Síndrome da traição

Prólogo:

"Uma inteligência emocional desenvolvida combate as causas da insegurança desditosa" - (Wilson Muniz Pereira).

"Vale mais romper de uma vez do que alimentar permanente suspeita." - (Júlio César).

"Um acesso de ciúme pode levar um homem a cometer ações tão indignas, que, uma vez passada a vertigem da suspeita, ele se encontre grandemente envergonhado." - (Jean-Baptiste Massillon).

"No banquete do amor, o ciúme é o saleiro, que ao querer verdadeiro empresta vivo sabor. Advirta-se porém ser erro temperar em demasia. O ciúme, por ser só sal um retrato, se posto demais no prato, não tempera, antes maltrata." - (Tirso de Molina).

O ciúme pode ser considerado uma insegurança, mas não igual a algo errado, afinal, não existe ninguém seguro todo o tempo. Desde pequenas, as crianças são ciumentas com os seus brinquedos, a mãe, o pai, irmãos (se houver). Isso prova que o ciúme – prefiro chamar zelo – é um sentimento natural do ser humano.

Ora, até minha linda cadela Jade, da gênese rottweiler, tem um ciúme doentio por mim e ai de quem ela cisma estar ameaçando sua posse (eu).

DESCONFIANÇA OU INSEGURANÇA?

Desconfiança ou insegurança, em vários momentos, fazem parte de nossas vidas. Seja em âmbito profissional ou pessoal. Quem não passou por isso? Desconfiança gera Insegurança? Ou a Insegurança gera Desconfiança? Podemos entender que as duas coisas andam lado a lado.

É fundamental notar que a desconfiança esteja sempre à procura de um motivo real onde se instalar e, de fato, nem precisa ser tão real assim: basta ser plausível e pronto! Ela se instala! Todavia, às vezes, é preciso se entregar mais, ser menos individualista.

Isto sim, gera confiança. E a atitude individualista gera desconfiança. Aí está a raiz psicológica da democracia aplicada ao campo dos relacionamentos interpessoais.

A desconfiança, em excesso, é um terrível sentimento que prejudica gravemente uma relação entre pessoas e consequentemente uma melhor integração no ambiente em que vivem, mas sendo ponderada, necessária e discreta, pode fazer bem e gerar satisfações entre os que se amam, convivem sob o mesmo teto ou labutam com um mesmo interesse, mormente profissionais.

Uma pessoa que está sempre a desconfiar de outras se sente num mundo hostil, onde imagina que todos a querem enganar. Sente-se acossada. Receosa, sofre com a possibilidade de ser traída, ludibriada. Algumas pessoas procuram a “sua verdade” durante todo o tempo.

Essa procura interminável é fonte de estresse, ansiedade, preocupação, angústia, sofrimento causado pelo inimigo invisível que lhe rodeia. O problema é quando isso passa a atrapalhar tanto sua vida quanto a do seu cônjuge ou até mesmo dos outros.

Tenho recebido muitas perguntas sobre como fazer com aquele marido ou namorado muito ciumento, ou aquela esposa ou garota que não sai do pé e que desconfia de tudo e de todos, vigiando todos os passos do convivente, esposo, amante, noivo ou namorado.

Uma coisa é certa: Ninguém sofre mais com a insegurança, do que o próprio desconfiado/inseguro. Trata-se de um grande desperdício de energia, prosperidade (evolução) e de vida! O que leva a pessoa a suspeitar muito é o saber pouco!

As pessoas deveriam dar remédio às suspeitas procurando saber mais do caráter do próximo (desde que a outra pessoa dê abertura para se conhecer), em vez de se deixarem sufocar por elas ou por seus fantasmas criados pela sua insegurança.

As suspeitas, que o espírito de si próprio gera, não são mais do que indeléveis zumbidos; mas as que são artificialmente alimentadas com falsas histórias, informações distorcidas, ditos maliciosos, conjecturas infundadas, pistas mal colhidas, essas possuem venenosos ferrões e por isso são capazes de fragilizar ou mesmo destruir amizades e amores sem-fim, relações familiares e profissionais.

