"UMA NOITE NA ENFERMARIA".
   ARMANDO LEMES.
 
Você já passou uma noite na enfermaria de um Hospital? Se ainda não,  considere-se um privilegiado. Uma das piores experiências de minha vida. Começa com o ritual da internação. Normalmente um dia antes da cirurgia. Documentos, impostos de rendas, se têm condições financeiras ou não. O que interessa é sua condição de pagante ou não pagante. Sua carteirinha da UNIMED é mera formalidade. Se seu plano é internação em enfermaria, com certeza estará em desvantagens. Quando o Plano é apartamento a coisa muda. Tratamento diferenciado, cuidados redobrados, enfim, a grana que corre é maior, então merece tratamento vip.  Feito os procedimentos iniciais de internação na recepção, a paciente sobe para o quarto da enfermaria acompanhado de um mensageiro. Normalmente as enfermarias de Hospitais chiques são mobiliadas por três camas hospitalares, três poltronas que servem de cama para os acompanhantes. Quando o paciente tem mais de 60 anos, a Lei do idoso garante o acompanhante. Se não tem 60 anos e a paciente requer cuidados especiais, com uma boa conversa, você consegue liberar o acompanhante, o caso de minha mulher. Uma boa solução para facilitar o trabalho das enfermeiras normalmente deficitário. A noite será longa. Prepare-se! Começa o calvário do doente e do acompanhante também. Modere-se com muita calma. É a noite da adaptação. Você vai conhecer sua hospedagem, no meu caso por oito dias. Importante lembrar que apenas um banheiro para todos, normalmente seis pessoas. É preciso criatividade para não passar apuros. Eu que tomo diurético, pois uso remédio para a pressão, sofro bastante em tal situação. Quando você menos espera, a pessoa que você acompanha quer ir ao banheiro, mas o banheiro está sendo usado por outro doente. O nervosismo começa a se manifestar. Que saudade de minha casa, que tem quatro banheiros a minha disposição. Posso ter dor de barriga a vontade, sempre terá um banheiro desocupado. A porta do banheiro abre e você sente um alivio. Agora vou eu. Enganei-me entra outra paciente, afinal de contas ela tem direito, você é um intruso nesse momento. A noite vai ser longa. A paciente ao lado passa mal. A campainha é acionada, não funciona. Pede socorro, é quase meia noite. Nos enormes corredores as luzes estão quase todas apagadas. Uma cena de filme de terror para quem não está acostumado. Ao lado um senhor idoso reclama das dores e da enfermeira que não vem. As enfermeiras que deveriam estar a postos assistem televisão. Afinal de contas ninguém é de ferro. Você pede ajuda. Sonolentas reclamam. Já vou. Na verdade não é fácil a vida de enfermeiras. Algumas muito jovens. Estagiárias ainda sem nenhuma prática. Esforçam-se, mas deixam transparecer o nervosismo, uma me olha e confessa que é seu primeiro plantão. Está apavorada. Não consegue abrir o soro. Suas mãos trêmulas pedem socorro. Nenhum problema, tudo contornado, a paz reina novamente. Os pacientes depois de uma boa dose de calmante desmaiam, mas eu tenho que ficar ligadão, no pinga, pinga do soro. É estressante. Acaba o soro. A enfermeira que devia passar de hora em hora, segundo os procedimentos médicos não passou. Lá vou eu atrás de socorro. Uma jovem enfermeira que até parece estar trabalhando há uma semana sem dormir, novamente reclama. Já vou. Passam se 30 minutos e nada. O sangue da veia da paciente começa a retornar porque o soro acabou.  Para o leigo é uma tragédia. Para a enfermeira tudo normal. Descubro logo depois de que a enfermeira dorminhoca passou a noite na balada. São quatro horas da manhã. Um tumulto novamente. Uma paciente passa mal com falta de ar. Balão de oxigênio, injeções, uma correria total. Todos acordam. Uma senhora com ponte de safena recém-operada teve uma crise respiratória. Tudo volta ao normal. Tento me acomodar. Não dá. São seis horas da manhã. Toca o sinal de acordar. O dia amanheceu. Começa a movimentação no Hospital. Troca de horário. Moças bonitas com ar de cansadas começam a deixar o Hospital, voltam amanhã para nova rotina que não pode parar. Estou vivo tomando o café da amanhã. Como mineiro sempre gostei de café quente. O café aqui está frio e ruim. O leite com gosto de água. O pão duro e a banana verde. Dizem que isso faz bem a saúde, é a receita da nutricionista, sempre fui um contestador de comida de hospital. Acho que o doente tem que comer bem, comidas gostosas e temperadas. Vou me preparar para as próximas noites. Quem sabe, como hospede antigo eu possa ser mais bem tratado nas noites futuras. Relato aqui a enfermaria de um grande Hospital de Florianópolis o Imperial Hospital de Caridade. Nota 10 em atendimento médico no estado.

Autor-Armando Lemes-junho de 2012.