Viva Zumbí, um salve a todos os irmãos negros desse país...

Qual a cor do Brasil?

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2009 mostraram que apenas 48,4% da população brasileira se consideram brancos: e o restante?

Em 20 de novembro de 1695, morre degolado o Zumbi, do Quilombo dos Palmares, denunciado por um antigo companheiro. Ele comandava os escravos do local que diziam que era a Terra da Promissão. Foi o último líder da resistência do maior quilombo que a história do Brasil já conheceu.

O Último Guerreiro de Palmares...

Eu não diria que Zumbi foi o último, mas o primeiro entre os milhares que surgiriam depois dele. Zumbi não morreu, ele se multiplicou, renasce a cada dia e em um que se levanta contra a opressão capitalista, renasce naqueles inconformados que luta contra os abusos e os ranços da escravidão, que ainda se encontram presentes na cabeça de grande parte dos empresários, cargos de chefia, isso em todos os setores. Há aqueles que ainda exploram o trabalhador e os tratam como meros objetos, “recurso” humano a serviço de alguém.

POR QUE EXISTE O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NO BRASIL?

Demorou muito, mas saiu!

Passou muito tempo para que os políticos do Brasil reconhecessem que a Lei Áurea pouco fez em favor da população negra escravizada até 13 de maio de 1888. Todo mundo sabe que a Abolição não passou de uma negociação com a Inglaterra e que só foi feita porque era conveniente naquele momento, já não havia mais escravidão em outras partes do mundo nem na Europa e o Brasil, como sempre, é sempre o último a tomar decisões, retardando os processos históricos propositalmente, agiu da mesma forma ao tratar da questão de acabar com a escravidão. É triste e envergonha saber que o nosso país foi o último a libertar os escravos, e, além disso, o Estado ainda indenizou os senhores exploradores pagando alto por cada cabeça de escravo liberto. E os negros? O que levaram dos 400 anos de trabalho duro e sem nenhuma remuneração? Eles tiveram casa, tiveram emprego na indústria emergente da época? Os negros puderam se matricular nas escolas dos brancos e assim, obter uma formação para o futuro? Não, os negros foram simplesmente retirados das senzalas e jogados para os morros sem nenhuma garantia. Nessas condições, o negro teve que sobreviver à selvageria do novo capitalismo importado da Inglaterra: o “capitalismo selvagem”.

Substituídos por italianos o negro teve que retornar aos antigos “donos” após o episódio de 13 de maio, desta vez, para ser escravizado por duas vezes, e já que o negro estava livre por força de lei, os senhores, quando o via um negro retornar à fazenda implorando para ficar, aproveitaram para esfolar mais ainda o negro da abolição.

Do fim da escravidão, 1888 até o dia 20 de novembro de 2003 quando Lula sancionou o Estatuto da Igualdade Racial, passara-se 115 anos, e, se contarmos quanto tempo se passou de 1695, ano em que o bandeirante Domingos Jorge Velho assassinou o guerreiro de Palmares até o dia que em que a Lei de combate ao racismo foi sancionada, passaram-se 308 anos. A data estabelecida de 20 de novembro como Dia da Consciência Negra, criada pelo projeto de lei 10.639, de janeiro de 2003 e sancionada recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi mais que merecida. Esse dia 20 de novembro de 2010 merece a nossa reflexão, os próprios negros reconhecem que a “princesinha boazinha” só assinou a Lei Área por livre e espontânea pressão inglesa, e que não havia interesse algum por parte da filha do imperador escravagista em deixar tantos fazendeiros na mão e desesperados sem os seus escravos. Por isso, a abolição foi mal feita. Os negros nem puderam comemorar, e quem comemorou o extraordinário feito? O próprio branco, enquanto isso, na festa dos abolicionistas, os negros serviam vinho importado aos brancos, em taças de cristal. Hoje, passados os 122 anos do fim da escravidão ainda vemos os ranços desse aviltante e desumano tratamento dado aos negros presentes em nossa sociedade tão miscigenada. Olha o que lí numa matéria publicada pelo Estadão.com:

“O que poderia ser apenas um índice de sucesso, no caso de Netinho revela uma incômoda realidade: ele é o único negro apresentador de um programa nacional na televisão brasileira. Um desafio - que prefere chamar de responsabilidade - que encara com a tranqüilidade de quem costuma ver dar certo os projetos que abraça.

José de Paula Neto, o Netinho, foi bancário antes de ser líder do grupo de pagode Negritude Júnior. Hoje, esse músico criado em Carapicuíba, uma das regiões mais pobres da grande São Paulo, é também dono de uma empresa de comunicação visual, da grife de moda jovem 100% Cohab e da franquia de salão de beleza Fashion Hair. Quando se apresenta a desconhecidos, ele prefere ressaltar outras credenciais: a de embaixador do Fundo Cristão para Crianças e a de fundador do projeto Família Negritude, que cuida da educação de 1200 jovens carentes. Todos os negócios que mantém são fonte de renda para obras de cunho social.

