir e de tentar acertar com as coisas que aparecem sempre.

- Dalva abraçou a filha e disse:

- Converse com Rodrigo, pois é isto que lhe atormenta disse a mãe.

- Hoje não é a festa da tal Bruna? Disse o pai a apoiando.

- Vá filha e converse com ele ou mesmo com ela.

- Eu amo vocês disse Deise os abraçando.

Situado na frente da praia o bar do Dalares que servia o melhor chope e uma pista de dança grande aconchegava os jovens no fim de semana

Estava cheio, assim que Lucas estacionou o carro já se via uma multidão de jovens com um copo na mão curtindo a noite carioca.

Deise estava com um vestido azul tomara que caia e sandálias brancas de salto. Seus cabelos dourados preso em um coque e bem maquiada.

Assim que saiu do carro os olhares conquistadores dos rapazes a perseguiram juntamente com os olhares invejosos das jovens.

Não sabiam o que na verdade sofria aquela jovem, com todo transtorno da descoberta da doença, com a perda da autoconfiança e da segurança.

Não sabiam da vontade de isolar-se que acontecia no coração da jovem e a certeza da incapacidade diante do amor que sentia pelo jovem militar.

Ninguém percebia que a maquiagem escondia os olhos inchados de tanto chorar e a beleza do vestido tentava recompor a beleza que sentia que já perdia.

Lucas arrumou uma mesa para jovem que sentou e sorriu

- Vou ao toalete e volto já, tente sorrir pequena. Disse ele a chamando carinhosamente e se dirigindo ao toalete

Ela olhou ao redor e logo avistou a figura esbelta de Bruna seus cabelos encaracolados e sua roupa vulgar em rosa.

A menina também percebeu a presença da jovem e em seus olhos o brilho da vitoria reinava e sem se intimidar aproximou-se da mesa:

- Que surpresa disse se sentando

- Ela percebeu que Deise não perdera a beleza e a classe que tivera desde pequena, mas notou que ela estava aborrecida, de certo por saber que seu noivo era Rodrigo:

- Também estou surpresa, o atraso de vida do qual eu deveria me livrar hoje é seu noivo.

- Deixemos para lá. Disse ela, eu não queria lhe aborrecer, mas de repente nos vimos loucamente apaixonados.

- Bruna você armou tudo e sem força de vontade e de opinião me deixei levar e sei agora, que nunca foi minha amiga.

- Não era mesmo, ou era eu ou você, não dava para as duas.

- Fiz bem. Disse ela quando Lucas chegou com refrigerantes

- Com licença. Disse Bruna indo ao encontro de Rodrigo e o beijando calorosamente

- Não sou obrigada a ver isso disse ela

- Acalme-se disse o irmão. A propósito tomou o remédio disse ele baixo

- Deise pegou o comprimido engoliu e bebeu água

- Estes remédios me dopam às vezes

- Fique sentada. Disse ele, não pule muito.

- Então devo ficar sentada toda vida? Para sempre? Disse ela triste

Bruna beijava Rodrigo e dançava no meio da pista

- Não sou obrigada a ver isso disse Deise se levantando e encostando-se ao balcão

Um jovem se aproximou e lhe cortejou

- Quer uma bebida?

- Não agradeceu ela

Não tinha o mínimo interesse no jovem, mas percebeu que Rodrigo vinha saindo e então disse:

- Aceito a bebida. Disse ela pegando o copo e virando de uma só vez

O jovem tentava aproximar-se e ela já sorria devido a três copos de cerveja que bebera e o calor era insuportável.

O jovem a prensou na porta e ela olhava para Rodrigo e sorria já um pouco embebedada. E via o ciúme em seus olhos e aquilo lhe fazia bem, saber que ele a amava.

Deise sentia as mãos do jovem lhe percorrer o corpo, de repente a multidão a impedia de ver Rodrigo e ela já começava a passar mal.

A pressão começava cair e diante do calor e da bebida lhe veio o rosto de Márcio. O exame, os gritos da mãe, a voz de Solange e sua cabeça começou girar.

Com custo se desprendeu dos braços do homem e entrou em meio da multidão cambaleando a procura do irmão que também a procurava na parte de baixo do bar.

Sem forças ela foi cambaleando enquanto seu corpo suava e gelava, seus olhos dormentes e seus lábios sem cor.

De repente viu Rodrigo que vendo seu estado venho ampará-la.

- Me ajude. Pediu ela se atirando nos braços do jovem e desmaiando.

- Ele rapidamente a pegou no colo e a levou a praia rápido lhe jogando água para reanimá-la enquanto o manobrista pegava seu carro.

- Acomodou a jovem e pediu para Bruna que aparecia avisar Lucas que Deise passava muito mal.

Em todo trajeto Deise parecia dormir, mas o suor escorria de sua testa e molhava seu rosto pálido.

Sua roupa estava molhada e seu corpo tremia em convulsão.

Ele corria com o carro e logo avistou o hospital estacionando e pedindo ajuda.

Rapidamente a jovem foi levada e ele desesperado aguardava na recepção acreditando que ela entrara em coma alcoólico. Ali com certeza lhe aplicariam glicose e ela logo estaria bem.

Não estaria ela acostumada a beber?

Já tinha meia hora que a jovem entrara a ninguém viera lhe dar noticia

Um médico logo surgiu com alguns comprimidos na mão e se dirigiu a ele.

E o acompanhante da jovem?

- Sim. Sou o noivo, disse ele mentindo.

- Bem, não devia ter deixado misturar bebida com os remédios fortes que toma em virtude da doença.

- Doença? Pensou ele Deise estava doente precisava descobrir e tentou se fazer de entendido.

- Não sabíamos que os remédios a impediam de beber dois copos de cerveja?

- Um soro positivo merece cuidados especiais

- Meu deus. Empalideceu ele

- Como ela está? Perguntou atordoado

- Quase a perdemos, ficará até amanhã. Devolva os remédios a ela e de agora em diante tomem cuidado

Assim que o médico se retirou, Rodrigo passou as mãos no cabelo e as lágrimas começavam a cair. Por isso a preocupação de Lucas e o jeito triste de Deise

Como isso ocorrera pensava ele. Muitas coisas lhe passavam pela cabeça e ele não conseguia pensar.

Logo Lucas adentrou a sala desesperado

- Onde está ela Rodrigo? Perguntou atordoado

- Calma Lucas, ela está sendo medicada, mas está mal. disse ele assustado.

- O que sabe? Perguntou Lucas

- Acharam os remédios no bolso de seu vestido. E confirmaram

- Ela não queria que contássemos. Eu devia ter ficado com ela o tempo todo. Disse Lucas

- Também vou apoiá-la. Disse ele transtornado

- Ela esta com AIDS, terá estrutura para isso?

- Não sei. Disse ele.

- Não sei, mas vou tentar.

CAPITULO IV

O espírito de Linda adentrou a sala e colocou a mão na cabeça de Deise.

- Olhe está agitada. Temos que acalmar seu espírito para que cuide de sua carne e complete a missão. Percebe Pedro?

- Sim Linda. Devemos incentivá- la a freqüentar as reuniões.

- Eu farei isso

Linda colocou a mão na testa da jovem e uma luz colorida saiu de suas mãos e penetrava em Deise. Uma luz cheia de bons fluidos e de esperança.

Deise despertou depois de duas horas, estava se sentindo melhor olhou ao seu redor e não havia ninguém.

Mas o espírito de Linda estava lá olhando a amiga com carinho e alegria

Linda se aproximou e beijou sua testa desaparecendo logo depois

A enfermeira entrou no quarto:

- Sente-se melhor querida

- Sim Obrigada

- Seu irmão veio vê-la junto de seus pais

- Que mão de obra não?

- De maneira alguma. Sempre exageramos em determinadas coisas

- Não sou de beber, fiz para impressionar uma pessoa.

- Entendo. Disse a enfermeira enquanto abria a janelas para o sol entrar

- Ultimamente tenho apreciado coisas que nunca pensei antes. A propósito há algum Rodrigo com meu irmão?

- Havia sim, ele foi até o trabalho justificar sua falta.

- Eu saio disso hoje?

Não, mas vai poder ir para casa. Está bem de saúde querida dentro das possibilidades

- Qual seu nome? Perguntou Deise tentando sorrir.

- É Ester

- Obrigado pela ajuda Ester.

- Estarei aqui sempre

- Neste instante Raul e Dalva entraram no quarto.

- Querida o que houve? Disse Dalva aflita

- Porque bebeu? Perguntou Raul acariciando a jovem

- Bobeira meu pai. Não farei mais isso

- Esqueci por um momento que estou doente. Disse triste

- Lembre-se filha, é muito importante.

Enquanto aguardava os pais, Lucas pensava na irmã e na saudade da beleza da mulher que nunca percebera que poderia adoecer.

Deise chegou em casa e ficou em repouso devido a sua ultima besteira, e recebendo a visita do Dr. Natanael.

- Filha Esta melhor?

- Sim seu Natanael me sinto bem e além do mais só compliquei ainda mais as coisas

- Rodrigo sabe? Perguntou ela triste esperando a resposta do velho médico

- Sim. Disse ele E vai ver que era mesmo para saber?

- Porque ele não vem visitar-me? Perguntou já esperando as desculpas de Seu Natanael

- Rodrigo anda muito ocupado minha filha, mas..

- Sei que ele não quer vir.

- Não é isso minha filha é o trabalho sabe que está muito difícil nos dias de hoje, mas tenho certeza que assim que ele tiver um tempo vira vê-la.

- Não quero pena, aliás, prefiro que não venha se for por este sentimento.

- Querida amanhã iremos ao centro, se quiser ir poderá ir com a gente.

- Eu irei sim Quem sabe me sentirei melhor

- Tenho certeza que sim. Disse o velho a abraçando e sorrindo

Natan chegou em casa feliz, pois passara na faculdade. Estava radiante e iria para outra cidade na próxima semana

Os pais receberam a noticia com alegria, A filha era estudiosa e merecia.

- Não sei se devo abandonar Deise, meu pai.

- Filha, Deise tem a nós e você deve fazer sua vida sem preocupar-se, ela estará bem.

- Ela vai precisar de uma amiga. Disse Natan

- Nós todos somos amigos de Deise e se ela souber que você esta em dúvida ficará magoada.

- Sei disso disse Natan mais conformada.

- Vamos querida. Arrume suas coisas e boa viagem disse o pai sorrindo feliz

Natan subia as escadas e encontro a irmã descendo.

- Vai sair? Perguntou a Deise sorrindo

- Sim vou ao shopping e mais tarde irei ao centro.

- Se quer companhia vou com você ao shopping.

- Ótimo. Disse Deise

- Na verdade vim lhe contar que passei na faculdade e irei para o interior na Segunda, não ficara magoada não e’?

Deise abraçou feliz a irmã se lembrando da alegria que tivera também quando conseguira entrar na faculdade.

É claro que estou feliz.

- Pensei em não ir?

- De jeito nenhum Natan, se for por mim fico envergonhada e triste. Esta é sua chance e sua vida e deve aproveitar cada conquista que tiver, esta bem?

- Sim. Disse Natan a abraçando com carinho

- Vamos então. Disse Deise, Como nos velhos tempos, Natan.

As duas jovens saíram abraçadas

Natanael tocou a campainha na casa da jovem às 19h00min e foi Lucas quem atendeu:

- Boa noite Seu Natanael, Entre, por favor, Deise já está descendo.

- Irão a um centro espírita? Perguntou Lucas interessado

- Sim meu filho. Será bom para Deise. Como ela tem passado?

- Bem, voltou a pouco do shopping com Natan, mas sei que esconde o que sente. Minha irmã é muito forte.

- Eu sei Lucas e verá como a visita a este centro lhe fará bem. Sei o que faço

- Quanto a isso não tenho dúvidas Doutor Natanael. Estando com o senhor ela está com Deus. Disse Lucas sorrindo ao velho médico

Deise vinha descendo com uma calça jeans e uma camiseta branca, os cabelos estavam presos. Estava pálida

- Estou pronta. Disse abraçando Doutor Natanael que retribuiu

- Vamos então filha. Disse ele indo até a porta

- Só nós? Perguntou ela surpresa.

