SÍNDROME DO OVERTRAINING NOS ATLETAS DE FUTEBOL E A BUSCA POR BIOMARCADORES

RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar, na literatura nacional, a produção científica sobre a síndrome de Overtraining em atletas de futebol, destacando os principais aspectos abordados. Realizaram-se pesquisas bibliográficas nos periódicos nacionais, através da base de dados do Google Acadêmico, obtendo-se ao todo 10 artigos e as informações necessárias que foram analisados através de leitura exploratória, seletiva, analítica e interpretativa. Os resultados evidenciaram o Futebol é uma modalidade esportiva que exige um excelente condicionamento físico de seus atletas, por causa disso, na busca de um bom desempenho muitos treinam, mas não fazem um repouso adequado, acarretando assim, a síndrome do Overtraining. Embora há ainda controvérsias sobre os biomarcadores, a enzima creatina quinase (CK) tem sido utilizada para como parâmetro na detecção dos sintomas que levam ao Overtraining.

Palavras-Chave: Overtraining. Futebol. Biomarcadores.

ABSTRACT

This study aimed to identify in national literature the scientific production on Overtraining syndrome in soccer players, highlighting the main points raised. There were literature searches in national journals, through the Google Scholar database, obtaining a total 10 items and the necessary information were analyzed by exploratory reading, selective, analytical and interpretive. The results showed Football is a sport that requires excellent physical fitness of their athletes, because of it, in search of a good performance many train, but do not make a proper rest, bringing thus the Overtraining syndrome. Although there is still controversy about the biomarkers, the enzyme creatine kinase (CK) has been used as a parameter for the detection of the symptoms that lead to overtraining.

Keywords: Overtraining. Soccer. Biomarkers.

1. INTRODUÇÃO

Dentre os esportes, o futebol é uma das modalidades mais populares no país, por isso, muitos a consideram paixão dos brasileiros. Nos dias de jogos os estádios ficam superlotados e é quase impossível deixar a o aparelho de televisão ligado, é também a causa de muitos confrontos violentos. Outro fato que se pode frisar são os lucros altos que promovidos pelas ligas esportivas com a ajuda da mídia. Cada vez mais empresários investem maciçamente seus recursos esperando retornos financeiros. Os clubes precisam aparecer na primeira divisão, apresentar excelentes atletas que possam se tornar craques para chamar a atenção do público e participar de campanhas publicitárias.

É nesse contexto que a figura do atleta é importante, pois ele é o agente que representará os clubes. Nesse sentido, a tecnologia esportiva tem sido cada vez mais utilizada como uma ferramenta importante para formar atletas com alto desempenho. Assim, no futebol uma das técnicas largamente úteis é o treinamento físico que tem como meta aumentar a performance dos jogadores. Para o alcance desse objetivo os esportistas são submetidos a treinos intensos que, em contrapartida, exigem um período de recuperação mais longa, produzindo, então, resultados finais positivos. Todavia, torna-se um problema quando o jogador permanece em um período de recuperação menor do que o esperado, porque ao contrário do que se pensa, essa atitude pode gerar respostas negativas nos treinos, acarretando ao jogador: baixo rendimento, lesões e até depressão. Esse conjunto de sintomas é conhecido como síndrome overtraining.

O objetivo desse estudo é descrever os fatores que levam ao overtraining nos atletas de futebol. Embora já se tenha um conhecimento prévio sobre o assunto que é amplamente comentado em muitos artigos, estes estão descritos em sua maioria de maneira isolada. Dessa forma, percebe-se ainda a necessidade de uma pesquisa que possa unir a descrição desses fatores, a fim de que se contribua com os conhecimentos sobre esse tema.

Partiu-se então do princípio inicial, elegendo o seguinte problema: Quais os fatores que levam os atletas de futebol ao overtraining?

A importância dessa pesquisa está nas informações acadêmicas que ela vai gerar, pois formarão um banco de dados que poderá ser analisado criticamente pelos interessados, a fim de que possam suscitar novas ideias. Pode ser útil para conscientizar sobre os males causados pelo overtraining.

Sendo assim, para que haja uma organização o estudo, ora, proposto, coube dividi-los nos seguintes tópicos: No primeiro será dado um conceito de overtraining; no segundo será descrito o overtraining no futebol; por fim, por meio da pesquisa serão descritos os fatores que causam o overtraining, como forma de buscar uma solução para o problema.

