Adolescência: um período de atenção muito especial

O ser humano, ao longo de sua existência, apresenta períodos com características bem definidas que demarcam mudanças em seu desenvolvimento físico, emocional e mental, que se refletem nos aspectos de sua saúde, afetividade, temperamento, sexualidade, pensamento e, conseqüentemente, de seu comportamento.

Os momentos de passagens ou transições de cada um desses períodos, ou estágios da vida humana, quer sejam os da infância, adolescência, maturidade ou decrepitude, requerem atenção, cuidados especiais e, também, podem exigir, num momento ou outro, a interferência, o apoio e a orientação de profissionais especializados da área da Saúde, como médicos e, especialmente, psicólogos.

Na adolescência, em particular, são comuns aos jovens os medos e as angústias. Pois, nessa fase, eles se sentem envolvidos por sentimentos de insegurança e inferioridade. E, na tentativa de conciliar sonho e realidade, vivem, de forma egoísta, procurando soluções fáceis e imediatas que os façam parecer adultos.

Para compensar sentimentos negativos, apresentam-se em seus meios como verdadeiros rebeldes, já que, carregados de razoável dose de agressividade, também se sentem impulsionados a se tornarem independentes.

Sob essa “pressão” emocional, é natural se expressarem de forma mais ativa e, para protestarem, agirem como revolucionários, ora de direita, ora de esquerda.

Nesse momento é, também, que ocorrem as desilusões, já que seus líderes caem por terra e seus pais, sob suas óticas, já não são mais os protetores, amigos e provedores perfeitos, que eram motivos de suas admirações na infância. Agora, tendem a imitar os novos companheiros e ídolos, que nem sempre podem ser positivos e exemplos de elevados ideais, e daí surgirem os perigos das más companhias e mesmo das primeiras experiências com drogas e transgressões sociais, já que há, também, natural tendência à violência, como forma de descarregar a agressividade contida em seu interior.

É a chamada fase narcísica, do exibicionismo, da vaidade e das pretensões que, aos olhos da sociedade, pode tornar-se insuportável ou, pelo menos, extravagante, já que os jovens, nesse momento, podem lançar mão dos mais variados artifícios para expressarem seus protestos e rebeldias, como usarem roupas, penteados ou apetrechos incomuns e mesmo marcarem os próprios corpos com tatuagens ou adornos de metais e plásticos que, de alguma forma, chamam a atenção. É comum, ainda, procurarem formas de se fazerem ouvidos, daí as pichações e até mesmo os atos de vandalismos, como expressão ou maneiras de reconhecimentos.

Esse é um período de instabilidade, uma vez que num momento podem estar empolgados e em outros totalmente desinteressados. Mas, sem dúvida, o gosto pelas novidades, pelos desafios e aventuras sempre estarão presentes.

Outros comportamentos que podem caracterizar a fase adolescente são a indolência e os longos períodos de sono ou de solidão, bem como a tendência à gula ou caprichos alimentares, que podem levar à obesidade e, até mesmo, à anorexia ou bulimia.

A sexualidade é uma questão marcante da adolescência, uma vez que as produções de determinados harmônios e as modificações físicas são mais intensas nesse período. Pode-se dizer que a sexualidade, que era difusa na infância, agora é sistemática e, se mal orientada, pode promover intensos conflitos que acabam em verdadeiros complexos que se arrastam por longos períodos de angústias e dor. Os adolescentes vivem, de modo geral, sob intensa impregnação erótica que os levam a sonhos, fantasias e práticas solitárias, que podem lhes promover sentimentos de culpa e vergonha, se mal orientados.

Tudo isso, no entanto, pode ser atenuado e vivido, de forma natural, como impulso para o crescimento e plena utilização do potencial que existe em cada um. E para que isso possa se efetivar, o papel da família é importantíssimo no sentido de compreender e acolher as mudanças tão importantes e necessárias que o adolescente vive em seu físico e mente. A busca de orientação psicológica junto ao profissional capacitado, tanto para os pais como para o jovem, pode ser de grande valia para a transposição dessa passagem tão importante da vida.

José Paulo Ferrari – é psicólogo clínico, com especialização em psicooncologia, pelo Hospital do Câncer.