- Sim filha. Disse o médico sem graça procurando uma explicação para a ausência do sobrinho Rodrigo

Percebendo o embaraço do velho Deise abriu a porta para sair e dizendo:

- Não se explique, por favor.

O médico calou-se e seguiu a jovem e Lucas ficou sem entender a atitude de seu amigo que desaparecera, mas que antes lhe prometera que a apoiaria.

Deise e seu Natanael adentraram o recinto por volta das 07h45min e a sessão ainda não tinha começado

Era uma linda sala toda branca com algumas luzes vermelha e música suave

Deise teve vontade de chorar e era como se naquele ambiente Deus lhe amparasse em seu colo santo.

Não pode disfarçar uma lágrima que rolou quando entrou ali e se acomodou em uma mesa grande com algumas pessoas que vestidas de branco sorriam como anjos.

Aguardaram um pouco e logo um homem de meia idade e cabelos grisalhos se sentou e com os olhos fechados agradeceu emocionado por aquela chance de ali estarem a fim de ouvir a Deus

Ele apresentou Deise para os demais que sorriram a jovem que sentada num canto percebeu o empenho deles em a ajudarem

Uma das mulheres começou falar calmamente enquanto a outra parecia tremer

Com interesse Deise prestava atenção em cada detalhe e então a mulher que temia abriu os olhos e assumiu outra fisionomia dizendo as seguintes palavras

- Jesus em sua caminhada caminhou por curvas tortuosas, recebeu as pedras dos homens, conheceu a lepra e sofreu com humildade por seus irmãos.

Não somos como Jesus, pois temos erros e pecados, mas lembremos que seja qual for tua cruz pense em Jesus que venceu mesmo quando parecia derrotado.

E mesmo morto com apenas seu espírito presente tanto nos ensina, Por isso nada que fere o corpo nos derrota quando temos Deus no coração.

Meu nome é Linda. Disse sorrindo a jovem.

Deise que viu nas palavras daquele espírito o consolo para o drama que vivia e apertou a mão de seu Natanael sem conter as lágrimas

A mulher abençoava as pessoas, mas ao levar as mãos a Deise disse sem abrir a boca:

- Deise nunca a abandonarei, somos amigas eternas.

A jovem espantou-se o espírito lhe falara

- Como ela sabe meu nome? Eu ouvi Seu Natanael disse baixo ao velho médico que sorriu.

- É um espírito amigo, acredite com fé no que ouviu, pois veio de um coração puro minha filha.

Ao fim da reunião Deise agradeceu ao coordenador da casa Edmilson e com as pessoas que estavam ali

- Gostou filha? Perguntou Seu Natanael

- Sim, Aquelas palavras couberam em meu problema.

- Acredite filha, nada contei de sua doença para ninguém. Aquelas palavras vieram dos céus, dos espíritos que sabem das suas necessidades. Nós aqui somos apenas instrumentos, nada mais.

Sei disso. Disse ela entrando no carro e seguindo com Natanael a caminho de casa.

Os meses iam passando e Deise freqüentava quando podia as reuniões. Mas sua fraqueza física começava impedi-la de caminhar

Naquela manha a jovem acordara com fortes dores nas costas

Dalva foi ao seu encontro e perguntou com carinho

Filha O que houve?

Não se preocupe minha mãe, apenas uma dor nas costas.

Se não melhorar iremos ao médico

É só uma dor vai passar mamãe. Disse sorrindo

A jovem se levantou a fim de tomar um banho para ver se melhorava e Dalva a ajudou

A água batia em seu rosto e ela sentia se livrar de um peso, mesmo sabendo que ele ainda estava lá.

Pensou em Rodrigo, ele fugira dela e que amor era este que separa as pessoas na doença quando deve unir, como fez com sua família que a amou ainda mais.

Saiu do banho e foi pentear os longos cabelos e um maço de cabelos entupia o ralo.

Se deitou na cama e disse:

- Este é o começo do fim

Se levantou e avistou Rodrigo pela janela, tão perto e tão longe.

Logo se deitou e adormeceu

Dalva subiu ao quarto e cobriu a filha, vendo a bagunça no banheiro sorriu a si mesma.

- Não mudou nada, quando passa parece um furacão.

- Abriu o box e percebeu os fios espalhados.

A mulher limpou tudo rápido inclusive algumas lágrimas que teimavam em cair, foi até o quarto e colocou a mão na testa e constatou que ela não tinha febre.

- É só uma dor e vai passar disse tentando convencer a si mesma

Ela desceu as escadas e passou a tarde vendo novela e tricotando

O inverno chegara e Deise sentia muito mais nesta época. A jovem no inverno passado tivera três pneumonias que quase a levaram

Preparou um caldo quente de galinha, pois já eram sete horas e subiu ao quarto da filha estava preocupada.

Fazia muito frio e a jovem continuava dormindo.

- Deise acorde, fiz um caldo tome disse ela a jovem que abria os olhos rapidamente se sentando na cama e recebendo o caldo.

- Desmaiei mamãe, disse sorrindo e tentando comer.

Mesmo sem fome ela tentava comer, contava apenas com sua fé e sua comida para manter-se de pé.

Mas nos últimos dias nem a comida seu organismo reagia

Perdera 12 quilos rapidamente e tentava reerguer-se. Assim que comeu desceu, pois o pai chegara e seu irmão também.

Ficou na mesa com eles fazendo companhia e Lucas a olhava com aperto no coração, sabia que com a distancia e o preconceito de Rodrigo ela entristecia-se e piorara.

Ele tinha vontade de esmurrá-lo e cobrar-lhe uma explicação de amigo.

Mas Rodrigo preferira fingir que a jovem não existia.

Deise foi a varanda e viu Bruna saindo da casa com Rodrigo bem abraçados indiferentes ao que acontecia a ela.

Tinham sido grandes amigas um dia. Pensou calada

E Rodrigo em certa época de sua vida fora o companheiro, o amigo e o noivo.

Amiga mesmo só tivera Solange que prometera surgir quando aquele que a condenara partisse.

Deise entrou e foi para cama diante do olhar do irmão

Pela manhã, mesmo com frio ela foi a praia. A mais de um ano estava no Rio e não vira a praia por mais de duas vezes

Olhou as ondas e sentada na mureta de blusa de lã sentiu vontade de chorar. E chorou somente para que o mar a assistisse.

Via as coisas perdendo os significados a seu redor e só parou de chorar quando Bruna sentou ao seu lado e perguntou:

- O que faz sozinha neste frio?

- Nada

- Que está acontecendo? Você esta tão magra? Perguntou séria.

- Não tenho comido bem.

- Depressão talvez. Não creio que seja por Rodrigo Você nem gostava dele.

- Como sabe? Fala de meus sentimentos como se fossem os seus.

- Porque voltou? Nas cartas dizia-me que vivia um conto de fadas e que bendita fora a hora que eu lhe incentivara a mudar?

- Você também me disse viver um conto de fadas.

- E ainda vivo disse Bruna

- Só não contou-me que era com Rodrigo

- Nos apaixonamos

- Que nada. Gritou Deise, quis tirar-me de seu caminho e conseguiu.

- Pare com isso. Rebateu Bruna

- Não posso mais competir com você

- Me culpa por tudo que lhe aconteceu. Se não quisesse deixá-lo teria ficado. Disse Bruna entre lágrimas

- Estou doente, disse Deise entre lágrimas. Estou morrendo Bruna. Disse ela segurando nas mãos da amiga

- Que você tem perguntou Bruna aflita esquecendo as diferenças

- Estou com o maldito vírus. Disse Deise por fim

Bruna assustou-se e sem conter-se a abraçou com emoção

- Não sei o que lhe dizer. Mas e Rodrigo? Perguntou Bruna limpando uma lagrima

- Sabe de tudo e nunca mais apareceu. Disse Deise silenciando

- Falarei com ele.

- Não fale nada. Pediu Deise se distanciando abalada

Bruna ficou vendo a jovem distanciar-se tristonha.

- Que destino. Disse a si mesma limpando os olhos chorosos, mas não havia como tentarem ser amigas. Entre elas sempre esteve Rodrigo e quando namoravam Bruna já arquitetava um plano para tirá-lo da amiga.

Ela fora cruel com Deise

Deise chegou em casa entre lágrimas, estava cansada de chorar. A campainha tocou e ela desesperada abriu

E tamanha foi sua alegria quando viu a jovem amiga que lhe prometera apoio e muito carinho.

- Solange, Graças a Deus. Disse ela vendo a frente a amiga que segurara sua mão na hora da descoberta.

Deise a abraçou fortemente enquanto a amiga se recuperava do espanto de ver sua aparência.

A doença levara boa parte de Deise não havia como negar

- Você veio. Disse sorrindo

Sim. Disse ela, Vim para ficar com você.

Até o fim? Perguntou Deise entre lágrimas.

Ate o fim. Disse ela também chorando

- O que houve? Perguntou Solange. Séria entrando na casa com a amiga percebendo a total apatia de Deise.

Nada. Disse Deise mais calma. Já passou, lhe conto depois. Disse tentando sorrir, Solange segurava as lágrimas ao ver a magreza da amiga.

Percebendo o choque da amiga ao vê-la Deise sorriu e quebrou o silêncio

Te assustei não é? Disse Deise se sentando. Minha magreza assusta mesmo.

Está tudo bem. Disse Solange segurando em suas mãos

Tento comer, mas não vai minha amiga. Disse Deise limpando uma lágrima

Compreendo. E então reencontrou Rodrigo? Perguntou tentando animá-la

Sim e não. Disse Deise

Como assim?

Depois eu lhe explico tudo Solange. Teremos muito tempo para conversarmos. Vamos guardar suas coisas. Estou muito feliz que está aqui disse a jovem sorrindo.

Dalva e Raul vinham chegando e percebendo a alegria da filha em companhia da jovem desconhecida sorriram felizes

- Mamãe.. Papai está é Solange a maior amiga que Deus pode enviar-me.

- Prazer querida. Disse Dalva lhe abraçando

- Fez muito bem a nossa filha. Disse Raul lhe estendo a mão

- Por quanto tempo vai ficar? Perguntou Dalva sorridente

- Seis meses disse ela sorrindo. Tranquei a faculdade e retorno no próximo semestre quando Deise estiver curada. Disse tentando animá-la.

Deise sorriu e abraçou a amiga enquanto os pais já se alegravam em ver que a jovem voltara a sorrir.

- Bem meninas disse Dalva feliz – Coloquem as coisas lá em cima e venham tomar um bom lanche com rosquinhas e um bom suco de frutas

Deise subiu as escadas alcançando o quarto e mostrando os cômodos para a amiga, encaminhando a jovem ao quarto de hospedes onde ela ficaria.

Ao se acomodarem Solange lhe estendeu um embrulho e disse:

- Trouxe um presente para você

- Obrigado. Não precisava, sua visita é meu maior presente minha amiga. Disse abrindo o pacote

A jovem surpreendeu-se com a linda blusa de rendas que ganhara da amiga.

- É linda, do jeito que eu gosto, disse tirando a blusa para experimentar

Vendo o próprio corpo nu ela percebeu uma enorme mancha arroxeada que nascera em suas costas. Sem disfarçar sentou-se na cama tristemente.

- O que houve não vai vestir esta blusa?

Não disse triste. Olhe esta mancha e tantas outras que irão surgir.

Acalme-se. Disse Solange. Vista a blusa

Deise vestiu e agradeceu, mas Solange percebeu que este seria apenas um dos golpes dos quais a jovem levaria.

- Cada dia morre um pedaço de mim disse ela entre lágrimas abrindo seu coração a jovem amiga.

- Meus cabelos caem, minhas costas doem, meu corpo definha, disse soluçando. Se eu morresse em um acidente ou rapidamente não doeria tanto quanto me dói hoje. Eu me assusto todos os dias com a rapidez em que vou me perdendo. Cada parte de meu corpo dia a dia vai sendo derrotada pelo vírus

Solange a abraçou fortemente lhe aconselhando a ter calma e muita fé.

