PECADO & CASTIGO

PECADO & CASTIGO

J. Torquato B. Filho

Maceió/fev/2011

Tinha uns tres ou quatro anos, na persiana aberta da porta da frente da residência, o único portal da liberdade, avistei a menina de minha idade que da porta da casa em frente, me dizia alguma coisa, era linda com suas longas tranças douradas e enormes olhos verdes, tinha o rosto afogueado de um lindo vermelho às faces, no meu modesto dicionário ainda não entendia direito as palavras, mas aquele rosto me relembrou alguma coisa dita pelos mais velhos, Bocheta assim eu entendia a palavra Bochecha destinada aos lados rosados do rosto. Então gritei; tua bocheta está linda, vermelha !!!! enquanto ela ria do outro lado da rua, eu sentia algo como uma pedrada que imediatamente queimava a minha “Bocheta”, não era minha timidez diante da audácia, era o tapa aplicado pela minha avó, ardeu e doeu, e enquanto eu imaginava o que tinha feito de errado pensando em mil e uma desculpas, já distribuía caroços de feijão ao chão da cozinha para eu me ajoelhasse nele, eu ainda não atinava para o Pecado, mas o castigo ali estava, além de um terço para mim rezar em tom alto cinqüenta vezes, enquanto o chicote, vinagre e sal escorria nas minhas costas. No meio das minhas rezas, já solitário no chão da cozinha, eu ouvia minha avó bradar para outro adulto que chagara a sala de visitas que eu tinha dito um palavrão que certamente tinha aprendido com Algum marginal que nem sei onde tinha se me deparado. Na falta de oportunidade deste encontro devidamente observado pelo visitante, então caiu a culpa no demônio onipresente. Bem eu sabia não ser nada disso, sabia que tinha ouvido a palavra de minha mãe ou de minha avó, mas sabia também que certas palavras adultas, não se fala. E nunca mais falei Bucheta até meus 12 anos de idade.

Assim o sertanejo também não sabe de sua culpa qual seu pecado, mas paga o castigo de viver catando gotas de água, sobrevivendo num inferno cáustico. O Menino de rua olha nos grandes restaurantes, clubes e shoppings seus semelhantes até em idade, com condições de vida inexplicável para ele, qual é sua culpa para ter castigo tão absurdo de ser da rua, sem posses, sem dono?

Observando assim, as religiões se omitem ao responder a um absurdo de pergunta: que foi que eu fiz?

Que tal descer do altares e púlpitos, para explicar a nós miseráveis que não, não cometemos nenhum pecado, mesmo porque pecado não existe, o Pecado foi criado para que o poder tenha forças. E mostrando a taça do Perdão como um ouro em vislumbre de miragem. O Perdão é materialmente a força monetária do monstro criado e cria, auto incubado. O perdão do pecado é fruto da criatividade mental do homem associado a Deuses que odeia a humanidade. Criou-se Adão, Eva e o fruto, e daí já a serpente se meteu no meio mostrando a humanidade que o PECADO É FEMININO, RASTEJANTE E VIL, e que para tentar é também vistoso e saboroso, isto é É PECADO TER NASCIDO COM OS 5 SENTIDOS, é pecado tudo que for doce, terno, bom, saboroso, bonito. E para perdoar o poder do perdão para um... humano ungido pelos deuses criadores do PECADO do que DEUS fez de bom. Só não tem perdão para o pobre sofredor da fila do Posto de Saúde em Alagoas do Mundo inteiro, porque não tem dinheiro, poder financeiro, para comprar o tal PERDÃO.

Portanto sofredores do mundo inteiro, vigiai porque pode, a qualquer hora, na presença sempre onipresente dos MAIS ALTOS representantes da lei dos deuses, sem querer, dizeres: BUCHETA.