Durante pouco mais de uma hora, entre reuniões com assessores, o músico falou ao Jornal da Tarde em um confortável escritório em Santo Amaro.

Netinho - Acho que o meu povo quer ver na tevê alguém com quem se identifique. Desde Wilson Simonal, que fazia programa de música nos anos 60 (Show em Si-Monal e Simbora), não há um negro trabalhando como apresentador. Acho que a Record, ao me convidar, está sendo corajosa e, de certa forma, pioneira.” (Estadão.com)

O racismo está nas escolas, nos quadros de formaturas, na mídia, nos jornais, nos filmes, nos programas infantis, por todos os lados, e até nas brincadeiras aparentemente inocentes e que damos risadas. Desde Wilson Simonal, que fazia programa de música nos anos 60 (Show em Si-Monal e Simbora), que não havia um negro sequer trabalhando como apresentador na televisão. Wilson Simonal e Netinho foram os únicos. Netinho hoje vereador em São Paulo, disputou o cargo de Senador e seria o primeiro negro a ser eleito Senador por São Paulo. Concorrendo pelo PCdoB Netinho ficou em terceiro lugar, perdendo a vaga para Aloísio Nunes do PMDB apoiado pelo PSDB. A participação dos negros no Congresso ainda é mínima, por isso precisamos refletir nesse dia. 20 de novembro é dia de luta contra todas as formas de preconceitos e, contra o racismo principalmente.

O racismo ainda está vivo. O que dizem as estatísticas?

Segundo os últimos índices pesquisados referentes aos Indicadores Sociais Mínimos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas):

- Crianças negras e pardas têm uma alta taxa de mortalidade, cerca de dois terços maior que a das crianças brancas de mesma idade.

- Criança negra, de até cinco anos de idade, tem 67% chances a mais de morrer do que uma criança branca.

- Para cada mil crianças nascidas vivas, 76 crianças negras morrem. Entre as crianças brancas este número é de 46 para cada mil.

- Entre os adultos, os homens e mulheres que trabalham com carteira assinada é de 41% para os negros e 58% para os brancos.

- Para cada 100 empregados, 51 sobrevivem com um salário mínimo. Destes 79% são negros.

- Em relação à sua inserção precoce no mercado de trabalho, os negros de 10 a 14 anos somam 20,5% em relação aos brancos de mesma faixa etária, com 14,9%.

- A respeito da área de ensino no país, cerca de 18% da população não sabe ler nem escrever. Deste índice, 35,5% são negros enquanto que os brancos detém uma margem de 15%.

- Em todos os níveis de escolaridade, a participação do branco é sempre superior em relação aos negros.

- Dentro do mercado de trabalho, em média, o negro ganha mensalmente R$ 300, a metade da média salarial do branco que é de R$ 600.

- Mesmo considerando que um branco e um negro, por exemplo, tenham o mesmo nível escolar, é constatado que o negro é economicamente inferior ao branco, recebendo o equivalente a metade do salário de um branco. É importante ressaltar que a maioria dos trabalhadores no Brasil é composta por negros.

- Levantamento realizado pelo Ministério da Justiça aponta que a quantidade da população carcerária é constituída por 95% de pessoas pobres. Dentro dessa porcentagem, 65% são negros. Além disso, 27% dos brancos respondem em processo de liberdade, enquanto que apenas 15% dos negros tem este direito.

- Um outro dado revela que 42% dos brancos que estão presos apresentam testemunhas de defesa ao tribunal e somente 25% dos negros conseguem apresentar este tipo de prova.

- Em relação ao índice de condenados que são absolvidos, os negros detém uma porcentagem de 27% e os brancos chegam a 60% de absolvidos.

- Apesar de haver mais de 65 milhões de negros no país a maioria é de analfabetos, tendo o menor salário, representando a grande maioria da população carcerária, bem como nas favelas e no subemprego e sendo a minoria nas universidades e no mercado de trabalho. (dados extraidos do site Olha o que lí no site http://www.pco.org.br/conoticias/negros_2004/8ago_situacao.htm)

Todos esses dados justificam o porquê do dia 20 de Novembro ter sido escolhido como o Dia da Consciência Negra no Brasil. Essa data serve também para desmistificar a mentira da abolição e mostrar a quem de fato ela serviu. Dizem que ao invés de os negros ficarem livres da escravidão foram os senhores que se libertaram do escravos, então, fazendo uma leitura inversa, veremos que a abolição foi um mal necessário aos senhores que viraram patrões nas indústrias das grandes cidades. S velhos barões do café tornaram-se os nossos empresários bem sucedidos, porém, a velha mentalidade escravagista ainda percorre em suas veias e ainda contamina os cérebros dos senhores boa vidas de nossa sociedade que nunca quis e nem quer distribuir renda para mudar a realidade da maioria da população pobre e negra desse país.

Viva Zumbí de Palmares...

Viva a todos os descendentes de escravos e quilombolas do País...

Salve Zumbí!