MULHERES - SEXO FRÁGIL, QUE NADA!

Cada vez mais as mulheres têm exercido funções antes tidas quase como exclusivas da força-tarefa masculina

Nova York, 8 de março de 1857. Cerca de 130 operárias morrem carbonizadas dentro de uma fábrica de tecidos, isso depois de uma grande manifestação por melhores condições de trabalho. Entre as reivindicações, elas pleiteavam tratamento mais digno, redução da jornada de 16 para dez horas diárias e salários justos, já que recebiam o equivalente a apenas um terço da remuneração masculina para exercer praticamente as mesmas funções. Apesar do desfecho trágico e da greve não apresentarem melhorias imediatas, a mobilização escreveu um capítulo importante na luta pela equiparação dos direitos entre homens e mulheres e abriu precedentes para a realização de congressos e conferências até que, décadas mais tarde, fosse instituído o Dia Internacional da Mulher. Fato para a maioria dos estudiosos e até meios de imprensa, mas mito aos mais céticos, entre os quais as investigadoras francesas Liliane Kandel e Françoise Picq. Por meio de um estudo realizado em 1982, elas defendem que a famosa greve jamais aconteceu, sustentando a tese, inclusive, na célebre frase do ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels: “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

Com ou sem manifestação, o quadro social que se desenha atualmente é bastante diferente daquele cenário nova-iorquino da segunda metade do século 19. E mesmo que certos países, até por questões socioculturais, ainda não reconheçam os direitos igualitários de suas cidadãs, não dá mais para tapar os olhos e fingir que as mulheres não são capazes de executar trabalhos que, há bem pouco tempo, eram quase que exclusivamente realizados pelos homens.

Números – Presentes em todos os setores administrativos, comerciais, técnicos e industriais que movimentam o País, a força feminina também têm as estimativas a seu favor. De acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, atualmente as mulheres representam 42,4% da população economicamente ativa, ou seja, quase metade de todos os trabalhadores brasileiros. O estudo estima ainda que em menos de uma década os homens serão ultrapassados no mercado de trabalho – até já foram, nas atividades consideradas informais.

E mais: números divulgados recentemente pelo Ministério do Trabalho indicam que até dezembro do ano passado, o mercado formal contabilizava 43,3 milhões de empregos, dos quais 25,3 milhões eram ocupados por homens e 17,9 milhões por mulheres. Isso representa que a participação feminina passou de 40,64% para 41,48% num período de apenas quatro anos – em 2006, o número de empregos formais estava assim distribuído: 20,8 milhões para os homens e 14,2 milhões para as mulheres. Os dados mostram também que as mulheres estão atuando mais em setores, diga-se de passagem, não tão condizentes com quem outrora era chamado de “sexo frágil”, como por exemplo na construção de edifícios. Em 2006, o setor empregava cerca de 51 mil mulheres em todo o País; já, no final de 2010, o número chegou a aproximadamente 92 mil. Ainda assim a diferença continua grande, uma vez que a construção emprega mais de 1,1 milhão de trabalhadores.

Se muita coisa mudou, e para melhor, nas últimas décadas, Iriny Lopes, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, assegura que mesmo para a execução de funções idênticas a remuneração feminina ainda é bem inferior à masculina, e as mulheres só representam 19% dos postos de comando e direção nas empresas. “Temos uma legislação já pronta para ser votada, que cria as condições de igualdade no mundo do trabalho”, afirmou durante participação no programa Brasil em Pauta, produzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços, e levado ao ar pela NBR – a TV do governo federal, cujo objetivo é noticiar as ações do Poder Executivo.

Embora as palavras da ministra reflitam o que acontece na sociedade em geral, quando o assunto é política as mulheres têm sim feito valer as suas condições de líderes. Dos três principais candidatos que concorreram à sucessão presidencial nas últimas eleições, duas são do sexo feminino: Dilma Rousseff, e a representante do PV – Partido Verde, Marina Silva. Mais do que consolidação democrática, a vitória da petista quebra paradigmas e preconceitos e ela entra para a história como a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Sinal de que esse negócio de “sexo frágil” se tornou mera figura de linguagem.

Conferência Mundial de Mulheres Trabalhadoras

O aumento da participação feminina no mercado de trabalho, a importância da negociação coletiva como forma de diminuir a desigualdade entre homens e mulheres e outros assuntos relevantes para a equiparação de direitos entre os gêneros, foram alguns dos tópicos discutidos durante a Conferência Mundial de Mulheres Trabalhadoras, realizada entre os dias 23 e 25 de março em Sevilha, Espanha. Promovido pela ICEM – Federação Internacional de Sindicatos de Trabalhadores da Química, Energia, Minas e Indústrias Diversas, em parceria com entidades trabalhistas, o evento teve como tema “Sonhos e Conquistas” e contou com a participação de mais de 230 pessoas, incluindo integrantes do SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo e da FENTEC – Federação Nacional dos Técnicos Industriais. “Marcada por muitos preconceitos, debatemos a inserção das mulheres no mercado de trabalho sob o ponto de vista empresarial”, comenta Tatiana LourençonVarela. Segundo a advogada, o preconceito advém dos próprios empresários, que alegam que as mulheres apresentam taxas de absenteísmo mais elevadas, maior rotatividade no emprego, além de serem impontuais e se ausentarem com mais frequência do trabalho, seja por licença-maternidade ou para atender a demandas ligadas ao ambiente doméstico. “Salientamos que tais afirmações não passam de mitos, pois há estudos que comprovam justamente o contrário: as mulheres são tanto ou até mais produtivas do que os homens”, rebate a advogada.

Apesar dos debates acalorados, espera-se que as mulheres obtenham maior representatividade no cenário mundial, e que encontros dessa natureza sejam realizados com mais frequência. Afinal, é mundialmente comprovado que ainda há desigualdade salarial entre os sexos, mesmo quando ambos desempenham funções idênticas.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 150

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 20/05/2011
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2982551
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