"MÉDICO, AMIGO OU CARRASCO".
São 25 anos correndo atrás de uma resposta. Minha mulher sofre de artrite reumatoide. Uma doença que segundo os médicos não mata, mas aleija. Depois de 25 anos tendo passado por vários tratamentos, sem resultados, cada vez mais piorando seu estado físico e psicológico, já com profundas deformações, no dia 22 de fevereiro, no consultório do Dr. Paulo Roberto Zeni, médico especialista em reumatologia, que atende na Clinica Nuclear, em Florianópolis, encontramos a resposta, mais um erro médico. Com pontualidade britânica, às 16h, 15 m, horário da consulta, o próprio médico vindo até a recepção chamou pelo nome, Sirlei Valquíria Vieira Lemes, minha mulher. Sua atitude não me pareceu muito comum, entre os médicos, que sempre recebem seus pacientes sentados em suas confortáveis cadeiras giratórias. Os pacientes, geralmente são acompanhados por secretárias ou enfermeiras. Louvável a atitude do médico. O diálogo começou ríspido e grosseiro. Dirigindo-se a minha mulher disse: Seu estado de saúde é deplorável. Um pouco assustados, nos prostramos a ouvi-lo em sua explanação. Tomou um papel de rascunho e rabiscou um diagrama, que mais parecia um gráfico de evolução da doença, e o era. Começou a nos mostrar a evolução do tratamento da doença, que começou no Brasil por volta de 1979. Mostrou todos os tipos de tratamentos possíveis, e as drogas utilizadas até então. Uma aula sobre artrite reumatoide. Nos 25 anos de sofrimento e convivência com a doença, passando por vários profissionais da área, ninguém tinha até então, nos colocado a par do estrago que a doença faz. Não é bem o caso de minha mulher, que até então achávamos, que sempre foi bem tratada por especialistas da melhor qualidade e capacidade, até aquele momento era a nossa convicção. Terminando sua explanação sobre o tratamento de artrite reumatoide, começou a falar do estado da doença, em que se encontrava a minha mulher. O estado em que a senhora se encontra só pode ter acontecido pelas seguintes possibilidades: A senhora nunca procurou um médico para se tratar. A senhora não toma seus remédios direito conforme prescreve o médico. A senhora deve ter problemas financeiros e não compra os remédios que seu médico receita. A senhora caiu na mão de profissionais incompetentes.
Nesse momento o interrompi, pois não nos deixava falar. Por um segundo me ouviu. A última possibilidade doutor, disse-lhe, infelizmente minha mulher caiu na mão de profissionais picaretas. Novamente disparou seu canhão. Tenho mais de 700 pacientes com a mesma doença da senhora e ninguém se encontra no seu estado precário de saúde. Fez um autoelogio, até merecido. Sou médico como todos os outros, apenas acompanho a evolução do tratamento de meus pacientes. Quando receito um remédio a um paciente e em 90 dias não há 95% de retorno em melhoras, não fico esperando, mudo o tratamento, há várias alternativas a serem tentadas. Quando minha mulher lhe disse, quando começou a usar o HUMIRA, um dos últimos medicamentos lançados no mercado, para o tratamento de artrite reumatoide, retrucou dizendo, que ela começou a tomar o remédio com 10 anos de atraso, como se ela fosse a culpada. Quando lhe disse, que o médico há três anos retirou do tratamento o medicamento Methotrexate, quase teve um enfarto. Falou asperamente. Não podia fazer isso, porque esse medicamento é fundamental no combate da doença, sempre ministrado com um medicamento biológico.
            Ouvi o que esperava. O atual médico, que trata de minha mulher errou e errou feio. Pisou na bola, diria. Incompetência mesmo, o que eu já desconfiava. Não podia cortar o Methotrexate, fundamental no tratamento de artrite reumatoide. A essa altura, minha mulher já estava a derramar lágrimas. Seus olhos avermelhados davam sinal de cansaço e desespero. Perguntamos se ainda havia alguma coisa a fazer, que não fosse á operação. Enfático respondeu, não há nenhuma possibilidade. A senhora tem que fazer a operação. Perguntei-lhe, se podia nos indicar um ortopedista. Respondeu em tom de severidade, sim, o único que confio, é o melhor que conheço e o único que recomendo. Não atende pela Unimed, só particular. Para ter uma ideia, sua secretaria é sua própria mãe com quase oitenta anos de idade. Ela cuida de tudo. Se o senhor não tiver condições financeiras não o procure. Depois de algum lamento passou o nome do médico. Dr. Richard Canela, da Ortoclinica. É muito difícil marcar uma consulta com ele.  Não forneceu telefone e nem endereço. O senhor vai me acompanhar durante a operação, mais uma vez respondeu com severidade, vou, mas quem tem que cuidar da senhora é seu médico lá de Pouso Alegre, Minas Gerais, aquele que fez a bobagem de retirar de seu tratamento o Methotrexate. Encerrou a consulta, despedimos agradecidos pela lição de artrite reumatoide que tivemos. Acompanhou-nos novamente até a recepção. No trajeto de seu consultório até a recepção guardei suas últimas palavras. Como num desabafo, de repente, por uma revolta interna, demonstrou insatisfeito com o resultado da consulta, falou em tom alto e severo novamente: A senhora é uma raridade médica. Entendo o que quis dizer, a doença de minha mulher é raríssima na historia da medicina e sempre foi tratada de maneira errada pelos médicos que a acompanharam até hoje. Na porta da Clinica nos despedimos novamente. Saí convicto e sem nenhuma dúvida, que minha mulher durante 25 anos foi vítima de incompetência e erros médicos.  Atribuo a vários profissionais essa incompetência, em graos diferentes de responsabilidades, o estado deplorável de saúde, segundo o Dr. Paulo Roberto Zeni, em que minha mulher se encontra. Voltamos para casa de minha sogra, que reside em Florianópolis. Minha mulher entrou em depressão e não parou de chorar. Também procurei não demonstrar minha indignação, mas por dentro sofria como a minha mulher, em saber que se tivesse sido tratada por profissionais médicos competentes, teria hoje uma qualidade de vida melhor. O que resulta de todo esse drama que vivemos hoje. Resulta num aprendizado, que não desejo a ninguém, de que não devemos confiar num único médico, quando por uma infelicidade somos acometidos de doenças graves. Aprendemos que médico bom não é aquele médico bonzinho, que mesmo sabendo, que seu paciente está em estado terminal, bate nas costas de seus familiares dizendo, que ainda há recursos para salvá-lo, e, portanto há esperanças. Médico bom é aquele profissional, que fala a verdade para que o paciente tome consciência da doença e a encare com fé e coragem. Vinte e cinco anos, acreditamos nos médicos, que trataram minha mulher, muitos picaretas de primeira qualidade. E os Conselhos Regionais de medicina não fazem nada, para retirar dos hospitais e consultórios, profissionais que negam seu juramento de médico e só pensam eu usurpar dinheiro de seus pacientes. Um problema seríssimo que o governo deveria resolver, mas não resolve, por que também está inserido em maracutaias esquecendo, que estão lidando com vidas humanas. A Justiça Divina a Deus pertence. Acredito Nela.

Autor-Armando Lemes-maio de 2012