CORAÇÕES DESCONTROLADOS



Variação exagerada de humor pode ser sinal de síndrome de borderline

da Livraria da Folha

"Corações Descontrolados", novo livro da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, descreve as características do transtorno de personalidade borderline (limítrofe, em tradução livre). Os "borders" são pessoas que apresentam emoções extremas e, muitas vezes, nocivas.

Divulgação
 
Analisa quando comportamentos extremos passam a ser frequentes

Conhecido pela sigla TPB ou por síndrome de borderline, os borders costumam ser confundidos com bipolares e portadores de TDAH -- transtorno de atenção/hiperatividade, tema do livro "Mentes Inquietas".

Segundo a autora, "um profissional experiente e atento ao histórico de vida do paciente, após aplicar técnicas diagnósticas, chegará à conclusão de que o caso não é TDAH, mas transtorno de personalidade borderline".

A edição apresenta o resultado da pesquisa sobre esse tipo de instabilidade emocional e de uma série de comportamentos autodestrutivos, do abuso de drogas e álcool ao suicídio.

Ana Beatriz Barbosa Silva também é autora de "Mentes Perigosas", "Mundo Singular", "Mentes Ansiosas" e "Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas".

Abaixo, leia um trecho do livro

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Um border, muitas vezes, apresenta quadros depressivos e eufóricos de duração variável; no entanto, ambos tendem a ser precipitados por acontecimentos externos imediatos. Tal qual uma esponja emocional, a pessoa border é capaz de deprimir-se de forma imediata frente a um acontecimento frustrante, especialmente quando este envolve rejeição afetiva, como o término de um relacionamento amoroso ou mesmo um leve desentendimento típico de casais. De forma igualmente imediata e intensa, a personalidade border pode apresentar alegria descabida (euforia) diante de uma possibilidade emocional ou profissional, que seja por ela interpretada como aceitação ou aprovação de sua aparência, sentimentos ou de um talento específico. As pessoas borders são dependentes desses referenciais de desempenho imediato, uma vez que possuem sérias dificuldades de se autoavaliarem.

Por serem e sentirem assim, muitas vezes nos fazem pensar que são portadoras de outros transtornos como a depressão, a ciclotimia ou mesmo a bipolaridade do humor. Mas é importante ter em mente que, antes de tudo, a personalidade border é uma maneira de sentir, pensar e agir; ou seja, uma forma de "existir" ou "ser". Suas variações de humor estão presentes no dia a dia desde sempre e não se limitam a fases extremas e pontuais, como ocorrem nos outros transtornos citados. Além disso, nas pessoas que apresentam depressão, ciclotimia ou transtorno bipolar, as variações de humor não guardam relação estreita com os acontecimentos imediatos (frustrações, rejeições ou simples contrariedades), como se observa em quem é border.

Os borders também costumam ser confundidos com os portadores de TDAH; muitos indivíduos procuram ajuda psiquiátrica ou psicológica justamente por se identificarem com as características deste último transtorno. No entanto, um profissional experiente e atento ao histórico de vida do paciente, após aplicar técnicas diagnósticas, chegará à conclusão de que o caso não é TDAH, mas transtorno de personalidade borderline. Tal confusão é compreensível, já que a personalidade borderline e os portadores de TDAH guardam sintomas semelhantes, especialmente quando hiperativos e impulsivos. Estão sempre a mil por hora, vivem no limite do estresse e, consequentemente, demonstram sinais de impaciência e irritabilidade. Além disso, em geral, falam e agem impulsivamente, o que ocasiona situações sociais constrangedoras, aborrecimentos e indelicadezas em seus relacionamentos íntimos. Porém, é importante destacar que a questão central dos TDAHs é a sua tendência à dispersão, o que resulta em grande dificuldade em se concentrar e executar as tarefas cotidianas. Toda ansiedade, angústia, hiperatividade e impulsividade de um TDAH são secundárias a essa questão primária da desatenção, ou instabilidade atentiva.

A pessoa border, por sua vez, também apresenta sintomas de ansiedade, dificuldade de concentração e impulsividade; no entanto, a origem destes não está na hiperatividade mental (como é o caso dos TDAHs), e sim na hiperatividade emocional/afetiva. Isto faz com que a vida de uma pessoa border pareça uma aventura numa montanha-russa repleta de loopings de 360º. Os TDAHs capotam no mar de pensamentos que seus cérebros produzem incessantemente; já os borders capotam nas emoções, no excesso de sentir. Tal excesso de sentimentos acaba por fazê-los perceber a realidade com tons exacerbados, seja em situações que geram emoções positivas ou negativas. Essa hipérbole de afetos desencadeia uma intensa instabilidade reativa do humor, grande dificuldade de autopercepção (incluindo a autoimagem e autoestima) e uma impulsividade tão forte que, muitas vezes, se manifesta em verdadeiros acessos de raiva e fúria. Durante esses ataques descontrolados, os borders podem agredir o outro, cometer atos de automutilação ou fazer ameaças de suicídio. Nestas crises, fazem jus à expressão popular "fulano estava cego de raiva", como descrito no caso de Vitória, na introdução do livro.

Em seus descontroles afetivos, os borders são capazes de atitudes tão agressivas, desrespeitosas e destrutivas que, num primeiro momento, imaginamos estar frente a uma personalidade cruel e indiferente aos demais. Por esta razão, costumam ser confundidos com personalidades psicopáticas ou psicopatas.

De fato, seus atos desesperados são capazes de gerar muito sofrimento e perdas materiais para as pessoas que são vítimas deles. Sem querer minimizar as consequências que os borders produzem na vida das pessoas que lhes são íntimas e "supostamente amadas" por eles, é fundamental entender que tais comportamentos, aparentemente maldosos, escondem uma personalidade que vive o tempo todo no limite do desespero afetivo frente à possibilidade do abandono e da rejeição. Tais atitudes ocorrem em situações reais ou imaginárias, advindas de uma mente ávida de identidade que, em geral, é a do outro; isto é, do seu objeto afetivo. Por outro lado, as personalidades psicopáticas planejam e executam suas maldades ou perversidades com intuitos muito claros: poder, status ou diversão (prazer). O desespero afetivo e o medo da rejeição não são algo que um psicopata seja capaz de sentir.

Fonte:

http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/1173136-variacao-exagerada-de-humor-pode-ser-sinal-de-sindrome-de-borderline.shtml



http://www.youtube.com/watch?v=Wrmb5zteFAI

Entrevista com a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva 

Livraria da Folha
Enviado por Wilson Madrid em 29/04/2013
Código do texto: T4265142
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