- Pesava 57 quilos e morria de vergonha, agora peso 45 quilos e não estou feliz. Disse ela entre lágrimas abraçando a amiga

- Porque veio Solange? Perguntou desesperada. Ele morreu não foi? Não minta por Deus. Perguntou a jovem se referindo ao jovem que lhe passara o vírus

Sem poder esconder, Solange revelou a verdade.

- Morreu sim, a quinze dias disse séria.

A dor lhe atingiu, mas ela percebeu que a amiga viera de longe, trancara a faculdade para cumprir sua promessa. Estaria ao lado dela quando ela morresse.

O dia estava bonito, os passarinhos cantavam na janela de Dalva e está assistia a alegria das crianças.

Deise fora uma delas, gostava de brincar com as bonecas mais lindas, era vaidosa e muito cuidadosa.

Hoje só gostaria de viver de assistir as coisas com humildade

Dalva sentou-se e pensou em sua vida. Deise estava a mais de um ano por lá, não tinha melhoras, parecia pior e mais desanimada se entregando facilmente aos golpes da maldita doença.

Tomava todos os remédios, mas o vírus era rápido demais, inatingível para a ciência.

Deise vinha descendo as escadas segurando as costas com as mãos

- O que foi filha? Perguntou Dalva aflita vindo a seu encontro

- Sinto terríveis dores nas costas mamãe

- Vamos ao hospital disse Dalva rapidamente.

Percebia que ia perdendo a filha a cada dia e não poderia demorar a agir.

- Solange, ajude-me! Pediu gritando para a jovem que já descia com as chaves do carro nas mãos.

Enquanto Solange tirava o carro. Dalva auxiliava a filha e a preparava para ir ao hospital.

Enquanto a ajudava a colocar uma blusa Deise lhe disse séria e quase chorando:

- Mamãe. Ele morreu.

- Quem filha? Perguntou a mãe assustada

- Márcio, foi ele quem me passou o vírus. Disse triste

- Como sabe?

- Solange só veio por isso. Quis esconder-me, mas quando a vi já sabia. Talvez esteja perto mãe.

- Não fale isso querida. Disse Dalva tentando manter a calma

Solange acomodou a amiga no carro, mas não deixou de percebeu o olhar esperançoso da jovem para a casa de Rodrigo.

Ester a enfermeira entrou na ala com rapidez. Vendo Deise sorriu

- Bebedeira de novo? Perguntou estendendo a mão a jovem

Não. Desta vez são as dores nas costas e a tosse de sempre

Ah. Sim. Disse sorrindo

Assim que se viu a sós com Dalva o médico perguntou?

- Quem é o médico de Deise?

- Dr. Roberto Bonfiglio

- Vou chamá-lo, é melhor que ele a atenda.

- Está bem Doutor eu aguardo. Disse Dalva preocupada

Dr. Roberto entrou na sala rapidamente.

- O que houve D. Dalva?

- Deise não está bem. Disse ela preocupada

- Doutor Roberto pediu exames e encaminhou Deise ao quarto.

Em instantes deixou a sala e voltou- se para Dalva

- O que tem ela? Perguntou a mãe

- Pneumonia de novo. Disse ele. Desde o começo eu lhe expliquei que nestes casos é muito comum. Ela ficará internada até melhorar

Dalva se sentou e quis chorar. Raul em viagem e isto acontecia no momento em que estava sem o marido.

- Dona Dalva, tenho notado Deise mais triste e pior. O que há?

- É Rodrigo. Disse a mãe aflita, Seu ex. noivo, desde que soube da doença a evita, ou melhor, a ignora. Ela se tortura com esta atitude. Parecia amá-la nos tempos de criança disse a mãe tristemente.

- Bem, Ester vai animá-la é uma ótima enfermeira e dará força a Deise nos dias em que ela ficará aqui. Vá para casa com esta jovem disse o médico apontando para Solange. E não se preocupe Deise ficará em boas mãos.

Dalva tentou sorrir, mas no fundo tinha muito medo de deixar a filha e encontrar sua cama vazia ao voltar.

Eram quase 10h00min quando Raul chegou da viagem que fizera. Encontrou Dalva, Solange e Lucas na sala.

Percebendo a tristeza de todos perguntou rapidamente ao colocar a bagagem no chão

- O que houve com ela? Onde está minha filha?

Era muito comum seu desespero diante da ausência da filha

Dalva aproximou-se e explicou-lhe

- Esta internada com pneumonia, disse segurando nas mãos do marido.

- Estamos perdendo nossa filha. Disse ele com lágrimas nos olhos. Está indo tão rápido e em profunda dor de um pai que nunca imaginara que tamanha desgraça aconteceria com sua família.

Solange se levantou e deixou a sala vendo o desespero da família de Deise e sentou-se na balança da entrada se permitindo chorar pela sorte da amiga tão amada.

Despertou de sua dor com a chegada de um carro na casa ao lado e percebeu ser o tal Rodrigo que tanto entristecera a jovem.

Sem hesitar tomou forças e atravessou o jardim se colocando no quintal do jovem que assustou-se com a presença da jovem em prantos:

- Por acaso você é Rodrigo? Se não for pode chamá-lo para mim. Disse séria

- Sou eu sim. Disse ele, mas não a conheço.

- Sou amiga de Deise. Disse ela com orgulho apesar das lágrimas que teimavam em cair

- Não quero comentar esta história. Disse ele colocando as chaves na porta e se virando.

- Espere. Gritou ela pegando nos ombros do jovem com violência

- Você vai comentar e vai me ouvir de qualquer jeito. O que pensa que esta fazendo? Minha amiga esta cada dia mais triste pelo seu infeliz posicionamento de homem.

- Não pode entender. Disse ele Eu vi Deise crescer e florescer e não quero vê-la morrer. Não sei como reagir a isso disse ele nervoso passando as mãos pelos cabelos.

- Já está reagindo disse ela. A posição que adotou esta maltratando Deise. Nada pode mudar o que está acontecendo. Estar perto de Deise ou longe não vai mudar sua derrocada. Ela não tem cabelos, pesa 45 quilos, tem manchas pelo corpo e dor nas costas. E nada mudará para nós, mas se estivermos ao seu lado muda muito para ela. É mais fácil enfrentar as coisas com alguém te incentivando mesmo quando ela sabe que vai morrer.

Rodrigo pálido olhava Solange que abria seu coração mostrando a verdadeira amizade que a unia a jovem amiga.

- Ela está internada com pneumonia. Talvez morra hoje ou talvez você tenha mais alguns dias para arrepender-se do que está fazendo. O preconceito não é a melhor atitude. Ignorá-la também não. Disse ela se virando e atravessando novamente o jardim enquanto Dalva a esperava na porta.

Vendo que a jovem vinha chorando a abraçou.

- Obrigado querida. Ele mereceu, fez o que eu devia ter feito a muito tempo.

CAPÍTULO V

O dia amanheceu e os primeiros raios de sol entravam pela janela do quarto de Deise

Ao acordar Deise assustou-se, mas logo se deu conta de que estava internada devido à pneumonia.

Adentrou no recinto uma jovem de aproximadamente 20 anos, loira e muito bonita.

- Bom dia. Disse ela. Vou abrir as janelas

Deise fez que sim com a cabeça

- Onde está meu médico?

- Infelizmente pela manhã ele ligou. Sofreu uma queda e quebrou uma perna, enquanto isso é o Dr. Jair que cuidará de você.

Mônica saiu do quarto e um jovem aparentando 24 anos entrou no quarto, cabelos castanhos e olhos verdes. Um sorriso quase infantil

-Bom dia. Sou Jair, seu médico por acidente. Disse sorrindo

Deise olhou o jovem e sorriu, ele parecia mais simpático e muito mais atencioso que o Dr. Roberto.

- Posso lhe perguntar algo? Disse ela

- É claro.

- Quanto tempo tenho de vida? Disse séria.

Jair espantou-se com a pergunta. Nunca nenhum paciente lhe fora tão direto.

- Seu nome é? Falou ele esquecido olhando a prancheta.

- Deise. Disse ela

- Deise, pois bem. Sua pergunta não tem resposta. Não sou Deus e não posso saber. Dez anos, seis meses, dez dias não sei... como também não sei de mim disse ele.

- Você entendeu perfeitamente minha pergunta doutor. Tenho AIDS estou doente. Não sou uma pessoa normal.

- Para mim é, até que alguém mude minha visão. Somos todos iguais

- Onde estão meus pais? Perguntou ela séria

- Logo estarão aqui. Vou examiná-la enquanto isso e vou te fazer sorrir disse ele feliz

Enquanto o jovem a examinava e pedia exames conversava sobre sua carreira. O que gostava de fazer e Deise sorria com o bom humor do jovem, se esquecendo por alguns momentos que estava na condição de paciente e ele de médico.

Jair terminou e logo foi chamar os pais de Deise que já aguardavam

- Dona Dalva, Seu Raul queiram entrar.

- Como está ela? Perguntou a mãe aflita.

- Está bem e logo sairá. Não é esta pneumonia que vai derrubá-la. Deise tem uma parte que se entrega, mas outra que luta muito.

Dalva e Raul entraram menos preocupados no quarto.

- Oi, filha. Disse ela a abraçando

- Oi mamãe, oi pai. Disse feliz

- Como está se sentindo? Perguntou Raul a abraçando

- Bem. As dores melhoraram. O que houve com meu médico?

- Caiu e quebrou a perna, e como suas férias estavam próximas aproveitou a oportunidade, mas indicou Dr. Jair que é muito bom.

Deise se perdia nos braços fortes do pai. Braços estes que protegeram a jovem de tantas coisas, mas não desta doença.

Conversaram por longo tempo e Deise insistiu para que fossem descansar, pois ela ficaria bem.

Dalva deixou alguns livros e fotografias para distrair a filha.

Quando eles se foram Deise se viu sozinha no quarto.

Pegou a álbum que a mãe havia deixado e viu as fotos de quando foi para faculdade e não via semelhança alguma com o agora. Parecia um cadáver e se deparou com a realidade injusta da qual era vitima.

E passou toda tarde assim até anoitecer e Jair entrar no quarto, isto quando já era bem tarde com um pacote e dois copos.

- Oi como está? Disse ele entrando e abrindo o pacote e tirando uma marmitex.

- Bem, O que trouxe ai? Perguntou ela sem entender.

- Comida boa. Deve comer e não a proíbo de comer nada. Disse ele.

O medico percebeu que ela havia chorado.

- Não tenho fome. Disse ela triste e cabisbaixa

Jair aproximou-se da moça e sentou-se na cama. Ele se envolvia em muitos casos todos os dias, mas o de Deise era diferente.

Desde quando a vira se envolveu como um amigo que deve apoiar o outro.

- Deise não posso dizer o que está passando e como se sente, mas deveria lutar e não entregar os pontos.

Enquanto você estiver firme ele não pode vencê-la. Estamos a partir de hoje juntos nesta luta. Disse ele acariciando o rosto da jovem.

Deise segurou em prantos nas mãos do médico e suas fotos caíram no chão.

O médico percebeu o quanto ela fora bonita e cheia de vida, mas não deixou transparecer.

- Aqui estão suas fotos. Disse ele. Vamos comer?

Deise pegou o pão e comeu enquanto conversava animada com o jovem médico.

- Não vai embora descansar Doutor? Disse ela

- Me chame de Jair, somos amigos agora e vou ficar conversando com você até que se sinta bem para dormir.

- Fui uma boa companhia. Disse ela. Mas não sou mais. Disse séria

- Ai é que você se engana. Disse ele. Estou Aqui porque você me faz bem.

- Tem pena de mim não é? Disse ela.

- Não Deise. É você quem tem pena de si mesma.

Deise baixou a cabeça e abriu seu coração. Conversaram muito e ela lhe relatou toda sua vida, seu jeito, sua vaidade, seu orgulho, o contagio, a descoberta da doença. O amor por Rodrigo, o desprezo do mesmo, a amizade de Solange, a luta da família.

