VANTAGENS DO PARTO HOSPITALAR
 
                                   Sérgio Martins Pandolfo*
     É-nos pacífica e assentada a superioridade do parto realizado em ambiente hospitalar se cotejado com o ocorrido em domicílio. Os detratores do parto hospitalar inculpam a “medicalização” e a “desumanização” que ocorreria neste modelo para inquiná-lo e incentivar a volta do parto em casa. Ora, a “medicalização” a que aludem é justamente o aparato anticontaminação, tais: mesa de instrumental recoberta com campo estéril para acolher o instrumental completo (para qualquer eventualidade) também estéril; limpeza, antissepsia e proteção da vulva com campos esterilizados, a prevenir infecções, e a instalação, nos casos que de algum modo discrepam da normalidade, de aparelhos que monitoram as funções vitais do feto durante o trabalho de parto. Isso, ao revés de “medicalizar” ajuda é a evitar percalços da acidentalidade obstétrica, isto é, segurança. O seguimento do trabalho parturitivo em ambiência hospitalar atingiu hoje refinamento que raia quase à perfeição, coisa que não pode ser cumprida, de nenhuma forma, no domicílio.
   Outra alegação a basto apontada como “desumanização” é a proscrição, ou melhor, a seleção do ingresso de estranhos à sala de partos, normal ou cirúrgico, reservada a pessoas com alguma convivência cirúrgico-obstétrica.
    Parentes na sala de parto pode ser problema sério: quando tudo sai bem é “aquela” confraternização, fotos de vários ângulos, mas, quando a coisa complica, o ambiente fica tenso e pode evoluir para casos como o que vivenciamos anos atrás, de um pai, latagão beirando os 2 m de alto que, ao ver  sangradura mais profusa após a saída do feto desabou desamparadamente sobre a mesa do instrumental que se esparramou pelo chão, contaminando tudo e atrasando a consecução do ato, pois houve que, às pressas, providenciar outro conjunto, além de ter que remover o frustrado papai herói, tomado de palor intenso, para atendimento em outro local da casa. Doutra feita, solícita e pressurosa mãe que assistia o nascer do primeiro neto não titubeou em apanhar um instrumento que caíra ao chão e rapidamente devolveu-o à mesa. Pensem na confusão que isso terá causado.
    A rigor o parto normal, ou natural, não precisa dá ajuda de ninguém; eis exemplo das índias inaculturadas, que vão parturir no mato, sozinhas e voltam de lá lépidas e fagueiras, com seus bebês nos braços, logo retomando seus afazeres tribais. Problema há, e grave, quando o parto “normal” se descaminha, por exemplo, em uma hemorragia cataclísmica, que em minutos dessangra o organismo da mulher, levando-a ao choque hemorrágico e à morte se não for socorrida incontinênti, só possível em hospital. 
   Até o século XX, ao parto normal seguia-se rastro de mortes e sequelas em muitas mães e bebês. Três avanços científicos mudaram tal quadro: os antibióticos, a anestesia e a terapia transfusional. Na França o mais famoso obstetra dessa glamorosa época, Moriceau, partejou, no palácio, Marie Tereza, esposa de Luís XIV, o Rei Sol, e uma parteira famosa do Rio de Janeiro, Mme. Durocher, fez o parto para o nascimento da princesa Leopoldina (irmã de Isabel), filha de D. Pedro II.
    Fernando Magalhães
, “pai da obstetrícia moderna no Brasil”, nos albores do século XX, com a clarividência dos sábios iluminados vaticinou que: “No futuro o parto será normal ou cesáreo”, isto é, recorrer-se-á à cesariana sempre que os estritos limites do parto normal forem transpostos, abolindo-se o emprego de manobras à larga vigentes e até hoje vez por outra empregadas em situações especiais, tais a versão interna e o fórceps, que em ambiência domiciliar podem ter terminações funéreas. 
  
Médico nenhum privilegia o parto cesáreo, mas sim a cesárea sempre que for o meio mais seguro para a consumação do trabalho parturiente, para a mãe e para o filho. Por fim, comentário colhido da internet: “Sou defensora do parto normal, cesariana só em último caso. Agora, parto em casa é do tempo das nossas avós. Pra não dizer que é do tempo das cavernas”.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
 sergio.serpan@gmail.comserpan@amazon.com.br   www.sergiopandolfo.com

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 17/08/2012
Reeditado em 25/12/2012
Código do texto: T3834421
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