Certamente, o melhor meio de abrir caminho na tenebrosa floresta das suspeitas é falar francamente com a pessoa de quem se desconfia. Dizer, de chofre, “você não é confiável e por isso estou de atalaia e sempre alerta!” porque assim ter-se-á a certeza de conhecer melhor a verdade do que se conhecia antes, e conseguir-se-á que a pessoa de quem se desconfiou seja de futuro mais circunspecto e dê outros motivos de suspeição.

AQUI CABE UM EXEMPLO BONITO DE SEGURANÇA E FIRMEZA DE CARÁTER COM SUPERAÇÃO DE TRIVIALIDADES.

19h45min - A linda esposa, Promotora Federal de uma Comarca da Paraíba, lia na sua sala de estar o livro: “Vencendo os traumas da infidelidade”, lançado no Brasil pela Editora Palavra. O digníssimo esposo Juiz Federal da mesma Comarca onde os dois prestavam serviços judicantes estava se refrescando com uma merecida ducha.

Ele, o insigne Juiz e amável esposo, teria um encontro às 21 horas, naquela noite, com amigos, professores, seus alunos e correligionários onde seria homenageado pelos excelentes serviços prestados à Faculdade onde lecionava.

O celular do magistrado começou a vibrar nas proximidades e mesa de centro. Espichando o pescoço feminil a doutora Andressa (codinome) viu que, no visor do celular, um nome feminino (Walquiria) piscava insistente.

Correndo até o banheiro do casal com o telefone na mão disse rindo e amorosa:

– Querido há uma chamada para você no seu celular.

– Quem é?

– É para você... É para você e não posso atender!

– Por que não pode atender?

– Porque a chamada é no seu celular... Só pode ser para você! – Excelente resposta da esposa exemplar que já encontrara provas (bilhetes perfumados entre livros jurídicos ou no "vade-mécum" assinados apenas com um desenhado “W”) – ela estava no final de sua leitura (Vencendo os traumas da infidelidade) auspiciosa e certamente sairia vitoriosa naquele embate consigo eivado de dúvidas e ressentimentos.

Ela sabia que apesar do cristianismo, judaísmo e islamismo, as três maiores religiões do mundo, condenarem o adultério, homens e mulheres, sejam de que cultura ou localidade forem, traem ou conhecem alguém que o fazem ou foram traídos.

E os motivos são muitos: desde uma curiosidade, provocação por prolongada abstinência, leituras e filmes incentivadores, conversa com amigas (os). Isso poderá gerar uma tórrida relação sexual, à busca de um romance ou o preenchimento de alguma lacuna em sua vida conjugal.

Sim. A ligação era para o digníssimo Juiz infiel que sempre usava o celular no modo vibratório. Este é um tema polêmico que divide opiniões. Há quem seja radicalmente contra, que jamais perdoaria uma traição e há quem seja mais condescendente, que consiga passar por cima disso.

Não perguntando nada ao esposo sobre a ligação da “Walquiria” a esposa segura e confiante NÃO SE ABORRECEU naquela noite enluarada, cujas flores de seu jardim exalavam perfume energizante, ela só quis pensar na frase que um dia leu de autoria do doutor Henrique: "Uma inteligência emocional desenvolvida combate as causas da insegurança desditosa". – O amantíssimo doutor Henrique estava em sua mente por uma razão singular: Ele sabia a diferença entre fazer amor e fazer sexo! Discretíssimo, ele saberia consolá-la quando fosse oportuno.

CONCLUSÃO

Infidelidade, nos Estados Unidos é “ter alguém por fora”. Suecos e russos “viram furtivamente à esquerda”. Os israelenses chamam de “comer de lado”. Os japoneses, “sair da estrada”. Enquanto na Irlanda “eles jogam à direita”, na Holanda não só “ficam estranhos”, como também “beliscam o gato no escuro”.

Aqui no Brasil, “pulamos a cerca”. Expressões bizarras e surreais para o um dos atos mais condenados abertamente e praticados secretamente no mundo: o de trair o seu cônjuge.