E ao fim de seu relato disse:

- Quero muito viver. Disse entre lágrimas.

Jair segurou em seu rosto e disse:

- Então cada dia que passar será mais um que venceremos e vamos sempre com fé vencendo o tempo.

Deise o abraçou emocionada.

Pela manhã a jovem enfermeira de nome Monica adentrou o quarto e abriu uma pequena janela

- Como está Deise? Perguntou ela

- Bem melhor.

- Percebo. Disse a enfermeira Parece mais corada, sonhou com os anjos?

- Não. Ele esteve aqui. Disse ela sorrindo.

- Quem é este anjo? Perguntou Monica curiosa.

- É o Dr. Jair. Disse ela feliz.

A expressão no rosto de Monica mudou e Deise percebeu com clareza que ela se irritara.

A jovem enfermeira estava nervosa, pois novamente o médico desmarcara seu compromisso com ela por seus pacientes.

Rapidamente ela ministrou o remédio e antes de sair disse:

- Seu namorado esta entrando. Disse ela.

Neste instante Lucas adentrou o quarto sorridente.

- Como esta minha irmã? Sinto muito sua falta disse ele a abraçando.

- Estou bem. Disse ela.

Jair adentrou o recinto e vendo o jovem ao lado de Deise desculpou-se:

- Desculpe por interromper, mas tenho que dar uma olhadinha nela. Disse sorrindo.

- Imagine, não atrapalha em nada. Este é meu irmão Lucas disse ela os apresentando.

- Prazer. Disse Jair satisfeito enquanto Lucas lhe estendia a mão.

- Deise falou muito de você ontem a noite disse o medico.

Lucas olhou para irmã sem compreender e foi neste instante que viu um brilho diferente em seus olhos e um sorriso bonito em seu rosto.

Não entendeu e preferiu não comentar, mas nos dois meses que se seguiram a cada visita Deise parecia mais feliz e corada de modo que todos começaram a perceber que um mudança se sucedia com a jovem.

Lucas percebeu que a irmã sempre falava no médico e parecia apegada demais ao jovem de modo que poderia sofrer.

E foi com a mãe que ele comentou:

- Estou certo que Deise mudou por este médico.

- Com a graça de Deus ela encontrou alguém como ele, como médico que lhe dá atenção e a quer ver curada.

- Como minha mãe? Disse Lucas. Não percebe que os olhos dela brilham quando ele chega. Deise esta apaixonada.

- Não acredito nisso. Disse a mãe distraída

- Mamãe repare em seu jeito, em seus olhos e em sua disposição. Ela não é mais a mesma e temo que se machuque.

- Este jovem não a machucaria meu filho é medico e muito bom.

- Achei que Rodrigo não a magoaria e me enganei. Como poderei acreditar em um médico que mal conheço? Disse ele se retirando.

Pela manhã, Lucas saiu disposto a ter uma conversa com o médico Jair, estacionou e ficou aguardando no estacionamento.

Assim que Jair saiu do carro ele veio a seu encontro:

- Dr. Jair tem um minuto para mim?

Sorridente Jair olhou em seu relógio e disse:

- Claro Lucas. Tenho 30 minutos. Podemos beber um café na lanchonete aqui do hospital.

- Claro. Disse Lucas apreensivo acompanhando o médico.

Acomodaram- se em uma mesa e Jair pediu dois cafés e sorridente aguardou que o moço falasse.

- Bem, o que me trás aqui é Deise minha irmã.

- Se quer saber sobre sua saúde, nestes dois meses teve uma melhora valida e parece outra mulher isso é muito bom nestes casos, pois...

- Não é sobre isso que quero lhe falar.

- Fale, por favor. Pediu Jair pegando o café que chegara.

- Bem doutor, Deise era uma jovem linda cheia de pretendentes, de amigos, com Rodrigo apaixonado por ela jurando amor eterno. De repente é uma jovem aidética e carente.

- Onde quer chegar? Perguntou Jair.

- A verdade é que noto que a melhora de Deise só tem uma causa.

- O que? Perguntou Jair.

- Você.

- Jair espantou-se, mas continuou ouvindo o jovem falar.

- Minha irmã mudou desde que lhe conheceu, eu a vejo muito apegada a sua presença e quase apaixonada. Creio eu que ela confunde as coisas e até o ama. Ela só fala em você e nós dois sabemos que Deise acabou como mulher. Talvez você esteja dando muita atenção a ela e ela tenha confundido e sonhado com esperanças absurdas. Por isso venho lhe pedir que a trate como uma simples paciente. Não quero que ela sofra como sofreu com Rodrigo com quem me enganei. Minha irmã esta confundindo as coisas e deturpando suas intenções como médico.

Jair sério olhou o jovem e assim que ele parou de falar disse:

- Ela não esta deturpando as coisas.

- Como não? Conheço minha irmã esta apaixonada disse ele desesperado.

- Eu gosto de sua irmã. Disse Jair sério.

- Como gosta? Eu não acredito. Brinca comigo? Gosta como? Disse ele levantando da cadeira nervoso.

Jair se levantou também

- Gosto de homem para mulher e está muito enganado quando diz que Deise está acabada como mulher. Ela é uma mulher incrível de fibra. Uma lutadora. É linda, talvez mais linda do que antes da doença.

Lucas estava pasmo e sentou-se novamente na cadeira, pois algumas pessoas os olhavam.

- O que pretende fazer? Namorar com ela? Fazer planos casar e ter filhos? Disse ele irônico.

- Se isso lhe deixaria mais sossegado para mostrar minhas intenções, eu me casaria com ela sim.

- Ah! Meu Deus! Mal se conhecem. Disse Lucas sem compreender.

- Conheci Deise em dois meses. Sei do que gosta, o que quer, Sei tudo disse ele.

- Escute bem Dr. Jair. Disse Lucas esmurrando a mesa. A ultima pessoa que prometeu amor eterno a minha irmã desapareceu e quase a matou.

- Não permitirei que um médico novato como você brinque com minha irmã. Não permitirei gritou ele.

- Não sou moleque. Disse ele. Sei o que eu faria com Deise se mentisse. Sei de tudo e não sou Rodrigo e não a farei sofrer. Gosto de sua irmã e estou mais feliz depois que a conheci e vou ajudá-la a viver. Acredite. Não a magoarei. Disse Jair o abraçando.

Lucas sem entender viu o médico distanciar e por incrível que parecesse o médico lhe parecia sincero.

Lucas voltou para casa mais aliviado. Seria possível que sua irmã era amada e querida? O médico parecia um amigo, um confidente, alguém além da ciência que não queria curar só seu corpo, mas também sua alma e seu espírito.

Parecia ser alguém que a ajudaria quando a vida se tornasse dura demais, alguém que faria o que Rodrigo jurou fazer, mas não fez.

Lucas chegou em casa melhor e Dalva foi a seu encontro.

- E então filho? Conversou com ele?

- Sim. Disse Lucas e sabe o que ele me disse?

- O que? Perguntou Dalva preocupada.

- Que gosta dela também.

Dalva sorriu.

- É um bom moço. Fico feliz e você não deve preocupar impedindo Deise de viver suas experiências e de fazer suas escolhas

- Eu sei mãe. Estou mais tranqüilo vou me deitar, mas estarei atento a este tal de Jair.

Deise percebeu Monica entrando no quarto de cara fechada e sem conversar como fazia todas as manhãs.

- Bom dia Monica. Disse ele feliz

- Oi. Disse ela de mal grado preparando seu remédio

- O que houve? Aconteceu algo? Talvez eu possa ajudá-la, afinal, é tão boa para mim.

- Não é nada. É só o Jair que anda me aborrecendo

Deise espantou-se e sorriu.

- E um bom médico e uma boa pessoa e...

- Bem. Estou falando dele como homem. Disse ela. Saímos juntos há três meses e estou cansada. Disse ela com o olhar maquiavélico contando a jovem. Ele vive com pena dos pacientes e doando seu tempo.

Deise compreendeu que a jovem referia-se a ela e as primeiras lagrimas inundaram seus olhos.

- Vive com pena dos outros, dizendo que tem que fazer boas ações e nosso casamento deve ser adiado. Disse ela mentindo

Deise fechou os olhos aturdida e Monica logo se retirou em seguida Jair adentrou o quarto.

- Oi querida O que houve disse ele a vendo chorar.

- Saia daqui gritou ela entre lagrimas. Tem pena de mim, tem pena por eu estar doente. Pena de todos nós, não é carinho nem amizade, nem... Nem amor. Disse ela. Saia daqui, não quero que tenha pena de mim. Como fui boba em acreditar no que me dizia. Como fui inocente disse ela entre lágrimas nervosa.

- Quem lhe disse isso? Acalme-se vamos conversar disse ele desesperado tentando acalmá-la.

Deise se levantou da cama e arrancou o soro e o médico desesperado tentava contê-la

Deixe-me. Gritava ela entre lagrimas. Saia daqui não o quero mais como médico. Nunca mais

As enfermeiras entraram e a seguravam enquanto Monica lhe aplicou uma injeção e ela logo se acalmou.

Ester a outra enfermeira vinha correndo e vendo Jair perguntou:

O que houve com ela? Estava tão bem.

- Teve uma crise nervosa. Acusou-me e gritou muito. Não entendo o que houve

- Pergunte a Monica disse Ester. Vive atormentando todos com essa bobagem que tem um caso com você. Disse Ester saindo.

Há dias Deise estava calada. A família fora visitá-la, mas ela nada falava e foi naquela noite em que ela estava no quarto deitada e triste que Rodrigo entrou no quarto.

Deise não percebeu a presença do jovem e para ele era muito difícil acreditar que ela estava naquela situação.

Rodrigo vendo a jovem culpou-se pela atitude de desprezá-la ao invés de encará-la, mas enfim pensara muito e estava lá pronto a desculpar-se antes de partir para longe.

Deise notou a presença de alguém e se virou:

Rodrigo? Disse ela. Estou sonhando?

Não Deise, é a realidade. Estou aqui para pedir-lhe desculpas por minha atitude infantil.

Não importa, está aqui e isso é tão importante para mim. Disse ela com lágrimas nos olhos.

Depois de tudo que houve entre nós eu não poderia ter feito o que fiz. Dizia ele olhando nos olhos da jovem.

- Poderíamos ter dado certo, hoje estaríamos casados e eu nunca teria escolhido partir.

Poderíamos. Disse ele. Mas quando você voltou eu já estava envolvido com Bruna, mas terminamos e descobri que ela não era para mim.

Ainda vai encontrar a pessoa certa que lhe toque o coração de verdade. Disse Deise com os olhos tristes.

Saiba Deise que você foi a única pessoa que me tocou de verdade e eu gostaria de tentar novamente.

Não Rodrigo. É tarde demais para nós dois e estaria fazendo por mim e não por você.

Não acreditaria não é mesmo? Disse ele pegando nas mãos da jovem.

Não. Disse ela, mas não me importa o amor. Importa-me mais ter amigos e posso contar com você não é? Perguntou ela sorrindo.

É claro. Farei uma viagem, mas quando precisar estarei a disposição.

Dalva e Solange iam chegando quando pelo vidro avistaram os dois jovens conversando.

E ele Solange. Disse Dalva surpreendida

Sim D. Dalva, ele veio e espero que isso faça bem a Deise.

Ester aproximou-se e vendo as duas esperando para entrarem no quarto sorriu:

- Bom dia, eu esperava mesmo vocês para falar de Deise.

- O que houve Ester? Perguntou Dalva aflita

- Deise não esteve bem esta manhã teve uma crise nervosa, arrancou o soro e se levantou gritando com Dr. Jair.

Oh! Meu Deus! O que houve entre eles? Perguntou Dalva desnorteada com o amor da filha pelo médico.

Não sei o motivo. Mas lhe demos um sedativo e a pouco ela acordou e recebeu a visita deste jovem. Mas Jair está muito magoado, gosta muito de Deise, Acreditem.

- Falarei com minha filha e buscarei uma resposta.

