Uma nova realidade

Grande parte da energia, que seria utilizada pelos instintos visando promover uma vida mais prazerosa ao indivíduo, segundo Herbert Marcuse foi canalizada para o trabalho. Marcuse não está afirmando que o trabalho não seja extremamente necessário para a construção de uma civilização organizada, mas, sim, que há um enorme equívoco quanto a sua conceituação e aplicação, isto é, o trabalho está exigindo do indivíduo uma profunda repressão dos instintos. Assim, tudo o que é requerido por meio dessa repressão instintiva se converte no mais puro instinto de dominação, que tem por principal objetivo, explorar e utilizar qualquer indivíduo a fim de perpetuar o princípio de dominação, alienando-o e mutilando-o, num certo sentido, também ideologicamente.

Num processo civilizatório que leve em conta todo este aparato crítico, elaborado pelo discurso filosófico, tal qual encontramos na rica produção de Marcuse, a primeira mudança que precisa ser feita reside na maneira como foram organizados os princípios que regulam a sexualidade do indivíduo, isto é, uma nova ordem que organize a sensualidade sem reprimi-la drasticamente deve passar a existir. Se o homem sentir-se realizado com o prazer proporcionado por outros órgãos do seu corpo (principalmente pelos seus órgãos de sentido), a sua maneira de agir será completamente outra. Assim, se a educação do indivíduo for dirigida convenientemente para um conteúdo anti-repressivo desde sua infância, com certeza a vida deste indivíduo será mais prazerosa. Dessa forma, o indivíduo não precisará mais agir de acordo com aquilo que é dito por aqueles que no fundo só querem se aproveitar da sua inocência, fazendo com que ele colabore para sua própria exploração.

Na medida, que o indivíduo venha criar e desenvolver novas formas de como resolver os conflitos emocionais que lhe são outorgados, irá se sentir livre para realizar tudo aquilo que mais deseja. Não estará aniquilado a ponto de viver se lamentando e sofrendo por não ter tido coragem de fazer o que estava sendo requerido por seu instinto primário. Sentirá mais alegria com uma vida mais simples, mas que será muito mais gratificante do que essa que é oferecida sob o domínio do princípio de realidade. É claro que isso pode parecer uma utopia, pois essa realidade não corresponde a nada do que já existe subjugado. Essa forma, porém, se tornará aceitável se o indivíduo for reeducado de modo que os desejos sexuais não sejam o único ou o mais importante fator moderador de sua postura. Não que esse tipo de realização deva ser abandonado, pelo contrário, o indivíduo deve ampliar os motivos pelos quais sente-se recompensado. Almejando uma vida cheia de alegria, com muitos momentos de não frustração. Se a fundamental atitude do indivíduo estiver em encontrar beleza, nas coisas na maneira como elas existem, sem procurar transformá-las em algo que lhe seja agradável pelas transformações que lhe são atribuídas pela cultura de massa, ele também vai deixar de acreditar que só será feliz se adquirir o que é dito pelos padrões pré-existentes.

O que falta, portanto, no indivíduo é uma aprendizagem que esteja relacionada com princípios de uma maior responsabilidade, mais amadurecimento para que assim ele adquira uma melhor capacidade para sanar esse conflito que foi gerado em seu inconsciente.

gilbertodetoledo
Enviado por gilbertodetoledo em 24/06/2010
Reeditado em 24/06/2010
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