O Realismo, o Romantismo e a Terceira Via

Para muitos, ser romântico é negar a realidade da vida, da mesma forma que ser real é não ter absolutamente nenhum romantismo. Entretanto, eu quero defender aqui uma Terceira Via que passe pela realidade da vida, mas que defenda o amor, o afeto, o companheirismo, a amizade e todos os demais valores românticos. Até porque, entendo que não seja possível pensar de outra maneira e por mais dura, real e até cruel, que possa ser a vida, ela sempre dependerá de momentos de descontração e de situações emocionais boas ou ruins.

Quando penso nas intrincadas relações entre os homens e da necessidade óbvia dessas relações serem sérias e verdadeiras, logo me vem à mente a realidade nua e crua da vida, porém quando penso que a realidade é muito dura, procuro aparar as arestas e suavizar um pouco os danos produzidos pelas complicações nas relações humanas. Os sentimentos que se sobrepõem à realidade nessa hora, não só mascaram sua dureza, como amenizam sua força, minimizam os seus danos e acalantam seus efeitos consequentes. Por isso mesmo me vanglorio em dizer: que bom que esses sentimentos existem e que nós humanos ainda somos capazes e senti-los.

O romantismo, embora para muitos, esdrúxulo e fora de moda, continua existindo e constitui-se num elemento fundamental nas relações humanas. Entretanto essas relações não podem ser apenas e tão somente românticas, porque assim elas “não dão liga”, não se complementam e fica faltando algo. Há necessidade de uma base concreta e real que justifique a relação.

É bom lembrar que ninguém ama por nada, assim como ninguém quer por querer ou faz por fazer. Sempre existe um algo mais, tanto real, quanto romântico, que justificam as relações e as ações que delas decorrem. Assim, não dá mesmo para separar o realismo do romantismo. Aliás, ao contrário, devemos relacionar cada vez mais essas duas extremidades do cordão da vida e procurarmos um ponto de equilíbrio entre as duas, porque aí certamente estará o melhor lugar. Isto é, nesse ponto é onde encontramos a melhor maneira de viver.

É esse o ponto de equilíbrio que eu estou chamando de Terceira Via, o qual embora naturalmente sempre tenha existido, até aqui, nunca foi efetivamente definido e muito menos estabelecido conceitualmente, mas precisa ser, para que se tenha a devida dimensão de sua importância nas relações humanas. Ainda que não entendamos bem o porquê, temos certeza absoluta de que uma boa razão não se faz sem paixão e nem uma boa paixão pode ser verdadeiramente boa se acontecer fora da razão. Ambas, a razão e a paixão são necessárias às relações.

Ora, isso é a própria Terceira Via, a qual se quisermos conceituar, poderíamos dizer da seguinte forma: “a Terceira Via é aquela maneira de pensar e de agir, na qual se estabelece a realidade da ação imperante mediante o sentimento efetivo daquilo que precisa ser realizado para o cumprimento dessa mesma ação”.

Pois então, sempre precisamos nos preparar e agora com um pouco mais de cuidado, para achar esse ponto de equilíbrio (encontro) entre a componente natural (real) e a componente emocional (romântica). Temos que estar cientes de que isso existe e de que isso é importante para nós e para as nossas relações com as demais pessoas. Nossa vida será melhor e a vida das pessoas que convivem conosco também será, se nos preocuparmos com o ponto de equilíbrio e se nos envolvermos mais conscientemente com a Terceira Via.

Até aqui, muitos de nós têm sido seres perigosamente reais e outros penosamente românticos, ou vice–versa, mas agora precisamos cultivar em nosso pensamento a necessidade de agirmos de maneira sóbria sobre essa situação que, embora filosoficamente seja contrastante, mas que também é fisiologicamente concludente e necessária ao nosso bem viver. Entender a necessidade da Terceira Via e praticá-la em nossas atividades poderá nos garantir melhores momentos, melhores dias e enfim, uma vida melhor.

Vamos trabalhar para colocar a Terceira Via na pauta das ações do cotidiano, a fim de produzirmos melhores homens e mulheres para o futuro da espécie humana. O equilíbrio entre o realismo e o romantismo deve ser a meta para o novo comportamento social da humanidade. O homem do futuro deverá ser um sujeito preocupado com a realidade, porém suficientemente envolvido nas questões emocionais para não cometer atitudes arbitrárias contra o planeta, contra os demais organismos vivos e principalmente contra a própria sociedade humana.

A truculência e o desleixo da humanidade contra a vida por conta das inúmeras razões possíveis, questionáveis ou não, devem dar lugar a ações mais altruístas e menos drásticas à luz do interesse maior da coletividade humana. O homem como organismo vivo e única espécie pensante do planeta deve ser capaz de estabelecer critérios claros e objetivos que permitam conduzir a nossa “nave espacial” dentro de padrões ao mesmo tempo razoáveis e agradáveis a todos que compõem e participam da intrincada teia da vida nesse Planeta Terra.

O planeta depende da Terceira Via para sua continuidade e cumpre ao homem a tarefa de fazer valer sua efetiva superioridade biológica, demonstrando que o perfeito equilíbrio entre o amor e a razão é a peça principal do quebra cabeças que temos pela frente. Não podemos mais nos dar o direito de errar. Agora é assim: ou acertamos ou perecemos. Infelizmente, não existe alternativa.

Não se sabe bem porque, mas a verdade é que a Evolução nos trouxe até aqui. Talvez por conta de um acaso fortuito que acabou sendo o caminho mais fácil e mais lógico ou talvez porque houvesse algum determinismo pré-estabelecido que nos tenha conduzido nessa direção, mas isso não nos cabe discutir no momento. Entretanto, hoje a realidade é diferente, pois nós criamos dificuldades outras que a própria Evolução ocasional ou determinada desconhece e daqui para frente, possivelmente por conta dessas dificuldades autocriadas, tenhamos que dirigir os caminhos da nossa Evolução para podermos continuar evoluindo.

O entroncamento entre a continuidade e a extinção da vida está aí, estampado na nossa cara e só nós podemos definir (escolher) o caminho a seguir. Só nós temos a chave para a continuidade da vida e do planeta e a Terceira Via certamente é o claviculário onde essa chave está guardada. Bom senso, talvez seja o melhor nome para a Terceira Via, mas infelizmente, o bom senso não tem sido uma prática humana costumeira, nem para os mais realistas e nem para os mais românticos. De qualquer forma, ainda há tempo e eu quero continuar acreditando no poder da Terceira Via e na capacidade de mudança e de adaptação da Espécie Humana.