Jair apressado vinha pelo corredor

Dr. Jair o que houve com ela? Disse Dalva apontando pelo vidro para filha.

Vendo o jovem ao lado de Deise Jair achou muito estranho, mas nada disse procurando dar a atenção merecida a Dalva.

- Bem, sua filha acha que eu fico próximo dela por pena. O que não é verdade. Eu verdadeiramente gosto dela e acho que alguém lhe disse isso e nas condições que se encontra acreditou.

- Quem? Perguntou Dalva nervosa.

- Imagino que seja a enfermeira Monica por ciúmes

- Que maldade. Disse Solange nervosa

- Realmente. Disse Dalva. Minha filha sofre muito. Por isso só lhe peço que seja seu médico, nada mais. Não traga seus casos pessoais para perturbá-la. Não a envolva em seus relacionamentos. Disse Dalva alterada.

- Não tenho relacionamento algum Dona Dalva. Disse ele sério.

Dalva olhou para o médico sem entender e Solange tentou desviar o assunto

- Clinicamente Deise esta melhor? Perguntou ela.

- Sim. E parece muito feliz com a visita deste jovem disse ele olhando pelo vidro enciumado.

- É Rodrigo. Disse Dalva

Jair entrou no quarto acompanhado de Solange e Dalva e ao vê-lo Deise virou o rosto

Esta melhor Deise? Perguntou ele.

Não, enquanto for meu médico. Disse ela nervosa

Dalva, Solange e Rodrigo espantaram-se com a grosseria da jovem ao médico.

Foi Monica que lhe disse aquilo. Eu e ela saímos juntos uma ou duas vezes e nada mais e não admito que ela lhe diga mentiras.

Rodrigo não entendia a situação e até que ponto Jair era importante para jovem. Parecia explicar-se com sinceridade enquanto a atitude da jovem deixava clara sua paixão pelo médico.

Jair colocou a prancheta de Deise nos pés da cama e saiu desnorteado

Rodrigo que entendera tudo se despediu da moça e sorrindo para Solange e Dona Dalva retirou-se também.

Dalva se acomodou na cadeira, mas foi Solange quem perguntou.

O que está havendo amiga?

Com os olhos cheio de lágrimas Deise lhe contou.

Monica falou-me das verdadeiras intenções de Jair. Ele quer ser o médico salvador que se empenha com os pacientes, mas na verdade quando sai com a namorada conta que fica conosco por pena. Não o quero mais. Disse ela triste, limpando as lagrimas que teimavam em cair.

E Rodrigo? Perguntou Dalva.

Entendo o que houve com Rodrigo, crescemos juntos nos amando e ele me querendo como mulher, de repente descobre tudo e vê a mulher que ele gostava, virando sei lá o que. Disse Deise baixando a cabeça. Mas ele veio me ofereceu sua amizade e despediu-se de mim e tive certeza que nunca mais o verei. Ele deve viver e procurar sua felicidade

Filha logo que sair ira ao centro? Perguntou a mãe tentando sorrir.

Sim mãe, Eu sinto não poder participar. Era tão bom, havia tanta paz.

Solange olhou nos olhos da amiga e perguntou:

- E quanto ao Dr. Jair?

Percebendo que as duas queriam conversar Dalva deu uma desculpa

- Vou ate a recepção e volto já

Dalva saiu e Solange esperava a resposta da amiga:

- Fui boba Solange. Pensei que poderia ser amada novamente como uma pessoa normal, mas isto não existe quando se esta doente. Porque como mulher eu não existo mais. Só parentes, pais e irmãos podem me amar como antigamente.

- Percebi por Rodrigo, que cresceu comigo e hoje restou tão pouco. Quase nada do que fomos um dia.

- Não caia no erro de comparar Jair com Rodrigo.

- Quem é Jair? Perguntou ela triste. Não o conheço bem. Não sei se é casado, ou sozinho? Tenho só a palavra dele, mas Rodrigo eu conhecia e me deu este ultimo adeus como resposta e este que mal conheço? O que esperar dele? Disse ela desnorteada.

- Solange se levantou viu Monica pelo vidro conversando com as outras enfermeiras e voltou-se para Deise.

- Deise esta Monica é falsa. Quer te ver no chão por seus caprichos.

- Ela sempre foi boa comigo. É namorada dele e de certo se cansou de ser largada pelos doentes. De certo o conhece mais que eu. Disse Deise séria

- Me diga o que Jair ganha lhe tratando tão bem, alem do salário que ganharia mesmo se não a tratasse bem. Me diga? Ele faz tudo por você, se desdobrou para você sorrir, por que a ama muito e você já não se ama mais para perceber que pode ser amada como uma mulher por um homem.

Deise ouviu as palavras da amiga a chorar e limpou as lágrimas assim que Dalva entrou no quarto feliz.

- Se tudo correr bem amanhã terá alta, conversei com Jair e talvez se for preciso, fique mais um dia, e não mais que isso. Disse Dalva feliz a abraçando.

Pela manhã Deise acordou com Monica arrumando o quarto.

- Bom dia Deise, O médico vai passar e ver se esta tudo bem para lhe dar alta.

A jovem estava feliz iria para casa e ainda não fora desta vez que dera o passo para eternidade.

Um médico jovem entrou no quarto com sua prancheta.

Oi Deise, vou examiná-la, sei de seu caso, pois Dr. Jair não esteve bem esta noite e não veio Hoje, mas já fui adiantado de tudo.

O médico a examinou e sorriu

- Tudo bem. Pode voltar para casa. Mas seu organismo é agora como uma flor, não cometa excessos e cuide muito bem de si mesma. Disse ele feliz

- Estou contente. Disse ela. Vou poder ir ao centro

- Também frequento. Gosto muito e pelo que sei é muito amada por lá

- Como sabe? Perguntou ela curiosa

- Minha esposa é médium deste centro e foi seu Natanael quem nos indicou. Jair mesmo já comentou comigo que você ia lá.

Um brilho passou pelos olhos de Deise quando disse:

- É. Eu contei muitas coisas a Jair, talvez ele saiba mais de mim do que eu mesma.

- Ele sabe Deise, por que gosta de você, ficou muito magoado com o que houve. Somos grandes amigos e eu o conheço bem para lhe assegurar que ele não tem nada com essa enfermeira e nem pena dos pacientes e sim muito respeito. Jair é muito verdadeiro.

- Obrigado Dr.

- Édipo. Disse ele. Bom retorno a sua casa e nos encontramos no centro.

Deise aguardava a chegada do pai. Raul entrou na recepção e abraçou a filha fortemente

- Vamos para casa querida disse feliz

No caminho de casa enquanto Raul dirigia Deise olhava para rua e o pai rapidamente quebrou o silencio.

- Porque quer mudar de médico?

- Já mudei pai. Não dava mais.

- Jair era um bom médico, assim garantiu-me todos os outros com quem conversamos disse o pai.

- Era um bom médico meu pai. Quanto a isso não poderei discordar.

- E qual é o problema então? Perguntou Raul interessado.

- Se envolve demais com os pacientes.

- E você querida não se envolveu demais e agora quer fugir? Disse o pai parando no farol.

Deise espantou-se, pela primeira vez o pai dava palpite em seus relacionamentos.

- Pense Deise. Disse ele. Estou a par de tudo e percebo que o único erro deste jovem medico foi dar tudo de si para salvá-la, para resgatar o brilho que tenho visto em seus olhos nos últimos e dias e que já desapareceu novamente. Não o conheço, mas em casa sua mãe e Solange e até Lucas falam bem dele.

- Deise já avistava sua casa e sua mãe a porta. O carro parou ela beijou o pai e agradeceu.

- Obrigada papai. Disse saindo do carro e abraçando todos.

O espírito de uma jovem abençoou o lindo momento.

CAPÍTULO VI

Nos dias que se seguiram Dalva procurou por uma enfermeira para Deise, e não encontrava ninguém de sua confiança. Mas naquela mesma semana como por encanto encontrou com Ester que deixara o hospital e ela aceitou prontamente o convite da família que apreendera a amar.

Jair não dera mais noticias e em seu lugar vinha o Dr. Édipo visitar Deise.

A apatia da jovem era evidente quando disse a Ester que não tinha vontade de ir ao centro.

Ela deixou de comer e em três meses perdeu os quilos que ganhara rapidamente.

Apesar dos esforços em ajudar, a família se calara e não conseguia mais meios de incentivar a jovem.

E foi Ester que em uma manhã fria disse a jovem que estava deitada.

- Deise me desculpe, mas o que pensa que esta fazendo? Sua mãe contou-me que esta evitando Jair e deixou tudo com medo de viver um grande amor. Não admite que ninguém a ame por que tem esse vírus. O que isso? Disse Ester nervosa.

- Não aprendeu na época que frequentava o centro que o corpo e só um vinculo. Não percebe que ai dentro você está bem viva, não percebe que ama Jair?

Deise olhava a enfermeira com atenção embora calada. Notara que Ester gritava e parecia alterada.

Percebendo que a jovem continuava quieta Ester ficou ainda mais nervosa e pegou sua cabeça com as mãos.

- Não deixe este maldito vírus te derrubar, destruir seus sonhos, limitar seus passos. Sua família luta, seus amigos lutam e você vai nos deixar sozinhos nesta batalha por quanto tempo mais?

As primeiras lagrimas começaram cair dos olhos de Deise e Dalva ouvindo a gritaria subiu ao quarto.

- O que esta havendo? Perguntou assustada

- Tive que gritar Dona Dalva. Estamos todos vivos. Deise se esqueceu que ela também. Está deixando a tristeza e o preconceito de si mesmo roubar-lhe a felicidade

Dalva emocionou-se com as palavras da enfermeira e percebeu que ela falava a verdade.

- Deixe-me sozinha. Pediu Deise entre lágrimas.

As duas saíram e a jovem viu a porta se fechar e o silêncio reinar em seu quarto.

Estava só pensou, ou melhor, nunca estivera só. Sua família estava lá embaixo, sua grande amiga largara os estudos para estar com ela. E ganhara uma enfermeira que parecia vir do céu.

Naquele instante sentiu-se mal com si mesma, estava certo que sofria, mas também fazia sofrer a todos que tinham esperança na cura que não viria.

Nos últimos tempos todos haviam largado seus afazeres e suas vidas para dedicar-se a vida que ela acreditava não mais ter.

Não tinha forças, depois que vira Rodrigo se afastar, depois que se enganara com Jair, mas devia tentar ser forte, tentar buscar Deus e pedir que ele a ajudasse a dar um pouco de alegria para todos que lutavam com ela.

A doença lhe fizera conhecer o preconceito e o abandono, mas lhe mostraram também quais as pessoas que poderia contar e ficara muito feliz.

A noite caiu e o sono foi chegando. Clinicamente ela estava bem dentro de seu quadro, mas espiritualmente sentia-se só e sentimentalmente abalada.

Para estes problemas haveria a cura. A cura que deveria vir de si mesma.

Pela manhã todos tomavam o café quando a jovem desceu as escadas e provocou espanto nos que ali estavam.

Deise estava perfumada e bem vestida e apesar da magreza e da apatia sorriu ao se sentar-se à mesa e ao olhar fundo nos olhos de Ester com profunda gratidão pelas palavras da enfermeira.

- Obrigado Ester. E obrigado a todos vocês. Sei que estiveram comigo e sempre vão estar não importa para onde eu vá, porque aprendi a levar comigo pessoas que me amam verdadeiramente. Mamãe, papai, Lucas, Solange, Ester e até Natan que não me esquece em suas cartas. Todos vocês irão comigo para onde quer que Deus me leve, pois todos vocês estão dentro de mim e isso a morte, a doença e a própria vida não podem arrancar de mim disse a jovem com os olhos úmidos.

Solange limpou as lágrimas e Dalva não se contendo a abraçou forte.

A mudança de Deise ficou clara nos meses que se seguiram, rapidamente engordou e ficou mais corada. Solange e Lucas tentavam ocupá-la com passeios pela praia e com as compras.

Mas era Ester quem cuidava de seu lado espiritual sempre lhe aconselhando a cumprir sua missão com dignidade e resignação.