2. METODOLOGIA

O levantamento da produção científica sobre a síndrome do overtraining: overtraining nos atletas de futebol foi realizado nos periódicos nacionais através de uma pesquisa na base de dados do Google Acadêmico.

Optou-se por utilizar como material apenas artigos científicos e estatísticas da base de dados do Google Acadêmico, por considerar a acessibilidade deste tipo de publicação para os profissionais da área de Educação Física.

Utilizou-se para a busca, as seguintes palavras-chave: Overtraining. Futebol. Marcadores biológicos.

Foram selecionados artigos publicados no período de 2003 a 2013 de acordo com a necessidade da pesquisa, e a ela foi realizada entre o mês 03 de 2016 a 04 de 2016.

Ao final do levantamento, obteve-se um total de 26 publicações. Entre artigos e outros periódicos selecionaram-se apenas 10 que foram utilizadas em sua totalidade por satisfazerem o critério de inclusão, ou seja, abordar completamente a temática do estudo. Destas, 6 são artigos científicos e 4 são dissertações de mestrado.

Procedeu-se, então, à análise do material, seguindo-se as etapas: leitura exploratória, a fim de conhecer todo o material; leitura seletiva, através da qual foram selecionados os artigos pertinentes aos propósitos da pesquisa; leitura analítica dos textos, momento de apreciação e julgamento das informações, evidenciando-se os principais aspectos abordados sobre o tema.

Finalmente, foi realizada a leitura interpretativa que, apoiada na experiência profissional dos pesquisadores, conferiu significado mais amplo aos resultados obtidos com a leitura analítica por meio de Godoy (1995).

3. CONCEITO E ALGUNS ASPECTOS SOBRE O OVERTRAINING

É muito comum um atleta, seja de que modalidade esportiva for, procurar superar seus limites, por meio da busca de resultados perfeitos. Este se entrega ao treino esportivo por um longo período, a fim de alcançar o alto rendimento. Porém, é muito lógico pensar: se um indivíduo dedica-se exaustivamente a uma atividade física, é natural também que necessite descansar um período maior de tempo, esses fatores são diretamente proporcionais. O problema é quando os atletas não respeitam os limites do seu corpo, seja por vontade própria ou por imposição dos treinadores. Assim, esse excesso de atividades sem um repouso adequado pode levá-los a adquirir aquilo que se denomina síndrome de overtraining que muitas das vezes é confundida com falta de estímulo ou de entrega por parte do atleta para atingir seu potencial máximo. A respeito dessa síndrome, Silva (1992), doutora em Ciência da Motricidade, explica que a ocorrência periódica de desequilíbrio entre o período dedicado ao repouso1 e as cargas de treinamento em todas as atividades físicas programadas, que diminuam repouso, pode desencadear a fadiga crônica, bem como uma série de outras alterações metabolismo, caracterizando a síndrome do super treinamento ou overtraining.

Alguns autores como Garcia (2004) e Bulgarelli (2013), ambos Mestres em Educação Física, têm apresentado alguns estudos sobre o overtraining, mostrando que a síndrome pode estar ligada aos altos níveis de cortisol no sangue e saliva na recuperação após o esforço. Porém, existem outros estudos que contestam a afirmação desses autores, o que torna as ideia um tanto controvertidas. Diante disso, deve-se considerar que se ocorrem nos atletas alterações hormonais, logo seria importante realizar estudos longitudinais os quais possam apresentar resultados mais confiáveis.

Atualmente já é possível contar com aparatos tecnológicos sofisticados na área de análises clínicas laboratoriais utilizadas com o objetivo de detectar a instalação do quadro de overtraining nos atletas. Ocorre que esse testes de laboratório não são acessíveis a todos atletas nos períodos de competição. Normalmente apenas os clubes melhores financeiramente, no caso do futebol, é que oferecem essa comodidade aos seus jogadores. Em contrapartida, os clubes menores por não terem as mesmas condições que os mais favorecidos, podem estar submetendo seus jogadores a situações exaustivas de treino, podendo vir a causar neles a síndrome do overtraining. Nesse sentido, pelo fato de os testes serem realizados em apenas poucos grupos de atletas, pode-se afirmar que os estudos sobre a síndrome do overtraining ainda não avançaram muito, por esse motivo, abordar esse tema é algo complexo, pois envolve controvérsias. Contudo, embora haja um número pouco expressivo de estudos de caso, estima-se que cerca de 50% de atletas profissionais de futebol durante uma temporada competitiva de cinco meses podem ter um quadro de overtraining. Esses fatos mencionados ganham sustentação a partir das considerações de Nunes (2010) que é Mestre em Educação Física:

Na tentativa de se controlar a carga de treino, vários parâmetros têm sido investigados, já que, o estresse provocado pelos treinamentos acarreta alterações nos mesmos (jogadores), alguns estudos têm sido desenvolvidos com a utilização de variáveis fisiológicas, bioquímicas, psicológicas, hematológicas e imunológicas na verificação dos efeitos a curto e longo prazo da carga de treino. No entanto, poucos estudos fizeram tais mensurações em esportes coletivos e nem sempre monitoraram os atletas de forma sistemática, durante uma fase da periodização (NUNES, 2010, p. 12 – Grifo nosso).

Com as considerações do autor, pode-se perceber que o grau de preocupação sobre o tema está aumentando, porque o número de jogadores afetados pela síndrome de overtraining pode ser bem maior do que o estimado e caso houvesse condições destes serem avaliados os clubes contribuiriam para a preservação da saúde física e mental de seus atletas. Além disso, poderia também contribuir com a ciência ao oferecerem dados para os estudos.

4. FATORES QUE INDICAM A SÍNDROME DE OVERTRAINING EM ATLETAS DE FUTEBOL

Soares e et alli (2012) caracterizam o futebol como um esporte muito complexo do ponto de vista fisiológico. Isto porque, esta é uma modalidade esportiva que emprega um gasto de energia considerável, cerca de 90% gasta durante uma partida é recuperada através do metabolismo aeróbio. Uma vez que os jogos exigem um esforço físico acima do normal, o jogador precisa buscar um condicionamento físico necessário nos treinos que realiza periodicamente. Os treinamentos são compostos de exercícios, tais como: corridas curtas de velocidade (sprints), saltos, corridas, movimentos de frenagem, etc. Essas atividades podem proporcionar uma forma física correspondente às expectativas do treino. Fisiologicamente o corpo produz enzimas como a CK a qual aponta danos no tecido muscular. A partir dos benefícios dessa carga de treinamentos, o futebolista pode usufruir da força explosiva, ganhar velocidade, resistência anaeróbia e aeróbia.

De acordo com Nunes (2010), o futebol profissional, diferente de muitas outras modalidades esportivas, prima por várias exigências aos seus atletas de ordem psicofisiológicas. Tais exigências impostas nos treinos de preparação para as disputas agridem consideravelmente o organismo deles. Entretanto, essa carga de estresse não é compensada com um repouso que condiza com o esforço empregado. Dessa forma, havendo esse desequilíbrio entre o estresse e a recuperação é comum o aparecimento do overtraining. Os sinais relacionados a essa síndrome são descritas como: apresentação de “sinais de fadiga ou exaustao que afetam diferentes mecanismos corporais nos mais variados sistemas, tais como: imunológicos, hematológicos, neuroendócrinos, psicológicos e outros sistemas fisiológicos que se interagem” (NUNES, 2010, p. 06).

Garcia (2004), Mestre em biologia funcional e molecular, elege o exercício físico como um agente estressor, contudo, o organismo ao ser submetido a uma carga intensa tenta manter a homeostasia2. Entretanto, a autora alerta que dependendo da carga de exercícios praticados pode ter como resultado uma adaptação positiva ou uma maladaptação. Esta pode resultar em um quadro de overeaching e a permanência nesse estado pode causar a síndrome do overtraining. Segundo pesquisadora, “esta síndrome se caracteriza por diminuição no desempenho do atleta, fadiga muscular, distúrbio do sono, perda do apetite, entre outros sintomas, concomitantes com alterações imunológicas, hormonais e indicadores de estresse psicológico” (GARCIA, 2004, p. 09). De acordo com a autora, essa síndrome é muito comum em jogadores de futebol devido à intensidade dos exercícios físicos impostos nos treinos e, por outro lado, a falta de repouso necessário para não sobrecarregar o organismo. Garcia (2004) acrescenta ainda que existe uma falta de critérios quanto ao limite da carga de exercícios físicos, a duração deles e o período de adaptação, o que prejudica muito os atletas.

