De onde vem o que comemos

TRECHO DO MEU LIVRO "VEGETARIANISMO - UMA MODA OU UMA EMERGÊNCIA? (TÍTULO PROVISÓRIO)

O que sabemos sobre os bastidores da indústria que utiliza o animal morto como matéria prima e nos fornece, prontinho um produto acabado, delicioso, que só pelo barulhinho que faz sua embalagem quando o pegamos para examinar ficamos hipnotizados diante de tal oferta, quase nos envolvendo por completo, mental e fisicamente quando o aroma eventual nos permite diferenciá-lo? A gama de produtos industrializados que precisam de partes do animal morto em sua composição é incalculável. Se fôssemos veganos, e tantos o são, teríamos que investir uma boa dose de tempo dos nossos dias de compras, examinando aqui, dispensando ali produtos que não podemos levar para casa dada sua composição suspeita. Estaria dentro dos meus planos ser um vegano exemplar se não fosse esse inconveniente. Não deve ser nada fácil para eles identificar o que é e o que não é produto animal, já que é praxe tudo, desde a gelatina ao corante para cabelos levar em suas fórmulas pedaços de canelas, couro e vísceras desses animais, extraídos, é claro, após serem sacrificados. Logo, não adiante mesmo deixar de comer a carne e saber que, embutidos na sua refeição principal estão restos mortais do animal que você quis poupar ao não querer participar da cumplicidade generalizada. Mas fica o alívio em saber que aquele animal não foi morto com a finalidade precípua de fornecer o seu corante ou a sua gelatina, mas para oferecer sua carne aos não vegetarianos; logo se conclui que, se ninguém os utilizasse para alimento, não teríamos ou teríamos muito poucos produtos vindos de animais mortos, embora isso não possa ser cem por cento garantido.

Se você come carne e te disseram que ela é indispensável porque somos também feitos de carne, logo os nutrientes de um bife, seus aminoácidos e gordura vão reverter-se em seu corpo, tornando-o forte e musculoso, pense outra vez e avalie. Não é porque somos feitos de carne que temos que comer carne para nos fortalecer. Isto não passa de um mito e conversa mole de açougueiro. Comparemos um boi ou uma vaca ao ser humano, por exemplo. Falo em constituição física, claro, não em intelectualidade. Eles possuem como nós, coração, estômago, intestino e os demais órgãos. Passam pelos mesmos processos de ingestão, digestão, assimilação e excreção. Agora, observe os músculos de um boi, de um touro ou de um cavalo; observe sua força. Voltemos aos tempos das carruagens e das impressionantes viagens que atravessavam desertos, cidades e vilas, puxadas por cavalos em disparada, movidos por uma porção de feno e alguns baldes d’água. O que dá essa energia fantástica a esses animais capazes de se tornar protagonistas de filmes de faroeste, impressionando-nos com sua velocidade e destreza? A grama, as frutas, e as verduras e toda uma gama de produtos extraídos do solo, da natureza que nos cerca a todos. Por que não comemos o que eles comem em vez de comê-los a eles próprios? Isto não deixa de ser um contra censo e também a razão dos principais problemas que atingem o homem sobre a face da Terra. A comida influi sobre praticamente tudo na integridade de um ser humano. Ainda que comamos o que come uma cavalo, a diferença está em que ele não come aquilo que nós comemos; são muito mais inteligentes nesse sentido e sabem o que é melhor para eles. Quem os dotou desse instinto ou dessa inteligência? Foi a mesma Inteligência Superior que também nos dotou de instinto e de inteligência, muito mais esta do que aquele. Por que não temos a resistência, a força e a beleza física de um cavalo ou de uma vaca? Creio que, em ultima instância é porque não queremos ou porque somos estupidamente teimosos e masoquistas.