Voltou a ir ao centro sempre acompanhada da enfermeira que era uma grande amiga.

Era Quarta-feira a noite estava quente. Deise esperava seu Natanael na porta e logo que ele chegou foram ao centro.

Ao chegarem avistaram seu médico Dr. Édipo por lá que feliz veio cumprimentá-la

- Meu Deus o que aconteceu? Perguntou ele. Você esta tão bonita e bem disposta.

- Tenho tentado melhorar. Quero me reerguer. Quero viver cada instante que me resta disse ela determinada.

- Sem mim. Disse uma voz masculina atrás dela. E que antes dela virar-se percebeu ser de Jair

Não podia mais fugir ele estava lá. Édipo o cumprimentou e retirou-se e Jair olhava fundo nos olhos dela.

- Não sei se está feliz por me ver e quero pedir desculpas por vir até aqui.

- O local é público e todos são bem vindos. Disse ela séria não escondendo a emoção de reencontrar-se com o jovem médico

Eu estou aqui Deise, nesta casa de tanta humildade e fé para dizer-lhe apenas uma coisa.

- Pode dizer disse ela com os olhos brilhantes

- Eu a amo muito Deise. Como jamais amei em toda minha vida. Sinto falta de seus olhos, de seu sorriso, da sua voz e de tudo que você leva dentro de você.

Deise não podia conter toda a emoção diante da declaração de Jair e rapidamente seus olhos se encheram de lagrimas enquanto ela baixou a cabeça.

- Preciso Deise que me coloque na sua vida de volta, que me dê a mão quando tiver medo e que sorria ao meu lado. Perguntou-me uma vez quanto tempo tinha de vida. E eu disse não saber. Não sei se eu ainda tenho vida. Disse ele com lágrimas nos olhos olhando para a jovem

Jair, Não quero que enterre sua vida comigo. Disse ela chorando

-Vivo ao seu lado. Vim até aqui, pois quero me encontrar e agradecer a Deus por ter lhe colocado em minha vida. Não me esqueça Deise. Não finja que não houve amor entre nós.

- Nunca o esqueci. Todos os dias eu me lembro de você.

- Se não me quer como seu companheiro, me deixe ao menos voltar a ser seu médico pediu ele.

- Está bem. Disse com as lágrimas a cair.

E neste instante Jair lhe beijou com amor como nunca fizera antes e virou- se deixando a jovem a sós.

Tamanha emoção tomara conta de seu ser e seu coração batia descompassado.

Deise estava perdida o que deveria fazer?

Oh! Meu Deus o que devo fazer? Disse olhando para o céu com muita fé.

Uma suave brisa tocou de leve seu rosto e uma luz forte foi dando forma a uma jovem e linda moça.

E com delicadeza aquela figura que parecia vir dos céus fez Deise chorar e levar as mãos aos lábios emocionada.

- Querida irmã, permita ser amada. Deixe o amor das pessoas que te querem bem lhe tocar tanto quanto o amor de Deus.

- Quem é você? Perguntou ela emocionada com tal aparição

- Meu nome é Linda e peço que honre a vida que Deus lhe deu, cada instante é uma escolha, cada escolha uma chance de fazer diferente, fazendo de sua vida uma caminhada de humildade e amor até que alcance o reino dos céus. Enquanto aqui estiver, enquanto seu coração estiver com a fé maior, ame. Ame muito, pois este é o maior bem que Deus nos deixou. E um dia nos abraçaremos, acredite. Como nos velhos tempos de menina. Dará apenas o passo. O passo que não leva a morte, mas a eternidade da qual todos pertencemos. Disse a jovem desaparecendo e deixando um perfume no ar.

Deise entrou no centro, pois a cena maravilhosa fora no jardim. Entrou emocionada e seu corpo parecia flutuar. Assistiu à sessão o tempo todo de olhos fechados e quando chegou em casa encontrou Solange na cozinha.

- O que foi? Parece assustada? Perguntou a amiga que estava comendo uma maça.

- O Jair estava lá, Solange.

- Não conversou com ele? Perguntou a jovem.

- Conversamos, mas não foi isso que me deixou assim. Eu estava no jardim e de repente pedi uma luz do céu que me mostrasse o caminho. E então como um anjo que caíra dos céus uma jovem de nome Linda surgiu e me deu a resposta, me dando uma esperança que nunca tive. Era um espírito que eu parecia conhecer, embora não me lembre. Mas lhe confesso que fiquei muito emocionada e ainda não acredito no que vi

Solange que não frequentava o centro e era neutra em relação ao espiritismo ouviu o relato da amiga e emocionou-se e por fim perguntou:

- Se sente melhor depois dessa... Visão se assim devemos chamar?

- Sim disse ela. É como se eu estivesse reencontrado uma velha amiga de muito tempo atrás.

- Entendo disse Solange. Agora vá se deitar amiga, deve estar cansada.

- E estou mesmo. Disse ela.

Deise se deitou e logo adormeceu, sempre sonhava, mas o sonho desta vez era diferente, parecia já tê-lo vivido em outras épocas.

CAPÍTULO VII

Duas jovens conversavam em um jardim com flores lindas, ambas tinham vestidos compridos e pareciam do século passado. Pelo vestuário eram ricas e amigas.

E então a jovem loira disse a outra

- Baget minha amiga, O que pensa tão calada?

A jovem Baget parecia-se com Deise no jeito, embora fossem diferentes fisicamente.

- Mossuet. É este o problema. Disse respondendo a pergunta da amiga Brigitte

- Mossuet? Perguntou Brigitte O que sabe de meu noivo?

- A verdade minha amiga é que não posso mais esconder isso.

- Do que fala? Perguntava Brigitte desesperada vendo que a amiga se referia a seu noivo.

- Eu e Mossuet já nos amamos, uma única vez. Disse atordoada

A jovem de nome Brigitte estremeceu e teria ido ao chão se não se segurasse. E gritou:

- Me traíste amiga minha. Vós que fostes como uma irmã Baget. Que correstes comigo nestes campos floridos, vós que assistiu meu amor por Mossuet. A vos lhe confessei meu amor e contei sobre os meus sonhos.

Baget desesperada gritou:

- Perdoe-me amiga. Maldita seja eu que lhe traí. Disse se ajoelhando aos pés de Brigitte.

Deise se debatia na cama enquanto sonhava com tal historia e se reconhecia como sendo a amiga que traíra.

Brigitte ia saindo enquanto Baget desesperada corria de joelhos atrás dela, mas ela não dera atenção.

Baget estava desesperada e foi até o rio onde pensou em acabar com a própria vida, mas um jovem surgiu.

- Baget o que a aflige? Esta passando mal?Perguntou ele.

- Deixe-me George. Não quero conversar. Disse ela ao jovem que parecia amá-la.

- Sou vosso noivo. Dizia ele. Não temos segredos

- Esqueça-me, não o amo e nunca o amei. Dizia nervosa e irritada. Saia de minha vida. Ignoro você. És uma pedra em meu caminho.

- Amas a outro? Perguntava o jovem

- Só o que sei é que odeio a mim e nunca hei de amar você.

O jovem George desnorteado saiu triste.

Muitas cenas se passavam de pessoas desconhecidas, acometidas pela peste e entre elas via-se o coitado George que fora largado pela noiva Baget que tanto amava.

George a amava muito e implorava sua presença no leito de morte, mas a jovem riu e disse:

- Tenho outras coisas a resolver. Não perderei meu tempo com um pobre coitado e, além disso, temo o contágio. Já pensou, eu com a peste e sem a beleza da qual sou dotada dizia aos amigos.

Mas Baget estava tentando reatar com a amiga já que se perdera de amor por Mossuet noivo da amiga, embora ainda o amasse estava disposta a esquecê-lo pela amizade de Brigitte.

Na noite em que George morreu chamando por ela Baget sorriu:

- Bom que se foi, sempre tive medo de contagiar-me.

Mossuet por sua vez triste com o jeito esnobe da jovem não mais se encontrara com ela e ela se via ela sozinha pelos cantos a chorar.

Mossuet amava a Baget e não a noiva Brigitte, mas a abandonou.

E logo Deise via a jovem Baget cravando a espada de George em seu peito e o sangue escorrendo mostrando que a vida fora interrompida.

Logo o jovem Mossuet sofreu com o suicídio da amada. Queria poder ajudá-la a mudar a ser uma nova pessoa curando a ferida que abrira em seu peito após o fim da amizade.

Brigitte a jovem traída chorava e era pela perda da amiga que ela não perdoava.

- Quero morrer também dizia ela

- Recomeçaremos. Dizia Mossuet desnorteado também com a morte da amada

- Fui boba e insensata. Perdoei a vós, mas não a ela.

- Eu fui o culpado. Dizia ele, depois de tudo, rompi com ela.

As cenas eram rápidas e logo no leito adoentada estava Brigitte que fechara os olhos para a vida.

Mossuet desnorteado caminhava sem rumo. Culpou-se pela moléstia de George já que lhe desonrara a noiva. Culpou-se pela dor da noiva Brigitte que morreu o fazendo sentir-se incapaz. Culpou-se pelo suicídio de sua amada Baget por não poder ajudá-la.

Devido a tanta desgraça Mossuet aparecia cuidando de pessoas doentes e pobres deixando sua fortuna para trás.

E pelos olhos brilhantes de Mossuet, Deise parecia reconhecer nele a figura humilde e nobre de Jair.

Deise despertou do sonho e parecia ter saído de um filme onde reconhecera todas as personagens. Que sonho era aquele com pessoas tão parecidas com as que convivia. Estaria ela louca ou seria o sinal que pedia dos céus para entender por que sua vida se perdia desta forma.

Levantou-se e estava pálida. Ester entrou no quarto e vendo a jovem estranha perguntou:

- O que houve? Teve pesadelo?

- Sonhei e preciso contar para alguém. Pelo que sei, acho que sonhei com outra reencarnação, pois reconheci a mim e a Jair neste sonho.

Deise lhe relatou detalhes do sonho, dizendo reconhecer-se na jovem que traíra, abandonara e suicidara-se e reconhecendo Jair no jovem que amara e que culpado tornara-se o anjo dos adoentados.

- Ester, neste sonho eu fui muito desumana com o homem com quem eu me casaria, o nome dele era George. Eu o trai, e o abandonei adoentado com medo da doença, fui preconceituosa e o afastei da minha vida. Este homem poderia estar presente nesta vida? Terei eu o magoado outra vez?

- Talvez seja Rodrigo. Ele a amou e ficou com outra jovem, sua amiga também, a tal Bruna. Ele a desprezou na sua doença. Você o abandonou pela faculdade e ele ao contrario de antigamente seguiu sua vida com força, embora depois a abandonasse devido à doença. Se quer mesmo uma ligação com este sonho, percebo que pelo que me contou fez o mesmo com ele no passado. Tudo que você fez ele passar no passado sem querer ele devolveu na mesma moeda. Talvez porque guardava uma mágoa. Concluiu Ester.

- Faz sentido. Disse ela. Jair talvez fora Mossuet, Culpado acabou por se ocupar com doentes como George e sempre teve fé em salvar minha vida, pois no passado não conseguiu.

- Que bonito seu sonho Deise

- Foi muito estranho Ester. Mas quem foi Brigitte a jovem que traí?

- Pode ter sido a Monica ou a Bruna.

- Não. Reconheço ela como sendo Linda, o espírito que vi. Era dócil, bela, um anjo. Não esta presa a paixões terrenas. Ela não está entre nós. Ela é o espírito que vi e disse-me

- Como nos velhos tempos de menina.

- Mas você não deixou de passar pelo que ela passou. Esta traição ocasionou mortes por isso teve que ser sentida nesta vida. Você sentiu isso com Bruna e com Monica.

- Apesar de tudo ela me incentivou a amar.

- Ela deve estar realmente acima de tudo, quer te ver feliz.

- É verdade ela é só luz e ajudou-me nos momentos de dor. Ela mandou este sonho para que eu entendesse que nada do que me aconteceu foi por acaso.