Neto e et alli (2012) mostram que de maneira geral algo que tem incomodado os pesquisadores da ciências dos esportes é a busca de marcadores de adaptação ao esforço induzido pelo treinamento físico. São muitas modalidades esportivas e cada uma requer um parâmetro diferente e isso está desafiando esse meio acadêmico. Essa é uma dificuldade, mas para resolvê-la devem-se levar em conta vários fatores: quantidade de treinos; a aplicação específica de estímulos e, por outro lado, os requerimentos de exigências motoras, número de competições em uma temporada e tempo de recuperação entre uma sessão de treino e outra. De acordo com os autores, ao se levar em conta esses fatores é possível levantar uma gama de informação que podem contribuir para a busca de parâmetros que determinem os níveis de estresse dos atletas, bem como a quantidade de atividades físicas a que devem ser submetidos. De uma coisa se sabe por meio da literatura: a falta de sincronia entre esses fatores é que gera a síndrome do overtraining, especialmente em jogadores de futebol que é uma modalidade que exige muito dos atletas. Segundo Neto e et alli (2012), os sintomas produzidos por essa falta de sincronia entre esse fatores normalmente é:

[…] alta fadigabilidade e outros distúrbios, tais como respostas inflamatórias, aumento de citosinas circulantes no sangue, desbalanço nutricional, distúrbios hormonais, indisposição ao treinamento físico, que resultam em diminuição do rendimento e aumento na susceptibilidade a lesões (NETO e et alli, 2012, p. 88).

Esses são sintomas que podem indicar que o atleta pode está com a síndrome de overtraining. Nesse caso, os autores afirmam que uma vez instalada essa síndrome, a recuperação não é tão simples, exige-se um acompanhamento diário do jogador. Assim, como diz Neto e et alli (2012, p. 88): “O overtraining, uma vez instalado, não é facilmente revertido, podendo levar várias semanas ou meses para ocorrer a recuperação”. Quando a síndrome está no estágio inicial é denominada overreaching e é perfeitamente possível revertê-la com dois dias sem treinos, porém a persistência nesse quadro é que pode se tornar o overtraining que é, portanto uma forma mais agressiva da síndrome e, por conseguinte, exige uma forma de recuperação mais custosa.

A pesquisa bibliográfica feita por Neto e et alli (2012) sinaliza a existência de uma falta de biomarcadores que possam apontar qual a quantidade de treino ideal para um atleta de futebol e também o tempo de repouso pós-treino. Sabemos que cada atleta tem sua individualidade e, portanto respostas diferentes a cada estímulo, por isso, os treinadores devem saber como trabalhar com cada um segundo sua capacidade. Atualmente, essa falta de biomarcadores obriga os clubes de futebol a utilizarem métodos empíricos para aplicar esses fatores, o que muitas é feito sem nenhum critério científico. Esse fato pode trazer consequências drásticas para os atletas, podendo agravar ainda mais o quadro de overtraining. A pesar dos poucos avanços em encontrar biomarcadores como parâmetros para organizar os fatores que envolvem o treinamento e o repouso, Neto e et alli (2012) encontraram na pesquisa feita por Lazarim e et alli (2009)3 as indicações que sinalizam resultados que pode apontar enzima creatina quinase (CK) como um biomarcador. Nesse sentido, Neto e et alli (2012) dizem:

Lazarim e colaboradores (2009) trouxeram dados inovadores para a literatura do futebol, indicando que níveis plasmáticos acima de 975 U/L da enzima creatina quinase (CK) poderia indicar um quadro severo de alteração muscular e, consequentemente, um indício de que o atleta estaria em possível quadro de instalação do overtraining (NETO E et alli, 2012, p. 88).

Com a divulgação das pesquisas de Lazarim e seus colaboradores (2009), Neto e et alli (2012) declaram que a utilização da enzima sarcoplasmática CK tornou-se propícia para apontar as alterações musculares que por ventura possam ocorrer nos atletas e, consequentemente, ser utilizada para melhor o desenvolvimento físico deles.

5. BIOMARCADORES QUE INDICAM O OVERTRAINING EM ATLETAS DE FUTEBOL

Obervando as causas do overtraining nos atletas de futebol percebemos que a maioria dos autores em que se pesquisou o assunto concordam que ele é gerado pela sobrecarga de treinos executados diariamente, a fim de alcançar resultados físicos positivos que dê condições de disputarem as partidas. Conduto, queremos destacar fatores que indicam o overtraining nos butebolistas.