Se a sua dúvida ou o seu medo ao abandonar a carne é ficar sem proteínas, digo que não há o perigo de isso acontecer. A proteína é encontrada numa gama interminável de alimentos, incluindo a soja. Os veganos e os vegetarianos, sabedores e conscientes dessa necessidade, usam e abusam de sua criatividade ao criarem pratos que satisfazem os gostos mais exigentes. Faz-se de praticamente de tudo com a soja. E a soja é apenas uma das alternativas, embora eu não goste de utilizar muito essa expressão, pois dá a impressão de que a carne precisa e tem de ser substituída. Isto é outro mito que precisa cair por terra. Alimente-se bem, coma coisas variadas; não seja adepto de dietas da moda nem de regimes mágicos. Apenas coma de tudo um pouco; não se esqueça das nozes, dos cereais integrais e da soja, além comer sempre legumes e verduras frescas. Voltando a falar da soja, é onde encontramos as doses mais completas de proteínas. Já falamos sobre isso no primeiro capitulo do livro e vamos voltar a esse tópico da alimentação mais adiante. O importante é você entender que a preocupação excessiva com a alimentação, o que vejo demais acontecer pode ser uma fonte de doença gerada pelo medo e pela insegurança. Para evitar a armadilha moderna da nutrição mágica, dos conceitos não fundamentados em pesquisa séria e das fake news, arme-se contra isso, utilizando a intuição que Deus lhe deu, em seguida os especialistas e em seguida sua própria experiência prática. Não há quem conheça melhor o nosso organismo do que nós mesmos. O que te dá prazer e te faz energizado e feliz? Que mal isto poderia te causar, já que tanto prazer e alegria foram investidos? Creio que nenhum, contanto que você conheça seus próprios limitas.

Você já assistiu filmes ou vídeos sobre as origens daquilo que come no dia a dia? Não esqueça que comer é viver e quem come bem vive bem. Mas o que seria comer bem? Não é encher o prato e mandar para dentro até não aguentar mais de comida. Isto só vai te levar para o cemitério antes da hora. Espero que você não seja uma daquelas pessoas que, quando sente fome, para em qualquer lugar de onde emana aquele cheirinho delicioso, senta-se à mesa, faz o pedido e sai dali com o estômago forrado e satisfeito. Não há como invadirmos a cozinha de um restaurante para checarmos o comprimento do cabelo do cozinheiro ou a que distância fica a lata de lixo do freguês mais próximo. Penso que a confiança está acima de tudo. Não vá ficar também paralisado com o tratamento que dão às galinhas poedeiras, às vacas leiteiras e principalmente a via crucis de um porco ou de um boi até chegar a sua mesa. Pode ser que, mesmo antes de assistir a um desse filmes você já tenha se enojado e resolvido dispensar a carne de uma vez por todas. Quando falo de origem dos alimentos é da origem de todos eles, não apenas do de origem animal. Há instituições sérias de vistoria e aprovação das normas aplicadas à produção e industrialização de quase tudo o que comemos. Tirando as exceções, podemos nos tranquilizar quanto a isso. Tudo que passa da validade é descartado e jogado fora. Você tem certeza quanto a isso? Eu não tenho. Há muito que tomei a decisão de não me preocupar com nada daquilo que coloco para dentro do meu corpo. “Mas, espera aí, Edgard! Você pirou de vez? Não disse que temos que saber da origem de tudo que comemos?” Deixe-me tentar explicar.

A preocupação excessiva pode levar à morte prematura; não é por aí que as coisas funcionam. Você precisa comer, eu também. Então por que não fazermos um trato conosco mesmo? Isto é válido também para a alimentação. Se eu colocar uma comida no prato e essa estiver deliciosa, dificilmente irei rejeitá-la. Continuo sem saber sua origem. Continuo sem saber, mas sei que vou deliciar-me com ela. É como falei há pouco; o prazer é uma coisa individual e é o primeiro fator de saúde quando se trata de nutrição. Aborrecer-se, reclamando da comida vai provocar o efeito contrário em você e estou certo de que não quer isso. Comer preocupado, mal humorado e, pior, irritado com alguma coisa vão te trazer complicações para sua saúde e bem estar, não importa o quão rico de fator energético é aquilo que está ingerindo. Um pedaço de brócolis ou de batata podem de causar mal estar e até uma indigestão se estiverem estragados, mas creio que não irá comê-los nesse estado. Mas a vaca não te dá nenhum sinal de que está louca a não ser depois que você ingerir um pedaço dela; até porque você não sabe onde e como estava aquela vaca antes de ser abatida. Sendo assim, é muito melhor evitar a vaca ou o porco antes que desçam à mesa ou o frango gripado antes que pule do caminhão para o mercado do que rejeitar uns brócolis ou uma batata doce por que não estão tão fresquinhos. Já ouvi muito falar sobre vaca louca, gripe aviária e outros termos afins, mas não me lembro de alguma vez ter ouvido falar em tomate louco ou laranja gripada. Eles simplesmente falam para a gente: não me coma, pois já caí há muitas horas e não estou tão fresquinho como você merece.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 18/05/2023
Reeditado em 18/05/2023
Código do texto: T7791218
Classificação de conteúdo: seguro