Naquela noite Deise voltou a sonhar com flashes descompassados e desordenados, via Brigitte chorando antes de saber da traição da amiga.

- Baget amiga, espero um filho

Baget desesperada disse:

- Não o tenha.

- É contra a igreja. Dizia ela chorando

- Ter engravidado antes de casar-se também. Disse Baget, a amiga.

- Não sei o que faço. Chorava Brigitte sem saber da traição da amiga

- Sei de alguém que com algumas ervas vai lhe ajudar.

Brigitte seguia ate uma casa velha onde uma mulher a recebeu.

Deise reconheceu sendo Ester.

- Preciso falar-lhe. Uma amiga espera um filho preciso de ajuda.

- Não posso ajudá-la. Dizia a mulher

- Sei que pode, tenho muito dinheiro. Sei que faz isso. Faça ou lhe entregarei a igreja, pois sei que já fez isto antes.

A mulher que realmente já errara antes não conseguindo outra opção pediu que a jovem aparecesse ao anoitecer.

As duas jovens estavam lá na hora marcada e assim que ficou a sós com Brigitte a mulher falou:

- Não faça isso. Não matemos esta vida. Deus o enviou, deixe viver. Disse com emoção. Com a mesma emoção que Ester levava nos olhos.

- Brigitte desistira e logo em um novo flash surgia a mulher que não havia feito o aborto, atirada nas ruas sozinha, arrependida de tudo que fizera anteriormente.

O espírito de Linda surgiu no sonho e disse:

- Muitos que estão contigo hoje, aqui não estavam. Mas procure não levar mágoa, só amor de todos, até daqueles que lhe magoaram. Disse desaparecendo.

Deise despertou mais surpresa ainda com todo mal que causara. Ela queria um motivo para estar passando por isso e da forma mais suave lhe mostraram.

Assim que teve oportunidade relatou a Ester e a Solange.

- Talvez seja por isso que desta vez ajudei tantos a nascer. Disse Ester.

- Você Ester, me faz nascer todos os dias. Disse Deise emocionada E a Solange também disse abraçando as jovens amigas.

- Amanhã falarei com Monica.

- O que quer falar com esta mulher? Perguntou Solange

- Não quero mágoa de ninguém. Se tudo que sonhei aconteceu já fiz muito mal e trouxe muito ódio, não quero mais isto. Disse ela.

Monica deixava o hospital apressada quando Deise surgiu a sua frente:

- Deise o que quer aqui? Perguntou assustada

- Conversar apenas. Disse ela.

- Comigo? Se é sobre o Jair eu não quero saber e...

- É sobre ele. Sei que gostava dele e de repente o vê interessado por uma pessoa doente

- Fiquei magoada porque sai com ele uma vez. Disse ela. Não passou disso. Inventei tudo aquilo para lhe afastar dele, mas percebi que não dá para lutar com o amor.

- Não quero virar as costas sabendo que algum tipo de mágoa ficou entre nós.

- Não há mágoa Deise. Já passou e tenho que dizer que você está muito bem. Disse ela sorrindo.

- Obrigado.

- Vou indo, até breve Deise, felicidades. Disse ela entrando no carro.

Deise chegou em casa e sentia muito cansaço. Entrou e Raul estava na sala.

- O que houve filha? Você esta bem? Perguntou ele vindo a seu encontro.

- Estou muito cansada papai. Vou me deitar e logo estarei bem. Disse ela subindo e se deitando.

Raul conversou com a família e decidiram chamar Jair, estavam preocupados com o cansaço de Deise e a dificuldade da jovem em respirar.

Em poucos minutos Jair adentrou a sala da casa da jovem e Dalva foi quem contou:

- Deise não está bem. Está com cansaço e respira com dificuldade. Venha vê-la pediu Dalva o convidando ao quarto

Ester cumprimentou Jair com alegria.

- Ela viveu muitas emoções. Disse a mim que está cansada.

- O que aconteceu? Perguntou ele.

Ester lhe relatou o sonho inclusive a alegria de Deise em saber como tudo aconteceu.

Jair a examinou e percebeu que o estado de Deise era grave, vira muitos como ela nesta fase deixarem a vida, mas achou melhor não causar alarde.

- Deixe-a em repouso por dois dias, virei vê-la sempre.

Vendo o jovem médico descendo Solange foi a seu encontro e percebeu que ele estava muito triste após ver a amiga.

- Como ela está?

- Vai repousar se continuar este cansaço, internamos. Disse ele sério.

Percebendo a expressão do médico, Lucas chamou o médico para um café e perguntou:

- Conte-me a verdade.

- Bem Lucas, disse ele muito abatido. As pessoas às vezes tem uma melhora rápida demais, como foi o caso de Deise e de repente caem tão rápido quanto melhoraram e então não se levantam mais. Disse ele com lágrimas nos olhos

- Seria aquela melhora que antecede a morte? Perguntou Lucas sério, limpando uma lágrima.

Jair como medico tinha que manter a calma, tentava conter o choro também, diante do jovem.

- Lucas, sua irmã Deise clinicamente tem um pouco de dificuldade para respirar e cansaço. Não é grave que temos de interná-la já. Ela já esteve pior, mas em poucas horas percebo que ela se entregou. Não tenho uma explicação cientifica para a melhora que ela teve, mas tenho uma espiritual.

- Quero ouvir. Pediu Lucas desnorteado.

- Geralmente nesta melhora, algumas pessoas têm a chance de fazerem tudo que se esqueceram de fazer. Fazer as pazes com alguém, pedir perdão de algo, visitar um ente querido distante ou mesmo reparar um erro. Pelo que Ester contou-me Deise fez tudo.

- Não entendo

Jair lhe detalhou o sonho

- Bem Lucas, verdade ou mentira, fato acontecido ou não este sonho fez com que ela não se revoltasse com sua condição e que encontrasse a certeza que ela dará um passo para eternidade, uma vida nos céus e não para o fim.

Lucas abraçou Jair em profundo pranto agradeceu por tudo que ele fizera pela irmã.

No dia seguinte Deise acordou pior. Suas costas doíam e estava difícil respirar.

Ester aproximou-se da cama e chamou por ela.

Deise revoltada falou:

- Não quero ir para o hospital. Não quero.

- Querida deve ir, com ajuda de aparelhos poderá respirar melhor.

Jair adentrou rápido o quarto

- Vamos para o hospital Deise. Disse ele a abraçando

Deise o beijou com carinho e pediu:

- Não Jair, quero ver Natan.

- Natan?

- Sim, minha irmã. Peça para ela vir. Pediu tristemente.

Ester desceu e conversou com Dalva e Raul que desesperados pediram que Lucas entrasse em contato com a irmã.

Lucas foi para o seu quarto e entre lágrimas ligou para a irmã.

- Lucas O que houve com Deise? Perguntou assim que ouviu o irmão.

-Venha rápido Natan, ela quer te ver. Deus está chamando nossa Irma. Disse ele entre lágrimas.

- Chegarei ao amanhecer. Disse ela entre lágrimas desligando

Jair rapidamente decidiu pela remoção de Deise ao hospital e a jovem abatida foi removida, mas antes segurou forte nas mãos da mãe.

- Mamãe obrigada, agradeceu ela, A todos vocês.

Dalva não conteve as lágrimas.

Logo Deise estava no quarto e Jair desnorteado saiu do quarto:

- Ester, Solange, se querem falar com Deise falem agora. Logo ela não falara mais nada disse ele.

Ester e Solange entraram no quarto e a jovem seria entubada, mas antes pediu para falar com todos.

- Minhas amigas, disse ele com dificuldade.

- Estamos com você. Disse Ester

Solange segurou nas mãos da jovem

- Estou morrendo Solange, você esta segurando em minhas mãos. Obrigado amiga. Disse ela chorando

Solange não se contendo abraçou a amiga e entre lágrimas deixou o quarto

Raul, Dalva e Lucas entraram no quarto e a jovem sorriu.

- Amo muito vocês. Disse ela

Logo Jair pediu que se retirassem e antes de entubarem a jovem ela olhou nos olhos de Jair

- Eu te amo Jair. Disse ela sorrindo e respirando com dificuldade.

- Temos que lhe dar oxigênio ou vai ficar muito difícil. Disse ele beijando a jovem

- Estou bem. Disse ela cansada, A parte mais difícil passou e a mais fácil vem agora quando Linda pega nas minhas mãos e me liberta disse ela.

Rapidamente a jovem foi entubada e duas horas depois já não falava Jair tentou de várias maneiras animá-la, seus olhos estavam abertos e sua respiração ofegante.

Antes que Natan entrasse no quarto Deise teve uma parada respiratória. Mesmo assim quando a jovem entrou no quarto ela olhou com carinho a Irma:

As lágrimas de Natan caiam incessantes.

- Eu gostaria de ter lhe ajudado, mas confesso que falhei. Dizia Natan.

Deise a olhava com gratidão.

A noite caiu e ninguém queria ir embora. Jair pediu que todos fossem descansar.

Quando Jair entrava no quarto ele apertava a mão do jovem e neste instante ele pedia:

- Reaja querida

Uma hora depois Deise parecia não reagir mais

Ester foi a única que ficou no quarto e já era madrugada quando ela estava sentada na poltrona e viu quando uma luz surgiu ao lado de Deise.

Percebia que era uma figura de mulher. Talvez fosse Linda

Ester percebeu que Deise tinha os olhos parados na figura de Linda.

- Você ficará bem disse a jovem com a mão na cabeça de Deise que fechou os olhos

Ester viu quando a luz desapareceu e Lucas entrou no quarto

- Como ela esta Ester?

- Parece que adormeceu disse ela.

- Você aceita a morte Ester? Perguntou ele triste.

- Talvez nenhum de nós aceite. Mas se tentarmos entendê-la fica mais fácil.

- Jair me tirou as esperanças. Disse Lucas

- Nós a tivemos enquanto foi possível. Agora esta nas mãos de Deus. Só com um milagre Deise se levanta e eles são difíceis de acontecer.

Lucas tocou as mãos da irmã.

- Estão frias Ester. Vou sair, não quero vê-la assim. Disse desnorteado.

- Vá é melhor disse ela.

Jair entrou no quarto e desesperado pediu:

- Reaja Deise. Vamos

- Jair, ela não e diferente dos outros pacientes.

- Tenho esperança. Sei que isto não tem cura, mas por amá-la as vezes acho que vai se levantar e sorrir para mim.

- Tenha certeza que Deise fez tudo que devia. Disse Ester o abraçando.

Logo Ester estava a sós novamente com a jovem e novamente a luz entrou no quarto e se colocou ao lado dela junto com outros espíritos que rodeavam Deise.

A respiração de Deise estava ofegante e antes que Ester pudesse chamar Jair o barulho ensurdecedor do aparelho denunciou que a jovem se fora do mundo terreno. Muitos médicos e enfermeiros entraram no quarto e tentaram reanimá-la.

Jair desesperado fazia tudo ao mesmo tempo, mas Ester sabia que Deise não estava mais nas mãos dos médicos e sim nas mãos de Deus. Ela dera o passo que faltava e estava agora na eternidade.

Jair se debruçou sobre o corpo da jovem e chorou amparado pelos amigos.

Ester entre lágrimas saiu do quarto e Solange esperava com Lucas.

Antes que ela dissesse, eles já haviam percebido e choraram abraçados enquanto a tristeza se fazia presente.

Dalva e Raul estavam em casa a algumas horas, Natan dormia e os pais de Deise estavam deitados na cama, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Foi o toque do telefone que os despertou. Dalva olhou para Raul apreensiva e atendeu. A voz de Lucas e seu pedido denunciou o ocorrido:

- Mãe, Deise não resistiu. Dizia entre lágrimas. Traga uma roupa pediu desnorteado.

- Dalva ficou com o fone nas mãos e sem conter-se gritou desesperada se jogando no chão.

- Não, minha filha não. Chorava ela.

Raul foi a seu encontro entre lágrimas consolar a mulher que dizia desnorteada em profunda dor:

- Deus levou nossa filha.

Natan entrou no quarto ao ouvir os gritos de sua mãe e desesperada juntou-se em um abraço emocionado com os pais.

