Sonhar? Ainda dá tempo?

Tempos duros que estamos enfrentando: desequilíbrio ecológico, assassinatos de menininhas, política abjeta, agrotóxicos nos alimentos, água envenenada, hipocrisia, desamor, inveja, ambição desmedida. O que nos resta? É tanta tristeza, tanto medo, tanta insegurança, tanta falta de confiança no mundo e nos outros, que o sonho ... ah, o sonho! ... acabou mesmo.

Fico pensando em como Lennon tinha a percepção apurada, pois depois que ele falou esta frase, nada mais foi como antes. Olho para trás e vejo que não há mais objetos de sonhos, de idealismo, de produção cultural. Está tudo empobrecido. O que antes movia os homens, hoje está ausente e, em seu lugar, o que temos é muita dor.

Os dourados anos 50 e as amizades, a boemia, os mistérios não revelados, deram origem a produções como a Bossa Nova, o movimento beat, o rock and roll...

Os rebeldes anos 60/70 trouxeram as utopias, o sonho, o idealismo, a busca por uma maior igualdade de direitos entre os homens e aqui ... ah, as lutas! ...tivemos o ideal de política voltada para o povo e os jovens tendo isso como mola-mestra de sua vida. Os movimentos em prol da igualdade racial, com os Panteras Negras... o maravilhoso Martin Luther King, Angela Davis. Veio a ditadura, mas a resistência foi o que de melhor o homem fez naquele momento. Havia um ideal! Quando tudo desmoronou, quando se perdeu a luta, chegou o movimento hippie, a filosofia oriental, o jeito blue jeans de viver.

Ainda havia o sonho sim! Mas esse se perdeu na escuridão das noites escuras em que as almas humanas têm transitado. O hippie deu lugar ao yuppie. A fraternidade e o desejo de coletividade deu lugar ao individual, à valorização pelo que se tem, deixando de ver o outro pelo que ele É. E nessa hora o sonho acabou!

O que nós estamos vivenciando hoje é um imenso vazio moral, ético, humano. Que valores estão movendo este mundo? A materialidade tomou conta de tudo. Há uma imensa urgência em TER. E, para alcançar isso, recorre-se à máxima de Maquiavel, onde o que importa é chegarmos lá, não fazendo diferença o caminho que seguiremos. É um vale-tudo gigante, onde se mata, rouba, frauda, calunia, trai, destrói!

Há uma total ausência de sonhos, de planos, de ideais. O que se ambiciona pode ser comprado no primeiro shopping que se encontra. Mas, coitados, é tudo tão descartável, resultando num vazio ainda maior que a própria morte.

O que nos resta? Como podemos suportar a falta de ideais, de planos, quando tudo o que temos são ameaças por todos os lados. Podemos sair e não voltarmos. Pode ventar tanto que corre-se o risco de perder a própria casa, reduto sagrado de reposição energética, de repouso, de paz! (Paz?!?!). O alimento pode nos trazer o tão temido e presente câncer, doença que parece epidemia neste início de século.

Há uma fórmula sim: como os freqüentadores do AA, podemos viver um dia por vez, sem planos, sem sonhos, sem ideais. Somente por hoje ... QUERO VIVER ...QUERO COMER ... QUERO TER SAÚDE ... QUERO VER MEUS FILHOS BEM ... NÃO HAVERÁ TSUNAMI, NEM VENTANIAS, NEM MAREMOTOS, TERREMOTOS E TODOS OS OTOS QUE ANDAM POR AÍ!

Somente por hoje ainda estou aqui podendo escrever a quem interessar possa.

Amanhã? Não sei. Não sei se ainda viverei, se serei atingida por uma dor terrível, por um desastre natural, uma bala perdida, uma doença maldita.

Lamentavelmente o homem não soube amar seus semelhantes, nem pensar neles como irmãos. Não protegeu a natureza de sua ambição tresloucada. E nós ... estamos ... sem rumo ..morrendo ... sofrendo ..sujeitos a todos os tipos de dores que o excesso de materialismo pode causar.

Que, apenas por hoje, vocês tenham um dia de PAZ!

Emar
Enviado por Emar em 28/04/2010
Reeditado em 26/08/2015
Código do texto: T2224834
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