Atualmente devido à complexidade física e fisiológica que os treinos de futebol causam nos jogadores de futebol e, além dos crescentes casos de overtraining, os clubes com poder aquisitivo tem se cercado de ciência, tais como: humanas, sociais e da saúde. Acerca disso, Chelles (2008) afirma que aparatos sofisticados como testes de laboratório têm sido utilizados para a verificação dos quadros de overtraining em atletas de futebol e muitas alterações já foram catalogadas por meio desse procedimento. Dentre essas alterações o autor cita algumas:

[…] frequência cardíaca máxima diminuída, alterações nas medidas de lactato, como sua concentração em esforço máximo ou seu limiar, alteração na relação testosterona/cortisol, alterações imunológicas que levam a infecção das vias aéreas superiores, alterações em marcadores séricos como CK (creatina Kinase) e uréia (CHELLES, 2008, p. 01).

Contudo, apesar dessa gama de alterações descritas pelo autor, ele afirma que nenhuma se mostrou exclusivamente eficaz para detectar o quadro de overtraining. Nunes (2010) chegou a essa mesma conclusão:

Apesar dos avanços nas pesquisas com as cargas de treinamento, ainda não foi identificado um marcador confiável, simples e especifico para monitorar regularmente a resposta do atleta a carga de treinamento, […] pois nenhum parâmetro isolado e suficiente para avalia-los e predizê-lo (NUNES, 2010, p. 18).

Sendo assim, o autor alerta para continuem sendo realizadas pesquisas que possam ser capazes de apontar quando os jogadores se encontram em um quadro de overtraining.

Ainda segundo Chelles (2008), existem outras controvérsias sobre a instalação do quadro de overtraining. Em estudos realizados esse quadro tem sido associado a altos níveis de cortisol na corrente sanguínea e também na saliva no período de repouso. Porém, os resultados de outros estudos não mostram o mesmo.

Chelles (2008) apesar dos avanços não serem poucos e os casos de overtraining estarem aumentando, incentiva a pesquisa o incremento da pesquisa e o uso dos recursos existentes, tais como: análises laboratoriais4 com coleta de sangue e não invasivos (utilização da saliva), antropométricas5 e psicológicas6. A partir dessas pesquisas o autor estima que seja elaborado um conjunto de métodos confiáveis para a detecção do quadro de overtraining.

Nunes (2010), Mestre em Educação Física, realizou um estudo com o objetivo de analisar as alterações drásticas nas enzimas, psicológicas e hematológicas durante um período de partidas de futebol. A pesquisa foi feita utilizando 8 jogadores voluntários durante 8 dias. Foram realizadas coletas de sangue para a análise da creatina quinase (CK), lactato desidrogenase (LDH), índices hematológicos e imunológicos e foi aplicado o questionário POMS (vigor e fadiga). O resultado mostrou que dentre os materiais hematológicos coletados, observou-se em especial o aumento do CK que ultrapassou os valores descritos na literatura.

Apesar da inconsistência, Soares e et alli (2012) ao investigar esses fatores observaram que na maioria dos jogadores que participam de treinos intermitentes possuem uma alta concentração da enzima CK. Lembramos que esta enzima é produzida pelo organismo naturalmente a partir da prática de exercícios físicos. Ela é responsável por apontar no tecido muscular lesões, caso ocorram. No entanto, essa quantidade excessiva no organismo dos jogadores preocupa, porque indicam que os jogadores podem estar sofrendo lesões musculares de forma recorrente. Além do mais, as pesquisas mostram também que aqueles que apresentam alta concentração essa enzima normalmente estão afetados pelo estresse e fadiga muscular.

Garcia (2004) realizou uma pesquisa, utilizando como voluntários, jogadores da liga júnior de futebol. O objetivo detectar a quantidade de concentração plasmática catecolaminas, de cortisol, e de testosterona, fazendo uma correlação desses níveis com o desempenho físico, a fim de estabelecer parâmetros para estes hormônios sinalizadores do estado de overtraining. Esse material foi colhido, analisado e correlacionando com o desempenho físico dos atletas. Os resultados mostraram que depois do momento em que se preparam para disputar o campeonato, o desempenho dos jogadores se manteve estável. Inicialmente os paradigmas biológicos indicaram um ataque às estruturas biológicas, contudo, no final houve um aumento das capacidades antioxidantes as quais proporcionaram uma adaptação à carga de treinamento.

