OS RETIRANTES SOCORRIDOS - testemunho

-Na tarde de um certo dia, ao passar próximo de uma mercearia, tive um ímpeto de comprar uma boa porção de pão, presunto e queijo, além de um litro de leite. Não sei porque, mas eu sentia de descer pela rua Luiz Barreto e encontrar possíveis andarilhos, que naqueles dias havia muitos em Ribeirão. Não era raro vê-los na porta de alguma casa pedindo comida. Em meus sentimentos achava que deveria saciar a fome de algum que encontrasse por aquela rua.

Fui percorrendo-a até o fim, porém não vi nenhum daqueles pedintes, pelo que estava resolvido a ir pra casa sem realizar aquilo, que a meu ver seria uma boa ação.

Como não vira ninguém a quem eu pudesse oferecer o lanche, resolvi passar pela ponte, porém estava impedida em razão da prefeitura estar fazendo algum serviço no local. Diante daquilo eu parei pra verificar se conseguia atravessar de carro para a vila Carvalho, momentos em que vi lá em baixo, em meio a uma aboboreira, um homem procurando algo. Simultaneamente vi uma mulher e duas crianças, uma delas chorava. Percebi que a mulher tentava acender um fogo entre dois blocos, tendo e cima uma lata contendo algo para ser cosido.

Pelo que observei a mulher iria preparar algo para comerem. No momento tive a idéia de perguntar ao homem o que é que ele estava procurando em meio à aboboreira.

-Ó moço, se for do senhor esse terreno, eu peço desculpas, mas estou tentando achar uma abóbora pra minha esposa cozinhar para comermos pois estamos com fome.

Ao ouvi-lo dizer aquelas palavras, pensei em lhes ofertar o lanche que adquirira minutos atrás. Assim eu lhe disse:

-Tenho lanches no carro, se o senhor quiser posso doar-lhes.

-Oh! moço nós aceitamos sim.

Dizendo isso, ele subiu até onde me encontrava, momentos em que peguei os alimentos no carro e desci com ele até onde estava sua mulher e as crianças. Enquanto comiam, eu soube dos seguintes fatos:

-Somos de São Gotardo – disse o homem – Estamos indo para o estado do Paraná, porém conseguimos passagens só até aqui. Eu pretendia arranjar algum trabalho nesta cidade para ganhar alguns trocados pra continuarmos a viagem, contudo desde manhã que nada consegui. Estando sem dinheiro e sem lugar para ficar falei pra minha esposa que iríamos pousar debaixo desta ponte, já que o lugar está limpo. Ao ver uma aboboreira nesse terreno aberto, eu tentava achar uma abóbora para que ela cozinhasse e comêssemos.

-Por que o senhor não pediu comida em alguma casa?

-É que nós somos crentes de uma igreja por nome Congregação Cristã, moço. Lá Deus sempre nos ensina que nunca devemos pedir ou mendigar, antes devemos orar para que Ele faça as preparações. Achando este lugar fizemos uma oração suplicando a misericórdia de Deus em nosso favor. Certamente foi Ele quem o guiou para nos atender essa necessidade, pois pudemos nos alimentar e dar leite para as crianças.

Ao saber que eram uma família de irmãos saudei-os com a Paz de Deus, identificando-me como tendo e professando a mesma fé que a deles. Fiquei contente com o fato. Eu havia procurado algum andarilho para lhes dar alimentos e encontrara servos de Deus, peregrinos de Jesus Cristo, tendo necessidades, porém esperando nas preparações do céu.

Uma grande alegria se apossou do irmão. Sua esposa e até as crianças davam glórias a Deus por terem se alimentado.

Diante dos fatos achei por bem levá-los à casa de um irmão Diácono por nome Vicente de Carvalho, a fim de ter uma direção do que poderíamos fazer por eles.

Amorosamente fomos atendidos por aquele valoroso crente, que tomou todas as providências para que o irmão e sua família continuassem à viagem para onde se destinavam. Naquela noite pernoitaram em minha casa, para no outro dia seguirem em frente. Levariam alimentos e dinheiro suficiente para a viagem e alguns gastos extras.

Parece simples, mas foi uma grande preparação de Deus para aquele irmão, seus filhos e sua esposa, que por terem confiado em Deus, Ele os serviu. Além de alegrar-me a alma, já que o Senhor me usou para encaminhá-los aos seus destinos.

Trecho do livro "AS ESTRELAS DO MEU UNIVERSO" do autor

I. Coimbra "O Peregrino de Luzirmil"