O funeral de Deise foi muito triste. A família desnorteada não encontrava o consolo

Sentado em uma cadeira a frente estava Jair, de olhos inchados e o olhar fixo no corpo da jovem.

Seu Natanael chegou logo depois e com as mãos no ombro de Dalva incentivou:

- Força Dalva, Força. Disse ele com fé

- Estou tentando. Disse ela entre lágrimas

Mas foi Rodrigo quem surpreendeu ao chegar.

Entrou e após cumprimentar a todos foi ate o caixão da jovem e desnorteado gritou:

Oh! Meu Deus por quê? Perguntava ele desesperado sendo carregado pelos amigos para fora do recinto.

De repente toda luta havia acabado. As pessoas se dispersaram e voltaram a suas casas, mas a fibra de Deise e sua luz continuariam na lembrança de todos que apreenderam a amá-la e admirá-la.

CAPÍTULO VIII

Deise acordou em um quarto agradável, como aqueles do hospital. Ao abrir os olhos não viu sua mãe ou seus irmãos, mas o espírito de nome Linda.

- Seja bem vinda Deise. Disse ela

- Onde estão todos? Meus pais, Jair, Solange?

- Estão em paz.

- Estou morta Linda? Perguntou triste

- Sim, mas descanse, pois seu corpo morreu e não você. Se acalme tudo caminha perfeitamente conforme a vontade de Deus

Natan deixava a casa paterna para voltar aos estudos

Abatida Dalva abraçou forte a filha e pediu:

- Não deixe ninguém acabar com você. Preserve sua vida e cuide bem de você filha

Natan abraçou Dalva e seguiu rumo à faculdade.

Quem partia também era Ester.

Abatida mas conformada, a enfermeira que virara amiga abraçou a todos.

Dalva olhou fixamente nos olhos da jovem e agradeceu

- Ester querida. Você fez Deise reviver Você a levantou. Deu a mão e foi muito além de seus serviços. Por isso a quero muito bem

- Amava a Deise como a uma irmã. Disse ela

- Para onde vai?

- Volto para casa. Talvez eu tente cursar algo. Não quero mais ver as pessoas morrerem assim.

- Eu sei querida. Mas pense bem, desempenha seu trabalho com tanto amor, faz tudo com tanto amor.

- Obrigado Dona Dalva, prometo pensar bem.

- Faça isso. Disse ela beijando a jovem.

Solange também ia deixando a casa e emocionada Dalva olhou a jovem sem conter as lágrimas.

- E o que dizer de você querida, que largou tudo movida pela amizade e pela lealdade que te unia a Deise.

- Deise era como minha Irma

- Obrigado Solange por ter deixado sua vida, seus compromissos, seus estudos para estar na vida de Deise.

- Não agradeça. Disse Solange com lágrimas nos olhos.

Dalva sorriu e olhando as duas jovens partindo disse:

- Perco mais duas filhas. Não pensei que esta casa pudesse comportar tanto calor humano e a doença de Deise mostrou-me que todos nós somos uma família. Natan se foi e agora vocês também.

- A senhora é uma fortaleza, vai superar. Disse Ester sorrindo.

Abraçaram-se emocionadas e Ester e Solange seguiram cada qual pelo seu caminho.

Ester voltava para a sua casa e Solange voltava para sua vida.

Dalva ficou e a solidão dos primeiros dias a massacravam.

Raul preso aos negócios, não quisera encontrar tempo para pensar na perda que sofrera e Lucas seguiu com Rodrigo ingressando na Aeronautica.

Encontremos Jair abatido e desorientado triste em seu local de trabalho, mas empenhado em ajudar seus pacientes.

- Dr. Jair, Tem uma moça desesperada que quer lhe falar disse a recepcionista.

- Não posso atender disse ele cabisbaixo Peca que passe no pronto atendimento.

- Ela esta desnorteada e pede a solicitação de um exame urgente.

- Diga que marque um horário.

Neste instante a jovem desesperada invadiu a sala entre lágrimas:

- Por favor, Doutor. Preciso saber.

- Pode deixar. Disse ele a recepcionista

- O que está acontecendo? Perguntou à moça.

- Preciso fazer o exame de HIV ou irei enlouquecer

Deise veio a seu pensamento e ele sentiu-se mal.

A vida não se acabara com ele, em sua profissão acompanharia muitas pessoas invadindo sua vida e pedindo ajuda e em nome de Deise, lutaria com todos eles como se cada um deles fosse a jovem que amou.

- Qual seu nome?

- Roberta. Disse ela pálida

- Ajude-me. Estudo medicina segundo ano não quero que minha vida acabe.

- Faremos o exame

- Ninguém pode saber. Disse ela

- Siga até a próxima sala e marque.

A jovem retirou-se rapidamente

Uma semana depois Jair cruzou com a jovem e ela lhe revelou ser uma garota de programa. Queria sair daquela vida, e jurou que mudaria a si mesma se não estivesse contaminada.

No dia seguinte Roberta foi buscar o exame e vendo Jair perguntou:

- Qual o resultado?

- Veja você. Disse ele estendendo o papel.

Roberta abriu o envelope e sorri aliviada.

- É confiável?

- É claro. Disse ele feliz pela moça. Deus lhe deu uma chance de mudar sua vida. Posso ajudá-la, estamos sempre precisando de funcionários.

A jovem sorriu feliz.

- Faria isso por mim?

- Não só por você. Disse ele se lembrando de Deise.

Deise caminhava com Linda a jovem lhe disse:

- Espero que entenda que Jair precisa ser feliz e refazer sua vida

- É claro disse Deise.

- Ele talvez conheça alguém também de seu passado e farão grandes coisas juntas

- Ela o fará feliz?

- Creio que sim. Disse Linda sorrindo.

- Porque nosso amor sempre foi proibido? Perguntou Deise

- Nada foi proibido. Fizeram por diversas vezes escolhas que os separaram

- Um dia o verei e poderei lhe dizer o quanto o amo?

- Um dia. Disse Linda sorrindo

O tempo corria rapidamente Jair e Roberta dividiam uma vida juntos e Deise orava por ele e os assistia com fé perguntou:

- Porque o relacionamento deles e diferente?

- Você e Jair em muitas vidas se amaram pelo corpo, com violência, um amor que trouxe dor e mágoa. Desta vez amaram-se com pureza com sentimento, mas Roberta e Jair tem uma vida de companheirismo, não de amor.

- Fico feliz e quando poderei mandar meu relato a mamãe já faz tanto tempo que parti.

- É chegado o momento. Garantiu Linda feliz. E Ester será o nosso instrumento para tão grandiosa comunicação.

Ester estava no centro, Psicografava a muitos anos e de repente após uma sessão recebeu pelas suas mãos o relato de uma vida de luta. Era a mensagem de Deise

Querida mamãe, papai, Natan, Lucas e Solange.

Me encontro nas maravilhas, sinto-me livre e mais viva do que quando em terra estive.

E muito bom ter apreendido tantas coisas. Na minha ignorância, eu era por demais caprichosa e quase deixei passar grandes momentos.

Mamãe querida assisto vossa dor, chorei em silencio, mas agora fico feliz em vê-la empenhada nas obras de caridade do hospital do câncer e do hospital que cuida de pessoas que passam pelo que passei.

Terá mamãe que tomar uma grande decisão e será muito bom. Verá.

A senhora merece, é lutadora e muito humilde.

Minha doença ensinou a todos nós. As viagens de papai diminuíram e talvez se dedique mais a nossa família.

Querido Lucas fico feliz em saber que ingressou em tal carreira e o amo muito meu irmão. Vejo sua felicidade com a graça de Deus conseguirá tudo que deseja.

Natan não se culpe por nada, sempre fomos distantes, mas o amor que levo por você e muito grandioso e puro.

Ester obrigado por ser tudo que foi e por ser mais uma vez o instrumento para tal mensagem. Estou bem e feliz

Solange querida torço por você, por seu destino, pela sua felicidade e agradeço por ter sido um pedaço de mim que abandonou tudo para estar comigo.

Fiquem na paz de Deus.

Para sempre

Deise

Querido Jair

E com grande alegria que encontro- me com você

Vejo sua alegria ao lado de alguém que realmente o merece

Seja feliz meu amor e continue sendo sempre esta pessoa iluminada por Deus, capaz de trazer luz para aqueles que só veem a escuridão. Seja sempre o amigo, o irmão, o apoio, para mim você foi mais que tudo.

Assisto sua obra e confio na sua dignidade e esforço.

E sei que de tudo isso Restou muito de mim.

Com amor

Deise

Ester foi despertada e leu o relato emocionado da jovem.

Esperou o termino da sessão para seguir a casa de Dalva que já não via a muito tempo.

Dalva a recebeu com alegria e quando Ester lhe mostrou a mensagem ela chorou emocionada

- A decisão que ela diz já foi tomada.

- E mesmo?

- Vou adotar um bebê.

- Que bom

- Provavelmente é portador, sua mãe morreu a poucos dias, mas estou preparada.

- Talvez não esteja contaminado, pois se perceber Deise lhe da a resposta veja. E tome a decisão, ele será lindo.

- É verdade. Disse Dalva.

- Já vou D. Dalva, mas volto, quero entregar isto a Jair. Disse ela mostrando outra mensagem

- Vá com Deus e eu te espero. Disse Dalva sorrindo enquanto a jovem se distanciava

Jair recebeu a mensagem com emoção e mesmo diante de Ester não conteve as lagrimas.

- Ela é muito especial Ester. Disse ele

- Sei disso. Dona Dalva vai tirar uma copia e mandar para Solange também

- Ela esta feliz. Disse ele.

- E quer vê-lo feliz também. Percebo que vive com uma jovem, mas não se permite ser feliz. Assim como Deise fazia com si mesma. Se dê o direito de ser feliz. Você tem sua vida e cada instante deve ser vivido com amor.

Jair sorriu e abraçou Ester.

Lucas e Natan liam a mensagem e o espírito de Deise os abençoou.

- Vivam e vençam por mim. Disse se distanciando como se desse o adeus aos irmãos os incentivando a continuarem.

Assim que Solange recebeu a mensagem foi para seu quarto ler. Apesar de tudo não acreditava no espiritismo e por este motivo vivia triste sem entender se a eternidade de que Deise falava realmente existia.

O espírito de Deise estava lá, mas Solange não podia vê-la, mas a jovem olhou para Linda e disse:

- Quero que ela me veja.

Linda sorri e neste instante uma luz iluminou o quarto permitindo que Solange enxergasse o espírito de Deise.

- Solange. Disse ela emocionada

- Deise minha amiga. Dizia ela entre lagrimas sem poder acreditar no que via

- Força amiga. Estou bem. Sua duvida não existe. A eternidade está aqui e dela que faço parte, a morte não existe. Me deu tanta força não posso seguir em paz sabendo que você sofre Acredita agora?

- Sim disse Solange entre lagrimas

- Você tem sua missão e não deve deixa-la pendente por mim. Você ensinou-me coisas que só a vida pode ensinar. Quero vê-la brilhar, pois você foi como luz em minha vida. Dizia Deise.

Solange estendeu os braços para amiga e fechou os olhos. Neste momento teve certeza que Deise vivia pois sentiu seu abraço emocionado.

Um perfume pairava no ar e quando Solange abriu os olhos Deise havia partido, mas ela sabia que a jovem estava viva e um dia iriam se reencontrar.

Dalva chegava em casa com o bebê nos braços. Ester a esperava ansiosa quando ela gritou:

- Ele não tem a doença. Esta livre.

Ester a abraçou emocionada e naquele instante o espírito de Linda disse:

- É hora de partir Deise, pois a Deus agora pertence o destino dos seus.

Deise sorriu e deu as mãos a amiga e os vultos das duas jovens seguiram rumo à eternidade.

Patrícia Cavazzana da Silva

Gidelson Esperidião da Silva

pelo espírito Isabel

Gil o sete e Patrícia Cavazzana da Silva
Enviado por Gil o sete em 17/01/2018
Código do texto: T6228719
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