Neto e et alli (2012) também realizaram muitos clubes de Futebol adotaram a dosagem sanguínea da enzima creatinina quinase (CK) como meio de auxiliar no monitoramento de prescrição no volume de exercícios aplicados ao atletas. Segundo os autores, algo que justifica a utilização desse recurso de monitoramento são as microlesões musculares frequentes nos jogadores de futebol. Nesse sentido, procuraram mostrar em um estudo realizado como a detecção dos níveis de CK pode ser usada como uma ferramenta eficaz para apontar lesões musculares severas, além de controlar a quantidade de exercícios físicos. A pesquisa realizada por Neto e et alli (2012) foi de cunho bibliográfico, mas apesar disso constituiu-se de grande proveito, uma vez que conseguiu reunir informações relevantes presentes na literatura que trata sobre o assunto. O resultado da investigação mostrou que os níveis de CK no sangue realmente permitem compreender que o jogador dependendo da carga de exercícios físicos entra em um estado de estresse consigo mesmo e em relação a toda a equipe. Essa informação é importante porque o treinador ao tomar conhecimento disso pode regular a quantidade de exercícios dos atletas, propiciando um melhor desenvolvimento deles.

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após o levantamento do referencial teórico foi possível entender com amplitude o assunto proposto. Observou-se em primeiro lugar que o conceito sobre a síndrome do overtraining ou também denominado super treinamento é um distúrbio físico e psicológico que ocorre nos atletas depois de serem submetidos a uma intensa carga de treinos periódicos sem um repouso adequado. Notou-se que a maioria dos autores consultados concorda com essa afirmação. Por exemplo, Silva (1992), doutora em Ciência da Motricidade, mostra que a ocorrência periódica de desequilíbrio entre o período dedicado ao repouso e as cargas de treinamento em todas as atividades físicas programadas, que diminuam repouso, pode desencadear a fadiga crônica, bem como uma série de outras alterações metabolismo, caracterizando a síndrome do super treinamento ou overtraining.

De acordo com Garcia (2004), inicialmente o atleta que sobre esse desequilíbrio não adquire imediatamente essa síndrome, mas há sintomas que podem apontar um estado chamado overeaching. Nesse sentido, é a persistência no desequilíbrio que pode acarretar o overtraining.

Neto e et alli (2012) que fizeram uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto, afirmaram que enquanto os atletas possuem apenas sintomas iniciais, isto é, estão com overeaching, basta apenas o afastamento dos treinos por alguns dias que o indivíduo se recupera rapidamente. Entretanto, caso esteja com a síndrome do overtraining o atleta precisará de um tratamento mais detalhado.

Dentre as modalidades esportivas o Futebol encabeça a lista daquelas em que exigem um retorno biofísico e bioquímico muito complexo. Os butebolistas são submetidos a treinos muito intensos, a fim de adquirirem uma forma física que dê condições de competirem a cada partido. Segundo Soares e et alli (2012) embora numa partida de futebol os jogadores empreguem um gasto de energia considerável, cerca de 90% dessa energia gasta durante é recuperada através do metabolismo aeróbio. Mas não é somente isso, os treinos que podem conter corridas curtas de velocidade (sprints), saltos, corridas, movimentos de frenagem, etc., apesar de ajudar os jogadores a manter um condicionamento físico adequado, também, caso se intensifiquem sem que o indivíduo tenha o tempo de recuperação proporcional ao treino efetuado, pode ocasionar microlesões musculares.

A segunda observação feita foi em relação à busca de parâmetros que pudessem mostrar qual é o tempo correto de treino que um atleta deveria ter e o repouso necessário para que possa se recuperar, a fim de que não haja um desequilíbrio que provoque a síndrome do overtraining. Neto e et alli (2012) mostra que essa busca por parâmetros têm incomodado os pesquisadores das ciências dos esportes.

