Desde a Copa de 78 venho torcendo veementemente contra a seleção Argentina. No jogo de sua desclassificação contra os alemães nesta Copa de 2006, desejei que a Argentina fosse desclassificada e, naquele dia, gostei de ver o técnico desesperado tentando "arrumar a casa" e o choro dos seus jogadores ao término da disputa de pênaltis.
     
     Os dias se passaram e chegou o jogo do Brasil. Não vencemos. Não jogamos. Não fizemos nada! Sequer choramos. Não vi o técnico da nossa seleção levantar e chamar a atenção dos jogadores durante o jogo. Sua reação foi medíocre: frio e apático, tal qual a seleção que dirigia.

     Na coletiva disse que era muito difícil estar ali justificando a derrota da seleção e que nunca tinha imaginado passar por aquela situação. Ora, esse pensamento deve ter sido passado aos jogadores. O clima de invencibilidade deve ter sido difundido entre os mesmos. Daí resultou o que vimos na partida entre Brasil e França: uma seleção sem raça, sem brio, sem nada.

     Antes do início do jogo era risinho pra cá, risinho pra lá e troca de cumprimentos com os franceses. Quando o jogo terminou houve apenas olhares lânguidos e a retirada rápida, sem comentários: covarde.

     Mas e o choro?... E o ajoelhar no gramado? E o bico na bola?... E as lágrimas de choro misturadas com o  suor?... Não houve nada disso. O jogo terminara e somente neste momento me veio a imagem da desclassificação argentina. Notei, então, como tinha sido injusto com os nossos vizinhos e senti inveja daquilo que antes havia zombado.

     Quem dera minha seleção tivesse gritado, brigado pela bola, chorado para o mundo ver seu  sofrimento, sua humildade e seu valor. Mas as estrelas não baixam a cabeça. Estão acima de tudo e de todos. São intocáveis.

     Sinceramente, queria ver nosso técnico gritando, brigando com os jogadores e estes jogando com garra, botando a cabeça no pé dos franceses, comendo a bola. Mas nada disso aconteceu. Saíram do campo friamente, beijando os franceses e cabisbaixos. Pela primeira vez senti vergonha da Seleção Brasileira e, se pudesse, pediria desculpa aos argentinos pelo que fiz e pensei quando da sua desclassificação. Para mim, a mágoa de 78 está apagada.



Texto publicado no jornal TRIBUNA DE MINAS de Juiz de Fora
em 05 de julho de 2006, página 2
com o título: Copa do Mundo