Considerações psicológicas sobre a gravidez na adolescência

A adolescência costuma ser um período de crises e transições, onde ocorrem diversos lutos infantis, como o luto do papel e da identidade infantil, o luto do corpo infantil e o luto da compreensão infantil do papel dos pais do adolescente (Becker, 1985). Na atualidade, além da utilização indevida de drogas legais e ilegais, podemos dizer que a gravidez é um dos acontecimentos mais delicados e complexos que poderia ocorrer na vida de uma pessoa na adolescência, especialmente porque esse acontecimento pode provocar mudanças profundas no seu desenvolvimento biológico e psicológico.

Estima-se que mais de um milhão de adolescentes engravidam por ano segundo dados do Ministério da Saúde. De acordo com Righetti (2014), um em cada quatro partos realizados no Brasil hoje é realizado com mulheres menores de 20 anos. Fatalmente, essas adolescentes mais ou menos infantis, mais ou menos responsáveis, terão que aprender a lidar com a difícil tarefa de gestar, desenvolver e educar uma criança pequena, independentemente delas estarem ou não preparadas para realizar estas tarefas.

Como agravante dessa situação, a adolescência é um período de transição, tanto biológica quanto psicológica, onde há uma profunda ressignificação de si mesmo a partir das suas identificações e das expectativas sociais que são depositadas naquela pessoa. O papel de gênero masculino e feminino por exemplo pode gerar problemas de adaptação e de reconhecimento de si, especialmente na contemporaneidade, onde o papel da mulher está se distanciando cada vez mais daquele modelo romantizado de mera cuidadora do lar, e o papel do homem também está sendo modificado gradativamente, já que ele não reina mais sozinho na selva da produção laboral e precisa disputar espaço com mulheres tão protagonistas quanto ele em situações de trabalho e também de vida pessoal.

Tanto psicólogos quanto outros profissionais podem auxiliar o adolescente a lidar de modo saudável com a questão da gravidez. É indispensável auxiliar o adolescente a enfrentar esta situação com maturidade e responsabilidade. Dialogar com os pais dos adolescentes pode ser um bom caminho, pois é possível que os pais queiram se responsabilizar pela vida da criança recém-nascida, mas este deverá ser um papel protagonizado pelo próprio adolescente. O que de modo geral não pode ser desconsiderado é que a adolescente grávida ainda é uma adolescente, que está em processo de transição e ressignificação constante sobre quem ela é e qual deverá ser o seu papel na sociedade, e embora ela saiba que precisará amadurecer a cada dia mais, ainda haverá um luto importante a ser realizado, um luto de sua própria identidade infantil, e caberá aos profissionais (e demais responsáveis) mediarem esse processo para que este luto seja o mais enriquecedor e o menos doloroso possível para todos - especialmente para a adolescente.

Referências:

BECKER, Daniel. O que é adolescência?. São Paulo (SP): Editora Brasiliense, 1985. 105 p.

RIGHETTI, Sabine. Adolescente que engravida ainda é adolescente. Disponível em: http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2014/04/16/adolescente-que-engravida-ainda-e-adolescente/. Acesso em 17 de abril de 2014.