Mas, afinal, o que é traição? Por que traímos? Só o fato de pensar em outra pessoa enquanto está em um relacionamento fixo ou temporário já é traição? Ou somente quando se parte para as vias de fato, mesmo sem ter qualquer sentimento ou pretensões amorosas relevantes com o (a) outro (a)?

Parece que o homem tem mais predisposição e oportunidade para trair, mas ultimamente cada vez mais surgem mulheres que desejam enganar os maridos e com uma grande diferença, elas são mais discretas e mais cuidadosas. A outra diferença é que normalmente as mulheres não se querem divorciar para ficarem com o amante, os homens sim. Essa bobagem os tornam mais vulneráveis e mais tolos.

É certo que as mulheres muitas vezes empurram ou puxam os homens para a traição. Isso acontece quando as traídas não se cuidam. Engordam em demasia, perdem a libido, ganham rugosidades na superfície da pele (estrias), ficam possessivas, viram um "grude" insuportável, mas estes também não fazem nenhum esforço para evitar isso. A frase mais comum é: "Ela queria, eu não ia dizer que não".

Será que seriámos menos homem se por acaso recusassemos? O mal é que as mulheres para os homens são uma tentação, o desejo e a busca por prazer fala mais alto. Caso a pessoa seja bem resolvida emocionalmente terá forças para não se deixar levar pelo puro desejo.

O lado racional vai falar mais alto e reprimir todos esse impulsos. Por outro lado não é fácil encarar uma traição. Nessa selva de sentimentos prefiro observar tudo que ocorre e quem sabe, talvez tentar sobreviver sem a síndrome da traição, já que pelo visto num relacionamento espúrio, assim considerado pela sociedade hipócrita, só muda o enrredo. Os atores e as tragédias quase sempre são as mesmas.

É muito difícil de lidar com a situação, de uma forma ou de outra. Na teoria, a maior parte das pessoas vai falar que é imperdoável, que se perdoar uma vez, dará margem para uma nova traição. Mas na hora H, é quase impossível de prever o veredito. Os sentimentos entram no meio, brigam com o orgulho, ego, amor-próprio, juízo de valores e vira uma confusão inominável.

Não defendo e tampouco faço apologia à traição, que fique isso bem claro. Mas também não serei hipócrita de dizer que nunca traí e que talvez também haja sido traído algumas vezes. Quem sabe? Eu NÃO QUERO SABER.

O que leva um casamento ao fracasso, na maioria das vezes, é o fato de que a mulher um dia resolve vasculhar o fundo de suas gavetas interiores (sentimentos recônditos) e redescobre em si os valores, emoções que havia silenciado durante anos em relações amorosas muitas vezes sufocantes, mornas e rotineiras.

Um dia ela vai encontrar alguém que, adepto da discrição e extremada cumplicidade, deseja fazer da vida uma eterna novidade, que gosta de filmes, músicas, livros, animais, pássaros, armas, motos, carros, viagens. Esse encontro de pessoas afins dará início a um caso amoroso sem lindes.

Aí, meus diletos e fiéis leitores, igual a fala desconcertante de uma personagem do filme "Crimes e Pecados", de Wood Allen, “a gente é a soma das nossas decisões.” - Sem dúvida: Igual a tudo na vida material essas determinações trarão prazeres e sofrimentos inolvidáveis.

Ninguém gosta de ser traído. Fere nosso orgulho e nos perguntamos por que diabos isso aconteceu. Será que não fomos bons o bastante?

E perdoar também não é fácil. Sempre fica aquela cicatriz incomodando e a questão que nunca morre: Será que foi só essa vez?

E aquele criminoso e imperdoável aborto que a esposa quis fazer a qualquer preço e às pressas? Por que o marido não foi consultado? Ora, o óbvio não se escreve. Igual a um axioma o melhor mesmo é aceitar o indubitável para aplacar o ânimo maléfico.

Do outro lado, não há uma constante no ato de trair. Não quer dizer, necessariamente, que o traidor já não ame mais o seu cônjuge. Há gente que tem a necessidade de conquistar, mesmo já tendo um (a) namorado (a). Outras não sabem ser de uma pessoa só.

