Ela foi, ..., sem nunca ter sido!

Ela era muito jovem ...

Com a libido à flor da pele, já havia perdido a virgindade quando o conheceu.

Ele, bem mais experiente e maduro, recém saído de um casamento, concluindo sua graduação médica, exultou com aquele verdadeiro achado! 'Carne nova no pedaço', foi a expressão que utilizou junto aos amigos com que repartia uma república estudantil.

Jovem, cheia de vida, vitalidade e muito ‘tesão’, nossa heroína entregou-se ‘de corpo e alma’ aquele, que sob sua avaliação, era definitivamente o amor de sua vida, sua avassaladora paixão!

Como a Natureza não perdoa, em pouco tempo a constatação de uma não planejada gravidez...

Simulação de caos na família dela, haja vista as condições gerais da situação! Jovem, ainda desmiolada, grávida de um interno cursando Medicina, com pouca ou nenhuma remuneração ...

Porém, como o ‘culpado’ não fugiu de sua responsabilidade, menos mal, pelo menos não haveria mais uma criança sem pai solta no mundo e NUNCA iriam jogar na rua da amargura sangue do seu sangue!

E os tempos de avassaladora paixão prosseguiram, com as eventuais rusgas no relacionamento, provenientes da sensibilidade normal que despertam em grávidas, ainda mais em tão tenra idade, que surge em seu mais alto grau e também pela extrema dificuldade financeira enfrentada!

Com passagens pela casa da sogra (mãe/pai da menina ...) e de algumas locações precárias, o relacionamento prosseguiu.

Com o nascimento do filho, a situação tendia seguir um trajeto normal, haja vista que o outrora interno já havia ascendido ao posto de residente e já auferia um quantum bem mais razoável do que quando à época de interno. Porém, como quem está na chuva é prá se molhar, sem proteção alguma e com a libido de ambos ainda de vento em popa, adveio uma segunda gravidez!

Desta feita, a convivência do casal (incrementada com o terceiro elemento, o filho ...) deixava muito a desejar. As rusgas prosseguiram, agora com desavenças mais constantes. Com o trabalho inerente aos cuidados que se fazem necessários no bem cuidar de um bebê, mais a sensibilidade feminina que novamente aflorou devido à segunda gestação, somadas ainda a não total folga financeira, compunham o cenário para o ambiente se tornasse cada vez mais carregado.

Os que externamente assistiam ao relacionamento, não apostavam suas fichas no sentido de uma feliz continuidade da união.

E não se enganaram os que assim pensavam e apostavam em separação.

Outros aspectos juntaram-se aos já mencionados e que contribuíram em muito para uma dissolução da união, sendo o mais grave deles a desconfiança que passou a atormentar nossa heroína, no sentido de traição que lhe estava sendo soprada aos ouvidos, por alguns parentes, amigas, etc.

A gota d’água ocorreu com a constatação de que realmente ele a estava traindo. E para piorar este estado de coisas, descobriu a menina que a mais recente 'pulada de muro' do garanhão havia sido feita com sua própria irmã, alguns anos mais nova do que ela!

Separados, nossa heroína ainda conseguiu manter-se, utilizando pensão destinada aos dois rebentos que o procriador, à revelia de não haver transcorrido uma separação formal, não se furtara conceder.

Caso estranhíssimo ocorreu em pouco tempo. Um ex-companheiro da irmã que a havia traído com seu companheiro, acercou-se da traída e, em comum acordo, se juntaram!

Por sua vez, o traidor, que havia obtido o divórcio de seu primeiro casamento, contraiu matrimônio com outra pessoa que conheceu posteriormente.

Coisas inexplicáveis que se passam em nossas cabeças humanas racionais. Com aquela que lhe havia entregue sua juventude, lhe dado dois filhos, não houve por bem haver uma união estável, porém, logo que conheceu outra pessoa com a qual teve alguma afinidade, oficializou um relacionamento estável!

Há de se destacar, que com o tempo que se transcorreu, não houve qualquer indício de abandono por parte deste pai em relação aos dois filhos. Embora residindo em outro estado, à distância razoável do ‘habitat’ dos filhos, esteve sempre presente, orientando, acompanhando e procurando dar condições para que tivessem uma boa educação e razoável qualidade de vida!

Porém, esta nossa vida que nos prega peças incríveis, sem qualquer indício que denotasse problema que levasse a um final definitivo, o 'pai dos dois filhos' foi vítima de um mal súbito e quase sem tempo de um atendimento no hospital mais próximo de onde residia, veio a óbito!

Foi um 'corre-corre' geral!

A atual companheira, única testemunha ocular dos últimos momentos do falecido, também bastante atordoada, só teve a sensibilidade de telefonar, solicitando auxilio dos filhos!

Os garotos, por sua vez, também bastante atordoados com o golpe recebido nem sabiam exatamente como agir para os trâmites legais para dar andamento em todo o processo requerido para o ocorrido.

De qualquer forma, como o momento era de ação e não de retração, o mais novo deles, de imediato, rumou para o local da tragédia para auxiliar a ‘pseuda madrasta’ nos procedimentos finais que se faziam necessários.

Como o desenlace ocorreu em âmbito hospitalar, diferentemente de que se houvesse ocorrido em âmbito residencial, os trâmites cabíveis para liberação do corpo, tais como: translado para local apropriado para o velório, etc., não ocasionaram maiores transtornos.

E, após transcorrido o período legal no qual há o mantenimento do moribundo sob observação, sob uma comoção normal e dentro da limitação normal de pessoas afeitas a um comportamento comedido em todas as situações, dentre as quais destacavam-se: a atual companheira, devidamente confortada por aqueles que a tinham como fiel escudeira do falecido; a ex primeira companheira; a ‘cunhadinha solidária’ com a qual o ‘desencarnado’ teve um ‘affair’ e a mãe de seus filhos, que de todas, era a mais abatida e que não conseguia conter lágrimas e soluços, talvez sinceras em seu bojo, haja vista, convenhamos, em seu interior NUNCA haver entendido o porquê de haver sido preterida tornando-se, em situação inusitada, AQUELA VIÚVA QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO!