COTAS PARA NEGROS

Democracia é a possibilidade de convívio na diferença. Seja ela de cor, gênero, credo, raça ou cultura. É fundamental que os governantes se unam para abrir a discussão a respeito de tão complexo assunto.

O debate aberto deve ter como objetivo reconstruir e repensar as representações simbólicas e reais de nossa sociedade, marcando as devidas diferenças, porém em novas bases.

Não há dúvidas de que o desconhecimento da realidade por parte do grande público ajuda a polemizar as propostas da assim chamada “ação afirmativa”.

Agora é o momento. Nos próximos meses, nossas Universidades públicas (USP, UNICAMP e UNESP) estarão posicionando-se a respeito.

Pensar é o que muita gente acha que está fazendo, quando está apenas rearrumando seus preconceitos. Estou certo de que a abertura do debate importa mais que o possível consenso.

Como movimento programático de reforma, a educação é o veio para garantir igualdade nas escolas. Neste contexto, os segmentos mais liberais do movimento negro consideram, que uma de suas metas centrais é desenvolver uma idéia de tolerância multicultural.

Trata-se de um grande movimento cultural pela equidade de oportunidades educacionais e pela qualidade de vida.

Neste sentido, uma política multicultural prevê acesso às escolas para todos, aplicação de propostas educacionais flexíveis, as quais compreendam que há capacidades cognitivas diferentes e oportunidades distintas de familiarização cultural.

A meu ver, somente com ações afirmativas como as cotas, em caráter provisório, é que conseguiremos, minimamente, permitir que os afrodescentes acessem ao patrimônio da humanidade, visando ao equacionamento da relação entre a identidade e o itinerário educativo dos alunos provenientes das camadas populares.

Não devemos mais nos esconder a fim de nos proteger. Devemos aprender a desejar e amar, mesmo que de forma conflituosa, em vez de trair nosso desejo com fantasias de harmonia.

A adoção de cotas funcionará com aquele grande mestre que se qualifica pela originalidade do sistema de idéias que propõe, pelas inovações teóricas que apresenta e pelas novas interpretações do mundo que introduz.

Por qualquer indicador social que se queira avaliar, os afrodescendentes são destacados como o segmento social de maior vulnerabilidade.

Concordo com a antropóloga Alba Zaluar que ao ser indagada a respeito do primeiro negro no Supremo Tribunal Federal, respondeu que: “a justiça tende a funcionar melhor quando incorpora pontos de vista diferenciado dos diversos grupos que compõem a população . O que é simbólico é real. Um negro ou uma mulher podem, sim, imprimir um novo olhar ao Supremo”.

Cabe ao governo apontar e se utilizar de mecanismos que possam funcionar como “a mão invisível” do economista Adam Smith.

Aos refratários à proposta, faço apenas uma menção dentre as várias que assolam a comunidade negra. Falemos da seara médica. É freqüente, neste grupo, prognósticos de diabetes tipo II, miomas, hipertensão arterial e anemia falciforme, por exemplo.

A pergunta é a seguinte : o que levaria um médico atrelado ao paradigma do biotipo superior, ou seja, branco, saudável, não portador de deficiência, urbano, heterossexual; a estudar doenças que acometem pessoas as quais ele não tem nenhuma ligação fora do consultório?

Primo pela política de compensação, porém, nunca como algo ressentido. A esperança do mundo pode estar na revolta, que, etmologicamente, significa “dar meia volta”, por não concordar com o caminho até ali trilhado; todavia, não há esperança no sentimento intoxicado do ressentimento, o qual destila negatividade e nesta se perde por inteiro.

Estejamos certos de que mais grave do que a miséria dos famintos é inconsciência dos abastados.

Se alguém ainda tiver dúvidas quanto a importância dos desdobramentos desta ação afirmativa pergunto _______ por que será que ela está a cargo da Secretaria de Justiça?

Aguardo o seu e-mail.

Ronilson de Souza Luiz, Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Doutor e Mestre em Educação na PUC/SP, Bacharel e Licenciado em Letras pela USP, Instrutor no Centro de Formação de Soldados.

Ronilson de Souza Luiz
Enviado por Ronilson de Souza Luiz em 28/02/2011
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