De qualquer forma, somente os envolvidos sabem o que é certo ou errado, e por mais que soe piegas, a melhor decisão é a preparação psicológica, sedimentada por uma boa cultura e excelentes leituras que faz o melhor juízo contencioso.

Nos Estados Unidos "consultores conjugais" criam seminários, livros e grupos de apoio para evitar que alguém saia da linha. Na França existe, porém certa tranquilidade em relação ao adultério sustentada pela política do "não pergunte, não fale".

Um dos conceitos mais interessantes é que para os franceses o adultério só acontece quando o parceiro descobre, ou seja, quando os sentimentos da pessoa oficial são afetados.

Na Rússia muitas mulheres não se importam em se relacionar (ou até mesmo seduzir) homens casados e suas esposas preferem fechar os olhos em relação às puladas de cerca do marido e garantir o estrogonofe nosso (deles) de cada dia.

No Japão as japonesas cultivam seus amantes, sem carregar qualquer tipo de culpa em relação ao ato. A nova geração está começando a lutar contra as milenares tradições a incorporar o amor romântico e fiel ao cotidiano japonês.

Na África do Sul a prostituição é tão forte que algumas meninas abarcam a profissão apenas no último dia do mês para conseguir arrancar algum dinheiro do pessoal que está recebendo seu salário.

Na Indonésia, país de cultura muçulmana, se divide em aceitar ou não a poligamia. Para alguns, a liberdade de um homem em ter até quatro esposas vai evitar que ele se torne um adúltero.

E no Brasil? Ah! Em nosso sofrido e eternamente adormecido em berço esplêndido Brasil há uma concupiscência generalizada e ostensiva. Todavia, enquanto os homens tentam e fazem de tudo para se auto-afirmarem como machos predadores, aqui e ali encontramos raras mulheres e homens pragmáticos que, iguais a Promotora Andressa (codinome) não mais esperam que tenha de haver total transparência no casamento.

Como assevera e ensina com sapiência o doutor Henrique: "Para um amor sem culpa todos deveriam aprender e compreeder que o sexo, entre os amantes, deverá ser apenas e tão-somente recreativo.".

Essas sublimes mulheres e raros homens que não são fingidos (hipócritas) acreditam que um pouco de mistério é sexy. E existem algumas coisas que realmente não querem saber.

É na obra de William Shakespeare, Otelo, que o terapeuta Kenneth C. Ruge encontra inspiração para intitular a síndrome do ciúme desmedido e irracional. O marido amoroso que, enlouquecido pelo ciúme, convencido por falsos indícios, assassina a esposa supostamente infiel para, na letargia do instante seguinte ao crime, enxergar sua inocência.

Nem todas as relações abaladas pela desconfiança e pela possessividade terminam como a dos personagens de Shakespeare, mas, certamente, nenhuma é capaz de manter-se intacta a longo dos altos e baixos do ciúme doentio.

A Síndrome de Otelo - Vencendo o Ciúme, a Traição e a Raiva em seu Relacionamento é Leitura imprescindível para todos que sofrem com essa perigosa emoção. Eu recomendo e assino em baixo.

Encerro este texto afirmando que para ter privacidade, uma pessoa precisa:

• Ter controle sobre as informações existentes sobre si mesma e

• Exercer este controle de forma consistente com seus interesses e valores pessoais.

Isto significa e vale escrever:

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, além de prever expressamente a tutela do sigilo das correspondências e comunicações telegráficas e telefônicas, instituiu a proteção contra as interceptações ilegais as comunicações e violação dos sigilos de dados, só permitindo a violação do sigilo de comunicações telefônicas nas hipóteses por si estabelecidas e na forma da legislação infraconstitucional específica.

O leigo NÃO SABE, mas abrir correspondência de outrem ou até atender a um telefonema que não lhe seja dirigido e tampouco autorizado atender É CRIME! Portanto, atender celular alheio nem pensar. Isso é válido para todos de comprovada capacidade racional e penal.