MONOLOGADO

Pobre mídia, pobre telespectadores, ou seriam privilegiados?

Vivemos hoje em um mundo onde a evoluída parafernália digital nos mantém informados a respeito de tudo e de todos. Facilmente, tomamos conhecimento sobre o que se passa no Brasil e no mundo. Minuto a minuto chegam as notícias, sejam elas boas ou más. Mas até que ponto isso é bom?

Sequestros, rebeliões, assassinatos e grandes assaltos estrelam na tela da TV todas as noites — e de dia também. O rádio e a internet reforçam a transmissão e, mesmo sem querer, a gente acaba tendo que engolir a informação de um jeito ou de outro.

Vivemos em um país democrático, quem não quiser ver que não veja! Mas temos a opção: não! Não quero ver cenas de violência!? A maior parte das pessoas gosta de ver isso. São feito urubus. Onde tem um morto ou ferido, aglomeram-se ao redor. E quem não teve o “privilégio” ou o “sacrilégio” de ver, é só acessar a internet que a foto está lá: com todos os detalhes da tragédia. Dependendo do site acessado, a pessoa vê sangue espalhado pelo chão, rostos desfigurados e apenas um simbólico desfoque sobre as fraturas expostas.

A mídia é burra! Relata de forma bastante didática e com minúcias o passo a passo do roubo do apartamento X, ou nos dão a receitinha pronta da bomba ou arma caseira fabricada pelo bandido Y. Assalto às joalherias? Só faltou divulgarem um anúncio dizendo: NEGÓCIO LUCRATIVO, ENTRE VOCÊ TAMBÉM PARA O MUNDO DO CRIME! Estupidamente a TV mostrou qual foi o valor levado pelos assaltantes e qual é a média de lucro diário de uma joalheria de shopping. Sei também que aqueles seguranças de dois metros de altura dos shoppings não podem usar arma de fogo. Quer mais? Até eu sei os passos para se forjar uma pessoa. O que faço para fazer um seqüestro por telefone e onde posso conseguir os nomes e até números de CPF de pessoas idôneas e cheias do dinheiro. A TV, o rádio e a internet contam tudo. São as maiores escolas que um vagabundo pode ter na vida.

Não assisto mais à TV aberta. Quero parar também com o rádio. Estou fazendo um protesto. Um tímido protesto contra as bobagens que me querem “enfiar goela abaixo”. O problema é que preciso da internet para trabalhar. Preciso me manter informada sobre os diversos assuntos da atualidade, pertinentes a minha área de atuação.

Democraticamente, faço uso do meu direito de não querer saber sobre os outros assuntos. Mas o sistema me diz que eu não posso escolher. — Tenho o direito de escolha, mas não tenho a opção de exercê-la. Dá pra entender isso? — Talvez eu tente utilizar estes mesmos veículos de comunicação para também difundir o meu humilde protesto. Será que isso dá ibope?

CRIADO EM 25 DE FEVEREIRO DE 2011, APÓS UM GRANDE ASSALTO A UMA JOALHERIA EM UM SHOPPING EM SÃO PAULO

SÔNIA OLIVEIRA
Enviado por SÔNIA OLIVEIRA em 12/04/2011
Reeditado em 27/10/2011
Código do texto: T2904805