Chelles (2008) a ciência ainda não há encontrou parâmetros convincentes que possam detectar os sintomas que podem levar a síndrome de overtraining, apenas controvérsias e especulações. Contudo, entre os vários autores consultados, observou-se que as altas concentrações da enzima creatina quinase (CK) podem sinalizar esses sintomas. Essa enzima é produzida com a prática de exercícios físicos e ajuda a apontar micro lesões musculares que ocorrem com essa prática. Assim, o indivíduo que faz muitas atividades, mas não tem um repouso adequado logicamente adquirirá várias micro lesões musculares e, por conseguinte, terá uma alta concentração sanguínea de CK. Dessa forma, Neto e et alli (2012) aponta seguramente que em meio a vários métodos utilizados pelos clubes com maior pode aquisitivo para detectar os sintomas da síndrome de overtraining, métodos muitas vezes empíricos e sem comprovação científica, o uso do CK, um biomarcador, por ser solução.

As informações oriundas dos níveis de CK em cada jogador são importantes porque, sabendo disso, o treinador pode regular os treinos aplicados a eles, proporcionando assim um rendimento melhor do atleta nas partidas.

Por outro lado, a aplicação de métodos empíricos e sem comprovação científica pode agravar ainda mais o quadro sintomático dos jogadores. Além de trazer um prejuízo aos clubes que dependem dos atletas para representá-los nas arenas.

Assim, como os testes com enzima CK já apresentou resultados científicos, deveria ser utilizada largamente pelos clubes em geral em benefício dos jogadores e em benefício próprio. Embora muitos clubes de baixo por aquisitivo não utilizam técnicas empíricas ou nenhum parâmetro, as informações foram amplamente contundentes para que mostrar a necessidade que tem de buscar formas comprovadas de trabalho.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização da pesquisa chegou-se as seguintes conclusões:

O futebol é uma modalidade esportiva que exige um excelente condicionamento físico de seus atletas. Para a disputa de uma partida é necessário um leque de treinos intensos os quais exigem também um tempo de repouso adequado para a recuperação física e mental.

A síndrome do overtraining é o resultado do desequilíbrio entre a quantidade de treino ofertado aos atletas e o período de repouso ou de regeneração. Os sintomas de fadiga e depressão podem causar falta de rendimento do indivíduo. Quando no início chama-se overeaching e é facilmente combatido com alguns dias de repouso, mas a persistências nos treinos pode agravar esses sintomas, podendo chegar ao overtraining que exigirá um tratamento mais detalhado.

Há uma busca frenética dos pesquisadores das ciências dos esportes por parâmetros que possam apontar a quantidade ideal carga de treino e de regeneração que um atleta precisa para ter um alto rendimento. E que ao mesmo tempo, previna a síndrome de overtraining.

Dentre as várias opções de biomarcadores, a enzima creatina quinase (CK) tem se mostrado eficaz nessa prevenção, pois os testes científicos têm apontado que as altas concentrações delas no sangue indicam que o atleta pode estar com muitas microlesões musculares, resultado de treinos intermitentes sem repouso.

As informações oriundas desses testes são de grande valia para equilibrar os treinos e os repousos, propiciando uma maior qualidade de vida e de rendimentos aos atletas, sem falar nos benefícios adquiridos pelos clubes,

8. REFERÊNCIAS

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BULGARELLI, P. L. A razão testosterona/cortisol na avaliação do estado de treinamento de atletas de alto rendimento da modalidade futebol. 81 f. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Ciências da Saúde / Programa de Pós-Graduação em Educação Física - Universidade Metodista de Piracicaba. 2013.

CHELLES, C. Overtraining no futebol: detecção através de método multidisciplinar. Udof – 10 de Nov. de 2008. Disponível em: http://universidadedofutebol.com.br/overtraining-no-futebol-deteccao-atraves-de-metodo-multidisciplinar-2/. Acesso em: 20 de abril de 2016.

GARCIA, M. C. Concentração plasmática de hormônios indicadores de overtraining em jogadores de futebol. 108 fl. Dissertação (Mestrado em Biologia Funcional e Molecular). Departamento de Pós-graduação da Universidade Estadual de Campina, 2004.

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NUNES, R. T. Controle da carga de treinamento em curto prazo marcadores hematológicos, psicológicos, enzimáticos e imunológicos. 110 fl. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Programa de Pós-Graduação em Educação Física, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), 2010.

SILVA, A. S. R. da. Respostas de alguns marcadores bioquímicos de overtraining ao longo de uma periodização no futebol. Relações com as performances aeróbia e anaeróbia. 259 fl. Tese (Doutorado). Instituto de Biociencias do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, 2007.

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LeandroFreitasMenezes
Enviado por LeandroFreitasMenezes em 06/09/2016
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