Nós e o ‘outro’*

 



O homem chega, traz consigo a dor e na bagagem: o oculto. E com eles, me ocupo. Nós nos ocupamos.

Nós e o ‘outro’: o ‘outro’ que precisa de cuidado. Cuidado humanizado, pois cada vez mais vem sendo ‘fragmentado e observado por olhos, ouvidos e mãos mecânicas...

Acabamos perdendo a visão da sua integralidade.

Nós e o ‘outro’: fios que tecem o nosso cotidiano.

E nessa trama, qual é o nosso compromisso?

“(...) As vezes o meu coração grita. Eu ouço e prefiro calar. As pessoas não param pra ouvir. Ou sequer conseguem escutar. Vou deixá-lo falar por mim. Talvez me ajude a viver.(...) “( Vinícius Rocha – guarda metropolitana)

Perdemos de vista o verdadeiro sentido da Humanidade?

“Humanidade, uma noção ética: o que deve ser realizado por todos e em cada um.” (Edgard Morin)

Ética que corporifica um conjunto de atitudes. Atitudes sempre abertas à vida com suas inúmeras possibilidades. Ética que nos abre as portas para a compaixão. Compaixão, entendida como uma maneira de sentir. Compaixão, que significa: ‘sofrer com’ ou... não ficar indiferente à dor do ‘outro’.

“Se não temos compaixão, temos uma perturbação no olhar: “Vejo os velhos e posso até mesmo escrever uma tese sobre eles (...) Mas a tristeza do velho é só dele, não entra em mim. Durmo bem. (...)” (Rubem Alves)

Durmo bem?

Que tal nos reportarmos ao cotidiano? Qual a imagem da última ação que cada um de nós desenvolveu?

Como a desenvolvemos?

Se colocamos entusiasmo em nossa ação, o ‘outro’ a visualiza com cor, calor e movimento. Consequentemente, ele dá um passo para frente, levado pelo sentimento da simpatia.

Se a desenvolvemos de forma seca, ela transparece sem cor, sem movimento e calor frente ao ‘outro’. Consequentemente, ele dá um passo para trás, movido pelo sentimento de antipatia

Como avaliamos a nossa ação?

A porta que fica entre nós e o ‘outro’ está aberta?

A nossa ação ‘toca o ‘outro’? Apreende a imagem do ‘outro’? Apreende o ‘outro’ na “ plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença?” (Frei Betto)

“Sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita,alegria que contagia,lágrima que corre,olhar que acaricia, desejo que sacia,amor que promove.” (Cora Coralina)

Qual o nosso caminho? O que fazemos, para que fazemos, para quem fazemos, com quem fazemos, COMO fazemos?

Nós e o ‘outro’: um desafio para hoje e amanhã.

 

 

·         Texto de sensibilização para profissionais da área da saúde  que trabalham ou pretendem trabalhar com Hanseníase, utilizado desde 2006 em encontros estaduais, reuniões técnicas, workshops, etc

Veja no e-livros "Fios que tecem o nosso cotidiano" (o mesmo tema  em slides c/música)



heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 07/07/2010
Reeditado em 12/07/2010
Código do texto: T2363614
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