O Protagonismo do Leigo na Igreja Católica: o avesso é o lado certo

É interessante saber que a cada dia cresce o número de leigos católicos comprometidos com as causas da Igreja e do mundo. Além do mais, o leigo acordou do sono dogmático, percebendo que seu papel não é ser ovelha, mas protagonista da evangelização. É nesse sentido que o debate sobre a participação laical na Igreja vem aumentando paulatinamente nos últimos anos. Não devemos esquecer que o Concílio Vaticano II resgatou o sentido da Igreja vista como Povo de Deus. Nessa perspectiva o leigo, em seu sentido originário grego, significa membro do Povo Deus, assim, os padres, os bispos e o Papa são leigos.

Em terras maranhenses esse novo jeito de ser Igreja resultou na gênese das Comunidades Eclesiais de Base nos anos 70. Já no final dos anos 80 em todo o Brasil eram mais de 80 mil comunidades sem a presença do presbítero. Então, quem supria tal carência eram os leigos: catequistas, coordenadores de comunidades, agentes de pastoral. Hoje a situação não mudou muito, no Brasil temos a menor proporção de padres do mundo. Dados do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais mostram que há no Brasil aproximadamente 19 mil padres, enquanto há mais de um milhão de pastores. Não é uma questão de competição religiosa, mas de relatar que, diante de tais fatos, o leigo se pergunta: porque não reconhecer o sacerdócio casado, o sacerdócio feminino e reconduzir os padres casados ao serviço da Igreja?

Além disso, sabemos que no Brasil existem cerca de 5.000 padres casados que não podem exercer seu devido ministério. Recentemente um grupo de leigos, depois de estudarem o livro "Com Jesus na contramão" do biblista Carlos Mesters, resolveram escrever uma carta ao Sumo-pontífice Bento XVI. É bom lembrar que o leigo não quer uma substituição do poder do padre pelo poder laical, mas mostrar que todos são co-responsáveis pelo caminho da Igreja no começo desse milênio. A carta faz uma releitura da realidade eclesial mostrando a necessidade da Igreja saber dar passos largos, em vista de que os tempos atuais conclamam que façamos corajosa revisão e mudemos nossos paradigmas. Assim sendo, que assuntos delicados como: a re-institucionalização do sacerdócio casado, a implantação do sacerdócio feminino, reintegração no serviço a Igreja dos padres casados e a revisão dos cristãos casados em segunda união e sua participação na eucaristia. Sobre essa temática o teólogo Leonardo Boff expressa que “nós leigos não devemos ser míopes a ponto de não enxergamos os sinais dos tempos, infelizmente a Igreja Romana desconsidera o peso da argumentação exegética e dogmática formulada pelos melhores teólogos da atualidade”.

A corajosa e profética ação dos leigos não foge da perspectiva da Igreja Católica, haja vista que o próprio Código de Direito Canônico de 1983 no cânon 112 expressa que os leigos “tem o direito, e, ás vezes, até o dever de manifestar aos pastores sagrados sua própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja”. Em vista disso a Igreja de modo algum pode ficar presa ao “espírito do tempo”, pois o grande desafio nesses últimos anos expressa o teólogo Renold Blank, é substituir as estruturas de poder hierárquico por estruturas de comunhão e participação. Essa interpretação ainda azucrina a Instituição Católica, prova disso foram às mudanças e omissões em alguns trechos dos documentos de Aparecida - documento síntese da V Conferencia geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho. O bispo da Diocese de Viana-MA, Dom Xavier Gilles enviou uma carta a Bento XVI denunciando essa “grosseira manipulação”. Ademais, neste ano, aqui no Maranhão aconteceu outra novidade o curso de Teologia que era reservado exclusivamente aos Seminaristas passou ter a participação dos leigos.

Vivemos em um mundo marcado por injustiças, corrupções, violências, de modo específico aqui o Brasil passa por momento muito apreensivo, principalmente o Maranhão. É competência do leigo segundo o documento Lumen Gentium, ser agente da justiça, da promoção humana e do bem comum e, sobretudo da paz. Aqui nós lembramos o tema no nosso artigo, que também é título de um dos livros do biblista Carlos Mesters na qual narra que a pratica libertadora (ipsissima intentio) de Jesus não só andou na contramão, como mostrou que “o avesso é o lado certo”. Assim como Jesus de Nazaré todos somos chamados a mudar as estruturas que não mostram de fato o lado certo.

ARTIGO PUBLICADO EM 2007 NO JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 24/06/2011
Código do texto: T3054101
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