O valor do retiro

Qual seria o valor do retiro para a vida de fato? Não nos referimos aqui ao retiro espiritual congregante que desconjunta ao invés de unir, embora seja extremamente benéfico para o grupo religioso e totalmente válido do ponto de vista da fé. Não é necessária a apartação, por horas ou dias seguidos, da sociedade em que se vive, deixando de compartilhar o que é comum. Não precisa tampouco imiscuir-se naquilo que destoa de um comportamento puro e salutar. O retiro para a vida compreende o contato regular da mente, do corpo e do espírito como um todo, sem uma imersão exacerbada, nas verdades de Deus. E quais seriam as verdades de Deus? O religioso fanático vai achar que as verdades de Deus são exclusivamente aquelas que estão contidas na fé ou na religião que ele professa. Ele não quer saber de outros assuntos que digam respeito a Deus, fé, espiritualidade. Aquilo que lhe foi ensinado lhe basta como convicção para o resto da vida.

Viver é acumular experiências; é sorver, no cálice do tempo e das oportunidades, as verdades do mundo. Embora se diga ‘do mundo’ há que se ter cuidado com as influências poderosas que emanam de livros, palestras e sugestões para a vida. No topo de tudo está Deus e Sua sabedoria. Quando encaminhamos diretamente a Ele nossos anseios e nossas dúvidas, sem a intermediação humana, interesseira, somos atendidos na medida das nossas necessidades. Aí é que se encontra a grande questão: discernir esta intermediação interesseira da verdadeira sinceridade do homem para com ele mesmo.

Se eu engano o meu semelhante estou iludindo a mim mesmo e receberei, sem sombra de dúvida, no tempo certo, o retorno desse meu ato. Anda tão conturbada a mente humana que uma colocação tão lógica e evidente como esta ainda precisa ser pontuada; o homem pune a si mesmo e não consegue viver em paz quando seus atos não correspondem a um viver harmonioso. Há uma espécie de tentação que ronda os atos de uma pessoa que, erroneamente, é confundida como força satânica, prova de Deus ou intervenção do diabo. Somos aquilo em que acreditamos e se tivermos a convicção de que o diabo existe ou que Deus colocou no mundo o homem para fazê-lo pecar e puni-lo em seguida não teremos a verdadeira paz de espírito. O retiro, nesse contexto, seria uma mudança de foco mental no sentido de entender Deus e sua infinita misericórdia. Mas não é deixando-se conduzir pelas agitações do mundo que se poderá obter esta paz e esta certeza. É preciso voltar-se para a fonte da vida abundante e plena e ela se encontra no mais profundo do nosso universo mental. O treinamento consiste em orar, vigiar e, aos poucos, à medida que passam os anos, uma nova sabedoria aflora, trazendo a felicidade.

Meditar nas verdades de Deus, estudando os livros sagrados, independente da religião que professe é a forma segura para a independência. Acima disso, fazendo prevalecer a humildade, na compreensão de que o despertar ainda se encontra distante e quem sabe, daqui alguns séculos ele chegará para o nosso ser. O homem ainda desconhece a sua origem e o seu destino. Logo, é perda de tempo e o cúmulo da ignorância vangloriar-se, querer superar o outro no que quer que seja. Somos meros aprendizes da vida e apenas engatinhamos na senda da evolução. Mas a busca traz paz e diferencia o estressado e iludido do convicto da sua importância no mundo. Se buscarmos o equilíbrio o peso das responsabilidades torna-se leve e tudo fica mais fácil. Encurtar a vida com ansiedades e angústias desnecessárias é pautar o caminho da ignorância. É aí que entra o valor do retiro; de parar para pensar que tipo de vida estamos levando e o que queremos de verdade; se vai valer a pena ou se seremos mais felizes e completos depois de o conseguirmos.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 27/10/2012
Reeditado em 27/10/2012
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