A mulher e o desafio da violência na contemporaneidade

A mulher e o desafio da violência na contemporaneidade

Na atualidade a mulher enfrenta uma série de desafios e dificuldades: competição no mercado de trabalho; luta por direitos igualitários; lidar com vários papéis sociais, trabalhadora - dona de casa – estudante, entre outros desafios. Porém, destacaria um desafio que a mulher tem diante de si, e que muitas vezes torna-se um desafio ligado à própria sobrevivência, trata-se do desafio de vencer a violência. Desde 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou que 25 de Novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Está data tem uma grande importância simbólica, pois mostra que este é um desafio à nível global, algo que afeta mulheres do mundo todo, da mais remota vila afegã, passando por grandes metrópoles, até o vizinho ao lado. Segundo definição da Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, adotada pela Organização dos Estados Americanos, OEA, em 1994), a violência praticada contra a mulher é “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”. Tendo isto em vista, a questão da violência contra a mulher deve ser encarada como um problema de saúde pública, portanto, os profissionais em formação e os já atuantes precisam estar preparados para lidar com este problema, e é preciso também que o tema seja debatido abertamente pela sociedade, sem hipocrisias ou preconceitos.

A violência e o preconceito contra as mulheres é algo tão antigo quanto a própria humanidade, mas por que depois de milênios de evolução de pensamento e civilização, o homem ainda continua a agredir a mulher física, moral e psicologicamente?

E como vencer este desafio de uma violência que muitas vezes parte de dentro da própria casa e é silenciada por uma espécie de pacto social, que pode ser traduzido pelo famoso ditado popular “em briga de marido e mulher não se mete a colher”?

Tentar responder tais questões é de suma importância, pois o simples fato de refletir sobre elas já é um movimento extremamente benéfico e é o primeiro passo para uma tomada de atitude. Que vai de encontro à posição de “em-cima-do-murismo” adotada por muitas pessoas.

Para responder a primeira questão é preciso ter em mente que em praticamente todas as sociedades antigas, Egito, Pérsia, Grécia, Roma, China entre outras, a mulher possuía um papel menor na sociedade, invariavelmente submisso ao homem, logo o preconceito e violência contra a mulher era visto como normal, pois a mulher não era um indivíduo com direitos plenos. Outro fator importante que durante toda história fomentou atitudes preconceituosas para com a mulher é o fator religioso. As religiões católica e islâmica por exemplo, de um modo geral tem uma atitude excludente e culpabilizadora diante da mulher: começando pelo catolicismo que culpa a mulher pelo pecado original, além de utilizar de uma “metáfora” claramente machista para explicar sua criação, o ápice da violência católica contra as mulheres ocorreu durante os tempos da inquisição, onde milhares morreram na fogueira acusadas de bruxaria. Já o islamismo até hoje em dia choca pela forma como trata a mulher, pois toda a tradição do Islã proíbe as mulheres muçulmanas de ocupar posições religiosas e de estudo, além de obrigarem-nas a cobrir todo corpo com as chamadas Burkas. Enfim, a cultura que herdamos de civilizações passadas aliada à ensinamentos religiosos preconceituosos tornaram-se fortes alicerces para o preconceito e violência contra a mulher, é preciso refletir se em pleno século 21 ainda devemos ficar ligados a valores tão arcaicos e perniciosos.

Para responder a segunda questão, é preciso analisar que como dito antes, a mulher historicamente foi condicionada a uma posição de submissão, e por mais que nos últimos 100 anos tenha ocorrido uma evolução em relação a seus direitos de igualdade diante do homem, é impossível neste curto espaço de tempo histórico, apagar milênios de opressão. A mulher vive uma situação conflitiva, pois ela demanda liberdade e autonomia, e o homem, ainda em grande parte produto de uma sociedade patriarcal e fálica, entende que sua autoridade (virilidade) é colocada em xeque pela mulher moderna. Segundo Leal (2009): Uma das formas mais comuns de violência contra mulheres é a violência praticada pelo parceiro íntimo. Isto signifca que as mulheres sofrem violência dos maridos, namorados ou companheiros – atuais ou passados. Segundo SOARES (1999), Leonor Walker elaborou um estudo onde estabeleceu estágios para o ciclo da violência que acontece em três fases distintas: a) uma 1ª fase em que a crise se desencadeia, em que surgem discussões decorrentes da acumulação de tensão dentro e/ou fora de casa, com aumento de ansiedade; b) uma 2ª fase em que surge o episódio agudo, com explosão de violência e no qual o autor descarrega a tensão sobre a vítima, independentemente da sua atitude; c) uma 3ª fase, chamada de lua-de-mel, em que surge o arrependimento e as promessas de alteração de comportamento. Estas três fases se sucedem em uma espiral, com episódios agudos cada vez mais intensos e com um ciclo cada vez mais curto. Portanto, a violência cometida por companheiros ou ex-companheiros é a mais comum, e como envolve questões familiares, emocionais e sentimentais, torna-se mais dificultosa de ser trabalhada, mas aqui é importante frisar que esta dificuldade não é um salvo-conduto para a omissão, é necessário mobilização da sociedade para esta questão, é preciso sim, “meter a colher” nestas questões, pois como já foi dito, este é um problema de saúde pública, onde o que está em jogo é a saúde física e psicológica de milhões de mulheres.

Enfim, a mulher contemporânea enfrenta desafios colossais, mas o prognóstico é bom, e creio que no alicerce da mudança está a própria tomada de consciência que a mulher precisa ter acerca do seu lugar na sociedade, e como primeira educadora, responsável pelos primeiros passos de todo homem, cabe a mulher, começar desde cedo a cimentar sua importância e a criar nos filhos, e consequentemente nas gerações vindouras, uma consciência de igualdade entre gêneros. Os próximos passos da evolução humana enquanto sociedade, estarão intimamente ligados a libertação feminina dos fantasmas fálico-patriarcais do passado, no futuro a mulher vencerá estes desafios, deixando a opressão sofrida para os livros história.

Bibliografia consultada:

LEAL, Andréa Fachel. Violência contra a mulher, um problema de saúde pública. In: http://www.cartamaior.com.br

FUNCHAL, Ilda Freitas. Violência contra as mulheres nas relações de intimidade: Uma questão de igualdade no contexto social actual.

SOARES. B. M. Mulheres Invisíveis-Violência Conjugal e Novas Políticas de Segurança.

Ed. Civilização Brasileira, R.J. 1999.

Washington M Costa
Enviado por Washington M Costa em 01/12/2010
Código do texto: T2647527
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