O Perigo Símbolos

Neemias Félix

Nada melhor do que o período de Natal para nos fazer refletir sobre os símbolos. Nem tanto sobre a importância deles, mas principalmente sobre o perigo que eles podem representar.

O dicionário Michaelis nos informa que símbolo é “qualquer coisa usada para representar outra, especialmente objeto material que serve para representar qualquer coisa imaterial”. Assim, o leão é o símbolo da coragem, enquanto a pomba com um ramo de oliveira na boca é o símbolo da paz.

Até aí, tudo bem. Símbolo é representação e é inevitável a faculdade humana de imaginar, associar, criar e, para sintetizar melhor suas idéias e crenças, usar um sem-número de símbolos, ícones, sinais e imagens. Tudo isso é objeto de estudo da complexa ciência da semiologia ou semiótica. Aliás, tão complexa quanto antiga.

O perigo está na linha tênue que separa o símbolo do objeto simbolizado. Exemplificando de maneira bem simples, é preciso lembrar que a pomba apenas simboliza a paz, mas não é a paz; assim como carregar um crucifixo pendurado no peito ou a Bíblia embaixo do braço não torna necessariamente o homem cristão, na melhor acepção da palavra.

Numa pesquisa simples em sala de aula alguns anos atrás, perguntei aos alunos o que a palavra Natal os fazia lembrar. Não me admirei quando ouvi palavras como Papai Noel, presente, árvore e brinquedo aparecerem,

sendo que o nome do bom velhinho obnubilou a figura de Jesus Cristo, única razão do Natal. Papai Noel passou a ser símbolo dessa época, foi alçado à categoria de protagonista, enquanto Jesus se transformou num insignificante figurante de sua própria festa!

Aprofundando um pouco mais a questão, chega-se a um quadro ainda mais desalentador. Nele não há mais perigo, mas tragédia. Refiro-me ao estágio, talvez último, da influência do símbolo e suas consequências funestas: o da superstição. Uma das manifestações dessa praga milenar consiste em atribuir poderes sobrenaturais a coisas materiais. Infelizmente um cristianismo supersticioso gerado no seio do romanismo da Idade das Trevas e que se havia enfraquecido com os bons ventos da Reforma ressurge e recrudesce mais forte que nunca também nas chamadas seitas neopentecostais. Reconhecer a cruz, por exemplo, como um símbolo importante do cristianismo é uma coisa; atribuir a dois pedaços de madeira cruzados ou a qualquer objeto-símbolo poderes sobrenaturais é uma ignorância inominável que está mais para voduísmo do que para prática cristã.

É por isso mesmo que a humanidade, inclusive o cristão nominal, se afasta cada vez mais da realidade simples e verdadeira do Criador para chafurdar na idolatria das coisas criadas, no misticismo ignorante, na crendeirice, na contrafação, no pântano insólito e visguento do obscurantismo. Quem assistiu a “O Exorcista” viu a inocuidade das fórmulas mágicas e dos rituais, dos objetos “sagrados” com supostos poderes: apesar de parecer que a menina tenha ficado livre dos ataques satânicos, os exorcistas são claramente derrotados pelo diabo. Ele apenas muda de corpo e simplesmente envergonha e mata os dois religiosos “cristãos”. Apesar de ser uma obra de ficção, o filme retrata bem o fim daqueles que dão ouvidos às fábulas e não se firmam na realidade cristalina e segura da Verdade de Cristo e da Palavra de Deus.